A
falta de justiça, Srs. Senadores, é o grande mal da nossa terra, o mal
dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo
nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação.
A sua grande vergonha diante do estrangeiro, é aquilo que nos afasta os homens, os auxílios, os capitais.
A
injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta
em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm
nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão
na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a
desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a
cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas.
De
tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de
tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da
honra, a ter vergonha de ser honesto.
Essa foi a obra da República nos últimos anos.
No outro regime, o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem
perdido para todo o sempre, as carreiras políticas lhe estavam
fechadas. Havia uma sentinela vigilante, de cuja severidade todos se
temiam e que, acesa no alto, guardava a redondeza, como um farol que não
se apaga, em proveito da honra, da justiça e da moralidade gerais.
Na
República os tarados são os tarudos. Na República todos os grupos se
alhearam do movimento dos partidos, da ação dos Governos, da prática das
instituições. Contentamo-nos, hoje, com as fórmulas e aparência, porque
estas mesmo vão se dissipando pouco a pouco, delas quase nada nos
restando.
Apenas
temos os nomes, apenas temos a reminiscência, apenas temos a
fantasmagoria de uma coisa que existiu, de uma coisa que se deseja ver
reerguida, mas que, na realidade, se foi inteiramente.
E
nessa destruição geral de nossas instituições, a maior de todas as
ruínas, Senhores, é a ruína da justiça, colaborada pela ação dos homens
públicos, pelo interesse dos nossos partidos, pela influência constante
dos nossos Governos. E nesse esboroamento da justiça, a mais grave de
todas as ruínas é a falta de penalidade aos criminosos confessos, é a
falta de punição quando se aponta um crime que envolve um nome poderoso,
apontado, indicado, que todos conhecem ..."
(Rui Barbosa - Discursos Parlamentares - Obras Completas - Vol. XLI - 1914 - TOMO III - pág. 86/87)