22 fevereiro, 2014

Reconvexo - Maria Bethânia



Maria Bethânia - Reconvexo
Homenagem a Dona Canô. (1907-2012)...
***RECONVEXO***
Eu sou a chuva que lança a areia do Saara
Sobre os automóveis de Roma
Eu sou a sereia que dança
A destemida Iara, água e folha da Amazônia
Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma negra
Você não me pega
Você nem chega a me ver
Meu som te cega, careta
Quem é você?
Que não sentiu o suíngue de Henri Salvador
Que não seguiu o Olodum balançando o pelô
E que não riu com a risada de Andy Warhol
Que não, que não, e nem disse que não
Eu sou um preto norte-americano forte
Com brinco de ouro na orelha
Eu sou a flor da primeira música
A mais velha e a mais nova espada e seu corte
Eu sou o cheiro dos livros desesperados
Sou Gita Gogoya
Seu olho me olha, mas não me pode alcançar
Não tenho escolha, careta vou descartar
Quem não rezou a novena de Dona Canô
Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô
Quem não é recôncavo e nem pode ser reconvexo

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