27 fevereiro, 2014

MPF pede retirada de vídeos de intolerância religiosa de Macedo: Paulopes Weblog

Chefe da Universal usa ex-pai de santo para
associar religiões de matriz africana ao mal
O MPF (Ministério Público Federal) do Rio de Janeiro enviou recomendação ao Google para que retire do Youtube 17 vídeos nos quais, segundo o órgão, há pregação de intolerância contra religiões de matriz africana.

Todos os vídeos são de evangélicos (pastores e fiéis). Em um deles, Edir Macedo, chefe da Igreja Universal, aparece entrevistando um suposto ex-pai de santo de nome Gilberto, o qual, segundo o pastor, estava tomado por uma “legião de demônios”.

As imagens foram gravadas em dezembro de 2011 pela TV Iurd, canal da igreja de programas ao vivo ancorada na internet. O foco da entrevista foi um desafio que Gilberto teria feito a Macedo em 1987 em um evento evangélico em um estádio de futebol.

A PRDC (Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão), órgão do MPF/RJ, instaurou um procedimento administrativo para apurar a denúncia da Associação Nacional de Mídia Afro de que os vídeos disseminam preconceito, intolerância e discriminação contra religiões de matriz africana.

O MPF estabeleceu o prazo de 10 dias para que o Google apresente um relatório de providências adotadas.

Na relação de vídeos há outro em que Macedo afirma que os males que acometem as pessoas se devem às influências das religiões dos orixás, caboclos e guias. 

TV Iurd mostra em close rosto de Gilberto,
que estaria tomado por legião de diabos
O procurador Jaime Mitropoulos, que mandou a recomendação ao Google, afirmou que aos autores dos vídeos se aplica o parágrafo 3° do artigo 140 do Código Penal, que prevê reclusão de um a três anos no caso de injúria envolvendo raça, cor, etnia religião ou origem. 

Alguns dos demais vídeos listados MPF mostram:

- Artista gospel Felipe Santana canta ao vivo música na qual diz que “fizeram o trabalho para a maldita pomba-gira (aquela maldita) e que o “negócio é forte”.

- Pastor afirma que supostos furtos cometidos por uma criança se deve à influência de espíritos demoníacos, como Cosme e Damião, Exu-Miriam e Exu-pedrinha.

- Mulher afirma que, quando era macumbeira, jogava contava “mentira do capeta” e chegou a dizer a um crente que ia arrancar os olhos dele para comê-los.

- Mulher afirma que sofreu terríveis mazelas durante os 32 anos em que esteve ligada ao candomblé. Explicou que era conhecida com “Sara Capeta” e que passou todo esse tempo dormindo dentro de um caixão, em um cemitério.

- O pastor Wellington Silva disse que tinha sido o maior feiticeiro do Mato Grosso, época em que fez 23 pactos com Satanás, e que falava dois dialetos africanos, Ketu e Angola. Para ele, ninguém podia ser bruxo ou praticar magia negra se não falasse africano. “Faça como um dia eu fiz, crie vergonha na cara e admita que Jesus é rei dos reis e senhor dos senhores.”

No entendimento do Ministério Público, os vídeos “descambam para demonização de símbolos, ritos e liturgias de outras religiões, vinculando-as, distorcidamente, a problemas de saúde, vícios, crimes praticados, atacando frontalmente a consciência religiosa de milhões de pessoas”. 

Em sua recomendação ao Google, o MPF argumentou que a liberdade de manifestação pressupõe responsabilidade “por aquilo que se fala e o que se faz”. 


“O exercício das liberdades públicas não é incondicional, pois elas não dão o direito a quem quer que seja de fazer discursos, apologias e incitar o preconceito, a intolerância, a discriminação, o ódio e a violência com base em motivos religiosos."




Com informação do Ministério Público Federal (doc1 e doc2).


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