06 fevereiro, 2014

Quando o erro vira acerto

Forno de microondas, 1955
Em 1945 um moço chamado Percy Spencer trabalhava em uma empresa que fazia experimentos com microondas (esse tipo de “onda” foi descoberta em 1940), chamada Raytheon. Ele trabalhava, mais precisamente, em um novíssimo tubo de vácuo chamado Magnetrón que, convenhamos, é um nome maneiríssimo para uma parada do tipo.
Foi quando ele entrou no tubo que ele observou que uma barra de chocolate que ele trazia no bolso estava derretendo. É até um pouco assustador imaginar que em alguma escala o próprio Percy estava entrando dentro de um microondas gigante.
Ele então resolveu experimentar e colocou uns grãos de milho lá dentro…
O primeiro forno microondas de verdade só foi construído dois anos depois e se chamava Radarange — que é muito mais legal que “microondas” — e era enorme. Em 1950, ele foi liberado para uso doméstico, mas ainda era muito caro e muito grande. O aparelho só foi se popularizar mesmo no final da década de 60 e custava U$460,00. Esse valor nessa época era praticamente um PlayStation 4 hoje em dia, em reais.
E pensar que, aqui no Brasil a gente considera o microondas um aparelho doméstico moderno.

Raio-X

xrays
Não, o raio-x não foi inventado, obviamente. Ele foi descoberto meio que sem querer.
O físico alemão Wilhelm Conrad Rontgen estava estudando raios catódicos (basicamente, elétrons que passam por um tubo construído especificamente para gerar os tais raios) quando, entre uma experiência ou outra, um papel (dentro de uma câmara escura) começou a apresentar uma luminosidade. Intrigado, ele resolveu criar várias barreiras sobre o papel e bombardeou-o novamente com os raios.
Ele descobriu que esses eles podiam atravessar matéria. Vários experimentos depois, como quem não quer nada (mas com um feeling de que podia rolar uma parada maneira), Rontgen pediu à esposa para colocar as mãos em cima de um papel fotográfico entre eles e o dispositivo que disparava os raios (que foram chamados por ele de “x” por ser uma variável desconhecida).
Imagine a surpresa dele ao ver os ossos, e a aliança, da esposa ‘impressos’ no papel?

Penicilina

Alexander Fleming: descuidado e genial
Alexander Fleming: descuidado e genial
A humanidade também deve muito ao desleixo de Alexander Fleming. Ao sair de férias, o médico — que tentava desenvolver algo contra infecções, principalmente depois da Primeira Guerra — deixou as culturas de Staphylococcus que estava trabalhando em cima da mesa, uma delas estava aberta e acabou pegando um fungo.
Esse fungo simplesmente matou todas as bactérias.
Quando voltou de férias, Fleming percebendo o erro e já estava descartando os experimentos quando resolveu observar o que tinha acontecido. Foi assim que ele descobriu que esse fungo — do gênero Penicillium — matava as bactérias que ele estava cultivando. Ele não teve dinheiro para continuar a pesquisa, mas pelo menos batizou o “produto”.
Dez anos depois, Ernst B. Chain e Howard W. Florey conseguiram continuar a pesquisa de Fleming, resultando na Penicilina final que conhecemos até hoje.

Super cola

Toda a simpatia de Harry Coover
Toda a simpatia de Harry Coover
Esse é mais um daqueles exemplos que a primeira vez que você olha para uma coisa, não percebe o seu potencial. Só observando com outra perspectiva é que vemos o brilho.
A super cola foi descoberta assim.
Em plena Segunda Guerra Mundial, o americano Harry Coover descobriu o cianoacrilato. O objetivo inicial da pesquisa em questão era criar miras de alta precisão. O problema é que tudo que eles conseguiram fazer era colar as coisas e, por causa disso, abandonaram a pesquisa.
Alguns anos mais tarde, Harry percebeu que aquele composto poderia servir para outra coisa e acabou chegando na cola mais poderosa do mundo até hoje.

Picolé

Frank Epperson e sua neta, anos depois de sua deliciosa invenção
Frank Epperson e sua neta, anos depois de sua deliciosa invenção
Você está lá, com seus 11 anos de idade, na varanda da sua casa, mexendo em uma xícara uma mistura de algo como pó de guaraná e água com um pequeno pedacinho de madeira e sua mãe te chama. Você deixa a xícara para lá, entra e esquece.
Pois bem. No outro dia, você acorda e encontra aquilo congelado. Crianças, e apenas crianças, têm o poder de pegar algo assim (lembre-se que essa criança em particular vivia em um mundo onde não existia picolé) e pensar “vou puxar isso pelo palito e vou lamber pra ver o que acontece”.
Eu não consigo imaginar que maravilha que deve ter sido.
Muitos anos depois, essa criança abençoada, com nome de Frank Epperson, patenteou o “gelo num palito”, inicialmente chamado de Epsicle Ice Pop e, mais tarde, Popsicle.
O nosso picolé.

Marca-Passo

Wilson Greatbatch e o marca-passo
Wilson Greatbatch e o marca-passo
Wilson Greatbatch é um nome que jamais poderia faltar nessa lista. Primeiro pelo fato dele ter inventado o marca-passo moderno de forma acidental. Segundo por ele ter sido um dos grandes inventores da história.
Nos anos 50, após sair da marinha e se tornar pesquisador, Greatbatch estava trabalhando em um oscilador que tinha como principal função apenas gravar os sons do coração. Sem querer, ele tirou um resistor do negócio e o dispositivo começou a emitir um pulso ritmado.
Eureka!
Ele percebeu que aquilo poderia ser um marca-passo implantável (já existiam marca-passos no mundo, porém eles eram do tamanho de televisões e davam choques).
Ele ficou dois anos refinando a invenção. Mesmo assim, os marca-passos não duravam muito tempo, principalmente por causa da pouca duração das baterias. Sagaz como era, o inventor passou a se dedicar então a produzir baterias de lítio por meio da sua empresa, a Greatbatch Inc.
Ele ainda se dedicou à pesquisas relacionadas AIDS.
A frase célebre de Pasteur (outro inventor do acaso) cabe no caso de Wilson Greatbatch e na maioria dos inventores dessa lista:
“Nos campos da observação, o acaso favorece apenas as mentes preparadas.”
***
Essas são apenas uma das centenas de invenções resultantes de acasos do destino. Talvez anos mais tarde alguma outra pessoa acabaria descobrindo ou observando as mesmas coisas em outra situação. Mas, sendo assim — proveniente de um erro ou de pura sorte –, as invenções se tornam ainda mais incríveis.
Isso acontecer fora de um roteiro de Hollywood nos faz acreditar um pouco em mágica na vida real, o que sempre é sensacional. Além do mais, nos ensina uma bela lição: a de que errar faz parte do processo, errar faz com que o acerto seja uma experiência deliciosa.
Errar é que nos torna humanos e nos torna sensacionais pela forma como aprendemos com isso.
Você tem algum caso em que queria fazer uma coisa e acabou acontecendo outra muito melhor? Ou conhece outra invenção assim nessas condições? Conta aí nos comentários.
Obs: todas as fontes de informação estão linkadas no título de cada assunto tratado nesse texto.

Mecenas: Nivea Men


                            De: contato@papodehomem.com.br
                                  Para: SulinhaCidad3