02 outubro, 2013

Rimbaud, O Mago Transcendental por Rubens Shirassu Júnior

Rimbaud, O Mago Transcendental


Precursor do surrealismo, é uma das maiores
influências da poesia moderna


Durável – apenas o céu maior
desse mundo: Apreendo esse doce
sonho das estrelas no seu curso.


Na Via com Rimbaud

Rubens Shirassu Júnior



A tradução de Arthur Rimbaud, no Brasil, tem privilegiado duas do poeta francês, a saber, Rimbaud Livre, de Augusto de Campos, a mais lida pelo público brasileiro: a de Alberto Marsicano (Rimbaud da série “Por Ele Mesmo”, da Martin Claret) que se esgotam sucessivamente. Uma forte justificativa para esta preferência está no impacto que a poesia de Rimbaud, de William Blake, Allen Ginsberg e os ensaios de Antonin Artaud e Aldous Husley exerceram sobre a contracultura dos anos 50 e 60, ou melhor, nas referências popularizadas pelos artistas daquele movimento. Apenas por questões de citação, sua arte poética influenciou nomes marcantes como: Pablo Picasso, Dylan Thomas, Vladimir Nabokov, Bob Dylan, Patti Smith, Giannina Braschi, Léo Ferré, Henry Miller, Van Morrison e Jim Morrison. Uma referência também dos surrealistas brasileiros: Murilo Mendes, Rosário Fusco, Roberto Piva e Claudio Willer.
            Eis, aqui, algo curioso que acontece com Arthur Rimbaud: a importância da sua obra por si só parece não ser suficiente, devendo ser legitimada pela fusão de poesia e vida. Vejo sua ancestralidade nos seres pobres, bárbaros, ineptos e esfoladores, de certa forma, no presente, sente-se solidário em tornar-se mau, cair cada vez mais no abismo negro. Mas, em sua tentativa de consolação, pela perda da inocência, Rimbaud encontra também respostas positivas, embora selvagens ao extremo. O poeta anseia em ficar num estado de torpor ao tomar essa natureza, incorporar toda sua seiva, com sede obsessiva, em seus poemas é uma luta sem fim. Só que na medida do tempo,  apercebe-se que os homens estão com o cordão umbilical cortado para sempre da natureza, e a luz natural desmoralizada. Mesmo à luz fulgurante do sol, Rimbaud é consciente que caminha nas trevas mais opacas e cerradas: “O azul que é negro”, constata ele em sua “Uma Temporada no Inferno”.
Existe um tempo de um Arthur Rimbaud, apaixonado e amoroso, mas, aí, ligam-se mutuamente em poemas atrozes que buscam apenas descobrir na mulher a ferida malcheirosa, como no poema “A Vênus” cita: “Belle hideusement, dun ulcere àl anus.” Uma constatação desencantada presente em sua obra, como vi neste outro poema em que as mulheres são definitivamente isoladas, por “formigarem do toque pútrido de Jesus.” Ele sabia que a bondade, a piedade, a caridade estão fora de cogitação neste mundo, um mundo mutilado, cortado e a sua missão na Terra, um místico sem Deus, que no sentido literal, sem jogo de palavras, nem metáforas é “mudar a vida”, inventar novas cores, refazer o amor, construir novas paisagens ou novas flores, por meio da poesia e chegar à alucinação. Abolir o mundo das aparências em que vivemos e sentir a luminosidade da qual fomos exilados e, por essa tentativa, os astrônomos discorrem que esses “Abismos Negros” funcionam como uma espécie de transformadores entre o universo e o que está à sua beira, uma saída do ambiente cósmico, canais para um além, para outras dimensões do ser. Um não espaço – um outro tempo ou um fora do tempo, são estrelas no espaço distante cujo processo se inverteu, e que regrediram, ao invés de expandir, tornando-se de uma energia, intensa, impensável, dentro das dimensões mínimas. Esses “Buracos Negros” atuam como uma boca devoradora que aspira a matéria estelar em torno de si. Esta transformação levou o poeta pelo esforço desmesurado em metamorfosear a forma e a substância das coisas, cair nestes abismos negros, sem tempo e espaço pela alta transcendência.


Vênus Anadiômene

Tradução de Augusto de Campos

Como de um verde túmulo em latão o vulto
De uma mulher, cabelos brunos empastados,
De uma velha banheira emerge, lento e estulto,
Com delícias bastante mal dissimulados;

Do colo graxo e gris saltam as omoplatas
Amplas, o dorso curto que entra e sai no ar;
Sob a pele a gordura cai em folhas chatas,
E o redondo dos rins como a querer voar...

O dorso é avermelhado e em tudo há um sabor
Estranhamente horrível; notam-se, a rigor,
Particularidades que demandam lupa...

Nos rins dois nomes só gravados: Clara Venus;
- E todo o corpo move e estende a ampla garupa
Bela horrorosamente, uma úlcera no ânus.



A Eternidade

Tradução de Augusto de Campos


De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.

Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.

Das lides humanas,
Das palmas e vaias,
Já te desenganas
E no ar te espraias.

De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.

Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.

De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai.




“Ele era, então, filho do sol, estava na luz natureza, na unidade, no ser que existe para além dos tempos.”

“Guerra e vingança, terror, meu espírito. Remexamos a ferida, passai, repúblicas deste mundo, imperadores, regimentos, colonos, povos, passai... Desaparecei Europa, Ásia, América, nossa marcha vingadora tudo ocupou.. Os vulcões explodirão, o oceano congelará...”

( Fragmentos )


Soneto das Vogais de Arthur Rimbaud, traduzido e lido por Augusto de Campos no CD “Poesia é Risco”, de Augusto de Campos e Cid Campos:



Patti Smith: Poem about Arthur Rimbaud (subtitulado). Clip from the Steven Sebring's 2008 documentary "Patti Smith - Dream Of Life":



Total Eclipse ( Eclipse de Uma Paixão ) Filme completo e legendado que conta a história completa do encontro tumultuado dos poetas franceses Jean Arthur Rimbaud (Leonardo DiCaprio) e Paul Verlaine ( David Thewlis )






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