Fotógrafo registra os últimos anos do pai e o declínio de sua memória
O fotógrafo Phillip Toledano registrou os últimos anos de vida de seu pai. Após o falecimento de sua mãe em 2006, Phillip começou a cuidar e a morar com ele.
Phillip ficou impressionado e chocado com o estado mental do seu pai. Ele não tinha Alzheimer, mas sua memória não gravava nada que fosse recente. Quando voltaram do funeral de sua mãe, ele perguntava a cada 20 minutos onde sua mulher estava. Cuidadosamente, Phillip tinha que explicar que ela morreu.
Depois de um tempo ele percebeu que não podia continuar dizendo que sua mulher havia morrido. Ele não se lembrava. Phillip então decidiu que seu trabalho como filho era fazê-lo o mais feliz possível. Então ele inventou uma história que foi menos dolorosa para os dois. Ele disse que a mãe tinha ido a Paris para cuidar de seu irmão doente. E é aí que ela permaneceu, durante os próximos três anos.
Após o primeiro ano morando com o pai, ele começou a tirar fotos e escrever, registrando o cotidiano dos dois. Ele publicou no site Days With My Father, que começou como um blog e tempos depois se transformou em um livro.
Eu pedi ao meu pai para olhar para o espelho, enquanto eu fotografava ele. Agora, imagine que meu pai era muito bonito quando era jovem. Quando as pessoas falavam “galã de filme”, então, era ele, mesmo, ele foi um ator famoso dos filmes da década de 30. Mas, quando ele olha agora no espelho, ele vê um homem devastado, não mais galã, e isso o deixa muito triste. Agora veja, ele tem 98 anos, e sua vaidade ainda é extraordinária.
Eu procurei esse caderno por toda a casa… eles são um vislumbre de sua mente, a inquietação que ele tenta esconder de mim.
“Onde está todo mundo?”
“O que está acontecendo?”
Como ele se sente perdido.
Esse é o George.
Meu pai nunca lembra o nome dele, então ele o chama de “o vira-lata”. (…)
Meu pai é um incrível contador de histórias.
Eu adorava ouvi-lo por muito tempo desde que eu me lembro. E eu sempre tive muito orgulho de suas performances vencedoras do Oscar. (…)
Meu pai era muito engraçado.
Eu pus esses pequenos cookies em seu peito, e ele disse: “Olha minhas tetas”
Como você não pode rir?
Eu amo momentos como esse.
Por um pequeno instante, quase tudo parece normal de novo. Minha mãe não está morta, e não estamos fingindo que ela foi pra Paris.
Ela saiu para a loja, mas vai voltar rapidamente.
Quão doce isso seria.
Meu pai desprende uma quantidade enorme de tempo no banheiro. Porque ele tem perda de memória recente, ele pode ficar lá por horas a fio. É de cortar o coração, mas também dá muita raiva.
Ele vai fazer suas necessidades. E então, quando ele está colocando as calças ele diz: “Espere um segundo, eu tenho que ir”. (…)
Então, meu pai faleceu ontem.
Eu fiquei a noite toda com ele, segurando sua mão, escutando sua respiração, me perguntando quando seria seu fim. Ele morreu em sua cama, em casa, com Carla e eu próximos a ele.
Nos últimos três anos, eu estive esperando. Com medo de que ele morresse enquanto eu estivesse fora. Eu não queria que ele fosse sozinho, ou cercado por estranhos, ou plugado a máquinas. Eu sei que soa estranho. Mas eu estou muito agradecido pela forma que aconteceu.
Eu me sinto um sortudo por ter passado os últimos três anos. Por não ter mais nada pra dizer. Por saber que nós amamos um ao outro nus, sem constrangimento. Por ter sentido seu orgulho por minhas realizações. E ter descoberto o quanto engraçado ele era.
Que incrível, incrível presente.
Phillip Toledano.
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