29 outubro, 2013

Ceni-matográfico by Nando Reis via Valeria Zez



Valeria Zez publicou uma foto na sua linha do tempo.
Guria olha que texto inteligente e equilibrado !!! Bjosss


Sulinha Imprensa Livre - Não costumo detonar ninguém, até porque, quando faço, faço com classe e pego fígado, rins, útero... então prefiro não. E, também, tirando graças, que faz parte, não gosto de sapatear ninguém, prefiro elogiar quem faz.
Podem não gostar de Rogério Ceni, que 4a feira foi simplesmente Genial, podem não gostar do SPFC, mas, num pais aonde as maiores manchetes, seja de Artista, Ídolos, representantes do povo, são nas paginas de fofocas ou de policia, um profissional serio, que trabalha e mantém uma família sem escândalo, deveria, no mínimo, ser poupado de ira de insignificantes.
Num Show de Maria Bethânia, um debiloide a chama de sapatão. O imbecil, paga um ingresso caro - ela não é popular - estacionamento caro, consume qualquer coisa cara, para tentar ser engraçado. 
Ela parou o espetáculo, olha na direção dele e responde: Eu Sou sapatão e sou a Maria Bethânia. Você é quem????
Copiando:  Ele é Rogério Ceni e quem é esse Escritor???
Simbora ... quem sabe faz... quem não é nada critica.... Beijosss Agradecidos....


Enredado. Vilão na semana anterior, goleiro são-paulino consagrou-se na quarta - Evelson de Freitas/Estadão
Evelson de Freitas/Estadão
Enredado. Vilão na semana anterior, goleiro são-paulino consagrou-se na quarta
 Sou são-paulino desde que nasci. Talvez até mesmo antes de ver a luz do dia. Nasci ruivo, branco e com olhos quase pretos: tricolor. Neto, filho, irmão e agora pai e avô de são-paulinos, costumava ser vítima dos petardos de meu irmão mais velho no portão de madeira que servia de gol na casa da Rua Santa Cristina. Usava o calção preto acolchoado típico do uniforme dos goleiros da época. Mas meu primeiro ídolo foi Pablo Forlan, o lateral-direito uruguaio e cabeludo cujo apelido era Tupamaro. Não era exatamente um desses locos em que as outras torcidas acham graça, porém sobrava sal no suor que encharcava sua camisa: sempre será lembrado mais pela raça que pela técnica. Livre é a memória daqueles que gostam de criar caricaturas.


Há uma semana me ligaram convidando para escrever um artigo sobre Rogério Ceni, que tinha desperdiçado no domingo seu quarto pênalti seguido. Foi o personagem da semana. Provavelmente meu nome foi lembrado, entre outros, porque, além de são-paulino notório e apaixonado por futebol, sou amigo de Rogério. Amizade essa que nasceu da admiração que temos um pelo outro. Rogério gosta de música e eu gosto de futebol. Já fizemos alguns programas de televisão juntos, eu batendo pênaltis nele (e errando) e ele tocando (mal) uma música minha. Devo a ele ainda a chance que não desperdicei de marcar um gol de canhota no Estádio do Morumbi, depois de receber um passe açucarado do guarda-metas (que jogava na linha) numa partida promovida pela Fundação Gol de Letra. O fato é que preferi não escrever pois qualquer coisa que dissesse soaria como se eu tivesse tomando partido do amigo. Mas Rogério não precisa de ninguém para defendê-lo: ele é o mestre das defesas.



Quem aceitou o convite foi o escritor Ignácio de Loyola Brandão, que escreveu um texto assustadoramente agressivo, desequilibrado. O título dado pelo jornal: Rogério Cênico. Artigo cínico? Talvez esteja mais para sintomático, pois o momento era favorável àqueles que gostam de especular sobre a desgraça alheia. 



“Não gosto dele”, escreve Ignácio. (Rogério) “tem me dado poucas alegrias (quando falha), muitas tristezas (quando acerta). Não posso fazer nada”. O que dizer de alguém que se alegra com o infortúnio e se entristece com o júbilo alheio? Talvez fosse o caso de o escritor fazer uma investigação psicanalítica de sua própria personalidade. Se alegrar com a infelicidade dos outros deve ser uma forma triste de se sentir feliz.



O curioso é que Rogério voltou a ser o personagem da semana, e dessa vez por uma razão inversa. No jogo de quarta-feira não perdeu nenhum pênalti, tomou três gols, e mesmo assim ajudou o São Paulo a vencer (4 x 3) e se classificar graças a uma série de intervenções extraordinárias. E o destaque maior na atuação não foi a quantidade das defesas portentosas e sim o grau de complexidade. Não sei se Rogério é o dono do time, mas certamente naquela noite foi o dono do jogo. E isso me levou de novo a pensar nas colocações de Ignácio. “A cara é fechada, pouca vezes explode num riso que o coloca em sintonia com a plateia.” De que plateia fala o escritor? De que sintonia? Como parte dessa plateia que assiste a futebol, não é exatamente com o riso de um jogador que eu sintonizo. E arrisco a dizer que a sintonia se dá por um outro de tipo de alegria, que não está expressa no riso do rosto de quem joga, mas sim no sorriso que a grande jogada desperta em quem assiste. E quarta-feira vi o riso de Rogério explodir sintonizado na tela da TV numa alegria incontida, após a memorável atuação. E eu, satisfeito, sorri.



“Suscita ódio e fanatismo.” Não tenho notícias de que nenhuma grande defesa ou um pênalti perdido por Rogério tenha iniciado outra guerra na Crimeia. É mais provável que o ódio presente nos estádios se dê por razões muito pouco associadas ao futebol. Pelo contrário: creio que o bom futebol muitas vezes aplaca a ira daqueles que vão a nossos estádios que não oferecem condições para a prática do esporte. Fanatismo? O máximo a que assisti nesses anos é o entusiasmo enfático da torcida são-paulina que grita “PQP! É o melhor goleiro do Brasil”. Todo os bandos têm seus loucos.



Rogério é um grande goleiro, um craque, e sobre isso até Ignácio concorda. Se sua “imagem pétrea e ferozmente antipática” foi “formada, estudada”, ou se é “produto de marketing”, acho que ninguém nunca vai saber. Nem acho que isso seja relevante. Tenho a tendência a achar que o dado fundamental para que sua figura desperte sentimentos ambivalentes está em sua qualidade técnica associada ao elemento transgressor e desconcertante de ser um goleiro que também faz gols, muitos gols. Mas essa análise caberia à aqueles que conseguem se distanciar da paixão clubística. Não é meu caso: sou são-paulino demais e adoro ter no meu time um jogador desse quilate. Há anos vibro com seus grandes feitos. Por isso não queria escrever, mas acabei por fazê-lo. Talvez meu personagem da semana não seja o Rogério cênico, mas os clichês baratos de seus detratores.



Nando Reis é músico e autor de Meu Pequeno São-paulino (Belas-Letras)
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