Aclamada internacionalmente, malgrado alguma controvérsia, a minissérie Batman, O Cavaleiro das Trevas, da autoria de Frank Miller, representa um marco na história dos quadradinhos. Com uma temática adulta, um estilo arrojado e um naipe de personagens burlescas, revolucionou - a exemplo de Watchmen, de Alan Moore - o universo DC, atraindo uma nova gama de leitores.
Título: Batman, O Cavaleiro das Trevas
Data: De abril a julho de 1987
Licenciadora: Detective Comics
Editora: Abril JovemNúmero de páginas: 48 por edição
Categoria: Minissérie
Periodicidade: mensal
Formato: Americano (17 cm x 26 cm), colorido, lombada agrafada.
Argumento e arte: Frank Miller
Arte-final: Klaus Janson
Publicada originalmente em: Batman: The Dark Knight Returns nº1 a 4 (1986)
Nota prévia: A história narrada em Batman, O Cavaleiro das Trevas tem lugar numa realidade alternativa, fora da continuidade do universo DC. É, contudo, parcialmente fiel à mitologia oficial do Homem-Morcego pela inclusão de personagens pós-Crise nas Infinitas Terras. Miller, por exemplo, apresenta um Batman atormentado pela morte de Robin. Anos depois, em resultado da sua fraca aceitação por parte dos leitores, o segundo Menino Prodígio (Jason Todd) seria assassinado pelo Joker.
A exemplo do Ragnarok da mitologia nórdica, Frank Miller escreveu uma saga que apresentava um final épico para a carreia heroica do Cavaleiro das Trevas. Originalmente, a história foi publicada em formato prestige, o qual se tornaria comum com o passar dos anos.
Sinopse: Na sequência da morte do segundo Robin, Bruce Wayne abandonou o manto do morcego e votou-se ao ostracismo, numa espécie de exílio autoimposto. Transcorrida uma década desde a última aparição pública de Batman, Gotham City é uma cidade estropiada pelo crime, pela violência e pela corrupção. Entre os vários bandos criminosos que aterrorizam os seus habitantes, destacam-se os Mutantes, cujo grotesco líder há muito ameaça tomar pela força as ruas da cidade.
Certa noite, quando visitava o beco onde os seu pais foram assassinados quando ele apenas uma criança, Bruce é atacado por elementos dos Mutantes. Este episódio leva-o a regressar ao ativo, facto que desperta sentimentos contraditórios na opinião pública de Gotham. Se há quem aplauda o regresso do Cavaleiro das Trevas, não falta quem, por outro lado, condene os seus métodos.
Na sua renovada cruzada contra o crime, a primeira ameaça enfrentada pelo regressado herói é o seu velho inimigo Duas Caras que, a despeito de já não ter o rosto desfigurado pelas horrendas cicatrizes de outrora, está mais insano do que nunca. Entretanto, o septuagenário comissário Gordon é obrigado a reformar-se devido à sua provecta idade, sendo substituído por Ellen Yindel, uma feroz detratora das atividades do Homem-Morcego.
Graças suas às lendárias capacidades detetivescas, Batman descobre que um general do Exército norte-americano tem vendido armamento pesado aos Mutantes. Confrontado pelo herói, o militar confessa o seu delito, justificando-se com a grave doença da sua esposa. Consumido pelos remorsos, o general suicida-se na presença do Homem-Morcego.
Ao comandos de uma versão melhorada do Batmóvel, Batman ataca Os Mutantes, reunidos na lixeira municipal de Gotham. Segue-se um brutal combate corpo a corpo com o líder do bando. Gravemente ferido, o Homem-Morcego é salvo in extremis pela intervenção de Carrie Kelly, uma adolescente que sempre o idolatrara. Carrie torna-se assim merecedora de ser a nova Robin.
Na cadeia, o líder dos Mutantes continua a ameaçar tomar a cidade. O mayor tenta negociar com ele mas acaba por ter a sua garganta rasgada pelo vilão. Enquanto o medo e a tensão crescem em Gotham City, Carrie, a pedido de Batman, infiltra-se nas fileiras dos Mutantes para espalhar o boato que o seu líder convocou uma assembleia magna.
A pedido do seu velho aliado, o comissário Gotham permite a fuga do líder dos Mutantes da prisão. Atraído ao mesmo local onde antes espancara Batman, o vilão é desta vez sumariamente derrotado pelo Cavaleiro das Trevas, perante o olhar de dezenas de elementos da quadrilha. No final, estes aceitam Batman como seu novo líder, autoproclamando-se Os Filhos do Morcego.
Emergindo de um estado catatónico depois de saber do regresso do seu eterno némesis, o Joker convence os médicos do Asilo Arkham de que está curado da sua insanidade e é libertado. Em consequência disso, lança uma campanha de terror em Gotham, que culmina com várias mortes antes de ser detido pelo Cavaleiro das Trevas. Encurralado, o Palhaço do Crime comete suicídio, de modo a incriminar Batman pela sua morte.
Os Filhos do Morcego são treinados por Batman em métodos não letais de manutenção da ordem pública, passando a atuar como uma milícia ao serviço do herói. Entretanto, uma ogiva nuclear soviética é lançada na órbita terrestre e, decorrente da sua detonação, o sol é bloqueado, ao mesmo tempo que os sistemas eletrónicos dos Estados Unidos são desligados pelo subsequente impulso eletromagnético. Em Gotham, Batman e os Filhos do Morcego restauram a ordem, mas logo o Governo federal, considerando que a ação destes põe em causa a sua autoridade, envia o Superman para neutralizar o seu velho amigo.
Informado por Oliver Queen ( o ex-Arqueiro Verde, agora reciclado como revolucionário) dos planos governamentais, Batman prepara-se devidamente para o embate com o Último Filho de Krypton. Durante a refrega que se segue, Oliver atinge o Superman com uma flecha contendo kryptonita sintética, permitindo a vitória do Homem-Morcego. Contudo, este sucumbe pouco depois a um fulminante ataque cardíaco. Seguindo escrupulosamente as diretrizes previamente fornecidas pelo seu patrão, o mordomo Alfred detona uma bomba que destrói a Batcaverna e a mansão Wayne.
A identidade secreta de Batman logo se torna do conhecimento público e o seu corpo é reclamado por uma prima distante (na verdade, Casey Kelly disfarçada).
No funeral, a superaudição do Homem de Aço capta um batimento cardíaco no interior do caixão mas limita-se a piscar o olho a Carrie e a partir. Mais tarde, Carrie desenterra Bruce Wayne, que simulou a própria morte, tomando uma misteriosa pílula.
Nos labirínticos túneis sob a antiga Batcaverna, Batman, em conjunto com Robin, Arqueiro Verde e os Filhos do Morcego, inicia os preparativos para uma nova guerra contra o governo corrupto que tomou em mãos o destino dos EUA.
Reputação: Batman, O Cavaleiro das Trevas, a par de Watchmen de Alan Moore, lançou uma nova tendência nos quadradinhos, introduzindo temáticas adultas. O que lhe valeu uma atenção nunca vista por parte dos media. No entanto, alguns críticos acusaram Frank Miller de ter produzido uma história demasiado crua e violenta, nos limites da decência. Esta nova abordagem ao Homem-Morcego libertou-o definitivamente do histrionismo infantil que se lhe colara desde a célebre série televisiva dos anos 1960. Retratado como um indivíduo soturno e obcecado, o Batman de Frank Miller influenciaria a personalidade e o visual do Homem-Morcego no filme dirigido por Tim Burton em 1989. Outras vozes críticas insurgiram-se contra o facto de Miller ter transformado Batman num psicopata que não olha a meios para atingir os seus fins. Esquecendo, todavia, que as suas ações extremas e obsessivas na minissérie derivam do seu avassalador sentimento de culpa pela morte de Robin e pela sua covardia de abandonar Gotham à mercê de todo o tipo de facínoras.
Outra inovação introduzida por Miller prende-se com a forma de tratamento aplicada entre os vários super-heróis. Em vez de se tratarem pelos respetivos codinomes, referem-se uns aos outros pelos nomes próprios (Bruce, Clark, Ollie, etc). Outra decisão polémica foi a não inclusão de Dick Grayson (o primeiro Robin) na narrativa, sendo o seu nome apenas mencionado por Bruce.
Expressão do hiper-realismo imprimido ao enredo, a inclusão de figuras públicas como Ronald Reagan (presidente dos EUA à época), David Letterman e o Dr. Ruth. Essa nova corrente atingiria o seu clímax com a consagrada banda desenhada Sin City, também da autoria de Miller. Apesar da reação favorável da maior parte dos fãs à arte arrojada de Batman, O Cavaleiro das Trevas, esta esteve longe de ser consensual.
No Brasil, pelas mãos das editoras Abril Jovem e Panini, foram publicadas, entre 1987 e 2011, várias reedições e edições encadernadas desta mítica minissérie. A qual teve direito nos EUA a uma igualmente eletrizante sequela em 2001: Batman: The Dark Knigt Strikes Again (lançada no ano seguinte em Português pela Abril, sob o título Batman, O Cavaleiro das Trevas II,e sobre a qual me comprometo a falar muito em breve).
Batman, O Cavaleiro das Trevas é, indubitavelmente, uma das melhores histórias alguma vez escritas do Homem-Morcego e uma das coqueluches da minha coleção, a par da respetiva sequela.
Batman, O Cavaleiro das Trevas é, indubitavelmente, uma das melhores histórias alguma vez escritas do Homem-Morcego e uma das coqueluches da minha coleção, a par da respetiva sequela.