29 novembro, 2012

Dario Pereyra. O Jogo da Minha Vida. Guarani 3 (3) x (4) 3 São Paulo. Final do Brasileirão de 1986

Aquele jogo marcou porque foi uma partida inesquecível para quem  assistiu. Nós éramos bons, mas o Guarani também tinha um timaço. Nos minutos finais do segundo tempo estávamos perdendo e de uma hora para outra voltamos para o jogo. Com certeza muita gente morreu do coração.
Me lembro bem como tudo aconteceu. Teve muita tensão porque não parava de sair gol. Foi corrido para caramba, aquelas coisas que você não acredita. Nós achamos que éramos bons o suficiente para ganhar sem susto, mas no campo não foi bem assim.
Os caras do Guarani entraram com vontade de ganhar e transformaram a partida em uma guerra. O que mais me marcou foi o último minuto da prorrogação. A bola saiu pela linha de fundo e não tinha gandula no Brinco para ir buscar. O Gilmar saiu correndo, buscou a bola e mandou todo mundo ir pra frente. Eu achava que tínhamos perdido o campeonato. Estava com uma sensação muito ruim. Falei: ‘já era’. Eu estava assim pela qualidade e segurança que o time do Guarani demonstrava em campo.
No lance do gol, o Gilmar passou para o Wagner, que dominou e chutou pra frente. Nisso, o Pita saltou e desviou de cabeça, dando uma penteada na bola, que veio redondinha para o Careca pegar de sem pulo e marcar um belo gol. Foi algo inexplicável. Coisa de Deus mesmo. Foi uma jogada que tinha tudo para dar errado, mas acabou dando tudo certo. Foram três situações que não havia como acontecer juntas e aconteceram.
O Wagner acertou um lançamento perfeito. O Pita, que nem era especialista de cabeça, conseguiu ganhar do zagueiro e de costas e o Careca acertou na medida o sem pulo.
Deu naveia da bola. Parecia que estava escrito que tinha de ser assim. Acabou o jogo e estávamos mortos de cansaço. A partida foi corrida demais. Conseguimos tirar força de onde não existia. A escolha dos cobradores dos pênaltis foi coisa de momento. Todo mundo tinha capacidade para bater, mas na hora tinha de estar bem de cabeça e de físico para dar conta do recado.
Eu estava confiante, mas aí logo na primeira cobrança o Careca vai e erra. Nossa sorte foi que o Tozin bateu antes e o Gilmar defendeu. Mas ver o Careca errando me deixou com um frio na barriga. Tentei me manter tranquilo e resolvi dar uma porrada no meio do gol.
Numa final, com 50 milhões de pessoas me vendo pela TV, se eu erro complica de vez para nós, então não quis inventar. Quando chutei e vi a bola no fundo do gol foi um alívio. A minha parte eu tinha feito. As cobranças foram seguindo e quando o Wagner Basílio cobrou o último tiro e marcou, parecia um sonho. Era uma felicidade que eu nunca vou esquecer. Terminou o jogo eu saí abraçando todo mundo e sabia que naquele momento, não só pelo título, mas pela forma que foi a conquista, havíamos entrado para a história do futebol brasileiro.



De: "Estadão" naoresponda@email.estadao.com.br    
 

São Paulo - Campeão Brasileiro 1986


Na conquista de seu segundo Campeonato Brasileiro, em 1986, o São Paulo teve no Guarani um adversário forte, com jogadores que, apesar de jovens, já mostravam qualidade e disposição. A equipe de Campinas tinha a melhor campanha da competição. Das 34 partidas que disputou, venceu 21, empatou 11 e perdeu apenas em duas ocasiões. Enquanto isso, o Tricolor teve 17 vitórias e 13 empates, perdendo quatro jogos.

Enquanto o Bugre tentava repetir o êxito de 1978, quando foi campeão brasileiro diante do Palmeiras, o São Paulo tentava seu segundo título nacional. Careca, o jovem artilheiro da conquista do Guarani, usava naquele instante toda a sua experiência na equipe do Morumbi. No entanto, Evair, aos 22 anos, já despontava como o grande goleador e era a esperança dos torcedores que queriam ver bicampeão o time do Brinco de Ouro.A primeira partida da final aconteceu num Morumbi lotado às 21h45 do dia 22 de fevereiro de 1987. Mais de 80 mil pessoas queriam presenciar um dos dois times conseguir a vantagem para o segundo jogo. O São Paulo começou o primeiro tempo com sua defesa sem deixar espaços e com um meio-campo que tocava a bola com velocidade. Nos 15 minutos iniciais, o Tricolor teve um enorme volume de jogo, pressionando de forma impiedosa. Passado esse instante da partida, o Guarani começou a aproveitar mais os erros de passes do São Paulo, equilibrando mais o jogo.Os gols só acabaram saindo no segundo tempo. O São Paulo tinha suas jogadas de ataque prejudicadas, pois Zé Teodoro não podia apoiar pela direita, tendo que marcar o centroavante João Paulo que se posicionava bem na entrada da área. Talvez por isso, aos 15 minutos, Evair tenha aberto o placar para o Guarani. Chiquinho, depois de uma subida pela lateral-esquerda, foi ao fundo cruzar para Evair marcar o seu 24º gol na competição. Contudo, enganou-se aquele que achou que o São Paulo sairia em desvantagem jogando em seu estádio. Quatro minutos depois, Sidnei tenta o chute e a bola bate na trave esquerda. Careca, com oportunismo, aproveita a sobra para empatar a partida por 1 a 1 e a artilharia com Evair.

A igualdade no placar deixava a decisão para a última partida, no Brinco de Ouro, Campinas. Desta vez, cerca de 37 mil pagantes conheceriam de perto o 16º campeão brasileiro. No primeiro tempo, poucas emoções. Nenhum dos dois times queria ir para o intervalo com uma desvantagem no placar. Mas ao contrário do que queriam e do que houvera no primeiro jogo, o placar foi aberto aos dois minutos do primeiro tempo. Depois de uma cobrança de falta pelo lado esquerdo da defesa do São Paulo, Zé Mario recebe a bola nas costas de Fonseca e vai até a linha de fundo. De lá, cruza para dentro da área Tricolor e Nelsinho acaba marcando contra, à direita de Gilmar. Mais uma vez o São Paulo teria que se esforçar para inverter a situação em pouco tempo. O esforço deu certo. A bola que iria para as mãos do goleiro Sérgio Neri após a cobrança de escanteio de Pita, é desviada por Ricardo que também acaba marcando contra. No segundo tempo o Guarani foi melhor que o São Paulo. A equipe cadenciou melhor suas jogadas e aparentava ter o controle da situação. Porém, foi o São Paulo que levou mais perigo à área adversária, tanto que Müller chegou a chutar uma bola na trave, perdendo assim uma ótima oportunidade para o Tricolor. Já o Bugre foi prejudicado pelo árbitro José de Assis Aragão que não deu um pênalti cometido por Vágner em João Paulo. Nos quinze minutos finais, as duas equipes preferiram se precaver a correr o risco de tomar um novo gol, diminuindo o ritmo da partida que acabou indo para a prorrogação.



O São Paulo, mais uma vez mostrando a eficiência da mescla entre jogadores mais velhos com boas revelações, virou o placar já no primeiro minuto da prorrogação. O jovem Müller bateu falta para o gol do experiente Pita. O empate do Guarani aos nove minutos, após uma cobrança de escanteio de Boiadeiro. João Paulo se antecipou à Bernardo e marcou de cabeça. O centroavante do Bugre aproveitou a desatenção da defesa Tricolor e continuava subindo. No segundo tempo, João Paulo fez uma grande jogada. Passou por Vágner e mesmo sofrendo falta de Fonseca, fez um gol que praticamente assegurava o título do Guarani. Contudo, no último minuto da prorrogação, Vágner lançou Pita que tocou para Careca que entrava pela esquerda, deixando a prorrogação empatada por 3 a 3. O atacante não perdoou e chegou à artilharia com seu 25º gol no campeonato, levando ao mesmo tempo a decisão do título para os pênaltis.
Com quatro a três nas penalidades o São Paulo comandado pelo técnico Pepe ergueu a taça de campeão brasileiro pela segunda vez. Certamente, além de Careca e Evair, o Brasileirão daquele ano revelou grandes valores. Só entre os finalistas, estavam Silas e Müller, pelo São Paulo, e João Paulo e Boiadeiro, pelo Guarani.

SÃO PAULO 1 x 1 GUARANI
(1º jogo)
Data - 22 fevereiro de 1987
Estádio - Morumbi
São Paulo - Gilmar – Zé Teodoro, Vágner, Dario Pereyra, Nnesinho – Bernardo, Silas, Pita – Muller, Careca e Sidnei (Pianelli), Técnico: Pepe
Guarani - Sérgio Neri – Marco Antônio, Ricardo Rocha, Fernando, Zé Mario – Tosin, Tite (Nei), Boiadeiro – Chiquinho Carioca (Catatau), Evair e João Paulo, Técnico: Carlos Gainete.
Gols - Amarildo e Bebeto
Árbitro - Ulisses Tavares da Silva

GUARANI 3 (3) x 3 (4) SÃO PAULO
(2º jogo)
Data - 25 fevereiro de 1987
Estádio - Brinco de Ouro
Guarani - Sérgio Neri – Marco Antônio, Valdir Carioca, Ricardo Rocha, Zé Mario – Tosin, Tite (Vágner), Boiadeiro – Catatau (Chiquinho Carioca), Evair e João Paulo, Técnico: Carlos Gainete.
São Paulo - Gilmar – Fonseca, Wágner Basílio, Dario Pereyra, Nelsinho – Bernardo, Pita, Silas (Manu) – Muller, Careca e Sidnei (Rômulo). Técnico: Pepe
Gols - Nelsinho (contra), Boiadeiro, João Paulo, Berbardo, Pita e Careca
Árbitro - José de Assis Aragão


Fonte: Gazeta Esportiva
 
 

 
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