Pegaram um dia um Operário e disseram-lhe:
Senta-te no banco
dos réus.
És acusado de
haveres Nascido com Sonhos na cabeça.
És acusado de teres
os cabelos encaracolados.
És acusado de teres
bigodes vastos, negros, provocativos.
És acusado de teres
alguns pedaços de dedos a menos que o comum dos mortais, podados pelas engrenagens
das máquinas.
És acusado de
ficares pelas esquinas conversando em voz baixa com amigos enquanto a Luz dos
postes te Ilumina o suor do rosto.
És acusado de
terem te visto no Bar dando gargalhadas.
És acusado de tua Casa ter um pequeno Jardim com Grama e Flores.
És acusado de Conheceres a Sinfonia das sirenes das fábricas
anunciando a Aurora do primeiro turno.
És acusado de seres
reconhecido na portaria e todos te cumprimentarem, e te baterem levemente nas
costas com Alegria, e te dizerem: olá, meu chapa.
És acusado de fazeres discursos de improviso com Vigor e Garra que Nascem do fundo das vísceras do espírito.
És acusado de inventares um partido que não é o único, mas não se confunde com siglas e teorias de alfarrábios envelhecidos.
És acusado de não seres magro nem raquítico como
teus irmãos deviam ser.
És acusado de jogares baralho e dares dores de cabeça aos homens
sérios deste país.
És acusado de
usares gravata em vez de macacão, vestindo-te com roupas só permissíveis no
enterro do melhor Amigo.
És acusado de freqüentar reuniões e discutires
com Sábios e Iluminados sem pedir licença nem apresentar diploma.
És acusado de te
haverem visto com ministros, criaturas Importantes, e não te ocorrer
submeter-se a elas.
És acusado de não teres te colocado no lugar cavado para o
oprimido.
És acusado de haveres gritado com toda a Força de teus pulmões
fuliginosos.
És acusado de teres filhos Bonitos e uma Mulher doce, que devia
ser feia e talhada a foice.
És acusado de não seres rapaz Comportado, Meigo, Gentil, Acetinado.
És acusado de conheceres a prensa, e não te afugentar o ronco que
ela faz na Madrugada.
És acusado de quereres a Pátria Livre, e Livre, também, o coração
e os sentimentos do homem.
És acusado de rezares e de pôr a boca no trombone quando todos se
calam e descrêem de Deus e dos homens.
És acusado de teres
o desplante de ser Líder num país desnaturado onde quem levanta a fronte é
triturado.
És acusado de haveres perdido a paciência de esperar pelo futuro
que não chega nunca.
És acusado de usares sapatos 42, de couro, quando o normal é
sandália havaiana.
És acusado de romperes as cadeias invisíveis que amarram teus
braços peludos e tuas mãos penadas.
És acusado de atraíres os Operários com tua voz, teu berro, teu
silêncio, teu olhar, tua dor, tua ânsia, teu Mistério, e Saberes contar, Sorrindo, tristes Histórias recolhidas em barracos e cômodos-e-cozinhas.
És acusado de estares em pé, quando devias estar de bruços, de
borco, exangue e vencido.
És acusado de não seres o que queriam que tu fosses.
Meu Caro Operário sentado no banco dos réus, por favor, recebe
este recado:
Se existir mesmo essa Senhora difusa e vaga a que chamam Justiça, Confia nela.
Não creio que essa matrona seja cega.
(*) Publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo, no dia 15/09/1980.
Telma, com o então Senador, Eduardo Suplicy e Zuleide Soares (Zuzu).
Zuzu não era e nem Simpatizava com o PT.
Ao conhecer pessoas como Telma, Maria Lúcia, Mariângela, Eduardo e, depois desse dia, Luiza Erundina, virou eleitora e arrependida de não ter votado na conterrânea - Paraibanas - Luiza para prefeita em 1988.
Dedicatórias de Telma e Eduardo.Cidad3: Arte - Conhecimento -
Solidariedade!!!
Imprensa Livre!!!