03 dezembro, 2014

Um fim de semana de trabalho voluntário no Teto



Em 1997, no Chile, um grupo de jovens se mobilizou para construir casas de emergências para as vítimas do terremoto. O movimento cresceu, ganhou força e se espalhou para mais países da América Latina.
Atualmente, se articulando juntamente com outras organizações, órgãos políticos e mobilizando comunidades locais, esse movimento conseguiu, em menos de 15 anos, diminuir situações de extrema pobreza no Chile e tem como meta fazer o mesmo nos 19 países em que opera hoje na América Latina.

Olhando de fora, o Teto parece ser uma Ong que constrói casas de madeira para pessoas em situação de emergência. Mas essa é só a parte do trabalho que dá pra ser visto mais facilmente.
Acabei me metendo em duas construções que tiveram em São Paulo. Coloquei a mão na massa, conversei com a equipe que trabalha para a Ong e com famílias das comunidades que foram beneficiadas pelo Teto. Descobri um trabalho bem interessante, que vai muito além da construção fase de construção.

O processo de detecção e escolha das famílias

As famílias que serão beneficiadas pelo Teto não são escolhidas aleatoriamente. Durante 3 meses, uma equipe faz a imersão dentro da comunidade: conversa com moradores, pastores, vendedores e traficantes para mapear quem está em condições de receber o benefício.
10624988_10202719267802513_560253259411113532_n
A família precisa ajudar e querer ser ajudada
Não basta só a família querer, elas precisam participar e se mostrar interessadas. O Teto faz reuniões semanais nas comunidades antes da construção e as famílias interessadas precisam comparecer a todas elas. Elas também pagam um valor simbólico pela construção da casa.
Num ato de fé, elas destroem seu barraco na sexta-feira para que, sábado de manhã, os voluntários possam começar a construção.
A família também deve participar da construção, ajudando e preparando o almoço para os voluntários (o Teto fornece os alimentos). Drogas e bebidas alcoólicas são terminantemente proibidas durante essa etapa, tanto para a família, quanto para os voluntários.
Almoço Teto 2
O almoço está saindo
Almoço Teto
E aquela cara da derrota depois de comer muito

O impacto na família

Construir uma casa de madeira com 40m² sem cômodos, sem instalação elétrica e hidráulica, à primeira vista parece algo pequeno, mas não é, se entendermos em que condições viviam aquelas pessoas antes. A casa do Teto é uma casa de emergência, para remover as pessoas de situações de extrema pobreza.
Essa simples casinha de madeira, resolve problemas que parecem distantes pra nós, mas são presentes na vida dessas pessoas, como por exemplo, ter uma boa fundação para a casa ser varrida, telhado firme que não vai voar com o vento, elevação do solo para evitar entrada de ratos ou inundação por uma enchente.
Essas pessoas não tem nada disso. Como pensar na educação dos seus filhos se, quando você chega em casa, tem de tentar resolver problemas básicos como esses?
Casa Teto
Casa da Lili recebendo os últimos acertos antes de ser entregue

Impacto na comunidade

No final do domingo, quando você termina a construção e entrega a casa pra família, a sensação é de um dever cumprido. Mas o cheiro de esgoto ainda está lá, o seu Moacir continua desempregado e com 5 filhos pra criar, a filha da dona Isabel continua na fila de espera pra fazer uma cirurgia e tem uma série de outras famílias precisando de uma casa decente pra morar. Parece que não mudou nada.
Mas o maior impacto é invisível.
Durante a nossa construção, um sujeito que não fazia parte da família, apareceu na casa que estávamos construindo e começou a nos ajudar. Ninguém sabia quem era, até que perguntaram. Ele já teve uma casa construída pelo Teto, conseguiu se reerguer, melhorar sua condição de vida e faz questão de ajudar a Ong como pode.
Um dos líderes de construção também contou que é muito comum, depois que o Teto aparece na comunidade, alguns moradores se mobilizarem para solicitar à prefeitura iluminação, saneamento, asfalto – e o Teto os ajuda com esse processo também, o trabalho não termina depois da construção.
Dar um primeiro empurrão, muitas vezes é o que faz a comunidade toda se mexer para mudar a situação atual.
Camiseta Teto
Familia Teto

Impacto nos voluntários

Quando entrei no ônibus, na noite da sexta-feira, rumo à comunidade de Malvinas, em Guarulhos, lembro bem que estava um pouco irritado e preocupado; a revisão do meu carro tinha me custado uma fortuna e eu ia passar o final do mês apertado de grana, tinha um relatório complexo e chatíssimo para entregar na segunda-feira e eu nem tinha começado, meu pai me ligou pedindo pra jantar com ele semana que vem, e eu já pensava no trânsito infernal pra chegar na casa dele.
No domingo à noite, entrando no ônibus de volta pra casa, dei risada do Rodrigo de sexta. Chuto que todos os outros voluntários tiveram um momento parecido com o meu.
Teto 3
Domingo de tarde, quando lembrei dos “problemas” que tinha pra resolver na segunda-feira
PdH teto
Felipe Franco, designer do PapodeHomem e eu
Voluntários teto 2
Essa molecada toda trabalhou duro das 6 da manhã as 7 da noite sábado e domingo pra construir uma casa para uma família que eles nunca viram antes na vida. Fiquei sabendo depois que o presidente da Mercedez Benz do Brasil estava lá construindo casa como voluntário
É impossível não voltar diferente depois de passar 2 dias imerso numa realidade diferente da sua. O coração e olhos abrem para problemas muito mais amplos do que os do nosso próprio umbigo.
O trabalho é exaustivo, levantar da cama no sábado de manhã é doloroso e você passa o dia inteiro fazendo fazendo esforço físico. Achei que não conseguiria acordar no domingo para continuar a construir. Mas pra minha surpresa, levantei com uma energia e disposição muito maior do que na noite anterior.
Construção Teto
Entrega Casa Teto

Como ajudar o Teto?

Mais do que voluntários para construir casas, o Teto também precisa de doações, gente para o escritório ou disposta a visitar as comunidades e conhecer e mapear as famílias que precisam de ajuda.
Você também pode mobilizar as pessoas da sua empresa, colégio e universidade.
Melhor do que eu para falar, dá uma olhada aqui na página deles, onde explicam e apontam o melhor caminho.
É uma experiência que vale ter pelo menos uma vez na vida.

por Rodrigo Cambiaghi

Papo de Homem