Hostilidade e receptividade lado a lado na sessão de gala do Festival do Rio
Protesto em frente ao Odeon terminou em confusão e ofuscou a entrada de artistas e convidados no evento
Rio - O protesto se armava assim que começaram a chegar os convidados para a sessão de gala do Festival do Rio 2013 na noite desta quinta-feira. Um pequeno grupo se reunia e começava a preparar a projeção de palavras de protesto no painel montado no Odeon para recepcionar os artistas e convidados.
Os manifestantes debatiam sobre a ausência de envolvimento político da classe artística brasileira na mobilização popular que explodiu em junho deste ano. Um deles citou os artistas chilenos, conhecidos pelo maior participação nos atos pela educação do país. E uma das palavras que ecoavam era decepção.
Enquanto isso, fotógrafos a postos aguardavam a passagem pelo tapete vermelho das celebridades aguardadas para o evento. Aos poucos a tensão aumentava. Um dos manifestantes mais exaltados vociferava críticas contra a TV Globo e ironizava o caráter elitista do festival. O clima de desconforto entre convidados e organização do evento era evidente. A tendência que chamava mais a atenção entre as atrizes não era nenhuma cor de vestido, mas o sorriso amarelo.
A cada rosto conhecido que passava pela entrada do tradicional cinema de rua, as ofensas se intensificavam até se tornarem xingamentos mais agressivos. A apresentadora do Pânico na Band, Sabrina Sato, foi um dos principais alvos das palavras nada lisonjeiras - fato justificado por ser, provavelmente, um dos rostos mais conhecidos a passar pelo tapete vermelho.
Ao ser questionada, Sabrina negou que os ativistas sejam contra o Festival do Rio. "Eu fui lá fora falar com eles e eles disseram assim: 'Não, a gente ama cinema, não tem nada a ver. A gente está protestando contra a corrupção no Brasil'", afirmou a humorista, ampliando a abrangência do ato que direcionava os gritos especificamente à Globo e ao governador Sérgio Cabral.
Leona Cavali, a médica Glauce de Amor à Vida, também foi alvo de diversos xingamentos. Assim como o ator Victor Fasano. Pedaços de papel higiênico foram jogados no tapete vermelho. E um cordão de policiais militares foi improvisado entre os manifestantes e as grades de proteção que cercavam o local da festa.
Em determinado momento, professores engrossaram o coro dos cerca de 40 ativistas presentes e o tumulto começou. Munidos de apito e megafone, as provocações subiam o tom. Após um foco de confusão com PMs, um grupo derrubou as grades e provocou a reação imediata dos policiais. Uma manifestante, identificada apenas como Sara, foi atingida na barriga por um disparo de uma arma taser, que dá choque elétricos.
Produção franco-brasileira dá pontapé inicial à mostra
Do lado de dentro da festa, as caras de susto foram sumindo com o passar do tempo dentro do elegante Odeon. A responsável por fazer as honras no palco foi a atriz Giovanna Antonelli, mais conhecida por seus papéis em novelas da TV Globo do que por sua atuação no cinema nacional.
E no palco houve discurso inflamado contra a pirataria e quem dissesse que os protestos mostraram que o cinema no país estava dando certo porque "eles não viriam para cá se não fosse um grande evento". E a equipe do filme em 3D produzido em conjunto por Brasil e França "Amazônia - Planeta Verde", do diretor francês Thierry Ragobert, demonstrou emoção durante os agradecimentos.
A superprodução aposta no visual deslumbrante desde o começo. Com uma linguagem embasada nos clichês da sétima arte, mas inovadora em diversos quesitos, a obra conta a história de um macaco prego, único sobrevivente de um acidente aéreo na Amazônia. O bichinho encanta desde o começo e segue deixando um brilho nos olhos dos espectadores ao longo das suas desventuras em série.
Com muita ação e quase nenhuma fala, o filme tem tudo para encantar o público infantil com as aventuras na floresta tropical de maior biodiversidade no mundo. Em tempos onde a sustentabilidade é um dos principais assuntos em pauta, 'Amazônia' foi agraciado com o “Prêmio Ambiente WWF” após ser exibido - e bem recebido, por sinal - no Festival de Veneza.
Com uma excelente edição de som, o filme se traduz em uma experiência sensorial e conquistou o envolvimento dos convidados do festival. A simpatia do macaquinho provoca risadas em alguns momentos e encanta em diversos outros. Com elementos clássicos do cinema, os reveses, a identificação entre os personagens, o antagonista... mas com pouquíssimas falas e ousadia estética, a obra conquistou aplausos entusiasmados na abertura de um dos maiores eventos de cinema do país.
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