Antes do trecho de um texto que vem a seguir, vejam essas 17 fotos — tiradas entre 1937 e 1943 — que mostram como era a segregação racial nos Estados Unidos da América:
1. 1939, Waco, Texas.
Só para negros
2. 1939, Carolina do Norte
Cabines para negros
3. 1940, Durham, Carolina do Norte
Porta para brancos (à esquerda) e para negros (à direita)
4. 1940, Durham, Carolina do Norte
A porta é para a entrada somente de garotas brancas
5. 1943, em algum lugar entre Louisville e Nashville
Negros só comem na parte de trás
6. 1943, Baltimore, Maryland
Água só para brancos
7. 1938, Lancaster, Ohio
Só atende pessoas brancas
8. 1938, Manchester, Georgia
Entrada e sala de espera, só para negros
9. 1939, Memphis, Tennessee
Loja de negros
10. 1943, Memphis, Tennessee
Só brancos podem esperar nesse local
11. 1937, Memphis, Tennessee
Tem para negros
12. 1939, Belzoni, Mississippi
Só sobe a escada quem é negro
13. 1937, Leland, Mississippi
Cinema para negros
14. 1939, Oklahoma City
Água para negros
15. 1941, Birney, Montana
Não vende cerveja para índios
16. 1938, Halifax, Carolina do Norte
Para negros
17. 1939, Belle Glade, Flórida
Mas isso não aconteceu aqui no Brasil
[...] Quando eu era menino, em Porto Rico, me ensinaram que na minha ilha não havia discriminação racial: éramos um paraíso onde brancos, negros e todos os que ficavam no meio conviviam tranqüilamente. Podíamos vê-lo na praia, onde se viam casais formados por negros e brancos de mãos dadas. A discriminação racial era um problema do norte, me ensinaram.Quando minha família se mudou para o norte, compreendi esse problema em primeira mão. Em Porto Rico, eu era branco e de classe alta.Nos Estados Unidos, era integrante de uma minoria étnica e fazia parte da classe médiaOs administradores do meu colégio novo se negaram a acreditar que um porto-riquenho pudesse estar um ano adiantado em matemática, então me colocaram em aulas remediais, numa trajetória vocacional que me levaria a ser mecânico. Tive sorte por conseguir sair dela.Anos mais tarde, visitei o Rio de Janeiro pela primeira vez para aprender português, quando fazia meus estudos de pós-graduação. Vivendo em Ipanema, eu ouvia exatamente as mesmas coisas sobre relações raciais que ouvira quando jovem em Porto Rico: aqui não existe racismo; isso é algo que existe no norte. Veja as pessoas na praia etc.Mas eu tinha justamente dificuldade em conciliar o que me diziam com o que eu via. Era verdade que havia muita interação entre negros e brancos, mas eu via uma hierarquia que estava estampada nos corpos das pessoas de cor, cujo lugar na zona sul do Rio era determinado pelo uniforme que vestiam: a camisa azul do motorista de ônibus, o uniforme branco da babá, o uniforme laranja do gari.CaricaturaNo Brasil, assim como em Porto Rico, a ideia de um Estados Unidos racista emoldurava uma auto-imagem de esclarecimento e superioridade moral. Uma imagem caricata do supremacismo branco e da violência racial naquele país lançava uma sombra que ofuscava a discriminação sistemática e a desigualdade em outras sociedades [...]Comparação entre Brasil e EUA se baseia em caricaturas, Folha de S. Paulo, 23 de novembro de 2008.Jerry Dávila , autor de Diploma de Brancura -Política Social e Racial no Brasil (ed. Unesp), entre outros, é professor associado de história da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte.(Tradução de Clara Allain)