04 junho, 2013

O Importante É Que A Nossa Emoção Sobreviva (1975)

CD 1 - 1975
01 Veneno
02 Consideração
03 Tatuagem
04 Ingênuo
05 Resíduos
06 Marcha-Rancho
07 Justiça
08 Velho Casarão
09 Refém da Solidão
10 Cautela-Mordaça


Gravadora: Odeon SMOFB 3849 - Ano: 1975 - Produtor: Milton Miranda - Observação: Gravado ao vivo. * V.A. = Vários Artistas: Eduardo Gudin, Márcia e Paulo César Pinheiro.
Álbum completo - 10 faixas - 31 min

Álbum: V.A. O Importante É Que A Nossa Emoção Sobreviva - Eduardo Gudin, Márcia e Paulo César Pinheiro 1975

  1. VENENO
    (Eduardo Gudin / Paulo César Pinheiro)


    mas o que me faz chorar
    é esse fel que você vive a destilar
    é essa a paga cruel que você me dá
    só o melhor meu coração te ofereceu
    você cuspiu no prato que comeu
    e o mal que isso me faz
    não esperava isso de você jamais
    eu não sabia que podia ser capaz
    de alguém pedir a mão e receber
    depois vingar em vez de devolver
    dei o manto pra quem vai me desnudar
    e em meu canto abriguei quem vai me expulsar
    eu te dei de beber
    no mesmo copo você vai me envenenar
  2. CONSIDERAÇÃO
    (Eduardo Gudin / Paulo César Pinheiro)


    toda cidade vai cantar
    e finalmente vai voltar
    o tempo da paz os tempos atrás
    o tempo da consideração
    quando era menos ambição
    e o coração valia muito mais

    toda a cidade vai cantar
    o cancioneiro popular de tempos atrás
    que já não se faz
    e chega a me dar uma emoção
    de contemplar a multidão
    cantando pelas ruas principais

    joga todo mal pra fora
    abre o peito e chora em paz
    que é bonito demais
    toda cidade cantando
    como nos antigos carnavais
  3. TATUAGEM
    (Nelson Cavaquinho / Guilherme de Brito / Paulo Gesta)


    o meu único fracasso
    está na tatuagem do meu braço

    é feliz quem já viveu aflito
    e hoje tem a vida sossegada
    muita gente tem o corpo tão bonito
    mas tem a alma toda tatuada
  4. INGÊNUO
    (Pixinguinha / Benedito Lacerda)
    * letra: Paulo César Pinheiro


    eu fui ingênuo quando acreditei no amor
    mas, pelo menos jamais me entreguei à dor…
    chorei o meu choro primeiro
    eu chorei por inteiro pra não mais chorar
    e o meu coração permaneceu sereno
    expulsando o veneno pelo meu olhar
    eu procurei me manter como deus mandou
    sem me vingar que a vingança não tem valor
    e depois também perdoar a quem erra
    é ser perdoado na terra
    sem ter que pedir perdão no céu

    eu não quis resolver
    eu não quis recusar
    mas do amor em ruína, uma força termina
    por nos dominar e depois proteger
    dos abismos que a vida traçar
    quando o tempo virar o único mal
    e a solidão começa a ser fatal…
    eu não quis refletir, não
    eu não quis recuar, não
    eu não quis reprimir, não
    eu não quis recear…
    porque contra o bem nada fiz
    e eu só quero algum dia
    ser feliz como eu sou infeliz
  5. RESÍDUOS
    * Introdução: (RESÍDUO) Poema de Carlos Drummond de Andrade
    (Eduardo Gudin / Paulo César Pinheiro)


    o que ficou dói em mim
    como coisa ruim
    como tem quando alguém some assim
    ficou do teu olho a expressão
    do teu lábio a canção
    pra enfrentar solidão

    o que ficou diz bem sim
    como eu sou desde o fim
    desde que quando eu me desavim
    ficou do meu rosto a impressão
    no meu peito um desvão
    do que foi coração

    tudo o que ficou só resíduos são
    como coisas, lugares, paixão
    ficou o teu quadro, o teu quarto, a tensão
    dói saber que esse é o último adeus
    e ficou no teu corpo um pedaço do meu

    o que ficou dói em mim
    como coisa ruim
  6. MARCHA-RANCHO
    (Eduardo Gudin / Maurício Tapajós / Paulo César Pinheiro)


    os ranchos precisam de nós
    com seus dois ou três foliões
    clamando pelos seus cantores
    clarins e tambores e violões
    e a volta dos seus dominós
    para os carnavais de depois
    juntar arlequins nas esquinas
    usar colombinas
    vestir pierrôs

    os ranchos estão clamando por nós
    já desde outros carnavais
    talvez falte a marcha
    que saia nas ruas
    que o povo relembre seu canto de paz

    os ranchos precisam de nós
    e nós de manter tradições
    mas faltam nossos redentores
    novos defensores, mais campeões
    pra queda dos falsos heróis
    pra marcha que se decompôs
    pros cantos voltarem de novo
    pra boca do povo, pros corações
    os ranchos estão clamando por nós
  7. JUSTIÇA
    (Eduardo Gudin / Paulo César Pinheiro)


    não… vou mais te socorrer
    pois o que foi feito por deus
    eu não vou desfazer

    já me botei contra deus
    quis julgar o que achei
    que eu mesmo podia
    pra mim você não merecia sofrer
    me enganei porque deus
    nunca traça os nossos caminhos diretos
    mas sempre dá tudo certo no fim
    e quantas vezes eu não sei
    eu te perdoei
    mas era eu te perdoar
    e deus castigar
  8. VELHO CASARÃO
    (Eduardo Gudin / Paulo César Pinheiro)


    velho casarão meu quarto antigo
    meu porão meu velho abrigo
    mora a solidão comigo
    e lá no jardim na cama verde
    do capim a nossa sede
    de meninos descobrindo o amor
    os doze anos dos dois pelo chão
    e os nossos planos casarmos depois
    era bonito…
    mas um dia ela não voltou
    esperei um mês ou mais
    pela primeira vez fui poeta
    e hoje o casarão é onde eu moro
    e o porão é onde eu choro
    minhas mágoas mais sentidas
    e lá no jardim na mesma cama
    do capim o mesmo drama de menino
    que não passa nunca mais
    nunca mais…
  9. REFÉM DA SOLIDÃO
    (Baden Powell / Paulo César Pinheiro)


    quem da solidão fez seu bem
    vai terminar seu refém
    e a vida pára também
    não vai, nem vem
    vira uma certa paz
    que não faz nem desfaz
    tornando as coisas banais
    e o ser humano incapaz de prosseguir
    sem ter pra onde ir
    infelizmente eu nada fiz
    não fui feliz nem infeliz
    eu fui somente um aprendiz
    daquilo que eu não quis
    aprendiz de morrer
    mas pra aprender a morrer
    foi necessário viver
    e eu vivi
    mas nunca descobri
    se essa vida existe
    ou essa gente é que insiste
    em dizer que é triste ou que é feliz
    vendo a vida passar
    e essa vida é uma atriz
    que corta o bem na raiz
    e faz do mal cicatriz
    vai ver até que essa vida é morte
    e a morte é
    a vida que se quer
  10. MORDAÇA
    (Eduardo Gudin / Paulo César Pinheiro)
    * Introdução: (CAUTELA) Poema de Carlos Drummond de Andrade


    tudo o que mais nos uniu separou
    todo o que tudo exigiu renegou
    da mesma forma que quis recusou
    o que torna essa luta impossível e passiva

    o mesmo alento que nos conduziu debandou
    tudo o que tudo assumiu desandou
    tudo que se construiu desabou
    o que faz invencível a ação negativa

    é provável que o tempo faça a ilusão recuar
    pois tudo é instável e irregular
    e de repente o furor volta
    o interior todo se revolta
    e faz nossa força se agigantar

    mas só se a vida fluir sem se opor
    mas só se o tempo seguir sem se impor
    mas só se for seja lá como for
    o importante é que a nossa emoção sobreviva

    e a felicidade amordace essa dor secular
    pois tudo no fundo é tão singular
    é resistir ao inexorável
    o coração fica insuperável
    e pode em vida imortalizar


    Viva Clara Claridade!!! Viva Arte / Cultura!!!
     Arte/Cultura/Educação!!! 
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