Posted: 27 Jun 2013 07:11 AM PDT
A versão de Faroeste Caboclo (Legião Urbana) para jornalistas.
Era o que todos diziam, jornalista ele nasceu Deixou pra trás toda uma vida bem certinha Só pra sentir a loucura que a profissão lhe deu. Quando criança só pensava em ser repórter Ainda mais quando o jornal de seu pai um dia leu Era o terror das professoras caretonas E na escola um jornalzinho de denúncias escreveu. Ia pra igreja só para ouvir as histórias Que as velhinhas confessavam para o padre Ribamar Rolavam lá uns babados muito fortes E os pecados das velhinhas queria publicar. Ele queria viver para investigar E trabalhar em rádio ou televisão Juntou uma grana para poder estudar De escolha própria, escolheu a profissão. Sabia todas as fofoquinhas da cidade Tanto que aos 13 anos de causos foi contador Sabia até que o prefeito era viado Casamento de fachada pra enganar o eleitor. Durante o dia Santo Cristo trabalhava Representação de vendas e frilas de revisor Ia de noite estudar na faculdade E pegou o seu diploma, jornalista, sim, senhor. Seu município era bem pequenininho Do tamanho de um cuzinho, não dá pra ficar E o jornalista tinha muita coragem e armou uma viagem Para longe se mandar. Dizia ele “Estou indo pra Brasília Lá no Congresso eu quero trabalhar Em redação seguirei a minha trilha Corrupção eu vou denunciar”. E João fez muita pauta bosta Era apenas mais um foca quando foi para o jornal Ele ficava fissurado de vontade De um dia se tornar repórter especial. "Meu Deus, mas que carreira linda E Prêmio Esso no futuro vou ganhar” Cobrir buraco, ralava o dia inteiro E ganhava uns trocados para a pinga. Na sexta-feira ia para o pescoção Gastar toda energia de um jovem sonhador E conhecia muita gente interessante E também puxava o saco de um famoso editor. Era um goiano que vivia em Brasília Da editoria de Política Seu nome era Pablo e ele dizia Que o pobre foca ele ia ajudar. E o Santo Cristo quatro pautas apurava Na Geral não tinha tempo pra comer nem pra cagar Mas se tornou o rei do noticiário Com o faro apurado, o seu nome fez brilhar. Mas o João tinha ambição à beça E decidiu que com o Pablo ele ia conversar Contou a ele por Política seu encanto Teve o sonho conquistado, na área foi trabalhar. Logo, logo, os políticos da cidade souberam da novidade “Tem repórter mala aí!” E João de Santo Cristo meteu o bico Em muitas histórias degradantes dali. Fez inimigos, se achava um cabra forte Não temia sua morte pra se arriscar Mas de repente sob grande influência dos caciques da cidade Começou a se ferrar. Já no primeiro texto ele dançou E pro inferno ele foi pela primeira vez Um processo de calúnia ele tomou “Mas ainda vou pegar vocês”. Agora o João tava mordido Decidido e imbuído por seu velho ideal Não tinha nenhum medo de ameaça De peixinho ou peixe grande do Congresso Nacional. Foi quando conheceu uma menina E com todos os seus desejos ele se fortaleceu Maria Lúcia era uma repórter linda E lutar com o Santo Cristo ela sempre prometeu. Aos poderosos não iria se curvar E justiceiro ele voltou a ser “Maria Lúcia, me ajude a investigar E uma matéria a quatro mãos quero escrever”. O tempo passa e um dia vem na porta Um assessor lá do Senado com dinheiro na mão E ele faz uma proposta indecorosa E diz que espera uma resposta, uma resposta do João. “Pois rabo preso não tenho, seu boçal Nem me vendo por dinheiro, isso eu não faço, não E não me vejo fantoche de picareta Que de repórter pensa em só molhar a mão”. “Por que o senhor daqui logo não vaza? Nunca mais tente ligar ou pisar na redação” Mas antes de sair, com ódio no olhar, o assessor disse: “Você perdeu o seu emprego, meu irmão”. “Você perdeu o seu emprego, meu irmão Você perdeu o seu emprego, meu irmão Essas palavras vão chegar ao teu patrão Que vai meter um pé sem dó no teu bundão”. Não é que o Santo Cristo era esperto Com boas fontes por perto não parou de farejar Pisou na lama e no meio dessa sujeira Descobriu maracutaias pra Malufs invejar. Falou com Pablo para ser seu companheiro Com apoio e sem receio pruns esquemas revelar Pablo devia garantir a sua liberdade Como o tal bom jornalismo sempre ensina. Mas acontece que um tal de Jeremias Presidente do Senado apareceu por lá Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo E decidiu que com João ele ia acabar. Mas uma fonte trouxe a informação E Santo Cristo já podia se animar E decidiu publicá-la só depois Que o Jeremias pudesse se explicar. Jeremias, um corrupto sem-vergonha Usava sua influência pra dinheiro desviar Ele comia jornalistas “inocentes” Era amigo de empreiteira pra pensão poder pagar. E Santo Cristo há muito não ia pra casa Na redação, até tarde, a trabalhar “Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia Já faz um tempo que eu não sei o que é trepar”. Chegando então em casa ele chorou E pro inferno ele foi pela segunda vez Com Maria Lúcia o Jeremias furunfou E um filho nela ele fez. Santo Cristo era só ódio por dentro E então pro assessor do safado ele ligou “Olha amanhã na edição de domingo A denúncia é uma bomba, é nela que eu vou”. “E você pode preparar as suas notas Desmentindo a matéria, ô, seu porco traidor Acabo com suas picaretagens Pro Congresso brasileiro vou fazer o meu favor”. Mas Santo Cristo não soube o que fazer Quando o editor lhe informou a decisão A tal denúncia era para esquecer São ordens altas que chegaram do patrão. Sábado à tarde, eram tipo duas horas E João boquiaberto com o papinho a ouvir Um editor bunda-mole, pau mandado Que fodeu o Santo Cristo começou a sorrir. Sentindo o sangue na garganta João olhou pro editor que insistia em lhe sorrir Arrancou o crachá de seu pescoço “Vá à merda todo mundo, não trabalho mais aqui”. E se lembrou de quando era uma criança E de tudo que vivera até ali E decidiu entrar de vez naquela dança “Ficar calado eu não vou admitir”. E João nunca fechou seus olhos Para toda imundície que ele conheceu Pois sua luta nunca fica pra depois Com a independência que a web lhe deu. “Jeremias, eu sou homem, coisa que você não é E não me curvo aos escrotos, não Olha pra cá senadorzinho sem-vergonha Dá uma lida no meu blog e vem sentir o que é bom”. E Santo Cristo com o post publicado Denunciou o collorido impostor Comissão de Ética se reuniu depois E absolveu o Jeremias senador. E o povo declarava que João de Santo Cristo Era foda porque não ia morrer E a alta burguesia da imprensa Não acreditou que a web tinha lá o seu poder. E João não conseguiu o que queria Quando veio pra Brasília com o Congresso ter Ele queria ser um repórter decente E acabar com essa gente que só faz... Feder. Já comprou o livro do Duda Rangel? Conheça a loja aqui, curta, compartilhe. 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De: Desilusões perdidas <desilusoesperdidas@
Data: 27 de junho de 2013 11:17 Assunto: Blog Desilusões perdidas Para: sulinha.imprensalivre@ |
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