21 agosto, 2012

Eternamente Clara Nunes

Série de TV, caixa de CDs e relançamento de biografia abordam o mito nos 70 anos da cantora, que ainda tem material inédito
Ouça Clara cantando 'Quando o carnaval chegar' (Chico Buarque), que nunca gravaria, em ensaio para o show 'Sabiá, sabiô', projeto abortado em 1972
Ouça Clara cantando 'Quando o carnaval chegar' (Chico Buarque), que nunca gravaria, em ensaio para o show 'Sabiá, sabiô', projeto abortado em 1972 Wilton Montenegro
RIO - Assim como aconteceu com Elis Regina, a morte precoce de Clara Nunes reforçou a mitologia que já a envolvia enquanto brilhava em palcos e discos. Por ocasião dos 70 anos que ela completaria neste domingo (12/08) â€” se não tivesse sido derrotada aos 39, em 1983, por uma malsucedida cirurgia de varizes —, o mito Clara será reverenciado em discos, shows, documentário, livro e no memorial que será inaugurado hoje em sua cidade natal, Caetanópolis, a 100 quilômetros de Belo Horizonte.
” As gerações mais novas vêm tomando conhecimento de Clara, há seguidores. Não vai ser em vão a beleza que ela deixou ” confia o compositor Paulo César Pinheiro, que era casado com Clara e, nas últimas décadas, cedeu tudo o que possuía da cantora para iniciativas de preservação e divulgação do trabalho dela.
Quando a EMI lançou em 2004 uma caixa com todos os 16 discos (reunidos em oito CDs) gravados por Clara, Paulo César achou que a tiragem deveria ter sido maior — ele se lembra de 5 mil unidades e a gravadora fala em 2 mil. Fiava-se na histórica popularidade da cantora, a primeira no Brasil a ultrapassar a barreira das cem mil cópias vendidas de LPs e cujos números musicais eram atração frequente do “Fantástico”. A nova edição, que sairá até o fim do ano também com um nono CD de raridades, terá 2 mil exemplares, e os títulos não serão vendidos separadamente.
” Os discos da Clara devem estar sempre em catálogo. É um trabalho atemporal ” diz o compositor.
A discografia poderá ficar maior do que o conjunto que vai de “A voz adorável de Clara Nunes” (1966) — um dos três da fase em que tentavam fazer dela uma intérprete apenas romântica, e não a grande sambista que se tornaria a partir de 1971 — a “Nação” (1982). O técnico de som Genival Barros tem em sua casa, em São Paulo, dois shows que gravou: “Sabor bem Brasil”, que rodou o país em 1974 e no qual Clara era mestre de cerimônias de Luiz Gonzaga, João Bosco, Waldir Azevedo, Altamiro Carilho e outros; e uma apresentação em Abidjan, na Costa do Marfim, em 1979, numa viagem de que também participou João Nogueira. Ele quer vender as fitas para a EMI, que ainda não concordou com os valores.
— Clara era fabulosa. E parecia uma gigante no palco. Gravei os shows porque sabia que eram importantes. Guardei para mim, mas, se uma gravadora quer lançá-los comercialmente, é natural que haja uma bonificação — comenta Genival Barros, de 72 anos, há 46 cuidando do som dos shows de Roberto Carlos.
Quem descobriu o material inédito foi Vagner Fernandes, autor da biografia “Clara Nunes — Guerreira da utopia”, lançada em 2007 e que, revisada e com alguns acréscimos, ganhará nova edição este ano. O jornalista também é o curador da caixa da EMI e o idealizador da série em cinco episódios “Clara guerreira”, que o Canal Brasil exibirá em novembro. Com direção de Darcy Burger, o documentário se baseia em 42 depoimentos (de Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Alcione, João Bosco etc.) e imagens de arquivo. Um sexto episódio será um show da baiana Mariene de Castro a ser gravado em setembro, no Teatro Tom Jobim, com participações de Zeca Pagodinho e Diogo Nogueira. Ainda há o plano de se levar uma versão ao cinema em 2013.
— O reconhecimento da importância da Clara na música brasileira existe. O que eu ainda acho que não existe é um reconhecimento institucional, público, do Estado. No Rio, muito mais do que um mergulhão, deveria haver um espaço cultural com o seu nome — afirma Fernandes, referindo-se ao Mergulhão Clara Nunes, inaugurado em maio em Campinho, na Zona Norte.
Aos 81 anos, Maria Gonçalves realiza hoje um sonho acalentado há 28. Pouco após a morte da caçula de seus seis irmãos, Mariquita, como é conhecida na pequena Caetanópolis (10 mil habitantes), iniciou seu projeto de criar um memorial para guardar e expor discos, figurinos, troféus e um grande acervo de Clara. Após inúmeras negativas, ela convenceu um deputado estadual a apresentar uma emenda e garantir R$ 250 mil para a empreitada.
— Mesmo sem condições ideais, eu mostrava parte do acervo para quem vinha à cidade e perguntava por ela. Clara gostava daqui, passava todo Natal com a família — diz Mariquita, que criou Clara depois que ela perdeu pai (aos 2 anos) e mãe (aos 6); aos 15, a futura cantora se mudou para Belo Horizonte a fim de fugir de um escândalo: para proteger sua honra de moça de família, um irmão seu matou seu namorado.
Até o fim do ano, a EMI também pretende lançar em DVD um especial que Clara realizou para a TV Bandeirantes em 1973, com direção de Roberto de Oliveira. Ela é acompanhada pelo grupo Nosso Samba em músicas de Cartola, Nelson Cavaquinho, Chico Buarque e outros, além de sambas-enredo.
E o biógrafo da cantora ainda participará de shows-palestras sobre Clara. No Rio, o evento será com Rita Beneditto (ex-Ribeiro) na Miranda, no próximo dia 21.
 
 
 
Clara Nunes
Clara Nunes
 
Clara Francisca Gonçalves Pinheiro, conhecida como Clara Nunes ((cidade)|Rio de Janeiro, 2 de abril de 1983), foi uma cantora brasileira, considerada uma das maiores intérpretes do país. Pesquisadora da música popular brasileira, de seus ritmos e de seu folclore, Clara também viajou várias vezes para a África, representando o Brasil. Conhecedora das danças e das tradições afro-brasileiras, ela se converteu à umbanda. Clara Nunes seria uma das cantoras que mais gravaria canções dos compositores da Portela, sua escola do coração. Também foi a primeira cantora brasileira a vender mais de 100 mil cópias, derrubando um tabu segundo o qual mulheres não vendiam discos.

Biografia

Caçula dos sete filhos do casal Manuel Ferreira de Araújo e Amélia Gonçalves Nunes, Clara Nunes nasceu no interior de Minas Gerais, no distrito de Cedro - à época pertencente ao município de Paraopeba e depois esse distrito virou cidade e foi emancipado com o nome de Caetanópolis, onde viveu até os 16 anos.
Marceneiro na fábrica de tecidos Cedro & Cachoeira, o pai de Clara era conhecido como Mané Serrador e também era violeiro e participante das festas de Folia de Reis. Mas Manuel morreu em 1944 e, pouco depois, Clara ficaria também órfã de mãe e acabaria sendo criada por sua irmã Dindinha (Maria Gonçalves) e o irmão José (conhecido como Zé Chilau). Naquela época, Clara participava de aulas de catecismo na matriz da Cruzada Eucarística. Lá também cantava ladainhas em latim no coro da igreja.
 
 
https://www.facebook.com/#!/pages/Clara-Nunes/103092006398470


.
Morena de AngolaMorena de Angola
 
"Morena de Angola" é uma canção escrita pelo cantor e compositor brasileiro Chico Buarque de Hollanda e originalmente interpretada por Clara Nunes no álbum Brasil Mestiço, lançado em 1980. Composta a pedido da cantora, a canção se tornaria uma das mais famosas da carreira dela.

Informação

Antecedentes

Clara Nunes preparava o conceito do álbum Brasil Mestiço desde o final de 1979. Seguindo a sugestão de seu maquiador, Guilherme Pereira, fez permanente no cabelo, com a finalidade de obter uma aparência mais afro-brasileira. O álbum, que começou a ser gravado em julho de 1980, já estava com o repertório praticamente definido e o conceito do mesmo seria ratificado por uma viagem que Clara fez em maio de 1980 a Luanda, Angola, a convite de Chico Buarque, para uma série de apresentações com outros 64 artistas brasileiros no Projecto Kalunga, cuja renda seria destinada à construção de um hospital. A amizade entre os dois artistas iniciou-se graças ao marido de Clara, o compositor Paulo César Pinheiro, que conhecia Chico desde os bastidores dos festivais da TV Record. Ambos disputaram a I Bienal do Samba, tendo Pinheiro vencido a disputa com a composição "Lapinha". A viagem a Angola, no entanto, estreitaria os laços entre Clara e Chico.
Em junho de 1980, já no Brasil, a cantora entrou em estúdio para gravar Brasil Mestiço. Apesar do repertório estar fechado, ela ligou para Chico pedindo que este composse uma música para ela, assim como havia lhe prometido durante a viagem. O compositor enviou "Morena de Angola" a Clara, faixa que abriria o álbum e se tornaria um dos maiores sucessos da cantora. A canção encantou os produtores do Fantástico, que converteram-na em um videoclipe, que estreou no dia 17 de agosto de 1980, um dia antes do lançamento do álbum. Uma das músicas de trabalho do álbum, "Morena de Angola" se tornaria uma das mais famosas da carreira de Clara Nunes.