Cega
desde os três anos de idade, Alexandra Kátia, de 29 anos, conta com a
ajuda da filha Alice, de 4 anos, para conseguir enfrentar uma maratona
de obstáculos ao caminhar pelas ruas do Centro de Teresina. Segundo
Alexandra, é um verdadeiro desafio andar pelas calçadas, pois buracos,
postes, calçadas e orelhões são alguns dos problemas que ela precisa
enfrentar ao se locomover pela cidade. Mas com a ajuda de Alice fica
mais fácil resolver os problemas.
A
mãe conta que desde os três anos a filha tem lhe ajudado a caminhar
pela cidade e isso facilitou a sua vida, uma vez que não precisa mais
sair com a bengala, o que passou a ser um pouco mais complicado há
alguns meses após o nascimento do seu filho Alison, hoje com 2 meses.
“Como hoje tenho dois filhos e preciso resolver os problemas na rua, a
ajuda de Alice é muito importante, pois levo o bebê no baço e seguro a
mão dela com a outra mão e não preciso levar a bengala. Dessa forma,
consigo não mais cair tropeçando em calçamentos ou buracos”, explicou.
Ao ser questionada como ajuda a sua mãe, a pequena Alice falou que
não faz muita coisa apenas diz para “ela ir para lá ou para cá” quando
se depara com algum obstáculo. “Eu guio a minha mãe, puxo a mão dela e
digo: mãe vem pra cá, tem um poste na frente. Ajudo também quando é para
descer ou subir nas calçadas”. A criança conta ainda como aprendeu a
ajudar a mãe. “Ela me disse como era pra fazer uma vez e eu fiz, agora
guio ela por todos os lugares e ajudo ela a limpar a boca quando ela
come e se suja”, disse a menina.
Segundo Alexandra, a filha é quem está no controle quando é para
guiá-la pelas calçadas, mas quando tem que atravessar a rua o controle
volta a ser dela. “Ela é muito esperta e ligada em tudo ao seu redor,
por isso quando é para atravessar a sua eu tomo o controle, pois tenho
medo que ela se desconcentre e aconteça algo de ruim, faço isso para não
colocar a minha filha em risco. Então quando é para atravessar ela me
avisa, eu estendo a mão para os motoristas avisando que quero atravessar
e quando percebo que é seguro eu atravesso”, contou.
Alexandra explica também que conta com a ajuda de outras pessoas para
se deslocar pela cidade e que algumas vezes alguns não entendem a sua
deficiência e só a julgam como incapaz. “Os motoristas e cobradores me
ajudam bastante quando é para pegar ou descer do ônibus e como já diz o
ditado: Quem tem boca vai à Roma. E dessa forma ou vou para todo canto,
rodo essa cidade inteira, mas às vezes eu encontro pessoas grossas que
pegam no braço da gente de qualquer jeito para atravessar a rua ou pra
fazer qualquer outra atividade. O que elas não entendem é que eu não
quero que faça tudo por mim, eu quero apenas que me oriente como fazer.
Eu tenho uma dificuldade a mais que algumas pessoas, mas eu não sou
incapaz”.
Em casa, Alexandra conta que a única coisa que quer que a filha faça é
estudar para que tenha uma vida melhor. “Eu moro com meus dois filhos e
um irmão, que não tem como me ajudar muito, pois passa o dia no
trabalho, mas sempre que tem um tempo ele me ajuda limpando a casa. Levo
uma vida com um pouco mais de trabalho, mas nada que eu não dê conta.
Dedico a maior parte do meu tempo para cuidar das crianças e quando
tenho um tempo livre aproveito para limpar a casa e colocar as coisas em
ordem, mas a minha prioridade são eles. Quero que estudem e se tornem
pessoas de bem”, falou.