Saca só, vinilesquizofílico! Uma bolacha duplamente crioula
histórica. Uma, porque se trata de um dos mais talentosos compositores e
cantores da Música Popular Brasileira. Outra, porque a bolacha crioula
reúne uma plêiade de músicos dos melhores artistas da estética musical.
Gravado em 1980, esse vinil, Paulo César Pinheiro, além de
mostrar a obra do próprio carrega em contiguidade e contato verdadeiras
feras do universo musical brasileiro. Para compor essa bolacha crioula,
Paulo César Pinheiro, marido da bela, sensível e afortunada musical,
Clara Nunes, encadeou fluxos musicais com Tom Jobim, Baden Powell,
Eduardo Gudin, Maurício Tapajós, Sivuca, Ivor Lancellotti, Mauro Duarte,
Dori Caymmi, Guiga e João Nogueira. É molhe, meu? Coisa de louco! Um
verdadeiro fluxo esquizo.
E mais, vinilesquizofílico! Todos esses camaradas tiveram
participação ativa na luta de resistência artística contra a ditadura
civil-militar implantada no Brasil entre os anos de 1964 e 1985. Apesar
da repressa, todos permitiram que os fluxos libertários fossem
segregados por suas músicas e interpretações.
Mas, deixemos de delongas e vamos ao texto escrito pelo
próprio Paulo César Pinheiro para narrar o processo de criação, suas
parcerias e seu projeto. Manda, Pinheiro!
"Este disco contém três aspectos importantes de minha vida profissional. Primeiro, a ideia de mostrar os vários caminhos pra onde a poesia me leva na música de cada parceiro com que costumo compor e que pretendo continuar num volume dois com os que aqui não aparecem por falta de espaço. Segundo, a participação de cada um deles nas suas respectivas faixas, tocando, arranjando ou cantando, nos dando assim um mosaico dos grandes compositores, e das vozes mais diversas e estranhas de nossa música popular. E terceiro e definitivo o Brasil. O Brasil musical de cidade e sertão que corre em minhas veias.
Sertão da seca do Norte, Cariri, Paraíba. Terra de meu
pai, caboclo e seus antepassados índios e negros. Sertão da Mata. Do
sul. Dos montes verdes, litorais e serras. De Angra dos Reis terra de
minha mãe e de meu pescador avô e seus ancestrais brancos e índios. E os
subúrbios da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, onde nasci e me
criei em suas esquinas e praças, ruas e botequins. Este Brasil que aqui
está Villa-Lobos disse um dia, não com as mesmas palavras, mas com esse
sentido: quanto mais a gente penetra no coração de nossa terra mais a
nossa música se universaliza. A partir desse raciocínio é que eu existo.
E agradeço demais de coração aos parceiros amigos que
tanto me ajudaram pra que tudo isso pudesse ser feito. Ao Tom que gravou
um dia ante de viajar para os Estados Unidos. Ao Baden e ao Gudin que
vieram de São Paulo na maior boa vontade e ainda tocaram nas faixas de
outros. Ao Sivuva que entre um show e outro arrumou um tempo pra gravar a
sua. Ao Mauro, ao Ivor e ao Guiga que tiveram muitas vezes ao meu lado
nesse mês de gravação me dando uma força. Ao Maurício que sem pestanejar
lá estava quando eu o precisava. Ao João que chegou de Angola quase que
direto pro estúdio. E ao Dori de valiosíssima colaboração fazendo
quatro arranjos regendo um e tocando na de Tom e cantando comigo.
Minha eterna gratidão a todos e contem sempre com esse poeta no que eu puder e souber fazer”.
Paulo César Pinheiro
LADO – A
Pelas Ruas da Cidade/Minha Esquina/Mesa Redonda/Jogo de Angola/Mãos Vazias/Mãe África.
LADO – B
Toada Brasileira/Quadrão/Estrela da Terra/Estrela-Guia/Matita Peré.
Arte/Cultura/Humor!!!
Sabedoria, Saúde e $uce$$o: Sempre.