Segue coletânea de artigos sobre o já mítico presidente Lula.
Mário Garnero, testa de ferro do Barão Rothschild no Brasil conta sobre o “Lula Secreto”
Mistério (e suspeita) na gênese desse lider politico
“Um dos grandes mistérios da história politica brasileira é
compreender por que, afinal, os próceres do regime militar deixaram um
jovem e desconhecido metalúrgico Luís Inácio da Silva, sem origem
partidária e sem referência, sem grandes articulações, de repente se
transformar em grande líder. Lula tem estrela? Sorte? É um predestinado?
Ou teria sido construído, meticulosamente, nos arquivos secretos da
ditadura? Fala-se inclusive, entre os militares da repressão, que Lula
seria invenção do general Golbery do Couto e Silva, em armação com o
empresário Mario Garnero. Será? Esta última possibilidade, a de haver um
“Lula Secreto”, sempre foi aventada, mas nunca provada.
Recebi tempos atrás (de Alfredo Pereira dos Santos) cópia do capitulo
de um livro de autoria do próprio Mário Garnero, “JOGO DURO”, relatando
sua relação com Lula nos anos 70. O livro, já esgotado, foi editado
pela Best Seller em 1988. O depoimento em questão vai da página 130 à
135. “Alguém já estranhou o fato do Lula jamais ter contestado o que o
Garnero disse no livro nem tê-lo processado?”, indaga Alfredo Pereira
Santos, autor da digitalização do trecho. Seria essa recusa decorrente
da afirmação do próprio Garnero, segundo a qual…
“Longe de mim querer acusá-lo de ser o Cabo Anselmo do ABC, mesmo
porque, ao contrário do que ocorre com o próprio Lula, eu só acuso com
as devidas provas. Só me reservo o direito de achar estranho” (…) “Lula
foi a peça sindical na estratégia de distensão tramada pelo Golbery – o
que não sei dizer é se Lula sabia ou não sabia que estava desempenhando
esse papel”, escreve ainda Garnero.
Procurei o próprio Mário Garnero para conversar sobre o assunto. Ele
me recebeu com toda deferência, na sede do Brazilinvest, na av. Faria
Lima, São Paulo. Em almoço com talheres de prata. “Não quero mais falar
sobre isso”, desconversou Garnero. Sobre o livro, ele disse que já
passou, que os tempos são outros (escreveu-o depois de ser preso, quando
ainda guardava muitas mágoas), e que hoje não tem qualquer intenção de
ressuscitar o assunto. Insisti daqui, perguntei das mais diversas
formas. Sempre muito gentil, nada de novo informou. Mas o essencial está
registrado em livro. Fiquem com o depoimento do Garnero, vale à pena
ler até o fim e a fim de tirar as próprias conclusões.”
X X X
Um dos motivos para a recusa de Garnero em comentar o assunto pode se
dar ao fato de que quase 20 anos depois de ter sido banido do mercado
financeiro, Mário Garnero voltou ao centro do poder abraçado ao governo
Lula. À frente dos presidentes do Senado, José Sarney, e do Supremo
Tribunal Federal, Nelson Jobim, dos ministros Dilma Rousseff e Ciro
Gomes e de sete governadores, foi anfitrião das autoridades e dos 300
empresários presentes em seminário no ano de 2004.
Foi em 2002 que Garnero entrou em ação e ofereceu seus serviços para aproximar o PT e os banqueiros internacionais. Uma resposta ao tal “lulometro”, um índice de desconfiança do capital estrangeiro com a possível eleição de Lula a presidência.
Foi em 2002 que Garnero entrou em ação e ofereceu seus serviços para aproximar o PT e os banqueiros internacionais. Uma resposta ao tal “lulometro”, um índice de desconfiança do capital estrangeiro com a possível eleição de Lula a presidência.
Garnero até articulou uma viagem de José Dirceu aos Estados Unidos
que incluiu desde palestras para investidores no banco Morgan Stanley
até visitas a gabinetes de altos funcionários em plena Casa Branca.
Eis a transcrição de seu livro de 1988:
“Eu me vi obrigado, no final do ano passado, a enviar um bilhetinho
pessoal a um velho conhecido, dos tempos das jornadas sindicais do ABC.
Esse meu conhecido tinha ido a um programa de tevê e, de passagem, fez
comentários a meu respeito e sobre o Brasilinvest que não correspondem à
verdade e não fazem jus à sua inteligência.
Sentei e escrevi: “Lula…” Achei que tinha suficiente intimidade para
chamá-lo assim, embora, no envelope, dirigido ao Congresso Nacional, em
Brasília, eu tenha endereçado, solenemente: “A Sua Excelência, Sr. Luiz
Ignácio Lula da Silva”. Espero que o portador o tenha reconhecido, por
trás daquelas barbas.
No bilhete, tentei recordar ao constituinte mais votado de São Paulo
duas ou três coisas do passado, que dizem respeito ao mais ativo líder
metalúrgico de São Bernardo: ele próprio, o Lula. Não sei como o nobre
parlamentar, investido de novas preocupações, anda de memória. Não
custa, portanto, lembrar-lhe. É uma preocupação justificável, pois o
grande líder da esquerda brasileira costuma se esquecer, por exemplo, de
que esteve recebendo lições de sindicalismo da Johns Hopkins University,
nos Estados Unidos, ali por 1972, 1973, como vim a saber lá, um dia. Na
universidade americana até hoje todos se lembram de um certo Lula com
enorme carinho
Além dos fatos que passarei a narrar, sinto-me no direito de externar
minha estranheza quanto à facilidade com que se procedeu à ascensão
irresistível de Lula, nos anos 70, época em que outros adversários do
governo, às vezes muito mais inofensivos, foram tratados com impiedade.
Lula, não – foi em frente, progrediu. Longe de mim querer acusá-lo de
ser o Cabo Anselmo do ABC, mesmo porque, ao contrário do que ocorre com o
próprio Lula, eu só acuso com as devidas provas. Só me reservo o
direito de achar estranho..
Lembro-me do primeiro Lula, lá por 1976, sendo apresentado por seu
patrão Paulo Villares ao Werner Jessen, da Mercedes-Benz, e, de repente,
eis que aparece o tal Lula à frente da primeira greve que houve na
indústria automobilística durante o regime militar, ele que até então
era apenas o amigo do Paulo Villares, seu patrão. Recordo-me de a
imprensa cobrir Lula de elogios, estimulando-o, num momento em que a
distensão apenas começava, e de um episódio que é capaz de deixar
qualquer um, mesmo os desatentos, com um pé atrás.
Foi em 1978, início do mês de maio. Os metalúrgicos tinham cruzado os
braços, a indústria automobilística estava parada e nós, em Brasília,
em nome da Anfavea , conversando com o governo sobre o que fazer. Era
manhã de domingo e estive com o ministro Mário Henrique Simonsen. Ele
estivera com o presidente Geisel, que recomendou moderação: tentar
negociar com os grevistas, sem alarido. Imagine: era um passo que nenhum
governo militar jamais dera, o da negociação com operários em greve.
Geisel devia ter alguma coisa a mais na cabeça. Ele e, tenho certeza, o
ministro Golbery.
Simonsen apenas comentou, de passagem, que Geisel tinha recomendado
que Lula não falasse naquela noite na televisão, como estava programado.
Ele era o convidado do programa Vox Populi, que ia ao ar na TV
Cultura-o canal semi-oficial do governo de São Paulo. Seria uma situação
melindrosa. “Nem ele, nem ninguém mais que fale em greve”, ordenou
Geisel.
Saí de Brasília naquela manhã mesmo, reconfortado pela notícia de que
ao governo interessava negociar. Desci no Rio com as malas e me
preparei para embarcar naquela noite para uma longa viagem de negócios
que começava nos Estados Unidos e terminava no Japão. Saí de Brasília
também com a informação de que Lula não ia ao ar naquela noite.
Mas foi, e, no auge da conflagração grevista, disse o que queria
dizer, numa televisão sustentada pelo governo estadual. Fiquei sabendo
da surpreendente reviravolta da história num telefonema que dei dos
Estados Unidos, no dia seguinte. Senti, ali, o dedo do general Golbery.
Mais tarde, tive condições de reconstituir melhor o episódio e apurei
que Lula só foi ao ar naquele domingo porque no vai-não-vai que precedeu
o programa, até uma hora e meia antes do horário, prevaleceu a opinião
de Golbery, que achava importante, por alguma razão, que Lula aparecesse
no vídeo. O general Dilermando Monteiro, comandante do II Exército,
aceitou a argumentação, e o governador Paulo Egydio Martins,
instrumentado pelo Planalto, deu o nihil obstat final ao Vox Populi.
Lula foi a peça sindical na estratégia de distensão tramada pelo
Golbery – o que não sei dizer é se Lula sabia ou não sabia que estava
desempenhando esse papel. Só isso pode explicar que, naquele mesmo ano, o
governo Geisel tenha cassado o deputado Alencar Furtado, que falou uma
ou outra besteira, e uns políticos inofensivos de Santos, e tenha
poupado o Lula, que levantava a massa em São Bernardo. É provável que,
no ABC, o governo quisesse experimentar, de fato, a distensão. Lula fez a
sua parte.
Mais tarde, ele chegou a ser preso, julgado pelo Supremo Tribunal
Federal, enfrentou a ameaça de helicópteros do Exército voando rasantes
sobre o estádio de Vila Euclides, mas tenho um outro testemunho pessoal
que demonstra o tratamento respeitoso, eu diria quase especial,
conferido pelo governo Geisel ao Lula- por governo Geisel eu entendo,
particularmente, o general Golbery. Dois ex-ministros do Trabalho- Almir
Pazzianotto e Murilo Macedo – podem dar fé ao que vou narrar.
Aí, já estávamos na greve de 1979, que foi especialmente tumultuada. O
movimento se prolongava, a indústria estava parada havia quinze dias, e
todos nós, exaustos, empresários e trabalhadores, tentávamos uma
solução. Marcamos, no fim de semana, uma reunião na casa do ministro do
Trabalho, Murilo Macedo, aqui em São Paulo.
Domingo , 8 da noite. O ministro, mais o Theobaldo de Nigris, presidente da Fiesp, dois ou três representantes de sindicatos patronais, eu, pela indústria automobilística, e a diretoria dos três sindicatos operários, o de São Bernardo, o de São Caetano e o de Santo André. Reunião sigilosa. Coisas do Brasil: como era um encontro reservado, a imprensa ficou sabendo. Chegou antes de nós.
Domingo , 8 da noite. O ministro, mais o Theobaldo de Nigris, presidente da Fiesp, dois ou três representantes de sindicatos patronais, eu, pela indústria automobilística, e a diretoria dos três sindicatos operários, o de São Bernardo, o de São Caetano e o de Santo André. Reunião sigilosa. Coisas do Brasil: como era um encontro reservado, a imprensa ficou sabendo. Chegou antes de nós.
Muita
tensão, muito cansaço. E como o uísque do ministro era
generoso, por volta das 2 da manhã tivemos a primeira queda.
Literalmente, desabou sobre a mesa de negociações o deputado
federalBenedito Marcílio, presidente do Sindicato de São Caetano,
continuamos
sem ele. Por volta das 4 e meia da madrugada , fechamos o acordo com
Lula e com o outro (Pazzianotto servia como assessor jurídico do
Sindicato de São Bernardo). Saem todos. Lula assume o compromisso de ir
direto para a assembléia permanente em Vila Euclides, e desmobilizar a
greve. O ministro do Trabalho, aliviado, ainda teve tempo de
confidenciar: “Olha, se não saísse esse acordo, teria intervenção nos
sindicatos”. Fomos dormir.
Quando acordei, disposto a saborear os frutos do trabalhoso
entendimento, sou informado de que, de fato, Lula tinha ido direto para a
assembléia. Como prometera. Chegou lá e botou fogo na massa. A greve
iria continuar. Acho difícil que ele tenha feito de má fé. Sujeito
maleável, sensível, ele deve ter percebido que o seu poder de persuasão
sobre a assembléia não era tão amplo assim. Cedeu. Mesmo sabendo que as
conseqüências se voltariam contra ele, como havia dito o ministro Murilo
Macedo: intervenção no sindicato, ele afastado. Foi o que se deu.
Gostaria de lembrar ao Lula – que me trata como um desafeto – que sua
volta ao sindicato, em 1979, começou a acontecer num escritório da
Avenida Faria Lima, número 888, um dia depois da intervenção decretada.
Ocorre que esse escritório era o meu e que ainda guardo uma imagem
bastante nítida do Lula e do Almir Pazzianotto, sentadinhos nesse mesmo
sofá que eu ainda tenho sob meus olhos, enquanto eu ligava
alternadamente para o Murilo Macedo e para o Mário Henrique Simonsen, em
Brasília.
– Se a intervenção acabar no ato, eu paro a greve – dizia Lula.
Eu transmitia o recado aos dois ministros que negociavam em nome do governo.
– Não é possível, o governo não pode fazer isso. Pára a greve que, em
quinze, vinte dias, o sindicato estará livre – me respondiam, de
Brasília.
Lula foi cedendo, aconselhado pelo Pazzianotto. Mas o acordo empacou num ponto:
– Como é que vou lá propor isso à peãozada, se não tenho nenhuma
garantia de que o governo vai cumprir a promessa de acabar com a
intervenção? – observou ele, cauteloso.
Confesso que também empaquei. Mas decidi arriscar:
Confesso que também empaquei. Mas decidi arriscar:
– E se for eu o fiador? – perguntei. Era a única garantia que poderia oferecer.
– Como assim? – quis saber Pazzianotto.
– O seguinte: se o Lula não voltar ao sindicato, eu, na qualidade de
presidente da Anfavea, vou ao público e conto esta história, dizendo que
eu também fui ludibriado. Entro nisso com vocês.
Lula pensou um minuto:
Lula pensou um minuto:
– Aceito.
Liguei para o ministro Simonsen, para o Murilo Macedo, e, depois,
para o Golbery, que prometeu: “Nós suspendemos a intervenção dentro de
um mês e ele volta”.
A greve terminou. A intervenção foi suspensa em dez dias. Lula voltou à presidência do Sindicato de Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, para se preparar para vôos mais ambiciosos, que eu ainda acompanho, à distância, com bastante interesse.
A greve terminou. A intervenção foi suspensa em dez dias. Lula voltou à presidência do Sindicato de Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, para se preparar para vôos mais ambiciosos, que eu ainda acompanho, à distância, com bastante interesse.
No programa de tevê que citei, Lula reclamava de o Brasilinvest não ter pago seus débitos. O Brasilinvest nunca deveu aos trabalhadores, nem aos contribuintes brasileiros. Naquele momento em que Lula falava, os únicos credores com os quais os Brasilinvest ainda não tinha resolvido todas as suas pendências eram uns poucos bancos estrangeiros. Curioso que o presidente do Partido dos Trabalhadores tomasse as dores de banqueiros internacionais.“
x x x
Dora Kramer fragmento de artigo publicado no Jornal do Brasil, 18 de agosto de 2004:
“O sindicalista Lula – ao contrário do que parece – não se absteve de
estudar. Há relatos – nunca desmentidos – de sua preparação em cursos
de AFL CIO, as centrais sindicais norte-americanas, quintessência do
peleguismo e do anti-esquerdismo em geral e na John Hopkins University,
em Baltimore, Estados Unidos (em 1972 ou 73), onde teria feito um curso
de liderança sindical, desenhado sob medida para parecer de esquerda,
apenas parecer, mas servir ao sistema dominante. Merece um doutorado
honoris causa, ou seria horroris causa? E, além disso, já como diretor
do sindicato dos Metalúrgicos, cursou o Instituto Interamericano para o
Sindicalismo Livre, (Iadesil), sustentado pela CIA e passou a adotar sua
própria “agenda”, livrando-se do próprio irmão, o Frei Chico, quadro
do Partido Comunista.”
X X X
Da entrevista do ex-deputado Sinval Boaventura ao Jornal Opção na edição de 22 a 28 de janeiro de 2006. (Foto: Golbery)
“Repórter: É verdadeira a história de uma reunião na casa do então deputado Simões da Cunha, na qual a deputada Ivete Vargas teria contado que saíra de um encontro com o general Golbery e este revelou que ia projetar o sindicalista Lula para ser o anti-Brizola ?
Sinval Boaventura: A Ivete Vargas* disse que tinha
estado com o ministro Golbery, na chácara dele, e que ele dissera que
precisava trazer o Brizola para o Brasil, porque ele estava se tornando
um mito muito forte fora do país. Que era melhor ele voltar e disputar
eleição, porque assim perderia o prestigio politico. Fui ao Golbery e
ele confirmou a conversa com a Ivete. Explicou que sua estratégia era
estimular a imprensa para projetar o Luiz Inácio da Silva, o Lula, um
grande lider metalúrgico de São Paulo como uma liderança inteligente
expressiva, para ser preparado como o anti-Brizola. Sou testemunha deste
tese do general Golbery. ”
*Ivete
Vargas cujo marido trabalhava para Golbery, em 1979 presidiu uma das
facções que disputaram o controle da sigla do PTB, com o grupo de Leonel
Brizola, e finalmente, em 1980, por decisão do TSE, ganhou a disputa, e
se tornou a Presidente Nacional do Novo PTB. Um novo PTB, governista,
criado exclusivamente para enfraquecer Brizola.
Terra Magazine – As vitórias de FHC e Lula, um intelectual e um operário, podem ser consideradas uma herança de 68?
Jarbas Passarinho – Do Fernando Henrique, sim. Porque, como disse o Delfim (Netto), ele foi auto-exilado. Ele saiu do Brasil como o Delfim dizia: com passaporte e bagagem despachada (risos).
Jarbas Passarinho – Do Fernando Henrique, sim. Porque, como disse o Delfim (Netto), ele foi auto-exilado. Ele saiu do Brasil como o Delfim dizia: com passaporte e bagagem despachada (risos).
Mas é um julgamento suspeito. FHC e Delfim não se dão bem…
Tanto ele como o (José) Serra. Todos os dois depois ficaram meus amigos. Esse (FHC) eu considero um subproduto direto. O Lula, não. Lula pode constar como do Golbery (do Couto e Silva, 1911-1987, general e fundador do SNI).
Tanto ele como o (José) Serra. Todos os dois depois ficaram meus amigos. Esse (FHC) eu considero um subproduto direto. O Lula, não. Lula pode constar como do Golbery (do Couto e Silva, 1911-1987, general e fundador do SNI).
Golbery, por quê?
Golbery fez tudo para conquistar o Lula. E a mudança de posição do próprio Figueiredo foi quando Lula começou a fazer as greves. Entendia que ele fosse um êmulo de Gandhi, já que ele não tinha lido o (Henry David) Thoreau, mestre da desobediência civil. Ele não leu nada, então é isto. Mas Gandhi ele devia saber… Me lembro quando ele deu uma declaração à TV, não aceitando a decisão do Tribunal do Trabalho de São Paulo sobre a reposição salarial dos trabalhadores. Lula disse: “Não reconheço esse tribunal”. Me lembro bem. Era desobediência civil! Coloco bem diferente do resto, até porque a reação dele já foi quando todas as liberdades fundamentais estavam restabelecidas.
Golbery fez tudo para conquistar o Lula. E a mudança de posição do próprio Figueiredo foi quando Lula começou a fazer as greves. Entendia que ele fosse um êmulo de Gandhi, já que ele não tinha lido o (Henry David) Thoreau, mestre da desobediência civil. Ele não leu nada, então é isto. Mas Gandhi ele devia saber… Me lembro quando ele deu uma declaração à TV, não aceitando a decisão do Tribunal do Trabalho de São Paulo sobre a reposição salarial dos trabalhadores. Lula disse: “Não reconheço esse tribunal”. Me lembro bem. Era desobediência civil! Coloco bem diferente do resto, até porque a reação dele já foi quando todas as liberdades fundamentais estavam restabelecidas.
O senhor conversou com Golbery, alguma vez, sobre Lula?
Não. Minhas relações com Golbery foram difíceis. No final, como eu faço muito no meu estilo, quando ele se demitiu do governo, eu era ministro e fui visitá-lo. Aliás, fiquei impressionado porque era um sítio cheio de animais, a esposa dele gostava muito. E as estantes dele eram muito precárias do ponto de vista da madeira. Mas eram enormes, um pavilhão inteiro de livros. Com a vantagem de que eram livros que eu também tinha lido (risos). Ele não comprava a coisa por metro.
Não. Minhas relações com Golbery foram difíceis. No final, como eu faço muito no meu estilo, quando ele se demitiu do governo, eu era ministro e fui visitá-lo. Aliás, fiquei impressionado porque era um sítio cheio de animais, a esposa dele gostava muito. E as estantes dele eram muito precárias do ponto de vista da madeira. Mas eram enormes, um pavilhão inteiro de livros. Com a vantagem de que eram livros que eu também tinha lido (risos). Ele não comprava a coisa por metro.
O governo militar estimulou a liderança de Lula?
Creio que a política sindical é tipicamente isso. Agora, cada vez mais, o líder sindical trabalha sempre pra ter as melhorias imediatas. Aqui e agora. Saiu numa publicação aí de São Paulo que os colegas do Lula ficaram decepcionados com as adesões ao governo. Foi todo mundo pescar na represa Billings (risos). Lula, do ponto de vista original, iludiu demais. E tem esse grupo da esquerda burocrática, ao mesmo tempo uma esquerda suave, como a do intelectual Fernando Henrique, que pediu pra esquecerem o que ele escreveu; porque o mundo mudou. Realmente, mudou muita coisa. O Fernando Henrique, pra chegar ao poder, veio apoiado pelo que hoje é o DEM.
Creio que a política sindical é tipicamente isso. Agora, cada vez mais, o líder sindical trabalha sempre pra ter as melhorias imediatas. Aqui e agora. Saiu numa publicação aí de São Paulo que os colegas do Lula ficaram decepcionados com as adesões ao governo. Foi todo mundo pescar na represa Billings (risos). Lula, do ponto de vista original, iludiu demais. E tem esse grupo da esquerda burocrática, ao mesmo tempo uma esquerda suave, como a do intelectual Fernando Henrique, que pediu pra esquecerem o que ele escreveu; porque o mundo mudou. Realmente, mudou muita coisa. O Fernando Henrique, pra chegar ao poder, veio apoiado pelo que hoje é o DEM.
XXX
‘Não sabia que Lula tinha derrotado os comunistas’
Em 1975, antes mesmo de tomar posse como governador, Paulo Egydio deu posse a Luiz Inácio Lula da Silva como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo.
“Isso provocou uma reação da chamada comunidade de informações”, diz.
Geisel teria perguntado “o que deu na cabeça” de Paulo Egydio. Ele
explicou que Lula era adversário dos comunistas. Geisel relaxou: “Mas eu
não sabia que ele tinha derrotado os comunistas”. Segundo Egydio,
Golbery do Couto e Silva, da Casa Civil, manobrou para “atrair” Lula
para a política.
XXX
Brasil, 2008
“Na comemoração dos 60 anos do grupo pão de açúcar [eu estive
presente], a única coisa que se ouviu da ‘direita conservadora’ é a
união do Brasil grande com Lula.
Está se formando na elite empresarial brasileira um pensamento de que o Lula é um homem que a elite pode confiar com segurança.
Empresários, banqueiros e ruralistas demonstraram ao Lula,
pessoalmente, suas intenções e projetos de que o PT continue no governo
por mais 8 anos.
O empresário Abílio Dinis, presidente do Grupo Pão
de Açucar, foi pessoalmente se desculpar ao Lula pelo seu seqüestro em
1989 atribuído ao Lula e ao PT (o pedido de desculpa foi público). A
imprensa de hoje já dá sinais de que o pedido de desculpas foi aceito e
que, agora, vão em frente como aliados empresários e Lula].
O golpe que muitos temiam neste grupo da resistência e de militares
não virá da esquerda e sim da direita e das elites corporativas.
Detalhe:
Havia muita gente da UDR e
dos frigoríficos de carne bovina [setor a que eu pertenço] presente no
encontro e todos, quase por unanimidade, estão embarcando neste projeto
de ‘Lula mais 8 anos’,[DILMA!] no maior e mais rico estado da federação.
Isto é um bom sinal do que poderá acontecer no futuro.
Rui Vicentini”
…………………………………………………………………………….
O que os empresários acham de Lula:
O mundo já deu tantas voltas nestes quase vinte anos que separam o seqüestro da festa dos Diniz que o dono do Pão de Açúcar não apenas convida Lula para ser uma das estrelas de seu jantar como lidera um grupo de empresários para um projeto pós-2010 em torno do presidente. De acordo com um interlocutor de Diniz, o grupo, do qual fariam parte também o empreiteiro Emílio Odebrecht, da Odebrecht, e Beto Sicupira, da InBev e amigo de Diniz, quer aproximar o presidente da gestão e do dia-a-dia das grandes empresas brasileiras depois que ele deixar o cargo.
O mundo já deu tantas voltas nestes quase vinte anos que separam o seqüestro da festa dos Diniz que o dono do Pão de Açúcar não apenas convida Lula para ser uma das estrelas de seu jantar como lidera um grupo de empresários para um projeto pós-2010 em torno do presidente. De acordo com um interlocutor de Diniz, o grupo, do qual fariam parte também o empreiteiro Emílio Odebrecht, da Odebrecht, e Beto Sicupira, da InBev e amigo de Diniz, quer aproximar o presidente da gestão e do dia-a-dia das grandes empresas brasileiras depois que ele deixar o cargo.
“Esse grupo de empresários critica o hábito que os políticos
brasileiros têm de deixar os cargos e fazer cursos nos EUA, ficando lá
como bobos, sem nem entender direito inglês”, diz o amigo de Diniz. Eles
acreditariam que Lula, mesmo tendo dirigido o país por oito anos, ainda
teria o que aprender com as empresas brasileiras, muitas delas hoje
multinacionais. A coluna tenta conversar com Diniz sobre o “projeto Lula
pós-2010″. Ele sorri. A coluna insiste. E Diniz, sempre sorrindo: “Não
posso comentar nada.”
O jantar do Pão de Açúcar reuniu tantos empresários e autoridades,
como os ministros Nelson Jobim, da Defesa, e Dilma Roussef, da Casa
Civil, entre outros -que foram mobilizados 30 agentes de segurança da
Presidência da República, 20 batedores do aeroporto até o local do
jantar, 20 agentes do Pão de Açúcar e mais seguranças da Casa Fasano
para zelar pela tranqüilidade dos convidados. Cerca de 200 funcionários
do Fasano serviam guloseimas como tartare de salmão envolto em papel de
arroz, camarão em crosta de gergelim e vieiras com perfume de gengibre
sobre risoto de pistache, mini-folhado de perdiz e papoula, vol-au-vent
de camembert e damasco; para beber, espumante Valentim, nacional, feito
em homenagem ao patriarca do Pão de Açúcar, Valentim Diniz, que morreu
em março, aos 94 anos.
………………….
Lula já deu aos banqueiros 75 bilhões em duas semanas
O governo Lula já tirou mais de R$ 75 bilhões das reservas brasileiras, ou seja, dinheiro público, para aliviar os bancos da falência
O governo Lula já tirou mais de R$ 75 bilhões das reservas brasileiras, ou seja, dinheiro público, para aliviar os bancos da falência
9 de outubro de 2008
Apesar da imunidade fictícia criada pelo governo Lula, da
interferência da crise financeira sobre o Brasil, somente nas duas
últimas semanas foram despejados nos cofres dos banqueiros, nada mais,
nada menos que R$ 75 bilhões. Este valor é o que já foi entregue para
conter as falências dos bancos privados, mas a tendência é que a
transferência de dinheiro público para os bancos seja ainda maior, pois o
governo está preparando novas medidas para dar liberdade total para o
Banco Central atuar na defesa incondicional de bancos e instituições
financeiras.
O governo está prevendo repasse de R$ 5 bilhões para o setor da
Agricultura. São outros R$ 10 bilhões para o Fundo da Marinha Mercante e
R$ 15 bilhões a mais para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) poder disponibilizar na forma de linhas de crédito.
O governo tirou a obrigação dos bancos de realizar os depósitos
compulsórios, depósitos realizados no Banco Central, diariamente, pelas
instituições. Com esta isenção, os bancos possuem mais dinheiro em caixa
para assim evitar falta de liquidez. Foi aumentada de R$ 100 milhões
para R$ 300 milhões o valor que os bancos podem deixar de depositar a
título de depósito compulsório. Somente esta medida fez com que os
bancos tivessem à disposição para gastar, R$ 5,2 bilhões.
Ainda sobre os depósitos compulsórios o governo deu aos bancos a
isenção do depósito em 40% para os bancos que comprarem carteiras de
empréstimos de instituições que estiverem em crise. Com esta medida
serão repassados para os bancos, mais R$ 23,4 bilhões. Ainda há a medida
que adia o prazo de aumento da alíquota do depósito compulsório para as
empresas que trabalham com leasing. Isso elevou o montante em mais R$ 8
bilhões.
XXX
José de Souza Martins*
Quem viu as fotografias e leu o noticiário sobre a visita do
presidente Luiz Inácio a Palmeira dos Índios, em Alagoas, deve ter
estranhado exuberantes elogios (além da carona no Aerolula) ao
ex-presidente Collor, extensivos a Renan Calheiros, que teve problemas
na presidência do Senado. A que se pode juntar os elogios e o empenhado
apoio que nestes dias deu a José Sarney, presidente do Senado, enrolado
na questão dos atos secretos de nomeações para funções naquela casa do
Congresso.
Hélvio Romero/AE
REABILITAÇÃO – Em Alagoas, o presidente fala de Collor com ênfase, após lhe dar carona no Aerolula
O Lula e o PT de hoje são irreconhecíveis em face do que disseram que
seriam, no manifesto de fundação do partido, em 1980. Eles se tornaram
interessantes enigmas para a compreensão dos nossos impasses políticos,
os de uma história política que avança recuando. Em discurso de 1980, na
Escola Superior de Guerra, o general Golbery do Couto e Silva, militar
culto, ideólogo do regime instaurado pelo golpe de Estado de 1964, deu
indicações sobre a armação do futuro político do País e do lugar que
nele vislumbrara para Lula. O discurso está centrado nos requisitos da
segurança nacional e se refere ao âmbito da liberdade política que
romperia a dependência de facções da oposição em relação à polarização
da Guerra Fria.
Para ele, a redução da liberdade política criara uma rede de
organizações extrapolíticas de oposição ao regime. A abertura se
justificava como meio de fazer com que os partidos renascessem “na
plenitude de sua função de partidos”, para que a política retornasse ao
seu leito natural, forma de manter as oposições divididas. Dedica umas
poucas palavras à “ala esquerdista da Igreja”, e é quando cita Lula
enquanto membro de uma elite sindical de líderes autênticos, “sem
revanchismo ideológico”. Lula “poderia ter sido” um desses líderes, diz
Golbery, que se confessa desapontado com ele porque fora atraído “para
as atividades mais políticas do que propriamente sindicais”.
Intuitivo e prático, tudo sugere que Lula aos poucos compreendeu o
plano de Golbery melhor do que o próprio Golbery. Era evidente a
orfandade das esquerdas, que culminaria com a queda do Muro de Berlim no
fim de 1989. No Brasil essa orfandade se traduzia numa fragmentação tão
extensa que Paulo Vannuchi, hoje secretário de Direitos Humanos, chegou
a escrever utilíssimo manual que mapeia e lista todos os grupos
partidários da esquerda clandestina, indicando a origem de cada um como
fragmento de outro. Sem passar pela aglutinação de ao menos parte dessa
esquerda fragmentária, Lula nunca teria conseguido a legitimidade
propriamente política que o tornaria a personagem que é.
Assim
como Golbery, Lula também compreendeu que a Igreja Católica
estava dividida em consequência das inovações do Concílio Vaticano II e
que nela havia uma importante facção, que ia de leigos a bispos, ansiosa
por aliar-se às esquerdas com base no capital político das comunidades
eclesiais de base. A Igreja tinha seus motivos, temerosa de ver-se
repudiada por ponderáveis parcelas da população, vitimadas por notórias
carências sociais. A primeira manifestação da Igreja em favor da reforma
agrária fora em 1950 e viera de um bispo conservador da diocese de
Campanha (MG), dom Inocêncio Engelke, que alude em sua carta pastoral ao
risco de que o êxodo de trabalhadores rurais para a cidade os colocasse
à mercê do proselitismo comunista. É evidente que essa Igreja
tambémcompreendeu que Lula era um personagem politicamente à deriva ao
qual
poderia aliar-se, como se aliou.
Operário qualificado e bem pago de multinacional, Lula compreendia
que o sindicalismo da era Vargas se tornava obsoleto e agonizava,
impróprio para a nova militância do entendimento e da mesa de
negociação. O sindicalismo lulista era apenas o instrumento da nova
realidade das relações laborais, divorciadas da concepção de classes
sociais, tendente ao fortalecimento das categorias profissionais e
setoriais. Longe, portanto, do mito da greve geral, a greve política,
mais de confronto com o Estado do que com o capital, que era a
estratégia dos comunistas, fortes no ABC operário. Lula e o PT serão
decisivos na demolição da esquerda característica e histórica.
O carisma crescente de Lula, a figura mítica buscada pelas esquerdas
órfãs e pelo catolicismo social, foi fundamental para o salto de
modernização política representado pelo surgimento do PT (e também pelo
PSDB, entre outros partidos), com a abertura política promovida pela
ditadura no marco das concepções de Golbery. Lula e o PT cresceram,
aglutinando o que nem sempre corretamente se autodefine como esquerda. O
manifesto de 2002, pelo qual o PT realinha suas orientações ideológicas
a favor de uma generosa aliança com o capital e com as multinacionais,
bem como com os grupos políticos de origem oligárquica, representa o
cume na construção de esquerda do partido e o início do processo de sua
desconstrução de direita. Ainda antes das eleições presidenciais daquele
ano, Lula, falando a usineiros de açúcar e fornecedores de cana de
Pernambuco e da Paraíba, fez a crítica do socialismo e lhes prometeu
benefícios de política econômica, o que resultou na imediata adesão de
todos a sua candidatura.
Daí
em diante, Lula no poder e o próprio PT foram descartando pessoas
e facções internas à esquerda de sua opção conservadora. Foram
descartando também as organizações que atuam como movimentos
sociais,abandonando ou atenuando programas e projetos. Inicialmente,
para trazer
o apoio do latifúndio e do grande capital a sua pessoa e a seu governo.
Depois, para agregar a sua base política o que de mais representativo
há do remanescente oligarquismo brasileiro e da obsoleta, e não raro
corrupta, dominação patrimonial.
O solidário e empolgado abraço de Lula, com sorrisos, nesses três
aliados, emblemáticos senadores da República, é sobretudo um fraterno e
decisivo abraço no retrocesso histórico e nos reacionários arcaísmos da
política brasileira. O general Golbery achou que se enganara. Não se
enganou.
Arte / Cultura / Humor!!!
Sabedoria, Saúde e $uce$$o: Sempre.