Autor: Carlos E. Álvaro Velazco
Há momentos e cenas que marcam para
sempre a memória daqueles que têm a oportunidade de vê-las. Muito mais
do que isso, são capazes de moldar o comportamento e caráter de um ser
humano ao longo da vida, tanto para o bem quanto para o mal (prometo me
ater ao lado positivo neste texto).
Quem não se lembra do professor John
Keating, do filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, e do emocionante bordão
“Oh, captain! My captain!”? O professor, interpretado brilhantemente
por Robin Williams, ensina aos seus alunos muito mais do que a
literatura arcaica que o colégio onde lecionava sempre pregou: faz
questão de mostrar que a poesia não pode ser ensinada como a matemática e
que os versos não devem ser medidos com uma régua. Um professor que fez
questão de ultrapassar as preocupações levianas dos alunos e disse para
que “colhessem o dia e fizessem as suas vidas extraordinárias”. Mas não
é deste filme a cena que dá título ao texto.
Em “Patch Adams”, o ator vai, mais uma
vez, ao encontro da poesia. Justamente em uma das cenas mais
emocionantes do filme, quando ele se despede da sua namorada, Robin
Williams lê os tercetos do “Soneto XVII”, do livro “100 Sonetos de
Amor”, de Pablo Neruda. Esse soneto, tão poderoso como muitos outros do
autor, tem um valor fortíssimo, com a premissa do amor incondicional. O
escritor chileno, que na humilde (mas belíssima) intenção de homenagear
sua amada Matilde, ensina ao mundo que para amar, basta o mais puro
sentimento.
Soneto XVII
NÃO TE AMO como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
O dia em que Robin Williams encontrou Pablo Neruda by Literatortura
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