Eu e meu companheiro aconselhamos sempre a bondade e a grandeza de espírito
Rio
– Penosa vida que eu menino tive com meu impossível pai. Às vezes
lembro dele com uma ternura enorme, porque sei que ele não conseguia
lidar com o que eu era, e acreditem, eu era! O que um jovem senhor sem
repertório cultural e, mais que isso, sem repertório emocional, faz com
uma criança-filho que foge totalmente aos padrões aceitáveis de uma
época, um lugar, uma situação? Pois foram quase duas décadas de embate,
prisão, tormentas, e alguma pouca bonança. Ele não me aceitava, e eu
fugi enquanto pude, para sobreviver às ameaças de morte, com requintes
de crueldade, porque discurso em terceira pessoa: se eu tivesse um filho
veado, eu prenderia a cabeça dele contra a parede e com um soco no meio
da cara eu estourar-lhe-ia os miolos. Quem? Eu. Ali, a esperar a
execução, que, sabia, não viria nunca (só o que importava era o
terrorismo psicológico). Já viveram em eterno estado de alerta, quando
até o sono precisa ser vigiado para rapidamente sair dele?
Rodo
neste redemoinho diante da televisão, agora adulto. Vejo Malafaia
bradando pelo lixo moral que sou, porque sou. Onde vamos parar com
tantas ameaças, quem eles querem amedrontar, nesta terrível batalha
santa sem vencedores, porque é preciso votos, votar, votação.
Aterrorizado diante do Pai, sei que ele tem todo o direito de existir,
de bradar, de crer. Não pretendo que ele e seus dogmas morram. Para
sempre vamos viver no olho do furacão. Eu, você, os que conhecem a
imobilidade do pavor. Quando eles podem, eles podem muito, enquanto
somos crianças. Depois crescemos e novas crianças terão que
enfrentá-los, em busca de aliviante capacidade de raciocínio. Só queria
sobreviver, só queria ser eu, sem praticar nenhum mal, jamais o
extermínio.
Mas meu amor por meu companheiro, nestes 7 anos em que
estou casado, não faz mal a ninguém. Somos respeitadores, generosos,
cordatos com os humanos, nossos semelhantes. Quem se aproxima é
bem-vindo, não somos criminosos, nem interesseiros, nem sequer queremos
mandar na vida alheia, só aconselhamos sempre a bondade e a grandeza de
espírito. Não precisamos do dinheiro público, mas cobramos
incessantemente o bom uso dele para que os desamparados melhorem de
vida. E seguimos em frente, passeando por entre tigres de garras
afiadíssimas e Deuses que desejam o nosso aniquilamento. Um Deus
equivocado na versão religiosa extremada; porque acreditamos ser Deus
uma libertária luz que aplacará todo o sofrimento causado pela agressiva
intolerância. A mala faia e a humanidade avança!
Milton Cunha: Eu, lixo moral
Arte / Cultura / Humor!!!
Sabedoria, Saúde e $uce$$o: Sempre.