"Receio o dia em que a tecnologia ultrapasse a nossa interacção humana, pois o mundo terá então uma geração de idiotas". Esta foi uma das muitas máximas que Albert Einstein legou à Humanidade.
E
a verdade é que o fatídico dia já chegou, sem quase darmos por isso. A
tecnologia invadiu, mais do que o nosso quotidiano, a nossa própria
consciência, tornando actos antes convictos em hábitos hoje quase
viciosos, globalizando a vivência humana e reduzindo-a à dependência da
máquina. Esquecemos a lição contida em 2001 - Odisseia no Espaço. Sobretudo, não ligámos a devida importância à futurologia que Einstein antecipou.
O
telemóvel tornou-se amo e senhor de uma parcela considerável da
população mundial dita civilizada. A pequena máquina escravizou milhares
de milhões de seres humanos de todas as cores, de todas as raças, de
todas as religiões e credos, de todos os quadrantes políticos, sociais e
culturais. Como é evidente, permanecem alguns resistentes, espécie de
pequenos astérixes em vias de extinção, lutando contra o tsunami
transistorizado que invadiu as terras e as gentes,
Eisntein
previu, como é privilégio dos eleitos e dos visionários, a catástrofe. O
telemóvel, como arma, pode estar ou não nas mãos certas, às vezes nas
erradas, permite, como pequeno milagre tecnológico, salvar ou matar,
dilata ou reduz o poder pessoal, alarga ou anula influências, une ou
separa vontades e intenções.
Instrumento
privilegiado de comunicação pode isolar cada homem, tanto dos outros
como de si próprio. Porta-voz quase ilimitado do palavra tanto sabe
extinguir a fala como amplificar-lhe o volume e o alcance. Objecto de
desejo, domina os canais da publicidade e conquista ou perde os mercados
do comércio, controla as próprias produções industriais, dita leis e
imperativas regras. Faz revoluções, para o bem e para o mal, provoca ou
mitiga todas as angústias, alimenta ou desfaz todos os sonhos.
E Einstein previu tudo isto
Os
canais domésticos da comunicação informatizada fazem-se frequente eco
do pensamento do mestre. Tarde demais, talvez. Há etapas que não podem
ser percorridas às arrecuas, nem filmes que se possam rebobinar sem
custos. Um dia, talvez, o telemóvel devorar-se-á a si próprio e
voltaremos a comunicar pelo tambor, pelo fumo da fogueira, pelo
mensageiro a pé ou a cavalo, pelo grito. Talvez essas práticas
sobrevivam à catástrofe tecnológica, em que a máquina se auto-destruirá.
Einstein
avisou-nos a tempo mas, limitados, não percebemos -ou não quisemos
perceber?- o seu terrível prognóstico. Agora, que este se concretizou,
que fazer? Manter, a todo o custo, a serenidade e a independência
possíveis, lutar por todos os meios legítimos, pela partilha de
convicções, de que é possível servirmo-nos do telemóvel sem o servirmos.
Poderá acontecer a era da regeneração? Talvez, se nesta convictamente
acreditarmos, se formos capazes de resistir à tentação do culto,
apetecível, a esse transistorizado deus, se evitarmos a recitação dos
tarifários, se rejeitarmos a polifonia dos toques, a absurda gramática
das mensagens curtas, porque para estropiar a língua já nos basta o
acordo... Se destas e outras similares heroicidades do quotidiano nos
tornarmos zelosos praticantes, venceremos a batalha, talvez -quem
conhece os insondáveis desígnios dos zeinal bavas deste mundo e do outro!?- possamos mesmo ganhar a guerra.
Numa
breve antologia de imagens da realidade tecnológica, pouco lógica, a
que chegámos, aqui fica uma colecção de visões e outros lugares
selectos.
Que a todos sirva de exemplo e de proveito...
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