Dia 19 de janeiro é um dia triste para os fãs da Elis. Aliás, foi nesse dia e por esse motivo que este blog (antes, em um outro endereço) nasceu. Mas, em vez de falar do fim, vamos voltar ao começo. Elis menina, na periferia de Porto Alegre, vidrada no rádio da família. Década de 50, e a rainha da voz era Angela Maria, uma das grandes inspiradoras do canto de Elis.
Dona Ercy, mãe de Elis, já se cansou de contar: a menina tímida e estudiosa tinha um amor incondicional pela Sapoti. Tanto que a primeira música que cantou quando decidiu enfrentar um concurso de calouros na Rádio Farroupilha foi Lábios de Mel, um dos maiores sucessos da carreira de Angela, lançado em 1955.
A própria Elis brincou com isso em uma apresentação (provavelmente nos anos 60) na qual brinca de imitar algumas cantoras, entre elas sua grande ídola. “Era Angela Maria de manhã. Angela Maria de tarde, Angela Maria de noite. Programa de Angela Maria, disco de Angela Maria, recorte de Angela Maria”, diz na gravação.
Isso, segundo Elis, fez com que seus pais pedissem que ela imitasse Angela nas festas de família. Poderia ter tido Elis uma professora melhor?
O fato é que Elis jamais abandonou sua admiração por Angela. E fazia, inclusive, questão de mostrá-la. Em seus primeiros discos, a influência é nítida. Pra dizer adeus, do LP Elis, de 66, é um exemplo. Não há como negar.
Mas era mais que isso: Elis fazia questão de dizer, de expressar seu amor. E o fez em diversas ocasiões ao longe de sua carreira. Juntas, cantaram apenas uma vez, em 1972, no programa que Elis tinha mensalmente na TV Globo. Elis acabara de gravar o samba-canção Vida de bailarina. Angela foi convidada a aparecer por lá. Ela garante que foi surpresa, que Elis não sabia de sua ida e que, por isso, chorou muito ao vê-la por lá. Isso, porém, não fica claro no programa (assista). O fato é que ali se deu o encontro da criadora e sua criatura. Da mãe e da filha. Da professora e da sua mais aplicada aluna. Foi lindo!
Outro fato que quero destacar dessa relação é a nota abaixo. No mínimo, é curiosa. Publicado na revista Contigo em 1980, o texto diz que Elis havia exigido, em seu contrato com a Odeon (hoje, gravadora EMI), que Angela participasse do disco que faria por lá.
Para quem não sabe, o LP que Elis fez na Odeon é o Elis, de 1980, o último de sua carreira, considerado um dos mais “pop” de seu legado. Nele, músicas como O trem azul, Rebento, Vento de maio, O medo de amar é o medo de ser livre, Só Deus é quem sabe, Nova estação... Em qual música será que Angela entraria (se encaixaria)? A nota era mentirosa? A parceria foi mesmo cogitada? Dá até um frio na barriga em pensar no que poderia ter acontecido.
Para finalizar, mais um exemplo dessa devoção de Elis por Angela. Em um show na boate paulistana Di Mônaco em 1972, Elis pede espaço ao público, que pedia insistentemente por Black is Beautiful no bis, para cantar Vida de Bailarina. “Foi por causa dessa música que eu virei cantora”, diz Elis. “Eu tinha 12 anos. Comecei cantando exatamente essa música”, continua. “A pessoa de quem eu estou falando, que eu adoro e vou adorar a minha vida inteira. A quem eu vou dever sempre essa noite e todas as noites parecidas com essas chama-se Angela Maria”, fala Elis, firme, antes de começar a cantar.
A gravação desse show existe. Está por aí. Perdida. Ou melhor, guardada. Espero que um dia ela possa ser reconhecida como um documento importante da carreira de Elis e seja lançada no mercado. Que o bom senso não a transforme na frustração que foi a íntegra do áudio do show Transversal do tempo, que, por diferenças financeiras entre músicos que tocaram no show e gravadora Universal, teve seu projeto de lançamento abortado.
Viva Elis! Viva Angela Maria!
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