20 junho, 2012

UM CURSO DESEJANTE PARA VAN GOGH

Caminho de sirga próximo à Overschie ( 1865), JONGKIND
Towpath near Overschie, Madrid, Museo Thyssen-Bornemisza

Van Gogh chega na cidade belga de Cuesmes e continua a carta falando das referências:
" Mas para voltar à Meryon, ele tem também, ao que me parece , algum parentesco com Seymour Haden ou Jongkind, pois em alguns momentos estes artistas foram muito fortes. Espere, talvez algum dia você verá que eu também sou um trabalhador e embora eu não saiba de antemão, o que me será possível, espero ainda fazer alguns rabiscos onde poderia haver algo de humano.
Mas antes é preciso desenhar os Bargues,  e fazer outras coisas mais ou menos espinhosas. O caminho é estreito, a porta é estreita, são poucos os que a encontram."
Johan Barthold Jongkind foi um pintor holandês de paisagens, de portos, de panorâmicas além de aquarelista e gravurista. Desempenhou em sua atuação artística um papel muito importante na continuidade da tradição artística dos pintores flamencos e principalmente na transição da pintura de paisagem (com base no naturalismo das pinturas ‘en plein air’ de Barbizon) para o Impressionismo. Ele foi amigo de diversos artistas franceses como Camille Corot, Gustave Coubert, Eugène Isabey, de Millet e de Bonvin. Ambos Charles Baudelaire e Emile Zola admiraram seu trabalho e escreveram sobre ele em revistas e artigos.
 Ele nasceu no dia 3 de junho de 1819 na cidade de Lattrop , onde passou a infância andando pelos canais e desenvolvendo seu sonho de um dia ser um pintor. De uma família modesta que tinha 10 filhos, e que
Jongkind estudou em Haia com o pintor de paisagem Andréas Schelfhout e encontrou-se com Eugène Isabey em 1845 que o incita a ir a Paris para estudar em seu atelier . Graças a ajuda do governo holandês com a bolsa de estudo “Prince d'Orange” de 200 florins ele conseguiu se manter na cidade e com ajuda de Isabey conhecer a Normandia e outras regiões do país, lhe dando aos poucos uma autonomia e independência do estilo de seu professor.  Sua técnica anunciou o Impressionismo; sugeriu formas e o uso dos efeitos de luz que não eram usuais na época. Porém os nove anos que passou em Paris foram difíceis de bohemia e vacas magras, tendo ele pouco reconhecimento e não recebendo nenhum prêmio com suas três obras expostas na Expo sition universelle de 1855 .
Frustrado, ele retornou a Roterdã  em 1855, onde permaneceu durante os cinco próximos anos. De lá partiu em viagem à Bélgica, França holandesa ele conhece e influencia profundamente o fundador do Impressionismo Claude Monet (que aprendeu muito sobre a pintura da atmosfera e seu estudo dos efeitos transitórios da luz e reflexos) de quem foi professor em 1864, e posteriormente Eugène Boudin em Trouville. Ele passou o resto de sua vida na França, dividindo seu tempo entra Paris e Dauphiné. Ele expõe no salão a partir de 1848, recebendo uma medalha no Salão de 1852, inclusive expondo posteriomenteno Salão dos recusados de 1863. Sua pintura deve muito mais a atmosfera consciente dos paisagistas holandeses do Séc. XVII do que se us contemporâneos franceses.
Sua vida foi caótica e dissoluta. Sempre com pouco dinheiro, instabilidade psicológica, ele encontrou uma relativa estabilidade graças a sua companheira Joséphine Fesser, uma pintora de origem holandesa que conheceu em 1860 quando retornou para França graças aos amigos impressionistas. A partir das escolhas dela, frequentemente viajava para Nivernais e Dauphiné para pintar, onde se estabeleceu em 1878.  Aos poucos a pintura de Jongkind começa a ser apreciada, e ele continua suas produções campestres quando sai de Paris para relaxar no campo. Com a guerra ele é preso confundido com um espião estrangeiro, mas logo o libertam.
Em 1882, Edmond de Goncourt foi um dos conhecedores que louvou o artista que hoje é considerado o “precursor do Impressionismo”: “O que me impactou no Salon é a influência de Jongkind. Parece óbvio que cada paisagem de qualidade hoje em dia descenda deste pintor, adotando seus cues, suas atmosferas, seus solos”; afirmou o escritor francês.
Ele sofreu de paranoia, passa a beber muito e evitas seus credores. Assim ele teve seus últimos dias em uma instituição mental em Côte-Saint-André, terminando suas produções no dia 9 de Fevereiro de 1891, estando enterrado ao lado de Joséphine que se foi alguns meses depois. Ele influenciou uma geração de novos pintores da França, incluindo Stanilas Lépine.

SOBRE A OBRA

Após um duro período  que Jongkind preferiu passer em sua terra natal, ele retorna a França em 1860, marcando um período altamente criativo. Ele viajou para a costa da Normandia onde encontrou Boudin e Monet, e trabalhou em Paris. Ele também compôs um número de cenas holandesas de memória ou de esboços, um tema que permaneceu fiel durante sua vida.
Este caminho de sirga pintado aqui era situado próximo de Overschie, se considerarmos o contorno da torre da igreja, na esquerda da pintura. Este artista retratou este mesmo motivo, na pintura do caminho de sirga próximo de Haia em 1859. Em 27 de Fevereiro de 1865, a artista confiado pelo negociante Beugniet: “Eu acabei de  terminar esta pequena pintura para você da luz da lua do Canal Overschie próximo de Roterdã, Holanda. ". Sem dúvida falava deste trabalho. Em 1865 Jongkind produziu vistas da Holanda, de Paris (Bercy, boulevard Jourdan, Ourcq canal, Bas-Meudon) e de Honfleur, onde passou parte do verão. A maioria destas pinturas mostram a mesma composição usada nesta pintura.  Se dividirmos a pintura horizontalmente em trà ªs, a parte inferior da pintura é tomada pela paisagem, e as duas superiores pelo céu. A cena é dividida em faixas convergindo em um ponto de fuga localizado na esquerda. Esta organização do espaço foi herdada da tradição da pintura holandesa, que ele aprendeu com seu mestre Andreas Schelfhout. Para dar altura a estas faixas convergentes, Jongkind distribui linhas verticais de várias Alturas: uma linha descendente das árvores à direita, e da torre do Sino de Overschie à esquerda. Entre estas linhas dinâmicas, há um equilíbrio denso e terrestre que quebra a fluidez do céu e da água refletindo a lua. Na obra de Jongkind, esta composição foi uma característica permanente que as vezes se tornou uma obsessão. Uma vista de Delft de 1844 já adotou esta divisão de áreas convergentes entre a terra e água. Em Honfleur, o pintor representou muitas vezes a frente do mar e o pier usando uma composição muito próxima a que descrevemos aqui, assim como nas vistas do canal Ourcq de Paris, e outras dezenas de exemmplo.
Outro fator permanente em sua obra são os formatos similares usados. Esta repetição poderia levar a certo grau de exaustão, mas não levaria em conta o sentimento da mágica em muitos trabalhos do pintor. Nesta obra o olho do observador é atraído para a translucidez prateada da lua e seu reflexo na água, que alcança, em um raio de luz, a água próximo da igreja de Overschie na esquerda e na direita a figura inclinada próximo da margem (uma lavadeira ?). Onde o céu e a terra se encontram, um suave halo que sai do contorno escuro das árvores e da igreja, e logo aumenta sua presença.
O céu é mostrato brilhoso, como uma guache, com largas pinceladas aparentes, e constrastes com a densa paisagem, pintada com curtas pinceladas nervosas, as vezes carregada pesadamente com tinta. Mas esta densidade é somente aparente, já que a pintura não é aplicada regularmente na tela. A qualidade do trabalho não é imediatamente percebida pelo olho, tem que ser lentamente descoberta e decifrada para expressar suas emoções.
Johan Barthold Jongkind- Auto-retrato sobre o sol ou o homem com o chapéu de palha (1860)


Dispersão do Agamenon ( 1870), HADEN
Breaking up the Agamemnon, Washington DC, National Gallery of Art

Van Gogh chega na cidade belga de Cuesmes e continua a carta falando das referências:
" Mas para voltar à Meryon, ele tem também, parece para mim, alguma afinidade talvez com Seymour Haden..."
(Sir) Francis Seymour Haden foi um gravurista (com água-forte e mezotinta) e cirurgião inglês(praticando medicina até 1887). Seu trabalho teve uma influência poderosa na arte da Inglaterra e de certa forma também nas gravuras européias.
Nascido em Londres no dia 16 de setembro de 1818, filho do médico Charles Thomas Haden. Ele estudou em diversas escolas e universidades tendo formação acadêmica no University College de Londres e em Sorbonne, na Universidade de Paris. Seu trabalho com arte no entanto surgiu em uma viagem com arte para Itália em 1843. Ele não teve professores, nem cursos mas estudou alguns conjuntos de gravuras de uma loja em sua cidade e copiou vários mestres como Albrecht Dürer, Lucas van Leyden e Rembrandt. Deste último também fez uma monografia com várias cópias e modificações do mestre flamenco. Seu trabalho foi primeiramente aclamado pelo crítico Philippe Burty.
Em 1847, ele se casou com Deborah (Dasha) Delano Whistler, irmã do artista James McNeill Whistler;, com quem teve uma grande amizade e cujo o estilo de água-forte influenciou Haden.
Em 1880 ele fundou a Sociedade dos Pintores-água-forte, mais a maioria de seus últimos trabalhos foi em mezotinta. Além de copiar pinturas pelas água-forte- que era considerado preferível comercialmente para o uso de gravura- um número de artistas e amadores gradualmente praticaram agua-forte originais com crescente sucesso, notavelmente Sir Seymour Haden, J. M. Whistler, Samuel Palmer e outros na Inglaterra, Felix Bracquemond, C. F. Daubigny, Charles Jacque, Adolphe Appian, Maxime Lalanne, Jules Jacquemart e outros no continente, além do singular e memorável gênio, Charles Meryon.
Entre 1858 e 1879 Seymour Haden - o primeiro presidente da Sociedade Real de Pintores Água-forte e gravuristas- produziu a vasta maioria de suas pranchas, que tiveram sempre um bom esboço, unidade de efeito e impressão pessoal. Eles mostraram um forte sentimento pela natureza. Se entre alguns dos duzentos temas, fosse necessário selecionar um ou dois para um elogio peculiar, eles seriam "Dispersão do Agamenon," o quase perfeitor "Prado de água" entre outros.
Ele morreu em Alresford, Inglaterra no dia 01 de junho de 1910.
Francis Seymour Haden- Um campo de água
Sir Francis Seymour Haden- Auto-retrato (enquanto trabalha com água-forte), 1862


O Moinho de Montréal  (c. 1865), VIOLLET-LE-DUC
Montréal in Mauléon-Licharre  , Pyrénées-Atlantiques, França

Van Gogh chega na cidade belga de Cuesmes e continua a carta falando das referências:
" É por essa razão que é grande (James Tissot), é imenso, é infinito; r ponha ao lado Viollet-le-duc e verás pedras, enquanto outro, ou seja, Méryon, é Espírito. Méryon teria um tal poder de amar, que agora, como Sydney Cartone de Dickens, ele amaria as próprias pedras de certos lugares."
Eugene Emmanuel Viollet-Le-Duc foi um arquiteto e escritor sobre arquiologia francês. Seu trabalho foi importantissimo para restaurar com excelência a arquitetura milenar da França, além de construir novos prédios que se tornaram históricos no país. Isto pois tinha um entendimento próprio e criou um Teoria da Restauração, que devia respeitar sempre a forma original e entender o espírito do arquiteto criador.
Nascido em Paris em 21 de Janeiro de 1814,filho de um alto funcionário da Restauração e posteriomente da Monarchie de Juillet. Mesmo sendo autodidata, ele foi pupilo de Achille Leclere, e em 1836-37 passou um ano estudando a arquitetura greco-romana na Itália, nas cidades de Sicília e Roa, e se familiariza com conservação arquitetônica. Seus desenhos e aquarelas medalhas na Exposição Universal em 1834, 1838 e 1855, sendo que a última foi o primeiro lugar.
Seu principal interesse, entretanto, era no período da arte gótica, e como o Sir Gilbert Scott na Inglaterra, ele foi empregado para restaurar algumas das principais construções medievais na França, sendo seus primeiros trabalhos a Abadia de Vezelay, várias igrejas em Poissy, St. Michel em Carcassonne, a Igreja  Semur em Cote-d'or, e várias cidades góticas de Saint-Antonin e Narbonne, todas feitas entre 1840 e 1850. Entre 1845 e 1856 ele se ocupou da restauração da lendária igraja Notre Dame de Paris em conjunção com Lassus, e também da abadia de St.Denis.
Em 1849 ele começou a restauração das fortificações de Carcassone e a Catedral Amiens; e nos anos seguites restaurou a Catedral Laon, o Castelo de Pierrefonds, e muitas outras construções importantes.Em 1863 é se torna membro da Academia Real de Belas Artes da Bélgica e também se torna professor de História da Arte e Estética da Escola de Belas Artes de Vaillant, ficando apenas um ano no cargo. Ele ainda foi nomeado oficial em 1858 e comendador em 1869 da Legião da Honra Francesa.
Ele foi amigo íntimo de Napoleão III e durante o estado de sítio de Paris (1871) deu uma valiosa ajuda como engenheiro para importunar o exército. Ele teve muitos escritórios tanto políticos quanto artísticos, e foi durante quatro anos inspetor geral de construções antigas da França. Seu último trabalho foi o esquema geral 1; além disso ele publicou em 1867-69 um ótimo trabalho mostrano suas decorações coloridas não muito sucedidas aplicadas nas Capelas de Notre Dame para a exibição de prédios de Paris em 1878. Ele morreu no dia 17 de setembro de 1879 em Lausanne.
Como um desenhista Viollet-le-Duc ocupou somente um lugar secundário, mas como escritor de arquitetura medieval e artes relacionadas ele tem o mais alto nível. Seus dois grandes dicionários de arquitetura são trabalhos padrões em sua áres, e são os mais belos ilustrados com desenhos hábeis feitos a mão pelo arquiteto. Viollet-le-Duc foi um homem brilhante das habilidades mais variadas, dotado de um poder de trabalho que raramente é igualado. Ele foi artista, homem da ciência, um erudito arqueólogo e um acadêmico. O mapa no seu "O Massivo de Mont Blanc", mostrando o contorno da rocha e a geleira do Mont Blanc, é um modelo de tipo, que combina grande beleza artística com a precisão do mais habilidoso engenheiro. Sua decoração forte e poética permitiu a ele reconstruir a vida e construções da idade média da maneira mais vívida possível.
Seus principais trabalhos literários são: Dicionário de arquitetura Francesa do Século XI ao XVI (1868); Dicionário da mobília françesa (1875); A arquitetura militar na Idade Média (1854); Manutenção da arquitetura (1872); Cidades e ruinas americanas (1863); Memória sobre a defesa de Paris (1871); Habitações modernas (1877);História da habitação humana (1875) A Arte russa (1877); entre dezenas de outros.

Eugene Emmanuel Viollet-Le-Duc em fotografia de Felix Nadar
Pintura em azulejo ( 1883), RAPPARD
Tegelschilders, Utrechte, Central Museum

Van Gogh tem uma meta de estudar arte para ser um ilustrador de livros e revistas e continua a carta falando das referências:
" Desenhar é duro e uma luta difícil.
Se eu devo ser capaz de encontrar algum trabalho fixo, bem melhor, mas eu não ouso contar com isso ainda, pois eu devo primeiro aprender um monte de coisas grandes.
Também fui ver Sr. Van Rappard, que mora agora na rua Traversière 64, e tenho falado com ele. Ele tem uma boa aparência, eu não vi nada de seus trabalhos além de alguns pequenos desenhos de paisagens a caneta.
Mas ele prefere viver suntuosamente e, por razões financeiras, eu não sei se ele é a pessoa com quem, por exemplo, eu poderia viver e trabalhar. Mas em qualquer caso eu o verei novamente. Mas a impressão que eu tenho dele foi que parece haver seriedade nele."
Anthon Gerhard Alexander, ridder van Rappard, mais conhecido como Anthon Van Rappard, foi um pintor, esbocista, gravurista e artesão holandês. Ele teve uma carreira curta, mas com trabalhos bastante premiados.
Nascido no dia 14 de maio de 1858 em Zeist, proveniente de uma família nobre, foi desde cedo encorajado a se tornar um artista. Rappard estudou na Acadêmia de Belas Artes do estado em Amsterdã em 1876 e quatro anos depois estuda na Escola de Belas Artes de Bruxelas,onde estudou pintura direta da natureza.Posteriomente se muda para Paris onde estuda com o pintor Jean-Léon Gérôme e Lawrence Alma-Tadema. De volta à Bélgica ele executa vários esboços do hospício de Utrecht.
Ele se encontra com Vincent Van Gogh em Nuenen em 1883 e os dois dividem algum tempo um atelier. Van Gogh e Rappard trocaram correspondênica entre entre outubro de 1881 e agosto de 1885. Durante este tempo Rappard sempre sempre tecia críticas as obras de Van Gogh que o considerava um mentor e o apreciavam, entre outras razões, por seu engajamento social.Em 1882 passa o verão na cidade campestre de Drenthe, voltando posteriormente para Amsterdã.
Em 1885 a amizade com Van Gogh foi abalada devido uma crítica dura de Rappard ao quadro "Comedores de Batata" feito por Van Gogh, que pediu que retratasse. Mesmo com as desculpas de Rappard a amizade sofreu e não durou muito mais.
Rappard foi um pintor muito envolvido com o mundo da arte holandesa. Em 1886 ele entra no grupo de pintores de Amsterdã " Arti et Amicitiae" e dois anos depois no Pulchri Studio em Haia. Ele ainda participou dos grupos de pintore Arte é a nossa meta, L'essor, e Sociedade Kunstliefde de desenho e pintura.
Van Gogh e Van Rappard usaval em 1884, um paleta similar: bastante escura com vários pigmentos de terra. Em muitas pinturas Van Rappard usa um pouco de sulfato barico.Isto é um enchimento que provavelmente era adicionado por quem fazia a tinta. Além disso eles também aplicavam a tinta em maneira similar. Eles estavam muito interessados nos príncipios da teoria da cor do começo do século XIX (incluindo por Goethe em 1810). Vemos que os pigmentos escuros eram misturados com as cores primárias (vermelho, amarelo e azul) ao invés de mistura de pigmentos branco, preto e marrons usados no século anterior. Posteriormente Van Gogh escreveria: "uma das melhores coisas dos pintores deste século é pintar com cores es curas". Rappard teve um grande treinamento nas técnicas de pintura, porém ao contrário de Van Gogh, pensava que o motivo era mais importante que a técnica. Comparando com Van Gogh, seu estilo era mais leve e menos pronunciado do que as acentuadas pinceladas do amigo.
Ele deixou de produzir no dia 03 de janeiro de 1892 em Santpoort.
CARTA POLÊMICA DE RAPPARD PARA VAN GOGH (24 de maio de 1885)
Você concordará comigo que este trabalho não é pretendido seriamente.
Você pode fazer melhor que isto- felizmente; mas porque, então, observa e trata tudo tão superficialmente? Por que não estudar os movimentos? Agora eles estão posando. Aquela mãozinha coquete daquela mulher no fundo, quão falso! E que conexão há entre o bule, a mesa e a mão deitada no topo da mesa? O que está o bule fazendo, para que razão; ele não está em pé, ele não está sendo segurado, mas o que então? E por que aquele homem na direita não pode ter um joelho, ou uma barriga ou pulmões? Ou estão eles nas costas? E por que o braço dele tem que ser uma medida muito curta? E por que ele tem que ter falta de metade de seu nariz? E por que a mulher na esquerda tem um tipo de cabo de cachimbo com um cubo nele para o nariz? E com esta maneira de trabalhar que você ousa invocar os nomes de Millet e Breton? Vamos! Arte é muito importante, parece para mim, estar sendo tratada tão indiferentemente.
Adeus, acredite em mim agora.
Seu amigo
A.G.A. van Rappard

Bruxelas, janeiro de 1881
As Prostitutas ( 1843), GAVARNI
Les Lorettes, Paris, Musée Carnavalet

Van Gogh está mais tranquilo e melhor adaptado. Ele está trabalhando com modelos e ainda quer ser um ilustrador de livros e revistas. Ele fala sobre algumas referências em retratos do cotidiano e costumes:
" Meu Caro Théo,
Quase todos os dias tenho algum modelo; um velho contínuo, ou algum operário, um moleque que eu faço posar. Domingo que vem, talvez eu tenha um ou dois soldados que virão posar. E como agora não estou mais de mau humor, faço de você, e de todo o mundo em geral, uma idéia completamente diferente e melhor. Também voltei a desenhar uma paisagem, uma chameca, o que não fazia há muito tempo.
Gosto muito de paisagens, mas gosto dez vezes mais daqueles estudos de costumes, às vezes de uma verdade assustadora, como os de Gavarni...
Hippolyte Sulpice Guillaume Chevalier Paul Gavarni mais conhecido pelo pseudônimo Paul Gavarni foi um artista, gravurista e caricaturista francês que escolheu Gavarni no local onde teve seu primeiro desenho publicado. Ele influencia diversos jovens artistas como Félicien Rops, Tony Johannot, Vincent Van Gogh além de ser colaborador de Félix Nadar e Gustave Doré

Nascido em Paris em 1801 em uma família pobre originária de Bourgogne, que faziam barris de vinho (tanoeiros). Seu pai, Sulpice Chevallier, era um antigo capitão da guarda nacional e sua mãe Marie-Monique Thiémet foi a irmã de Guillaume Thiémet, pintor e ator do gênero bufão, assim como um caricaturista, ele foi ao estrangeiro gravar uma série cômica intitulada, Les moines gourmands.
Aos 12 anos, seus pais não eram ricos, e lhe procuram um ensino profissinal, Paul Gavarni se torna assistente de um arquiteto nomeado Dutillard que habitava rua dos Fosses-du-temple e com ele aprende os princípios gráficos de sua função, ele passa a maior parte de seu tempo ao fora rascunhando. Aos 13 anos ele trabalha com Jecker, um fabricante de instrumentos de precisão. Posteriomente ele passa um curto período em uma pensão, a instituição Butet, onde aprende um pouco do cálculo integral. Aos 17 anos, entra para a Escola do Conservatório de Artes e Ofícios e passa para o atelier de Leblanc ond estuda desenho de máquinas e geometria que lhe traz o gosto pelo desenho e paixão pela matemática.
Em 1825, trabalha com o gravurista Adam com quem trabalha menos de um ano, até decidir se aventurar nos Pirineus sem dinheiro. Felizmente é recebido por M. Leleu que lhe torna amigo do artista.
Gavarni recebe um trabalho de Paris, um velho meio artista, meio editor nomeado A mensageira, lhe encomenda 100 desenhos pagando 35 francos a peça. E depois pedem 50 litografias que o edito não julga apropriada e suspende o pedido. Em junho de 1828 e publica uma coleção dos costumes dos Pirineus, colorido por ele e Riher, uma curta série, intitulada, Os gritos de Paris. Em 1829, um de seus amigos o encontra em um negócio com o mercante Susse, que lhe compra os desenhos e o faz ver que elas não estão assinadas e para a venda precisam de um nome, ele pensa em suas montanhas e se lembra delas, escolhendo o nome que fez sua glória” Gavarni”.
Em 1830 entra para o jornal A moda, onde recontra escritores como Eugène Sue e Honoré de Balzac, além de colaborar com o jornal de litografias O artista. Enquanto isso Balzac pede para que ele ilustre seu novo romance “La peau de chagrin”. Em 1832, Gavarni trabalha para a revista O museu das famílias, O artista, A caricatura, além de publicar uma coleção de litografias “ O vestir e as fisionomias da população de Paris”, que é um grande sucesso, recebendo um artigo elogioso de Balzac.  Nesta coleção retrata a veia jovem de Paris,incluindo as prostitutas lorettes, as atrizes, os do camarim, os em voga, os cavalheiros burgueses, os artistas, os doqueiros, Clichy, Os estudantes de Paris, as tolices parisienses, os prazere s campestres, os bailes de máscaras, o carnaval, as lembraças do carnaval, as lembranças do baile Chicard, a vida dos jovens rapazes, o dialeto patois de Paris.
Paul Gavarni começa a esboçar cenas do cotidiano, realiza uma série de retrato de crianças e se dedica a literatura, escrevendo versos, novelas, faz leituras públicas.Em 1833 ele empresta 25 000 francos para criar seu próprio jornal “O jornal das pessoas do mundo”, impresso em papel de luxo e entregue em casa. Mesmo com a colaboração de Charlet, dos irmãos Johannot, de Alexandre Dumas e de Vigny, a publicação cessa no ano seguinte e em 1835 é preso por dívidas na prisão de Clichy.

Seu lápis afiado e espirituoso deu para estas figuras comuns e não-artísticas geralmente uma vida e uma expressão que logo lhe rendeu um nome nos círculos da moda principalmente como ilustrador. Ele ilustrou e garantiu sucesso de vendas para“O judeu errante” de Eugene Sue, a versão francesa de “Contos de Hoffman”, A edição completa de obras de Balzac, “O diabo em Paris”, ”Os pintores franceses por eles mesmos”, A coleção “Fisiologias” publicada por Aubert.
En 1837, após alugar um grande apartamento na rua Fontaine Saint-Georges, recebeu uma proposta de Philippon para continuar as séries de Robert Macaire que Daumier tornou celebre, e cuja Gavarni recusou. Ele propôs uma grande mudança em suas obras  que já não se limitava, a tipos como as prostitutas lorettes e o estudante parisiense, ou a descrição dos populares prazeres do capital, mas virou seu espelho aos lados grotescos da vida familiar a humanidade em geral. As crianças terríveis, os pais terríveis, a malícia das mulheres, a política das mulheres, os maridos vingados, as nuances do sentimento, o reves, os pequenos jogos da sociedade, as pequenas adversidades da alegria, as interjeições, as traduções em língua vulgar , entre outras que são suas produções mais elevadas. Mas embora mostrando o mesmo poder da ironia que seus primeiros trabalhos, aumentados por um entendimento mais profundo da natureza humana, eles geralmente carregam o selo de uma amarga e as vezes melancólica filosofia. Esta tendência foi ainda mais fortalecida com uma visita a Inglaterra em 1849, onde se recusa desenhar um retrato da rainha e do príncipe. Ele voltou de Londres impressionado com as cenas de miséria e degradação que observou e criou a partir disto desenhos muito impressionantes que foram publicados em L’Illustration e foram apreciados pelas mentes mais cultas.
Entre 1841 e 1843 decide fazer uma série de pranchas voltadas apenas para as Lorettes, nome dado as mulheres elegantes que ficam atrás da Igreja Notre dame de Lorette. Em 1844 ele se casa com Jeanne de Bonabry, uma música renomada com que tem dois filhos , Pierre et Jean, porém seu casamento não é feliz e suas vidas juntas só duram três anos.
Em 1849 ele faz uma viagem para Escócia e Ilhas Hébrides, com o pintor Bouquet, e faz litografias chamadas “As garotas escocesas” e sobretudo “O tocador de foles”. O artista fica deprimido e ressente uma forma de desdém por sua arte, e vai então voltar a seus primeiros amores as matemáticas e se devota fervorosamente. Ele publica por Jules Hetzel, “A vida de um jovem homem e as camisas regatas”. Ele volta à Auteil em 1851 onde empreende (sob proposta do conde de Villedeuil) de colocar cada dia uma litografia no jornal Paris, tendo a primeira publicação em 20 de outubro de 1852 e dia após dia publica suas melhores litografias, as mais profundas. Gavarni criou um personagem Thomas Vireloque um maltrapilho cínico e filo sófico.
Em 1857 publicou uma série de 100 litografias entitulada Máscara e visagens baseadas nas diárias publicadas em jornal. Apesar de todas suas honras, sua vida se torna cada vez mais difícil, e piora quando per do filho Jean. Em 1859 volta a coleção de litografias, após Natureza, quatro dezenas para J. Janin, os irmãos Goncourt e P. de Saint-Victor. Em 1863 é expropriado de sua casa em Auteil, é  com a alma morta que ele se instala em um pequeno hotel na Avenida da Imperatriz (hoje Foch) e abandando totalmente o desenho. Ao fim de sua vida Gavarni esteve muito engajado em atividades científicas.  Porém ele não sai mais de casa, não abre mais as janelas, e sua saúde é ruim, sofrendo de asma que lhe cansa enormemente. Ele man dou diversas comunicações para a Academia de Ciências, e estava bastante interessado na questão da navegação aérea. Ele fez experimentos grandes para descobrir maneiras de dirigir balões, mas teve menos sucesso que seu amigo, o caricaturista e fotografo Nadar.
En 1866, instalado definitivamente Villa-de-la-Réunion, sofre de uma doença que o deixa de cama e seu filho Pierre vem o ver pouco antes dele sofrer uma crise de sufocação e falecer no dia 24 de novembro de 1866, sendo enterrado Cimetière d'Auteuil.  Este dandi parisiense, elegante, que era o homem melhor vestido de sua época em Paris, nos deixa uma obra impressionante obra, em torno de 8000 peças sendo desenhos, litografias, aquarelas, que foram publicadas em praticamente todas as revistas ilustradas francesas de sua época.Em 1869 seu último trabalho artístico Os doze meses (Les Douze Mois) é publicado postumamente.

SOBRE A OBRA

Nas cidades se desenvolve de maneira espetacular sobre os assaltos da revolução industrial, a prostituição  tem um desenvolvimento sem precedentes. Ao ponto de estar em um relatório de 1839 de um dos mais célebres médicos higienistas , o doutor Parent-Duchatelet : A prostituição na cidade de Paris sobre relato da higiene pública, da moral e da administração.
Submetido ao prostíbulo, significa tolerado mas em liberdade vigiada, ou clandestino, ocasional ou regular, a prostituta esta entre as esquinas mais populares. Garotas de soldados, insensíveis ou mulheres da terra, serventes, mas também obreiras do infortúnio, elas são centenas, milhares a buscar clientes a beira da subvenção, nos cabarés apertados, ou... na rua. A garota pública simboliza a desordem, o excesso, a falta de previsão. Não conversamos sobre a pobresa e a miséria.
    « Je suis coquette
    Je suis lorette,
    Reine du jour, reine sans feu ni lieu !
    Eh bien ! J’espère
    Quitter la Terre
    En mon hôtel..Peut-être l’hôtel-Dieu » (chanson).

“Eu sou coquete, eu sou lorette, Rainha do dia, rainha sem fogo nem lugar! E bem! Espero deixar a terra no meu hotel... Talvez o hospital” (canção francesa).
As garotas magras recebem também o sobrenome de Lorettes. Este quarterão de Notre-Dame de Lorette, entre a estação Saint-Lazare e a Butte Montmartre, que as abrigas, é também em completa construção e estas damas devem “varrer os emboços”, os propretários exigem, em troca de baixo alugues, cujo os apartamentos são aquecidos e as janelas fechadas com cortina.
A prostituta é percebida como a antítese dos valores burgueses triunfantes. A prostituta é imatura e próxima da criança. Ela se encontra em um estágio primitivo de não desenvolvilento, que autoriza ser colocada em tutela. Ela é o símbolo da indolência, pois devota ao prazer, é o tipo hedonista no seio do corpo social. Ela é preguiçosa. A prostituta é também improvidente. Ela não sabe economizar, ela ama o jogo. Ela não constrói nada. Ela também é submissa ao excesso sexual. Na época da Monarquia de Julho ama construir as fisiologias (o estudante, o burguês, o dandi, etc.) e a adoentar a sociedade nesta tipologia. A lorette não é um deste esteriótipos.
A prostituição é todavia geralmente considerada como um mal necessário a sociedade. Na casa das garotas, os burgueses encontram um espaço de liberdade (de fala, de ato sexual) que não tem em casa. Nos anos 1830-1840, a prostituta é acusada de iniciação de jovens homens, prometidos a um casamento vitoriano.

O desenhista Gavarni realisou uma vinheta representando uma lorette para a edição de La Lorette dos irmãos Goncourt pela Dentu em 1855. Durante a década de 1840 publicou no Le charivari 79 pranchas de lorettes, além de 70 (velhas e jovens) na revista Paris entre outras publicações.
Para agradar seus contemporâneos e participar de um processo de tipificação das fisiologias, Gavarni dá as lorettes uma imagem de excesso em todos gêneros: excesso de sexo, de bebida, tabaco... Aqui a lorette está vergada, esparramada sobre um sofá. O jovem burguês que a olha aponta o cigarro em sua direção. Outra metáfora do orgão sexual em ereção, o cigarro simboliza sem dúvida o pertencimento a classe superior, ainda mais o alto da forma ou o casaco. Um dandi como Nestor Roqueplan, que inventou o nome lorette, não sabia passar  de seu cigarro. A prostituta gosta deste avanço social temporário degustando ele assim como um cigarro. O que claro não impede de ter a pessoa para seu propósito libidinoso.
Bruxelas , 1 de novembro de 1880
GRANDES NOMES DA HISTÓRIA DA ARTE
ALBERT VON ZAHN

Van Gogh escreve para seu irmão Theo e conta sobre seus estudos nos métodos de Bargues e de Zahn:
"Eu estava pronto para desenhar pelo manual escrito por Zahn, Esboços anatômicos ao uso dos artistas (Esquisses anatomiques à l’usage des artistes" E ele inclui um número de outras ilustraçõs que parecem para mim muito eficientes e claras. Da mão, pé e outros locais.
E o que farei é completar o desenho dos músculos, isto é daqueles do torso e pernas, que formará o corpo humano inteiro que já está feito. Então há ainda o corpo visto pelas costas e pelo lado."
Albert von Zahn  foi um historiador da arte, desenhista, curador alemão, editor e pesquisador dos "Livros do ano para pesquisa em arte." e criador de um método para desenho que Van Gogh estudou durante sua aprendizagem.
Nascido no dia 10 de abril de 1836 em Leipzig. Em 1854 ele entou na Academia de Arte de Dresden onde foi estudante de Edward Bendemann e Gustav Jäger. De qualquer forma em 1858 ele se mudou para estudar história da arte. Posteriormente em 1867/68 ele ministrou palestras sobre história da arte do século XIII ao XVII na Universidade de Leipzig. Logo neste mesmo ano após o fins das palestras ele se tornou diretor no Weimar Museum. Em 1870 se torna Oficial do diretório-geral das Coleções Reais de arte e ciências em Dresden. Além disso no ano seguinte se torna investigador do famoso "Holbein convention" que conseguiu determinar a autencidade de dois Burgomeister Meyer Madonna (Dresden and Darmstadt).  Para a tristeza de Zanh, o autografo de Holbeinera o de Darmstadt e não o saxonica.
Ele morreu em 16 de junho de 1873 em Marienbad na Alemanha.
Albert de Zahn - Ilustrações do livro "Esboços anatômicos para uso dos artistas"' (Esquisses anatomiques à l'usage des artistes) que hoje tem uma cópia no Rijksprentenkabinet em Amsterdam
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Às sextas e terças, esta coluna traz obras digitalizadas de outros pintores que influenciaram o pintor monoauricular Van Gogh e obras suas, mas tão somente as que forem citadas nas Cartas a Théo, acompanhadas da data da carta que cita a obra, bem como as citações sobre ela e uma pequena biografia de seu autor. Para outros olhares neste curso, clique aqui.

O termo « lorette » entra nos  dicionários de gírias do segundo império e busca sua carreira na Terçeira República. As « lolotes » ou « rigolettes » que foram pensadas no tempo a substituram fazendo um longo fogo. A prostituição não falhará. Ela fará mais medo todavia, pois as doenças venéreas se difundem debaixo sobre a alta sociedade. Mas apesar destes medos, o fenômeno prostitucional, prova sua função social e se intensifica na terceira república, se estendendo a casa próximo a calçada. Os partidários da abolição e aqueles da regulamentação poderão bem se opor: a prostituição se mantem.