08 julho, 2021

1932: A Arte da Revolução nos Cemitérios Paulistas via São Paulo antiga

 Mais um 9 de Julho está chegando e com ele vem à tona a história dos Revolucionários constitucionalistas.

Porém este feriado ainda é um mistério para várias pessoas. Por que é feriado? O que foi a Revolução Constitucionalista? O que esta Revolução significou para o Estado de São Paulo? Esses são os tipos de indagações que qualquer pessoa corre o risco de fazer a si próprio.

Feriado estadual desde 1997, a Revolução Constitucionalista explodiu em 1932 quando a população Paulista se rebelou contra o governo ditatorial do então presidente Getúlio Vargas. São Paulo lutou por uma constituição ocasionando um dos grandes episódios da história do país. Mais de 35 mil Paulistas lutaram contra 100 mil soldados aliados ao Governo Federal. O resultado não poderia ser pior, mais de 850 pessoas vieram a falecer pelo ideal constitucionalista na cabeça e no coração.

 Na foto, Remo Randi – Combatente de 1932

Para homenagear esta epopeia Paulista, em 1942 iniciou-se a construção do Obelisco dos Heróis de 1932 sendo finalizada em 1970. Projetado pelo escultor italiano Galileo Emendabili (1898-1974) o Obelisco possui 70 metros e não é uma simples obra com a finalidade de homenagear os soldados constitucionalistas. Dentro do Obelisco estão os restos mortais de muitos Combatentes tornando-se um Obelisco Mausoléu.

Possuindo diversas simbologias e inscrições, o Obelisco é tombado pelos órgãos CONDEPHAAT e CONPRESP, porém encontra-se em restauro e não está aberto para visitação, salvo no dia 9 de Julho.

O Obelisco é a última morada de diversos Paulistanos ilustres que contribuíram pelo ideal constitucionalista como o Poeta Guilherme de Almeida, Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo que compõem a sigla MMDC, Ibrahim Nobre, General Ataliba Leonel e diversos voluntários como Ary Cajado de Oliveira e José Vicente Ferreira.

As homenagens para a Revolução Constitucionalista não se resumem apenas no Obelisco do Ibirapuera como é popularmente conhecido. Em cada canto de São Paulo tem algo que nos remete para o ano de 1932.

Presentes no cotidiano dos Cidadãos Paulistanos, as avenidas 23 de Maio e 9 de Julho são exemplos de homenagens constitucionalistas. E estas homenagens não param apenas em nomes de logradouros. Sempre encontramos monumentos em praças públicas nas cidades de São Paulo enfatizando 1932, porém que as vezes passam despercebida pela maioria da população. Resgatar a história é fundamental para perpetuá-la pelas pessoas que derramaram o seu sangue em defesa de São Paulo.

O São Paulo Abandonada & Antiga pesquisou a história de alguns monumentos e túmulos espalhados pelo Estado de São Paulo passando por Araraquara, Piracicaba e a nossa Capital.

Em julho de 1932 no bairro de Santo Amaro, os estilhaços de um morteiro que explodiu acidentalmente matou o General Júlio Marcondes Salgado, que também leva nome de rua no bairro de Santa Cecília. Recebeu a condecoração de General Paulista pós morte. Major José Marcelino foi o responsável pelos testes do morteiro e também acabou falecendo.

Seus túmulos encontram-se no Cemitério São Paulo e possuem diversas simbologias Heroicas onde aprendemos um pouco sobre a história constitucionalista apenas com o olhar.

Os túmulos do General Júlio Marcondes Salgado e Major José Marcelino da Fonseca:

 Túmulo do General Júlio Marcondes Salgado

O relevo que contempla o túmulo do General é de autoria do escultor Eugênio Prati. Vemos em primeiro plano uma mulher seminua envolta por uma mortalha segurando a bandeira do Estado de São Paulo o que significa a Pátria. Logo acima o General Júlio Marcondes comanda um exército de soldados constitucionalistas com a espada em punho, o que significa proeza. Ao fundo encontramos muitos detalhes especiais. O edifício Martinelli contempla o relevo junto com uma parte do monumento Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo que se encontra no Páteo do Colégio, autoria de Amadeu Zani e a palavra LEX que significa lei em latim, ou seja, este relevo nos mostra a soberania do Estado de São Paulo perante a constituição que tanto proclamou.

 Túmulo do Major José Marcelino da Fonseca

Ao lado do túmulo de Júlio Marcondes Salgado, encontramos o de seu companheiro Major José Marcelino da Fonseca. Também de autoria de Eugênio Prati, o jazigo possui um relevo com a face do Major e acima, outro relevo com um soldado constitucionalista de perfil tendo em seu punho uma baioneta fazendo referenda para a pátria paulista simbolizando apenas por uma mão e um ramo de café, símbolo supremo da Economia Paulista. Ao fundo encontramos a bandeira do Estado de São Paulo.

Túmulo de Ibraim Nobre:

 Túmulo de Ibraim Nobre

Também encontra-se no cemitério São Paulo. Executada em mármore pelo escultor Galileo Emendabili, este jazigo está em desuso depois que seus restos mortais foram trasladados para o Obelisco do Ibirapuera (veja destaque na foto) e hoje repousa ao lado do Poeta Guilherme de Almeida.

Túmulo de Prudente Meireles de Moraes:

Situado no Cemitério da Consolação, este jazigo é ricamente simbólico para os amantes da Revolução Constitucionalista.

 Prudente Meireles de Moraes

Armando Zago, escultor que assina a obra, nos brindou com uma escultura do Apóstolo São Paulo. O olhar de contemplação perante o sepultado simbolizado pela Bandeira do Estado de São Paulo, o ramo de Café e o capacete constitucionalista modelo Paulista. A espada baixada que se encontra na mão direita do Apóstolo significa dever cumprido e um detalhe muito interessante: A portinhola do jazigo é o Túnel da Mantiqueira, divisa de Minas Gerais e São Paulo onde o exército constitucionalista de São Paulo entrou em conflito com as tropas de Minas Gerais ocasionando diversos mortos.

Prudente Meireles de Moraes era engenheiro e foi responsável por diversas obras para beneficiar a Revolução Constitucionalista. Era sobrinho do primeiro presidente civil brasileiro, Prudente de Moraes.

Mausoléu dos ex-combatentes constitucionalistas – Cemitério da Saudade de Piracicaba:

Todo Estado de São Paulo se mobilizou em prol da Revolução Constitucionalista e a cidade de Piracicaba, berço da Economia da Cana-de-açúcar, não foi diferente. A história desta cidade se confunde com o Desenvolvimento Econômico da Capital.

Estão sepultados neste jazigo os soldados Natal Meira Barros, Sylvio Cervelini, José Homero Roxo, Ennes Silveira Mello, Romário Mello Nery e Francisco H. Souza. Neste cemitério também estão sepultados o presidente Prudente de Moraes e o pintor Almeida Júnior.

E simbologia constitucionalista é o que não falta neste túmulo, começando pela coluna partida que significa Vida interrompida.

Acima, vemos o capacete constitucionalista modelo francês apelidado de crista de galo. Este capacete está apoiado em um livro com a palavra LEX o que nos remete a luta dos combatentes piracicabanos pela constituição. Ao fundo, uma singela mão com uma espada em punho que significa símbolo da justiça e da decisão.

Mausoléu do voluntário Clineu Braga de Magalhães:

 Túmulo de Clineu Braga de Magalhães

Clineu era aluno do terceiro ano de engenharia no Mackenzie College. Pertencente ao BUP – Batalhão Universitário Paulista – que integrou-se ao Batalhão 14 de Julho. Este universitário morreu com um tiro no coração, e quase todo seu batalhão foi aniquilado.

O escultor Italiano Júlio Starace, executou no Cemitério São Paulo 4 peças fundamentais para o entendimento da história de Clineu. A bandeira do Estado de São Paulo, o ramo de Café e o capacete modelo Paulista com as iniciais BUP 14 de Julho. Na parte superior, um braço estendido segurando uma tocha, que é o símbolo da força (vide foto abaixo).

Mausoléu do voluntário Lauro de Barros Penteado:

Apresentou-se ao 14 de Julho e foi para Rio das Almas, próximo aos municípios de Ribeirão Grande e Capão Bonito (região sudoeste do Estado). Foi atingido por uma granada que explodiu sobre ele. Seus últimos dizeres foram: Sei que vou morrer por São Paulo. Quero ser sepultado com esta mesma farda com que vou morrer… Viva São Paulo!

Seu túmulo possui simbologias Paulistas. Eugênio Prati destacou em primeiro plano, no relevo, o Bandeirante que é o símbolo da Proeza e Persistência do povo Paulista. Ao fundo, encontramos o monumento de Amadeo Zani, Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo, ao lado o monumento que se encontra na sede da Prefeitura de São Paulo, a Quimera, autoria do escultor Italiano Nicola Rollo. Abaixo o capacete constitucionalista modelo Paulista com o ramo de Café e a palma que significa a Glorificação celestial, representando o triunfo dos mártires sobre a morte.

Monumento em homenagem aos combatentes da cidade de Americana:

Além do Obelisco e das magníficas obras dos cemitérios, existem outros monumentos em homenagem a Revolução Constitucionalista de 1932 espalhados por todo o Estado de São Paulo. Um deles está em Americana.

 Monumento em homenagem aos combatentes

Monumento erguido em 1984 na Praça Comendador Müller em frente à Biblioteca Municipal em homenagem aos combatentes Fernando de Camargo, Aristeu Valente, Jorge Jones e o Capitão Manoel dos Santos Sobrinho.

Executado em granito e bronze, ao longo dos nove degraus (alusivo ao dia 9 de julho) o monumento possui a figura de um soldado abraçando a Bandeira do Estado de São Paulo onde o combatente serviu e morreu pela Pátria Paulista. Nas quatros faces do monumento estão os relevos dos combatentes americanenses.

1932 é eterno:

A Revolução constitucionalista de 1932 corre risco de cair no esquecimento. Como cidadãos, temos o dever de reestabelecer um sentido de ordem e continuidade frente às realidades históricas que enfrentamos. É restabelecer nosso encontro com a história como parte do impulso Vivo ao invés de um mergulho cego ao desconhecido. Como sociedade, caminhamos para o futuro na grande Dinâmica da História. E é esse painel grandioso que devemos Preservar e Compreender o sentido do resgate Histórico da Revolução.

Agradecimentos aos colaboradores: Gustavo Daniel Randi e Sérgio Righi – Site Última Trincheira.


 



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