Em contraposição à crescente direita religiosa, céticos tentam promover candidaturas com uma visão de Estado mais secular
Com
o avanço da direita religiosa nos EUA, os descrentes decidiram sair do
armário e se organizar para influenciar políticas públicas,
principalmente nas áreas de educação, saúde e mudanças climáticas.
Depois de estabelecer um grupo de lobby em Washington, os céticos de
todo o gênero criaram um comitê para financiar candidatos às eleições
legislativas de novembro comprometidos com uma visão secular de governo.
Nenhum
integrante do Congresso americano é abertamente ateu, em um reflexo do
rechaço a essa opção em um país no qual referências religiosas
frequentam as manifestações políticas. O presidente dos EUA termina seus
discursos solenes com "Deus salve a América" e todas as sessões do
Senado e da Câmara são abertas por capelães oficiais, que juntos ganham
salários anuais de US$ 345 mil, pagos com dinheiro público.
Na
última década e meia, a influência dos conservadores religiosos
ultrapassou os rituais e passou a afetar uma série de aspectos da vida
pública americana. Em muitas escolas, a Teoria da Evolução começou a ser
ofuscada pelo ensino do criacionismo, que apresenta a visão bíblica da
origem do mundo.
As
restrições ao aborto aumentaram e o rechaço ao custeio de certos
métodos anticoncepcionais por motivos religiosas foi chancelado pela
Suprema Corte, que também considerou constitucional a realização de
orações em encontros da comunidade para discutir políticas públicas.
Sair
do armário não é só uma figura de linguagem. Os militantes da não
religião seguem os passos dos gays e dos ativistas que defendem direitos
civis para ampliar a visibilidade. "Ao não sermos notados, ajudamos a
criar uma atmosfera na qual todo o mundo nos EUA parece ser cristão. Os
secularistas devem ser visíveis e participar do debate público, para que
os deputados e senadores tenham de considerar o que seus eleitores
ateus e agnósticos pensam, o que reduz o poder da direita religiosa",
disse o advogado David Niose, diretor da American Humanist Association
(AHA), uma das principais entidades seculares dos EUA.
Criada
em 1941, a organização ganhou visibilidade na última década, em parte
como resposta ao crescimento do fundamentalismo cristão. O número de
associados que contribuem financeiramente para a entidade se multiplicou
por seis, para 29 mil. Outros 300 mil são seguidoras da AHA no
Facebook.
"Um
dos nossos objetivos é nos livrar do estereótipo negativo e criar uma
atmosfera na qual as pessoas podem ser abertas em relação a suas crenças
e saber que terão apoio de organizações como a nossa", observou Bishop
McNeill, coordenador do Freethought Equality Fund, um comitê que
arrecadou US$ 25 mil em doações individuais de aproximadamente 500
pessoas. O grupo declarou apoio a 15 candidatos, nem todos ateus. Entre
eles, há religiosos que professam uma agenda secular, na qual está a
separação entre Estado e Igreja.
Apesar
de minoritários, os secularistas são a fatia demográfica que cresce
mais rapidamente nos EUA. Sua participação subiu de 15,3% da população,
em 2007, para 19,6%, em 2012. A maior parte desse contingente diz não
ter nenhuma convicção particular e não se identifica com os rótulos de
"ateu" ou "agnóstico".
O
que os une é a não filiação a uma religião, o que levou o Pew Research
Center a batizá-los de "nenhuns". Entre os jovens de 18 a 29 anos, o
porcentual de "nenhuns" é de 32%, mais que o dobro dos 15% registrados
entre pessoas de 50 a 64 anos. Na faixa de 30 a 49 anos, o índice é de
21%. "A maioria das pessoas da próxima geração não terá filiação
religiosa", aposta Don Wharton, ativista ateu de Washington. Segundo
ele, o rótulo "humanista secular" tende a encontrar menos resistência
que "ateu". "Os ateus ainda são demonizados e vítimas de intolerância.
Temos de mostrar que temos tantas preocupações éticas quanto os
humanistas."
Estadão
Estadão
De: Estadão <naoresponda@ email.estadao.com.br>
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