Ele será eternamente lembrado, quer queira quer não, como o autor da imortal Ronda. O que não deixa de ser uma injustiça. Por essas e outras é que o título da caixa de quatro CDs celebrando a obra de Paulo Vanzolini é 100% coerente - Acerto de Contas, box recém-lançado pela Biscoito Fino, passa a limpo a importância do compositor em releituras de suas obras. Artistas do quilate de Paulinho da Viola, Carlinhos Vergueiro, Chico Buarque e suas irmãs Cristina, Ana de Hollanda e Miúcha foram reunidos num majestoso songbook, uma obra de referência (e reverência) que a história da MPB devia a Vanzolini.
Há uma história no mínimo incomum por trás deste Acervo de Contas, um projeto concebido pelo próprio Vanzolini há cerca de seis anos. O nome da caixa faz supôr que o compositor, hoje aos 78 anos, considera-se subestimado pela História. "Marketing não é comigo. Eu não faço a menor questão de ser lembrado", sempre afirmou Vanzolini. Ainda assim, o compositor tomou a tarefa de organizar sua antologia, como forma de registrar de forma definitiva suas canções. "Acho muito ruins quase todas as gravações de minhas músicas", diz Vanzolini. "O drama não é o cantor, mas o arranjador. Em geral, o sujeito não entende a minha cabeça."
Junto a sua esposa, a cantora Ana Bernardo, Vanzolini ruminou seus arquivos para decidir quais canções deveriam entrar no pacote - que teria de ser o mais abrangente possível. Com a ajuda de amigos e da mulher, chegou ao número de - relativamente baixo - de 65 músicas compostas, algumas inéditas, que representariam a totalidade de seus quase 60 anos de produção. Parece pouco, mas deve se levar em consideração a história de vida atípica de Vanzolini. O paulistano sempre esteve à beira do diletantismo, ganhando a vida trabalhando na área biomédica (é formado em Zoologia e desenvolveu destacadas pesquisas no campo). Seus esparsos discos pessoais nunca fizeram muito sucesso e de hit mesmo em sua carreira só Ronda e Volta por Cima, outra das músicas que o "perseguem" até hoje. "Nunca quis ser compositor. Música era algo que eu fazia só para os amigos", diz Vanzolini.
Com rigor e modéstia quase ranzinzas, Vanzolini chegou, junto ao produtor Ítalo Peron, a uma lista de 52 canções. Peron foi escolhido para coordenar a transcrição das partituras e produzir os intérpretes, que foram escolhidos pessoalmente por Vanzolini. E aí entram mais idiossincrasias do compositor; o parceiro Toquinho (com quem fez Noite Longa e Boca da Noite) ficou de fora da seleção, por "motivos particulares". Noite Ilustrada, o sambista que lançou em 1963 Volta por Cima, também foi ignorado, junto com uma série de nomes graúdos da MPB que se ofereceram ao projeto. "Penso que é preciso um pouco de cara de pau para cantar minhas músicas", declara Vanzolini.
A seleção final de artistas virou uma curiosa mistura de gente consagrada e outros virtualmente desconhecidos. Aos parceiros Paulinho Nogueira e Eduardo Gudin, junta-se sua intérprete favorita (Cristina Buarque), a esposa Ana, Elton Medeiros, Martinho da Vila, Virgínia Rosa e os já citados Chico Buarque e Miúcha. Entretanto, o que mais chama a atenção são nomes como João Macacão, Maria Marta, Edu Maia, Ventura Ramirez e os grupos Bando de Macambira e Trovadores Urbanos. As gravações, realizadas de março a outubro do ano passado em São Paulo, privilegiaram a instrumentação básica do samba boêmio dos botecos paulistas - uma profusão de cordas (cavaquinho, violão, bandolins) e sopros, em contraposição ao samba com mais ênfase na percussão que se toca na noite carioca. "O velho chorão paulista, com aquele violão de sete cordas e aquele bandolim, isso é que é fundamental para minha música", considera Vanzolini.
Concebido inicialmente como um brinde para os clientes da BR Distribuidora (patrocinadora do projeto), o box Acerto de Contas ganhou as lojas graças à intervenção de Homero Ferreira, que fez a ponte entre a BR e a Biscoito Fino. Para o encarte, um texto de Antonio Candido foi escolhido para retratar, em palavras, a estatura única de Vanzolini. "Mestre de muitas faces, que sabe modular a expressão desde a caudal da conversa até a elipse das composições carregadas de expressão contida", resume Candido.
Há uma história no mínimo incomum por trás deste Acervo de Contas, um projeto concebido pelo próprio Vanzolini há cerca de seis anos. O nome da caixa faz supôr que o compositor, hoje aos 78 anos, considera-se subestimado pela História. "Marketing não é comigo. Eu não faço a menor questão de ser lembrado", sempre afirmou Vanzolini. Ainda assim, o compositor tomou a tarefa de organizar sua antologia, como forma de registrar de forma definitiva suas canções. "Acho muito ruins quase todas as gravações de minhas músicas", diz Vanzolini. "O drama não é o cantor, mas o arranjador. Em geral, o sujeito não entende a minha cabeça."
Junto a sua esposa, a cantora Ana Bernardo, Vanzolini ruminou seus arquivos para decidir quais canções deveriam entrar no pacote - que teria de ser o mais abrangente possível. Com a ajuda de amigos e da mulher, chegou ao número de - relativamente baixo - de 65 músicas compostas, algumas inéditas, que representariam a totalidade de seus quase 60 anos de produção. Parece pouco, mas deve se levar em consideração a história de vida atípica de Vanzolini. O paulistano sempre esteve à beira do diletantismo, ganhando a vida trabalhando na área biomédica (é formado em Zoologia e desenvolveu destacadas pesquisas no campo). Seus esparsos discos pessoais nunca fizeram muito sucesso e de hit mesmo em sua carreira só Ronda e Volta por Cima, outra das músicas que o "perseguem" até hoje. "Nunca quis ser compositor. Música era algo que eu fazia só para os amigos", diz Vanzolini.
Com rigor e modéstia quase ranzinzas, Vanzolini chegou, junto ao produtor Ítalo Peron, a uma lista de 52 canções. Peron foi escolhido para coordenar a transcrição das partituras e produzir os intérpretes, que foram escolhidos pessoalmente por Vanzolini. E aí entram mais idiossincrasias do compositor; o parceiro Toquinho (com quem fez Noite Longa e Boca da Noite) ficou de fora da seleção, por "motivos particulares". Noite Ilustrada, o sambista que lançou em 1963 Volta por Cima, também foi ignorado, junto com uma série de nomes graúdos da MPB que se ofereceram ao projeto. "Penso que é preciso um pouco de cara de pau para cantar minhas músicas", declara Vanzolini.
A seleção final de artistas virou uma curiosa mistura de gente consagrada e outros virtualmente desconhecidos. Aos parceiros Paulinho Nogueira e Eduardo Gudin, junta-se sua intérprete favorita (Cristina Buarque), a esposa Ana, Elton Medeiros, Martinho da Vila, Virgínia Rosa e os já citados Chico Buarque e Miúcha. Entretanto, o que mais chama a atenção são nomes como João Macacão, Maria Marta, Edu Maia, Ventura Ramirez e os grupos Bando de Macambira e Trovadores Urbanos. As gravações, realizadas de março a outubro do ano passado em São Paulo, privilegiaram a instrumentação básica do samba boêmio dos botecos paulistas - uma profusão de cordas (cavaquinho, violão, bandolins) e sopros, em contraposição ao samba com mais ênfase na percussão que se toca na noite carioca. "O velho chorão paulista, com aquele violão de sete cordas e aquele bandolim, isso é que é fundamental para minha música", considera Vanzolini.
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Sulinha
Sabedoria, Saúde e Sucesso: Sempre para todos Nós.
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