15 setembro, 2012

16/Setembro - Falecimentos

  • 1896 - Carlos Gomes, compositor brasileiro (n. 1836).
  • 1899 - Inácio de Sousa Rolim, Sacerdote católico, cognomizado "O Anchieta do Norte" (n. 1800)
  • 1911 - Edward Whymper, alpinista britânico (n. 1840).
  • 1925 - Alexander Friedmann, matemático e cosmólogo russo (n. 1888).
  • 1973 - Victor Jara, cantor e compositor do Chile, assassinado.
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  • 1977 - Maria Callas, cantora lírica estadunidense de origem grega (n. 1923).
  • Túmulo de Maria Callas
  • Maria Callas
  • 1980 - Jean Piaget, biólogo e psicólogo suiço (n. 1896).
  • 2006 - Mário Teixeira Gurgel, bispo brasileiro (n. 1921).
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  • 2008 - Lourenço Diaferia, contista, cronista e jornalista brasileiro (n. 1933).

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    Por Lourenço Diaféria
    Pegaram um dia um operário e disseram-lhe:
    Senta-te no banco dos réus.
    És acusado de haveres nascido com sonhos na cabeça.
  • És acusado de teres os cabelos
    encaracolados.
  • És acusado de teres bigodes vastos, negros, provocativos.
    És acusado de teres alguns pedaços de dedos a menos que o comum dos mortais, podados pelas engrenagens das máquinas.
    És acusado de ficares pelas esquinas conversando em voz baixa com amigos enquanto a luz dos postes te ilumina o suor do rosto. És acusado de terem te visto no bar dando gargalhadas.
    És acusado de tua casa ter um pequeno jardim com grama e flores.
    És acusado de conheceres a sinfonia das sirenes das fábricas anunciando a aurora do primeiro turno. És acusado de seres reconhecido na portaria e todos te cumprimentarem, e te baterem levemente nas costas com alegria, e te dizerem: olá, meu chapa.
    És acusado de inventares um partido que não é o único, mas não se confunde com siglas e teorias de alfarrábios envelhecidos.
    És acusado de fazeres discursos de improviso com vigor e garra que nascem do fundo das vísceras do espírito.
    És acusado de não seres magro nem raquítico como teus irmãos deviam ser.
    És acusado de jogares baralho e dares dores de cabeça aos homens sérios deste país. És acusado de usares gravata em vez de macacão, vestindo-te com roupas só permissíveis no enterro do melhor amigo. És acusado de freqüentar reuniões e discutires com sábios e iluminados sem pedir licença nem apresentar diploma. És acusado de te haverem visto com ministros, criaturas importantes, e não te ocorrer submeter-se a elas.
    És acusado de não teres te colocado no lugar cavado para o oprimido. És acusado de haveres gritado com toda a força de teus pulmões fuliginosos.
    És acusado de teres filhos bonitos e uma mulher doce, que devia ser feia e talhada a foice.
    És acusado de não seres rapaz comportado, meigo, gentil, acetinado.
    És acusado de conheceres a prensa, e não te afugentar o ronco que ela faz na madrugada.
    És acusado de quereres a pátria livre, e livre, também, o coração e os sentimentos do homem.
    És acusado de rezares e de pôr a boca no trombone quando todos se calam e descrêem de Deus e
    dos homens.
    És acusado de teres o desplante de ser líder num país desnaturado onde quem levanta a fronte é triturado.
    És acusado de haveres perdido a paciência de esperar pelo futuro que não chega nunca.
    És acusado de usares sapatos 42, de couro, quando o normal é sandália havaiana.
    És acusado de romperes as cadeias invisíveis que amarram teus braços peludos e tuas mãos penadas.
    És acusado de atraíres os operários com tua voz, teu berro, teu silêncio, teu olhar, tua dor, tua ânsia, teu mistério, e saberes contar, sorrindo, tristes histórias recolhidas em barracos e cômodos-e-cozinhas.
    És acusado de estares em pé, quando devias estar de bruços, de borco, exangue e vencido.
    És acusado de não seres o que queriam que tu fosses.
    Meu caro operário sentado no banco dos réus, por favor, recebe este recado:
    Se existir mesmo essa senhora difusa e vaga a que chamam Justiça, confia nela.
    Não creio que essa matrona seja cega.
     
    * Texto de Lourenço Diaféria , publicado no Jornal Folha de São Paulo, no dia 15/09/80.
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  • 2009 - Mary Travers, cantora norte-americana (n. 1936).
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    @SulinhaSVO
    Sabedoria, Saúde e $uce$$o: Sempre para todos Nós.