(Foto: Rachata Amnataree/Getty Images)
Um olhar sobre 2024 Apesar de os números de 2024 ainda não estarem consolidados, já é possível dizer que foi um ano de recuperação moderada, sem grandes volumes investidos, mas com rodadas e movimentações relevantes no ecossistema. Dados da Sling Hub mostram que até o terceiro trimestre as startups brasileiras haviam captado US$ 825 milhões, 57% do total levantado no período na América Latina.
A mudança de comportamento dos investidores, iniciada no inverno das startups, permanece: eles seguem mais seletivos e cautelosos na hora de assinar os cheques. “Não existe mais o medo de perder um deal. Você consegue conhecer mais a fundo os empreendedores, pedir mais tração. Não foi um ano fácil, seguiu a toada de 2023, mas houve rodadas grandes. Apesar dos cenários macroeconômico e político desafiadores, ninguém acredita que o empreendedorismo vá retroceder”, opina Marcelo Ciampolini, sócio da Antler Brasil.
O período de escassez resultou em maior amadurecimento no ecossistema brasileiro. Para Orlando Cintra, fundador do BR Angels, o ambiente está mais sério, com pé no chão e menos suscetível a modismos.
“Já conseguimos perceber o amadurecimento das startups para entender que não existem aportes a todo momento. Procuramos educar para terem um plano A sem depender de investimento. Elas receberam o memorando de que precisam de um planejamento consistente de negócios e usar o capital de risco para acelerar, ao invés de captar para parar de pé”, aponta.
Anna de Souza Aranha, coCEO e sócia do Quintessa, enxerga o resultado de avanços iniciados em anos anteriores, com ampliação do ecossistema de negócios de impacto e um olhar mais atento para o aumento da diversidade. “Viemos de um ciclo em que precisávamos que aceleradoras, incubadoras, gestoras começassem a existir. Esse foi o ano do ponto de inflexão, de como atuar de forma coordenada e coesa para avançar no que precisamos, mesclando capital público e privado para destravar o ecossistema”, declara.
Ainda sobre a maturidade do ecossistema, Ciampolini destaca a presença mais relevante de bancos de desenvolvimento, como BNDES, Badesul e Desenvolve SP nos aportes em startups. Por outro lado, os fundos de venture capital enfrentaram mais dificuldade para estruturar novos fundos em 2024 e estão demorando mais tempo na fase de captação do que o imaginado.
Apesar da consolidação, Cintra afirma que o ano não foi melhor devido a questões macroeconômicas, como a taxa de juros (Selic) a 12,25% – o que costuma atrair os investidores para a renda fixa e afastar do risco de investir em startups, com retornos mais distantes – e o câmbio alto, com o dólar batendo recorde histórico. “Enquanto a economia não melhorar, não se destrava tudo. Com a mudança de presidente nos Estados Unidos, esperamos solavancos, existe uma toada forte para o lado da inovação, do venture capital”, opina.
Breakeven. Uma tendência que se manteve em 2024 foi a busca pelo breakeven por startups – nomes como Conta Simples, BossaBox, Carefy e a operação brasileira da fintech Clara anunciaram a chegada ao ponto de equilíbrio neste ano. Ciampolini diz que os investidores esperam dos fundadores a capacidade de se mostrarem sustentáveis. “Se você mostra que está sustentável, mas tem um gargalo que o capital vai destravar, é música para os ouvidos”, diz.
Cintra ressalta que o breakeven não deve ser artificial, alcançado após forte corte de custos e sem impacto no crescimento. Para o investidor, o divisor de águas é o plano apresentado para alcançar receita recorrente. Outro indicativo relevante é a tese de saída. “O que mantém uma startup viva são as vendas. Se não vender, a receita não para em pé. Enquanto não encontra a validação do produto, a startup queima energia e dinheiro”, diz.
Inteligência artificial. Não deu para escapar do tema neste ano. Cintra e Ciampolini alertam sobre a importância do propósito no uso da tecnologia, com destaque para o ganho de produtividade e eficiência. “Ainda vamos ter o entendimento de quais são os aplicativos que fazem sentido e quais serão integrados aos grandes. Acho que ainda teremos uma mini bolha de IA”, opina Ciampolini. |