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08 abril, 2015

Empresas empregam detentos em fábricas no Espírito Santo.

LEAO
 
Quando o assunto é o sistema carcerário brasileiro, existem problemas muito mais complexos que não são captados por frases feitas como "bandido bom é bandido morto" ou que "a única coisa boa do Maranhão é o presídio de Pedrinhas".

Em meio a um cenário conturbado das penitenciárias do País, existem programas federais e estaduais que buscam soluções para reverter esse cenário.
É o caso da iniciativa da Secretaria de Justiça do Espírito Santo (Sejus-ES), que busca fazer a diferença capacitando profissionalmente detentos.
O intuito é prepará-los para o mercado de trabalho quando estiverem em liberdade. A secretaria está sempre à procura de parcerias que ampliem essas oportunidades.
Inspiradas nessa iniciativa, as empresas Leão Alimentos e Bebidas e TROP Frutas lançaram os projetos de reintegração social "Semeando a Liberdade" e o “Projeto Reeducando”.
No primeiro, os detentos em regime fechado trabalham no cultivo do maracujá em uma fazenda localizada ao lado da unidade prisional.
Já o ”Projeto Reeducando” emprega os detentos enquanto estão em regime semi-aberto para atividades de manutenção e produção das fábricas da Leão, recebendo salário por meio do Sejus-ES. Em menos de um ano em andamento, o programa já incorporou 36 trabalhadores.
O gerente de Sustentabilidade da Leão Alimentos e Bebidas, Fabiano Rangel, explica o propósito dos programas:
“De um lado a sociedade não quer criminalidade, marginais e afins. Por outro lado, portanto, precisamos criar uma oportunidade para pessoas que no passado tiveram uma conduta equivocada na sua vida, para que possam se reinserir na sociedade e justamente não reincidirem nessa situação.”
A oportunidade que Rangel cita já se materializou para os participantes do programa: seis reeducandos, após cumprirem a pena e ganharem a liberdade, foram contratados como funcionários efetivos e oficialmente já ingressaram no mercado de trabalho. Três deles exercem funções na própria Leão, outros dois na TROP, e o terceiro em uma empresa terceirizada do grupo.
“É um paradigma muito grande pra sociedade. Você mexe com uma série de preconceitos, com valores morais difíceis de ultrapassar. Então termos superado essas barreiras é motivo de grande orgulho”, reflete Rangel.
'Preciso mostrar serviço aqui dentro'
O Brasil Post conversou com um dos reeducandos, Weslei Henrique Rodrigues, de 22 anos. Ele está em regime semi-aberto e há seis meses trabalha como ajudante de produção extraindo polpas e movimentando tambores.
“A empresa abriu oportunidade pra nós sem preconceito. Fiz amizade com os outros trabalhadores e, dependendo do meu desempenho, vou continuar na empresa. Preciso mostrar serviço aqui dentro [para isso]”, conta.

Weslei deve ser liberado no final do ano. O trabalho abriu novas perspectivas para ele. “É tipo um recomeço, trabalhando honestamente, sem se envolver em problemas.”
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Expansão
O executivo Fabiano Rangel discute a possibilidade de expandir os programas de reinserção social da Leão e da TROP para outros estados. Segundo ele, não há por que não avançar se houver condições favoráveis para implementar esse tipo de projeto.
“Esse é um projeto que você não consegue executá-lo simplesmente pela vontade da iniciativa privada. Você precisa ter um espaço para isso dentro das máquinas públicas, um ambiente preparado pra ter a parceria e fornecer suporte.”
Atualmente, 250 empresas no Espírito Santo mantêm convênio com a Sejus e empregam cerca de 2,7 mil detentos tanto dentro quanto fora dos presídios.