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31 março, 2013

Cananéia - primeiro povoado do Brasil - Vale do Ribeira e Litoral Sul de São Paulo



CANANÉIA – PRIMEIRO POVOADO DO BRASIL – VALE DO RIBEIRA E LITORAL SUL DE SÃO PAULO

Joaquim Macêdo Júnior

Desde que cheguei em São Paulo, passei a escutar muitas informações, histórias, lendas e sugestões para que não deixasse de conhecer o lugar. Cananéia, para mim, tornou-se um destino indispensável.
Cheguei mesmo a achar que Cananéia ficava no fim do mundo, o que para os andantes de pouca distância não deixa de ter um fundo de verdade.
Bem, mais surpreendente que isso, foi descobrir que “aquém e além do fim do mundo” havia um manancial, literalmente, de naturezas sem fim, ecossistemas de grande complexidade, de novidades, descobertas e um agora impositivo conhecimento de toda a região, uma mania deste escriba-viajante.
Sim, vou dizer de Cananéia e muito. Mas, seria injusto se não tentasse descrever um pouco do que vi no Vale do Ribeira e Litoral Sul de São Paulo, região do rio Ribeira do Iguape (470 km do Paraná (com 60% de suas águas) à foz em Barra do Ribeira, em Iguape-SP).
Tudo o que pude visitar e, quem sabe mais atrativos que ainda não conheci, mais que já estão na lista dos 1001 que não devem deixar de ser vistos enquanto tempo houver.
Situada numa área onde foi disputada a demarcação de terra entre aventureiros e piratas espanhóis, portugueses e franceses, que passavam por ali à procura das riquezas do novo mundo, principalmente as duas maiores potências da época – Portugal e Espanha.
Em 24 de janeiro de 1502, desembarca em Cananéia a expedição exploratória, comandada por Gaspar de Lemos e Américo Vespúcio.
Os exploradores denominaram o lugar de Barra do Rio Cananor, trazendo com eles o misterioso ‘Bacharel’ Mestre Cosme Fernandes, degredado de Portugal pelo Rei D. Manuel, como consta no Livro dos Degredos no Museu do Tombo em Lisboa. O documento registra a posição de Cananéia – “a 25 graus de ladeza da costa sul do grande mar oceano – o que coincidia com a ilha do meio (Ilha do Cardoso), onde fixaram o marco do Tratado de Tordesilhas (Itacuruçá) em frente à Ilha do Bom Abrigo”.
(aqui, registro indispensável: o “Bacharel” talvez seja um dos personagens, mais pesquisados e citados na história de São Paulo e do Brasil e, possivelmente, o que permanece mais enigmático até hoje. Bom lembrar que Pedro Taques, Frei Gaspar, Machado de Oliveira, Varnhagen, Galanti, Cândido Mendes e Paulo Setúbal já tentaram traçar-lhe uma biografia completa, sem sucesso. Para dar sabor especial à lendária história, Ídolo de Carvalho afirma “Somente um homem de engenho e valentia e, também, letrado, saberia manter, diplomaticamente, a posse de um ponto que, por certo, viria a ser disputado entre os dois reinos, e ainda com a presença nem sempre pacífica do gentio. Com essa intenção foi o bacharel deixado em em Cananéia em 1499”. Repito em 1499).
Anos mais tarde, a Coroa Portuguesa decide enviar mais uma de suas expedições à colônia, sob o comando de Martim Afonso de Souza, cuja armada atracou, em Cananéia, em 12 de agosto de 1531 (data mais tarde considerada a de fundação oficial da vila), já havendo encontrado um povoado formado junto com o Bacharel, 6 europeus vivendo em família, duzentos mestiços e mais de mil e quinhentos índios vivendo na comunidade de Maratayama (primeiro nome de Cananéia, proveniente do tupi Mara = mar e Tayama = terra), como consta no Diário de Navegação da Armada de Pero Lopes, irmão de Martim Afonso de Souza.
Ponto de conflitos e de trânsito de muitas embarcações que ali atracavam, desenvolveu-se em Cananéia um pólo de produção de meios de transportes para as tropas que se dirigiam ao Sul e reparos de caravelas.
Dotada de um excelente porto natural, a construção naval ganhou espaço durante os séculos XVII e XVIII. Em 1782 já contava com dezesseis estaleiros e uma frota de mais de duzentas embarcações produzidas.
Já no século XIX, a atividade decaiu em função do avanço de extração de madeira destinada à exportação, empurrando a “indústria naval” a servir quase que somente à pesca.
Hoje, a cidade tem no turismo e na pesca suas principais atividades e se destaca por dentro dos seus limites seis importantes unidades de conservação ambiental, além de ser importante núcleo urbano tombado como Patrimônio Histórico pelo CONDEPHAAT.
Cananéia está situada no extremo sul do litoral paulista, no centro de um corredor biológico de 110 km que se estende desde a foz do Rio Ribeira em Iguape (SP) até a baia de Paranaguá (PR).
Considerada um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica intocada na costa brasileira e um dos maiores berçários de vida marinha do planeta, foi tombada pela UNESCO como Patrimônio Natural da Humanidade.
Apontada pela revista americana “Condé Nast Traveler” como o melhor roteiro ecológico do mundo, a região lacunar-estuarina de Cananéia, conhecida como Lagamar, abriga uma fantástica coleção das águas de muitos rios, baías e lagoas com o mar, compreendendo, num só lugar, 4 ecossistemas: mangues, dunas, restingas e a Mata Atlântica. (Dados da prefeitura de Cananéia)
Ali, encontram-se inúmeros sítios arqueológicos, os sambaquis (detalharei depois), datados entre seis e quatro mil anos, e ruínas do período colonial. Além do Parque Estadual da Ilha do Cardoso, o visitante pode conhecer a praia do Boqueirão Sul, no município de Ilha Comprida, bastando atravessar o canal, a 25 minutos de balsa. O nome Cananéia tem duas origens:
01) Entre os Tupiniquins, o “Bacharel” foi logo desejado pelos famintos indígenas, mas a linda Caniné, filha do Chefe Ariró, apaixonou-se pelo louro de fala macia. Ariró permitiu o casamento, era gratidão ao que lhe ensinara o inteligente Bacharel. Festa estrondosa se realizou. O Bacharel depois de dois anos partiu, deixando a já conhecida terra de Caniné, que foi sofrendo corrupções – Caniné e Cananea –Cananéia;
02) Outra razão viria do fato de o Bacharel ser um judeu que se recusou a virar cristão. Com essa tese, apoia-se a designação do nome de “Cananéia” que seria uma alusão a “Canaã”, a terra dos judeus no primeiro testamento. Obs: os dicionários em português apontam como sinônimo de cananeus, nascidos em Canaã.
Está a 465 km de São Paulo e a 450 km de Curitiba, tem cerca de 1,2 km² e 12,2 mil habitantes. O gentílico é cananiense.
A Região Administrativa de Registro, onde está Cananéia, tem números bastante tímidos, quando comparados aos do estado: seu PIB é de R$ 3,4 bilhões, face o 1,3 trilhão de São Paulo (0,27%); a região apresenta um IDH de 0,710, bem abaixo do 0,833, do estado; o PIB per capita dos moradores de lá é R$12,6 mil/ano, enquanto o estadual é de R$ 30,2 mil. Possui área de 12,1 mil km², contra 248,2 mil do estado; tem 270 mil habitantes, frente aos cerca de 42 milhões de paulistas.
Esses números não falam sozinhos. Têm de ser cotejados com os altos níveis de restrições nas áreas ambiental e de patrimônio histórico, o que, muitas vezes, sem uma política compensatória governamental ou um plano de investimento maciço em turismo, ecologia, esportes especializados, arranjos produtivos não poluentes, leva a estagnação econômica de lugares como esses!
Profusão de beleza, traduzida em natureza e história no pedaço economicamente mais pobre do estado mais rico do país!
Na semana que vem, tem mais Vale do Ribeira e Litoral Sul.

De: Geleia General <noreply@blogger.com>
Assunto: Geleia General
Para: cidad3@yahoo.com.br