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25 janeiro, 2013

Construção do Masp foi um ato de ousadia e determinação

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O edifício do Masp, hoje
    Em sua carreira de engenheiro já consagrado, Figueiredo Ferraz veio encontrar um desafio que pela ousadia o surpreendeu e fascinou: o projeto de Lina Bardi para a nova sede do Museu de Arte de São Paulo, o MASP.
O desenho original demandava soluções inéditas. Não existia, nos manuais, uma fórmula pronta que permitisse tornar realidade aquela idéia aparentemente utópica. O arrojado projeto exigia a cumplicidade de um técnico com sensibilidade artística e coragem para inventar.

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Fundos do Edifício do Masp
     A construção do MASP foi o resultado do encontro simbiótico de dois talentos excepcionais. É com visível emoção que o ex-prefeito evoca sua participação nesse que veio a ser um dos edifícios mais originais da arquitetura brasileira contemporânea.
     Lançamentos de candidaturas, festas, música, bailes. O "velho" Trianon, erguido sobre o terreno onde hoje se vê a arrojada arquitetura do MASP, abrigava o borburinho político da São Paulo de antigamente. De seu terraço ensolarado, nos altos do espigão da avenida Paulista, descortinava-se a paisagem distante do Vale do Anhangabaú.

06.jpg (29734 bytes)Restaurante do Trianon, no local onde
hoje se acha o Masp (Reprodução)
     Foi a beleza deste mirante que o doador do terreno à prefeitura, o engenheiro Joaquim Eugênio de Lima, construtor da avenida Paulista e precursor do urbanismo no Brasil, fizera questão de preservar. No ato da doação, vinculou-a ao compromisso expresso de que jamais se construiria ali obra que prejudicasse a amplidão do panorama.
     A exigência acabou se tornando a pedra fundamental do futuro vão livre, que tornou a arquitetura do museu conhecida em todo o mundo. Projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi, o prédio, suspenso sobre quatro colunas ligadas por duas gigantescas vigas de concreto, cumpre a promessa de manutenção do belvedere, deixando 8 metros de altura numa extensão de 70 metros.

08.jpg (9478 bytes)Pietro Maria Bardi (mais tarde o diretor do Masp) e a
arquiteta Lina Bo Bardi, chegando ao Brasil em 1947
Fonte:
Instituto Bardi
     O velho Trianon havia sido demolido em 1957. A prefeitura preparava-se para construir na área um novo salão de bailes quando Lina passou por ali, vendo pela primeira vez o terreno "pelado".
      Foi uma revelação súbita. No mesmo instante, teve certeza de que aquele "era" o lugar onde o MASP tinha que ser construído, o único ponto de São Paulo que reunia os requisitos de projeção popular e dignidade para tornar-se a sede do primeiro Museu de Arte de cidade da América Latina.
     "Nada de colunas, setenta metros de luz, oito metros de pé direito", descreve Lina anos mais tarde em um depoimento de próprio punho sobre o MASP.
     "Meu projeto só poderia ser realizado em concreto protendido. Lembrei-me do ex-secretário de Obras, professor na Politécnica e na F.A.U., que tinha elogiado o projeto estrutural. Fui procurá-lo".

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Engenheiro Figueiredo Ferraz
     No encontro que se seguiu veio o franco convite para que Ferraz trabalhasse de graça numa obra pública que seria "da maior importância para São Paulo", imediatamente aceito pelo engenheiro.
     As obras começaram ainda em 1960 e só terminaram oito anos depois. Projeto de dificílima execução, inclusive por complicadores como o terreno daquele trecho da avenida Paulista - um aterro por baixo do qual passa o túnel 9 de Julho - teve que superar obstáculos dentro e fora dos canteiros.
     O primeiro problema foi a resistência da construtora vencedora para a construção, em aceitar o método "calda de injeção" patenteado por Ferraz para o concreto protendido. Outras dificuldades vieram ainda por conta das prioridades eleitas pelas administrações que se sucederam.
     Iniciado na segunda gestão de Adhemar de Barros, o museu ficou quase parado no período de Prestes Maia e só foi terminado quando o prefeito Faria Lima decidiu apoiá-lo a qualquer custo.
     Na fase final da construção a obra chegou a ter 250 operários trabalhando das sete da manhã até às oito da noite, num esforço para que se cumprisse a data prevista para a inauguração, que se deu às onze horas da manhã do dia 11 de novembro de 1968, com a presença de sua majestade a rainha Elizabeth II da Inglaterra, então em visita oficial ao país.

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Rainha Elizabeth II em visita ao Brasil (Reprodução)
     "O projeto estrutural me parecia utópico, era uma concepção fora dos padrões normais, a desafiar os conceitos clássicos de segurança e estabilidade", declarou o próprio Ferraz em 1991, quando das comemorações do cinquentenário de suas atividades profissionais e da realização, no MASP, da mostra "50 Anos de História da Engenharia Brasileira", abrangendo os principais trabalhos realizados pelo escritório e pela empresa Figueiredo Ferraz.
     "Mas essa utopia se transformou numa contundente realidade - não sem exigir de nós um enorme esforço e uma dedicação ímpar. Afinal, o sonho de Lina Bo Bardi se concretizou no concreto que nós erguemos. A técnica se incorporou, como sempre, à arte, numa esplêndida simbiose de harmonia.
     "A responsabilidade era realmente gigante. Mas a maneira como ela (Lina) via o projeto (ela sentia que aquilo era possível), me deu confiança maior do que a confiança que nós dispensamos aos projetos comuns. E aí, me reportando a uma figura aqui também citada - a de Leonardo Da Vinci - quando certa feita lhe perguntaram se algo era possível de ser executado e ele disse: 'sim, é possível, porque, aquilo que é estético é estático'.

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A inauguração
     "Então eu disse: essa obra, bela que é, na sua concepção, deve ter também uma solução estática. E empreendemos por muitos anos consecutivos, a elaboração desse projeto gigante. E muitos que acompanharam aquela fase difícil, verificavam que há singularidades que poucos se aperceberam até então.
     "Hoje se apercebe. Porque quem, do começo da Paulista, ou do fim da Paulista, pretende olhá-la de uma forma integral, vê que o Museu se afasta do alinhamento. Ele fora irregularmente colocado. A ponto de Prestes Maia, revoltado com essa invasão indébita, pretendera embargar a obra.
     "Foi quando nós o visitamos e eu disse: 'Senhor prefeito...' - aluno eu que fora de Prestes Maia, e ainda me considero dele o seu aluno - '...essa obra é excepcional! Essa obra não pode ser ditada por regulamentos municipais. Ela vai se impor porque ela é singular. Ela vai desrespeitar, porque ela tem algo de notável.'
     "E ele concordou comigo. E a obra foi posta fora do alinhamento. Se tiver a oportunidade de constatar esse fato, basta olhar a avenida Paulista, é o único prédio que se vê por inteiro, quer frontalmente, quer transversalmente.
     "As lutas foram muito grandes. Mas Lina, teve a faculdade de me transformar um pouco em arquiteto, não obstante vivesse eu no meio dos meus colegas arquitetos. E nós acabamos por mostrar desta simbiose tão legítima, qual seja o trabalho do técnico com o artista.
     "O arquiteto está para o engenheiro e tecnólogo, assim como o escultor está para a qualidade do material que ele vai cinzelar."(trechos de pronunciamento de Ferraz em mesa-redonda sobre Lina Bardi, realizada em 1993)

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     Quem observa o percurso profissional, a trajetória intelectual e a vida pública de Figueiredo Ferraz não pode imaginar outra resposta senão o "sim" dirigido à arquiteta Lina Bo Bardi quando recebeu o filantrópico convite para construir o MASP.
     Quantas vezes não fez o mesmo em outras contribuições de importância para a cidade, chegando ao ponto de sacrificar a própria empresa. Tanto trabalhando sem receber quanto recusando serviços sempre que ocupava cargos públicos ou tinha qualquer vínculo com a entidade em questão.
     Nesta obra, Ferraz teve a oportunidade de aplicar uma técnica patenteada e inovadora, desenvolvida por ele mesmo nos anos 50, quando começou a dedicar-se a pesquisas na área de concreto protendido.
     A técnica, denominada "calda de injeção", tem destaque até hoje em livros de engenharia e consiste, basicamente, num meio de obter aderência ao concreto para realizar a protensão (ou esticamento) dos fios de aço especial que suportam internamente uma viga. Além da "calda de injeção", a construção do Masp contou com outros lances da intuição de Ferraz que representaram verdadeiros "achados".

05.jpg (9057 bytes)À esquerda, o Masp; ao centro, a Avenida Paulista;
à direita, a entrada do Parque Trianon
     Não havia na época materiais modernos, como o Teflon, para articulação ou apoio provisório da viga na hora de sustentá-la para fazer a protensão, conta o ex-aluno, amigo e sócio de Ferraz, José Lourenço Braga de Almeida Castanho, vice presidente e superintendente da Figueiredo Ferraz Consultoria e Engenharia de Projeto.
     A inspirada solução de Ferraz, nascida do problema representado pela gigantesca viga do vão livre do Masp, foi utilizar bolsas de borracha dentro das quais era injetado óleo quente. As bolsas funcionavam como um suporte ao mesmo tempo resistente e flexível, permitindo a mobilidade necessária durante o processo de protensão.
     "Ficamos meses nesse trabalho", relembra Castanho, o engenheiro que assina o cálculo estrutural do Masp. "À noite esvaziávamos as bolsas, a viga baixava, de dia voltávamos a inflar e continuávamos a protender".
     A concretização do sonho de Lina Bo Bardi no concreto erguido pela equipe do escritório, para usar uma imagem do próprio Ferraz, deu ensejo a outro rasgo de criatividade do engenheiro. Foi ele que sugeriu a forma das sapatas (bases dos pilares), voltadas para dentro (ou cêntricas), uma solução ao mesmo tempo brilhante e simples para reforçar a estabilidade de uma construção que transgredia todas as normas até então aceitas.

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.Responsável: Paulo Victorino
www.pitoresco.com.br pitoresco@pitoresco.com.br

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http://www.pitoresco.com.br/espelho/destaques/masp/masp.htm
 


Figueiredo Ferraz - Consultoria e Engenharia de Projeto S.A.

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