08 julho, 2012

Sherlock: uma excelente série da BBC

Não costumo acompanhar séries de TV, até por falta de tempo e paciência com o formato e trama da maioria delas, salvo quando algum amigo me encosta uma arma na cabeça e me obriga a uma maratona, ao fim da qual estou irremediavelmente viciado (troque a arma na cabeça por algumas latas de cerveja garganta abaixo e terá um cenário mais exato).
A mais recente série – ou minissérie, dado seu formato e brevidade – a qual decidi me viciar conferir foi a recente produção da BBC, “Sherlock”. As séries inglesas costumam trazer boas surpresas, e nos últimos meses me dediquei a acompanhar as temporadas de “Dr Who” e “Torchwood”. Coincidentemente um dos responsáveis por essa série é Steven Moffat, também “culpado” por alguns ótimos episódios de Dr.Who.
Se a produção do Ritchie Guy para o cinema recria o personagem e o cenário com uma linguagem cinematográfica moderna, a proposta dessa série da BBC é transpor os elementos das histórias de Conan Doyle para os dias atuais. E consegue, sem sombra de dúvida, incluindo as parafernálias modernas à história sem destoar do que for mais elementar, mantendo o espírito intacto.
Nessa versão século XXI do Sherlock, John Watson (Martin Freeman) também é um médico veterano de guerra que combateu no Afeganistão e que voltou para casa ferido e reformado. Envolto em problemas financeiros e por um suposto stress pós-traumático, Watson tenta manter um blog como parte de sua terapia. Nesse ínterim, por meio de um amigo em comum,  Watson é apresentado a Sherlock Holmes (Benedict Cumberbatch) para que ambos dividam um imóvel sito à Baker Street 221B. Logo o veterano descobre as sensacionais habilidades dedutivas de seu pretenso colega de quarto, que se diz o único consultor detetive do mundo, ajudando os agentes da Scotland Yard sempre que estes se veem em alguma sinuca de bico dedutiva. E logo também está envolvido no frenesi insano dos casos aparentemente insolúveis em que seu colega se mete, e descobre que sente falta da adrenalina do combate.
O personagem principal é um ser socialmente deslocado, altamente esnobe e por vezes prepotente, sem maiores relacionamentos, desprezado por muitos policiais que se sentem idiotas diante dele, além de ser considerado praticamente um psicopata – ou um “sociopata funcional”, em suas palavras – por sua mórbida obsessão por crimes violentos e insolúveis.  Mas ao contrário dos livros – que costumam mostrar um Watson quase subserviente a Holmes – a amizade entre ambos é um tanto conturbada, com Watson tendo que lidar com as excentricidades de seu amigo investigador, nem sempre satisfeito ou sem atritos. Isso sem mencionar as eventuais insinuações de homossexualidade entre ambos, que ele procura rebater enfaticamente.
Afora este aspecto da personalidade de Watson – algo que também ocorreu na versão cinematográfica recente – os demais elementos foram bem adaptados ou atualizados. Temos alguns coadjuvantes, como a senhoria Mrs. Hudson e o inspetor Lestrade, e a quase insuportável mania de Sherlock tocar violino para melhor pensar, bem como a linha de pensamento em ignorar conhecimentos os quais ele considere inúteis à sua “arte”, como  astronomia. Podemos perceber também o ator Cumberbatch se esforçando para caracterizar o personagem, principalmente nos cacoetes de quando ele está raciocinando sobre os casos, sendo o principal o que cruzar os dedos sob o queixo e apoiar os cotovelos sobre os joelhos. E, não poderia deixar de faltar, a contraparte criminosa de Holmes, o misterioso Professor Moriarty.
Já outros aspectos precisaram ser atualizados. Por exemplo, a mania que Sherlock tem em enviar telegramas e bilhetes é substituída por sua obsessão em enviar mensagens de SMS. Ao invés de Landaus e Hansons puxados a cavalo, os indefectíveis táxis londrinos estão disponíveis para transportar o detetive e seu por vezes relutante escudeiro. Se necessário, Holmes tem a disposição todo equipamento forense que precisar no laboratório. Holmes mantém um site ao invés de ter escrito um livro sobre a arte da dedução, e Watson, narrador da maioria quase absoluta das histórias do detetive, conta os casos em seu blog.
O formato da série é incomum, com episódios de uma hora e meia, em uma temporada de apenas 3 episódios, deixando um senhor gancho ao fim do terceiro. A BBC já confirmou a produção de uma segunda temporada, mas apenas para o ano que vem.
Para quem já conhece o detetive dos contos e romances, a diversão extra é justamente encontrar as diversas referências espalhadas pelo roteiro dos três episódios lançados até o momento. Eu os assisti de uma forma muito rápida, e muitos detalhes podem ter passado desapercebidos, algo que corrigirei numa segunda sessão – na qual tentarei cooptar mais algum “cúmplice”.
- O primeiro episódio “A Study in Pink” é uma alusão bem óbvia a “Um Estudo em Vermelho”, primeiro romance do personagem. Inclusive há uma brincadeira em cima da pista encontrada junto a vítima, a inscrição “RACHE”, cuja solução dada no romance é ironizada pelo Holmes contemporâneo. Aparece o irmão de Holmes, Mycroft, que nos contos é descrito como um senhor obeso e tão inteligente quanto o irmão, porém avesso ao trabalho de campo, preferindo trabalhar para algum órgão do governo britânico. Ou, nas palavras de Holmes, por vezes ele É o governo britânico; há uma cena que pode ser considerada uma menção ao vício em cocaína que o personagem literário possui, mas que aqui não passa de adesivos de nicotina, algo mais aceitável para um protagonista de série de TV
- O segundo episódio, “The Blind Banker”, enquanto investiga uma invasão e vandalismo em uma instituição financeira, Holmes se envolve em um caso de duplo homicidio envolvendo tongs chinesas e um código a ser decifrado, talvez uma menção ao conto “Os Dançarinos”. O próprio Holmes menciona, ao longo do episódio, seitas que enviam sementes à possíveis vítimas, uma alusão a outro conto “As Cinco Sementes de Laranja”.
- No último episódio da temporada, “The Great Game”, enquanto Holmes participa de um jogo mórbido, seu irmão Mycroft deseja que ele investigue o sumiço de planos secretos do governo relacionados à morte de um funcionário, sendo praticamente uma adaptação quase literal de “Os Planos do Bruce-Partington”. Originalmente eram papeis de um projeto de submarino, e na série é um pen drive com informações sobre um sistema de misseis.
Em suma, o que você, que é fã de uma boa série ou do detetive mais famosos do mundo, está esperando? Que apareça alguém apontando uma arma para  sua cabeça?


Subject: O Melhor Dos BB
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