12 fevereiro, 2012

Clara, o canto como uma missão



No ano em que a sambista completaria 70 anos, sua trajetória é lembrada

Quando, no domingo (19), a Portela adentrar a Marquês de Sapucaí evocando Clara Nunes para conduzir o enredo que fala da religiosidade da Bahia, será a primeira de muitas vezes que o nome da “tal mineira” virá à tona este ano. Clara completaria 70 anos em 2012 se tivesse Resistido às complicações de uma cirurgia de varizes, em Abril de 1983.

Contemporânea de outros setentões, como Roberto, Caetano e Gil, Clara faz parte hoje desse grande time da música brasileira. “Quando eu ouvi a Clara cantar, vi que estava diante de uma celebridade. Ela já nasceu feita”, relembra o compositor Jadir Ambrósio, que apresentou a moça de Caetanópolis a radialistas de BH ao ouvi-la cantar em uma festa de igreja no bairro Renascença, ajudando a desencadear sua carreira.

Daí, viria o estrelato, mas não só. Primeira cantora a vender mais de cem mil cópias, rompendo com uma crença do mercado fonográfico segundo a qual mulheres não vendiam discos no Brasil, Clara deixou marcas permanentes no samba, onde se consagrou, depois de iniciar a carreira gravando boleros e o pop da Jovem Guarda. “O samba feminino se divide entre antes e depois de Clementina de Jesus, Beth Carvalho, Dona Ivone Lara e Clara. Elas são o baluarte da mudança no mundo machista do samba em aceitar mulheres como participantes do processo criativo”, observa Anderson Gonçalves, editor do portal Ocê no Samba, que trata do gênero em Minas.

Assumir no figurino, no repertório e na performance as religiões afro-brasileiras foi um marco, e não apenas a criação de um ícone visual. Também teve seu viés político, em plena década de 1970, quando a linha de frente da música brasileira bradava contra os ditadores, na análise da historiadora Sílvia Brugger, da Universidade Federal de São João Del Rei. “Talvez não fosse uma militância tão explícita como a do Chico. Mas ao se afirmar como adepta dos orixás e levar isso pro palco, ela contribuiu para quebrar preconceitos em relação à questão religiosa e à identidade negra”.

Clara, por sua vez, sugeria ter os pés no chão diante do legado artístico que construía. Dona Mariquita, irmã mais velha que assumiu o papel de mãe depois da morte dos pais, conta que Clara lhe fez uma confissão no último Natal que passaram juntas, em 1982. “Ela disse que se algum dia fosse rejeitada, não tivesse gravadora, já tinha a ideia de trabalhar com crianças e abrir uma creche”, revela. O plano não era só questão de realismo, mas também uma forma de amenizar a frustração por não ter realizado o sonho de ser mãe, impedido por um mioma que provocou abortos e a retirada do útero.

Mesmo assim, Clara gerou algumas “filhas”, ao transformar-se em matriarca de uma linhagem de cantoras. “Muitas cantoras de samba, você vê que buscam a Clara no jeito de vestir e entoar a voz. Ela está no olimpo como a maior intérprete do samba”, conclui Anderson.




Três escolas lembram cantora
Portela, eu nunca vi coisa mais bela”. Os versos escritos por Paulo César Pinheiro para que Clara Nunes homenageasse sua escola do coração vão ser retribuídos pela agremiação de Madureira este ano.

Com um enredo que trata da religiosidade da Bahia, a Portela fará referência a Clara – assumidamente adepta das religiões afro-brasileiras – na letra do samba e na avenida, no domingo (19). Chamada de guerreira nos versos de “Pequena Prece ao Senhor do Bomfim”, na Sapucaí será representada pela cantora Vanessa da Mata, cujo visual remete ao da homenageada.

Outras duas escolas abordarão Clara em seus desfiles deste ano. Ainda no Rio, no grupo de acesso, a Paraíso do Tuiuti abre o sábado de Carnaval com o enredo “A Tal Mineira”. A atriz Patrícia Costa, neta de um dos fundadores da Portela, Cláudio Bernardo da Costa, representará Clara na avenida.

A cantora também vai ser lembrada em BH. A escola Canto da Alvorada traz este ano o enredo “É Cheiro de Mato, É Terra Molhada, É Clara Guerreira, Lá Vem Alvorada”. O desfile da escola está previsto para as 22h25 da segunda (20) na, avenida dos Andradas, entre os viadutos da Floresta e de Santa Tereza.


Uma das propostas do memorial é ter uma sala para projeções de shows
arquivo agência estadoUma das propostas do memorial é ter uma sala para projeções de shows




Memorial deve sair em agosto
Não é lugar-comum dizer que é um sonho antigo da família de Clara Nunes criar um museu para homenagear a artista. Desde 1987, há 25 anos, quando todo o acervo de Clara foi enviado do Rio de Janeiro para os cuidados da família, em Caeta-nópolis (a 100 km de Belo Horizonte), que os parentes buscam recursos para concretizar a ideia. Finalmente a espera dá sinais de ter acabado. Está prevista para agosto deste ano, quando se completam os 70 anos do nascimento da cantora, a inauguração do Memorial Clara Nunes, em sua cidade natal.

Junto com o Centro Cultural Clara Nunes, já em funcionamento, e com o restauro da casa onde Clara viveu na infância, o memorial deve compor uma espécie de “complexo turístico” em torno da cantora. O imóvel, uma casa de 200 metros quadrados doada por Sued Gonçalves, um dos sobrinhos de Clara, já se encontra em obras, orçadas em aproximadamente R$ 250 mil, segundo a família. Os recursos são do governo do Estado, liberados em 2010 por uma emenda da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Dona Mariquita, irmã mais velha de Clara, conta que durante todos esses anos bateu na porta de muitos, mas não conseguiu nada. “Eu acho que a consciência cultural uns 15, 20 anos atrás ainda não era forte como é hoje”, diz, tentando explicar as tentativas frustradas de levar a obra à frente.




Em 2001, um projeto de lei da assembleia legislativa determinando a construção do museu e a captação de verbas para sua viabilização foi aprovado, mas não prosperou. “O projeto praticamente caducou. Foram três anos e não conseguimos os recursos. Acho que foi por causa do custo total, de R$ 400 mil. Não houve interesse imediato das empresas”, comenta Márcio Guima, sobrinho de Clara.

O acervo que deve vir a público este ano é constituído por aproximadamente 8.000 itens. São fotografias, adereços, imagens religiosas, documentos pessoais, partituras de músicas, figurinos de shows, fantasias da Portela e troféus. Dada a grande quantidade de peças, os futuros visitantes não verão todo o material de uma só vez, antecipa a historiadora Sílvia Brugger, da Universidade Federal de São João Del Rei, responsável pela catalogação e preservação do acervo. “Como o acervo é muito rico, a ideia é que a gente possa ciclicamente ir refazendo a exposição. É interessante pra quem vai visitar porque tem sempre algo novo pra ver. Do ponto de vista da preservação, o objeto pode ser guardado, higienizado e ganha uma sobrevida”.

Festival

A prefeitura de Caetanópolis trabalha para que a inauguração do memorial ocorra durante o Festival Clara Nunes, evento dedicado à música realizado na cidade em agosto, desde 2006. Outra promessa para o festival é a abertura para visitação da casa onde Clara nasceu. Doada ao município no fim do ano passado, ela será restaurada e mobiliada com móveis e objetos do período em que a cantora a habitou, entre os anos 1940 e 1960. Paulinho da Viola e Alcione são alguns dos nomes sondados para a edição deste ano. A Velha Guarda da Portela, sempre presente no festival, e amigos pessoais de Clara, também devem ser convidados para a inauguração.




Internet guarda raridades
Como já vem virando regra em efemérides de grandes nomes da música brasileira, os 70 anos de Clara Nunes vão ser celebrados com lançamentos em áudio e vídeo no mercado. O material, parte dele pouco conhecido do público, vai dividir espaço com raridades da cantora que povoam o You Tube.

Uma busca menos apressada no site de vídeos dá acesso a preciosidades como um ensaio de Clara para o show “Sabiá, Sabiô”, de 1972, e uma apresentação no auditório do Maksoud Plaza, em meados dos anos 1970, com o conjunto Nosso Samba, que acompanhava a artista ao vivo. Há ainda imagens de Clara na última vez em que desfilou pela Portela e entrevistas concedidas a Leda Nagle, no “Jornal Hoje”, e à Marília Gabriela, no “TV Mulher”.

“Ê Baiana”

Por trás deste garimpo virtual está a carioca Sandra Rodrigues, fã de Clara desde “uma certa manhã de 1971”, quando ligou o rádio e ouviu a voz da cantora pela primeira vez, em “Ê Baiana”. O canal que ela mantém no You Tube soma cerca de 700 vídeos de Clara, com material proveniente de seu acervo pessoal ou de contribuições de outros fãs. Além do canal no site, Sandra alimenta dois blogs, uma página no Facebook, uma comunidade no Orkut e um perfil no MySpace e no Twitter com informações sobre a mineira. O trabalho na rede, feito há três anos, mira as novas gerações, mas também busca preencher a ausência de Clara nos meios de comunicação. “Após sua morte, um silencio enorme pairou na mídia. Nada mais se falava sobre o assunto, sequer a divulgação de suas músicas. Parecia que ‘enterraram’ junto com ela a sua obra. Eu e os fãs que nunca a esqueceram ficávamos tristes com isso até que apareceu a internet e a forma de colocá-la de volta à memória do brasileiro”.

&*&




Tem mais uma Escola que cita Clara Nunes esse ano, aqui de Sampa: a MORRO DA CASA VERDE



Não é um enredo exclusivo sobre Clara Nunes, mas da Portela, Escola que ela amava/defendia, também não é.
A única escola "top" que homenageou CN, num enredo só dela, foi a Paulistana Mocidade Alegre em 2005.




Mocidade Alegre - Samba Enredo 2005
Samba Enredo
Samba Enredo 2005
"Clara, Claridade... Um Canto de Luz no Ylê da Mocidade"

Intérprete Oficial: Daniel Collête

Vestida de luz
Lá vem a minha Mocidade
Clareia... Abrem-se as portas do Òrun
E no Ayê, surgia então uma estrela
Que ao entoar dos pássaros raiou
Salve os Orixás... Salve Iansã, Ogum
Ecoa a força de uma voz
Trazendo vida e paz pra essa raça
De encantos mil
Um santuário em forma de Brasil
Brilhou no céu a esperança
A profissão dos brasileiros
Um povo unido e leal
Que faz da dor seu carnaval
Samba... Raiz do negro, pura emoção
Encanta, sua divina procissão
No morro, numa linda alvorada
Em Madureira a poesia fez morada
É sedução, é triunfal
Uma reza, um ritual
Meu samba, leva essa homenagem
A esse ser de luz que se "encantou"
E foi morar com Deus
Hoje tenho certeza que aqui está
Com seu axé vai nos iluminar
Deusa dos Orixás !!!
Ôô Mineira
Clara Guerreira, meu Sabiá
Minha Morada faz a festa
No balanço desse teu cantar




Escola de Samba Morro da Casa Verde definiu o seu samba para 2012, será a quinta a passar pelo sambódromo no desfile do Grupo de Acesso, no domingo.
Com o enredo "Guerreiros não morrem jamais! São Jorge, olhai por nós! Salve Morro da Casa Verde, 50 anos de glória", a escola de samba comemora seu cinqüentenário e trabalha para realizar um grande desfile que está sendo desenvolvido pelo carnavalesco Babú Energia.
A novidade é que serão três microfones no desfile, o time de canto terá: Edson Liz, Rubinho Martins e Ronaldo Brás, todos intérpretes oficiais.



Autores: Betolipe X, Fabinho NT, Araken, Wladimir, André União e Adeílton Almeida

MORRO DA CASA VERDE


RELUZ NO VENTRE DA MATA
A COR DA ESPERANÇA
O BEM CONTRA O MAL
NA LUTA DA PRESERVAÇÃO
O SONHO DE CHICO SE TORNA IMORTAL
FIEL GUARDIÃO DA FLORESTA
DEFENDE COM A VIDA O SEU IDEAL

GUERREIRA, CLAREA
O AZUL DO MAR BEIJANDO O BRANCO DA AREIA
BENDITO SEJA O SEU CANTAR
MEU SABIÁ


SOU GUERREIRO QUILOMBOLA
VOU RUFAR O MEU TAMBOR ÔÔÔ
A HERANÇA DE PALMARES
E LUTAR SEM DESISTIR VALEU ZUMBI


"SEO" ZEZINHO APAIXONADO PELO SURDO DE PRIMEIRA
ACENDE A INSPIRAÇÃO DO MENESTREL
A BENÇA MADRINHA MANGUEIRA
VEM VER SAMBAS QUE ENTRARAM PARA HISTÓRIA
DESFILES QUE MARCARAM NA MEMÓRIA
INESQUECÍVEIS CARNAVAIS
VERDE E ROSA É A NOSSA BANDEIRA
SÃO JORGE NOS DÁ PROTEÇÃO
PAIXÃO VERDADEIRA
50 ANOS DE EMOÇÃO


SOU MORRO NÃO FUJO DA LUTA
MAIS UMA DISPUTA MAIS UM CARNAVAL
A CASA VERDE É GUERREIRA
EM BUSCA DE SEU IDEAL




Veja letra do samba-enredo da Portela para 2012
…E o povo na rua cantando é feito uma reza, um ritual…
Autores: Luiz Carlos Máximo e Wanderley Monteiro, com Naldo e Toninho Nascimento

Meu rei
Senhor do Bonfim alumia
Os caminhos da Portela
Que eu guardo no meu patuá
Eu vim com a proteção dos meus guias



Com Clara Guerreira à Bahia



Cheguei, eu cheguei pra festejar
Deixa levar, nos altares e terreiros
Tem jarro com água de cheiro
Vou jogar flores no mar
No mar
Procissão dos navegantes
Eu também sou almirante
De nossa Senhora Iemanjá
Vou no gongá
Bater tambor
Rezo no altar
Levo o andor
Vem chegando os batuqueiros
Desce a ladeira meu amor
Que a patuscada começou
Eu vim pra rua
Que o samba de roda chegou
Iaiá
De saia rendada em cetim
Bota o tempero na festa
Oi, tem abará e quindim
Portela cheia de encantos
Acolhe a bahia em seu canto
De festas, rezas, rituais
Vestido de azul e branco
Eu venho estender o nosso manto
Aos meus santos do samba que são Orixás
Madureira sobe o Pelô… Tem capoeira
Na batida do tambor… Samba ioiô
Rola o toque de olodum… Lá na Ribeira
A Bahia me chamou



Veja letra do samba-enredo da Paraíso do Tuiuti para 2012"Clara Nunes – A Tal Mineira"

Autores: Jurandir, Anibal, Adauto Alves, Reza e Pelé

"Oh! quanta saudade
Da tal mineira doce inspiração
Que felicidade!
Meu Tuiuti vai revivendo a emoção
Um ser de luz
A iluminar meu caminhar
Quem nos conduz
Nesta avenida é o sabiá
A natureza sorrindo
Fazendo a vida florescer
Eternizando a bela voz
Que não dá mais pra esquecer
É agua no mar… é maré cheia
Com a proteção de oxalá, clareia
E lá no infinito seu canto ecoou
Morena mineira… mestiça raiz
Encontro das raças, rufar do tambor
Trazendo axé pra nos fazer feliz
Mais vem
Vem de longe a batucada
Entre morros e vielas
Salve a deusa, salve o samba
Encantando a passarela
Seu canto
Traz a paz ao coração
É mais que uma prece é devoção
E o povo vai fazer seu ritual
E na simplicidade
Acende a chama do meu carnaval
Hoje eu vi uma estrela no céu
Sorrindo pro morro do meu tuiuti
É Clara guerreira, num gesto de amor
Iluminando a Sapucaí… (eu vi! eu vi!)"



&

Fim da enquete do Blog Carnaval BH, com 40% dos votos de leitores do Blog, a Canto da Alvorada teve seu enredo eleito como o melhor do carnaval de 2012.

"È CHEIRO DE MATO É TERRA MOLHADA É CLARA GUERREIRA LÁ VEM ALVORADA" é o titulo do enredo que exalta a grande sambista mineira Clara Nunes.

Parabéns Canto da Alvorada.



Fundada em 17 de abril de 1979, na sede do Clube Atlético Mineiro, por um grupo de carnavalescos sob o comando de Aníbal Goulart, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Canto da Alvorada trouxe inovação, luxo, samba no pé e muita competência para abrilhantar os desfiles de Belo Horizonte.



Eu: Clara Nunes torcia para o Cruzeiro... trágico...




Não encontrei a Letra do Samba da Alvorada. Pedi para mandar por e-mail, Assim que receber , repasso.


http://br.groups.yahoo.com/group/Cidad3_ImprensaLivre/message/12835

http://br.groups.yahoo.com/group/Cidad3_ImprensaLivre/message/12836

Um comentário:

  1. Publicação no site:

    12/02/2012 - 08h29
    Sulinha
    Sampa - SP
    Olá!. Tem mais uma Escola que cita Clara Nunes esse ano, aqui de Sampa: a MORRO DA CASA VERDE http://carnaval-sp.blogspot.com/2011/09/morro-da-casa-verde-define-samba-para.html http://www.ligasp.com.br/assets/files/enredos2012/morro-da-casa-verde.doc Não é um enredo exclusivo sobre Clara Nunes, mas da Portela, Escola que ela amava/defendia, também não é. A única escola

    http://www.otempo.com.br/pampulha/noticias/?IdNoticia=9701&canal=18%2C0

    ResponderExcluir