Em um momento em que o produtor rural se mostra preocupado com a questão de juros, as condições do crédito e as linhas de financiamento do Plano Safra, a consultoria Falconi faz um diagnóstico sobre a necessidade de se profissionalizar a gestão dos negócios. Andre Paranhos, vice-presidente de Agro da companhia, avalia que a administração dos empreendimentos rurais no país ainda não é compatível com o crescimento do setor. Governança e gestão de risco precisam conquistar maturidade a nível nacional.
UOL - O agronegócio demanda um olhar complexo entre safras, processos antes e depois da porteira e toda a dinâmica do mercado internacional. Os produtores brasileiros, de maneira geral, estão sabendo administrar esse ambiente?
Andre Paranhos - De fato, nosso agro tem especialistas, time técnico robusto, tecnologias e processos adequados na parte da lavoura. Mas quando falamos de outros elementos, como governança e sucessão, percebemos pouca formalização de papéis e responsabilidades. Há uma confusão entre o chapéu de executivo, de sócio, não há um conselho para tomar as grandes decisões. Há ausência de metas claras, bem definidas, que possam ser traduzidas para planejamento. Muitas propriedades não têm orçamento definido, e aí acontecem alguns atritos e visões distintas de estratégia.
UOL - Então essa falta de estratégia está concentrada nos processos que vão além de plantio e colheita?
Paranhos - Exato. A lida no campo, de plantar e colher, é muito eficiente, mas falta visão holística do negócio, principalmente quando vem uma safra boa, porque ela mascara diversas ineficiências. Nestes momentos, alguns empreendedores acabam tomando decisões inadequadas, como renovar a frota de maquinário, fazer alguns investimentos e, no ano seguinte, em algum ponto mais desafiante da safra, se vê em risco elevado. O produtor, por exemplo, sabe absorver as oscilações que existem de variação climática, só que muitas decisões estão enraizadas na cabeça dele, sem uma gestão em equipe, e isso dificulta o desdobramento em metas e indicadores de resultados.
UOL - Isso está presente na grande maioria dos produtores do Brasil?
Paranhos - Em um formulário de boas práticas de gestão, os produtores rurais estão sabendo preencher entre 40% e 45% dos requisitos. Os empresários rurais vão se aprimorar quando implantarem boas práticas e o resultado aparecer. Os grandes grupos produtores acabam servindo de exemplo para o mercado de um modo geral. Cooperativas são um segmento relevante aqui para a Falconi, pois conseguimos acessar dados de milhares de cooperados. Percebemos que a grande totalidade desses produtores de menor porte falham nesse planejamento estratégico e nessa visão de longo prazo, incluindo o acesso ao crédito.
UOL - Avaliar os subsídios do Plano Safra ou as taxas de juros está dentro dessa gestão de risco?
Paranhos - Isso, exatamente para mitigar danos possíveis lá na frente. Por isso a gestão deve incluir a questão das taxas de juros, a tomada de crédito e as condições de pagamento dos compromissos. Trabalhar com cenários de risco é algo muito salutar para a organização. De certa forma, você pode minimizar seus resultados, mas está protegendo o patrimônio, pois minimiza o impacto, principalmente entre safras. É importante entender qual a probabilidade de o risco ocorrer, mapear os cenários, saber usar as informações, transformá-las em conhecimento. Caso o risco se concretize, o cenário estará mapeado e haverá plano de contingência mais evidente, dando sustentabilidade à atividade rural.