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31 março, 2013

OS SINAIS DE DJAVAN: Musicaria Brasil


Cantor e compositor, que lança CD de inéditas e começa uma nova turnê no Brasil e no exterior, se mostra mais um pouco nessa entrevista exclusiva.

Por Amilton Pinheiro e André Rezende


Enquanto 'confundia' e 'enfeitiçava' todos no início da carreira com suas músicas de letras sofisticadas, metáforas e relações improváveis, além da profusão de imagens, algumas surreais que suas canções remetiam - sem falar nos arranjos distintos e variados - Djavan se via estimulado por uma minoria de pessoas a continuar em sua estrada musical e, ao mesmo tempo, cercado pela opinião de outras tantas, que insistia para que ele mudasse sua arte, caso contrário, sua carreira não vingaria. "Foi muito difícil, porque eu encontrei pelo caminho várias pessoas que diziam: 'Você tem que mudar, o que você faz é muito complicado, é muito estranho. Você tem até algum talento, mas precisa facilitar as coisas'. Mas ao mesmo tempo, outras me estimulavam a continuar porque achavam singular o que eu fazia", relembra. Para piorar, Djavan sentia o isolamento e a solidão dos que procuram a sorte na cidade grande, no caso, o Rio de Janeiro do início dos anos 1970, quando o artista deixou Maceió para seguir seu sonho de tornar-se cantor, de fato. Em sua terra natal, já havia feito parte de uma banda, a Luz, Som, Dimensão e aproveitado as nuances da noite como escola musical. No entanto, foi na Cidade Maravilhosa que Djavan começou a cantar profissionalmente em boates como crooner, algo bem comum em sua época. Outros grandes nomes da nossa música, como Milton Nascimento, também começaram dessa forma.

Djavan soube, ao logo desses mais de 35 anos de carreira, preservar sua vida pessoal e o seu estilo próprio de cantar e compor. Mesmo com oportunidades concretas, não quis deixar o Brasil para morar e construir uma carreira no exterior, cuja porta de entrada seriam os Estados Unidos, uma verdadeira 'fábrica' de astros. Ele sabia que lá, as chances de seguir o caminho de sucesso de outros artistas negros que conquistaram o mundo seriam bem maiores. No entanto, também tinha noção de que perderia o controle da carreira e de sua liberdade de criação. O showbiss norte-americano há muito tempo cria celebridades que, em troca da fama, são obrigadas a 'ajustarem' sua expressão artística ao mercado fonográfico. Djavan sabia exatamente que tipo de artista gostaria de ser, aquele que não faria concessões para alcançar a fama. "Meu estilo é único dentro da música popular brasileira", diz, sem nenhuma pontinha de soberba. Ter o seu verdadeiro talento reconhecido, sem precisar se moldar a estereótipos, era a sua meta. Conseguiu! Quebrou o estigma da época de que negro tem que compor e cantar somente samba e pagode. Felizmente, seguiu o conselho da minoria e, ciente do que já sabia fazer, prosseguiu imprimindo seu estilo e seus versos em canções comoMeu Bem-Querer, Flor de Lis, Samurai, Faltando um Pedaço, Pétala, Lilás...(durante a entrevista, questionado sobre qual tinha sido seu maior hit até o momento, ele começou a enumerá-los. Os dedos das duas mãos foram insuficientes).

Pessoalmente, Djavan é do tipo que preserva ao máximo sua intimidade e a de sua família. Nada de flashes e badalações sem motivos. E olha que este alagoano, se assim quisesse, poderia ostentar sua fama e suas conquistas ao longo de mais de 30 anos de carreira. Mas que nada, quem nos recebeu com um largo sorriso foi um homem simples - vestindo jeans e camiseta - que, ao olhar o cenário montado por nosso fotógrafo no jardim de sua confortável casa na Barra da Tijuca, na zona norte do Rio de Janeiro, foi logo dizendo, incomodado: "Que isso? É Caras? - referindo-se à famosa revista de celebridades - Não gosto dessa coisa de mostrar piscina e tal". Explicamos que usaríamos o espaço apenas para ter um fundo azul nas fotos. "Tem certeza que não vai aparecer a piscina, cara? Olha só o tamanho dela!" (risos). Durante a entrevista, Djavan discorreu sobre vários assuntos com bastante propriedade, revelando um pouco mais de sua intimidade. Falou da relação com os filhos (os mais velhos, do primeiro casamento e os menores, da união com a designer Rafaella Brunini); da ausência da figura paterna (o pai, holandês de olhos azuis, era caixeiro-viajante e um dia saiu de casa e nunca mais voltou. Djavan tinha três anos na época); da dificuldade e da solidão que sentiu quando, aos 23 anos, foi morar no Rio de Janeiro para tentar a carreira de cantor, sempre pontuada por suas convicções e instintos, sem nunca ter pensado no mercado.

Seu primeiro disco foi em 1976. Lá se vão 36 anos de carreira...Exatamente, foi em 1976, o disco A voz, o violão e a música de Djavan.


Quem escolheu o título desse primeiro trabalho?
Evidentemente foi o produtor, Aloísio de Oliveira, que escolheu. Eu não teria coragem de colocar um título desses. É muito autoproclamativo, digamos assim. Mas acho que é um título bom, funcionou para o disco. Foi um disco marcante na minha vida.

Já havia gravado antes?
Tinha gravado algumas músicas para trilhas sonoras de novela. Gravei músicas de Toquinho e Vinicius de Moraes, Marcos e Paulo Sérgio Valle. Mas a mais importante para novela foi, sem dúvida, a de Dorival Caymmi, Alegre Menina, para novela Gabriela, em 1975.

Você chegou a fazer várias músicas para trilhas sonoras de novelas da Globo?
Não, porque, na época eles faziam o seguinte: pegavam um ou dos compositores para fazer a trilha sonora da novela, ou seja, as trilhas sonoras eram encomendadas. Os autores, junto com a direção da Globo, passavam a sinopse da novela e dos personagens, e, com isso, os compositores faziam todas as músicas. Mas depois de algum tempo eles passaram a usar músicas de artistas ou solicitavam que um compositor fizesse uma música para a trilha. Isso era mais objetivo, mais producente, do que apenas um ou dois compositores comporem todas as músicas. Antes era feito assim e como não tinha nome ainda como compositor, na época, não dava para pegar uma empreitada como essa.

No início, cantoras como Maria Bethânia e Gal Costa ajudaram muito a tornar o seu nome, como compositor, mais conhecido e respeitado.
De fato. Mas, além dessas, teve a Nana Caymmi. Se colocarmos os cantores que gravaram músicas minhas, posso citar Roberto Carlos, que gravou A Ilha.

Essa música você faz especialmente para ele gravar?
Fiz exclusivamente para ele. Roberto Carlos me ligou, algo que na época achei inusitado, e pediu uma música. Então, fiz A Ilha para o disco dele daquele ano, 1981, se não me engano.

Você nunca demonstrou, pelos menos em outras entrevistas, ter uma opinião mais firme sobre a questão racial, inclusive no seu trabalho de compositor. Podemos dizer até que sua carreira passou longe de ser a de um artista engajado nesse assunto. Uma das poucas opiniões emitidas nesse sentido foi: "É difícil resolver o racismo numa sociedade de brancos, propriamente pelo branco e para o branco. As cotas nas faculdades são um paliativo. É típico de uma sociedade que não quer resolver o problema e empurra com a barriga. A solução é igualdade de oportunidades". É isso mesmo?
É óbvio, porque o negro em si não quer paternalismo, não quer esmola, ele não quer ajuda desse tipo. Ele quer uma sociedade onde se sinta igual, que tenha oportunidades iguais às do branco para alcançar as coisas. Evidentemente que se você perguntar para um negro o que ele acha das cotas...

A maioria concorda com elas.
É uma coisa muito difícil. A gente está lidando com um problema que é o seguinte: você não tem expectativa de resolver a situação do negro no Brasil. O negro que está nos guetos é uma população imensa e que vive numa situação realmente de exclusão. Você não tem expectativa que o governo vá resolver a situação da comunidade negra de uma hora para outra. E a fila tem que andar. O negro tem que evoluir, tem que crescer, tem que subexistir, enfim. Ele precisa de escola, de formação, de saúde, de informação, de cultura, de habitação, não é? Ele precisa estar em contato com esses elementos para poder crescer, para poder se desenvolver.

Como dizem, as cotas são um paliativo?
Você, quando tem uma expectativa para desenvolver, acaba que admitindo, não é concordando, que as cotas são um paliativo, um mal necessário, porque alguma oportunidade há que se ter. Então, o negro acaba aceitando isso. Ele se expõe a isso porque não tem outro caminho. Acho que o Brasil precisa mesmo trabalhar em função de tirar de uma situação de exclusão toda uma comunidade que está aí carente e precisando de um governo que dê chances de oportunidades iguais.

Mas para encontrar seu caminho como artista e cidadão, você precisou se impor pelo fato de ser nordestino, negro e pobre.
Sim, mas não posso ser parâmetro numa discussão como essa, porque tive uma vida distinta. Não tive que fazer teste vocacional, não tive que lutar por uma profissão, já nasci músico, já nasci cantor praticamente, desde pequeno. Lembro-me cantando desde os três, quatro anos de idade.
Entrei meio que direto na profissão. Como nasci, apesar de viver nessa época numa espécie de gueto, com uma ótica distinta sobre as coisas, tive que impor meu jeito para poder sobreviver e evoluir. Foi muito difícil, porque eu encontrei pelo caminho várias pessoas que diziam: "Você tem que mudar". "O que você faz é muito complicado, muito estranho". "Você tem até algum talento, mas precisa facilitar as coisas". Mas ao mesmo tempo tinha outras pessoas que estimulavam a continuar porque achavam singular o que eu fazia.

Pediam para você fazer algo mais comercial?
É. E eu, ao contrário, sempre tive ojeriza de não fazer o que queria. Eu queria exatamente dar vazão aos meus pensamentos, a minha maneira de ser, a maneira como eu enxergava o mundo, a minha sensibilidade. Queria marcar a minha presença distintamente, ao contrário do que tentavam me impor na época. Foi isso. É muito difícil para um negro.

Acha que teve sorte?
Tive muita sorte, apesar de ter talento. Podia não ter dado certo. A quantidade de pessoas, não só negros, que facilitam as coisas, que se entregam a um esquema para poder funcionar, para poder crescer, é muito grande. É um número de pessoas cada vez mais crescente hoje em dia.
Fiz o contrário, o inverso disso. Mas foi uma coisa feita de forma bem pensada, com muita luta. Eu sofri muito no início. Com 23 anos, saí de Maceió para tentar a sorte no Rio de Janeiro. Por várias vezes ficava numa praça no centro da cidade chorando com medo do futuro e da solidão que eu sentia.


Você não cantava samba de morro e também músicas nordestinas, como o forró, por exemplo. Dizia que não queria cantar músicas comerciais ou as que fossem necessariamente voltadas para o negro cantar, como o samba.
Ao negro é dado o caminho da tradição. É assim que o negro é catalogado, é visto de imediato. Sempre lutei contra tudo isso para minha carreira. Quer dizer, se tenho alguma contribuição a dar para a comunidade negra é minha própria história. Não dá para descansar um segundo. Você, para conseguir suplantar todas as dificuldades, tem que ter muita força, muita fé. Não se entregar e estudar muito. Agora, como fazer isso, na situação em que vive o negro no Brasil? Então, acaba que o negro é colocado no último vagão, digamos, da sociedade brasileira e dali para sair é muito difícil, porque todo ser humano precisa de uma estrutura econômica, de uma estrutura familiar para se desenvolver, para crescer, para seguir em frente. O branco tem isso naturalmente pela própria situação do establishment da sociedade branca, moldada pelo branco. Ao negro são negados os postos mais atrativos do funcionalismo público, do Exército. É difícil você ver um general negro, por exemplo. Estou exultante com a atuação do nosso querido Joaquim Barbosa. É um exemplo inominável que ele está dando para a comunidade negra. Ele diz isso, sem dizer em palavras: "Estudem, lutem mais do que vocês podem para vencer todas as barreiras". Sei que dizer isso, na posição que me encontro, é muito fácil, porque não é mole você ser negro no Brasil.

Mas você veio de uma família sem pai, sua mãe trabalhava como lavadeira para criar os filhos e dois sobrinhos sozinha.
Claro, ela teve que cuidar de cinco "filhos" sozinha. Isso eu sei, mas digo que é fácil você dar um toque como esse na situação em que me encontro. Mas não tem outra saída. Você tem que lutar muito, muito mais do que você acha que está lutando para poder conseguir. Você tem que se impor, tem que ter muita personalidade, tem que brigar pelo que você quer. O negro foi, durante toda a história, descaracterizado do seu próprio pensamento. A ótica do negro, o pensamento do negro, não interessam para a sociedade. A vida inteira se tentou marginalizar o negro, se tentou...

Estereotipá-lo?
Estereotipá-lo, porque é uma ótica que não interessa. Desde a época dos escravos, o negro era tido como um ser intelectualmente inferior, um ser incapaz. Tudo isso ainda existe hoje.

Inclusive, falavam que o negro não tinha alma.
Tinha, além de tudo mais, isso aí, de que o negro não tinha alma. O negro tem que entender que tudo para ele é difícil. Quando ele entrar num lugar, entre com o pé direito, batendo firme, entre se impondo, porque de outra forma não é possível. Está cada vez mais provado que o negro é muito capaz, como qualquer outra raça. A gente tem que impor isso para a sociedade brasileira.

Mudando de assunto, numa época caracterizada pelo 'politicamente correto', você afirmou que já tinha fumado maconha, que usava eventualmente.
Não foi assim. O repórter perguntou se eu concordava com o debate sobre a descriminalização da maconha no país. Disse que sim, pois acho que não se pode tratar como traficante um cara que é pego com uma pequena quantidade de maconha. Deve-se tratar essa pessoa como dependente de uma droga, e, portanto, suscetível a outro tipo de tratamento do que simplesmente jogá-lo numa prisão.

Na entrevista, você afirmou: "É muito bom. Fumo eventualmente, mas não tenho o hábito de comprar e fumar sempre". Também disse nunca ter cheirado cocaína.
Não foi bem assim, disse que não era usuário de droga nenhuma.

Não quer falar por conta dos seus filhos, principalmente dos mais jovens? (Djavan teve três filhos do primeiro casamento - Max, João Viana e Flávia Virgínia - e outros dois, Sofia e Inácio, com a atual mulher, Rafaella Brunini).
Não é isso, eu falei dentro desse contexto de descriminalização da maconha e que tinha eventualmente fumado, mas não sou usuário de droga nenhuma.


Você teve três filhos quando era mais jovem, numa época em que tinha que se dedicar bem mais à sua carreira, sobrando pouco tempo para conviver com eles. Mas agora, como pai de Sofia e Inácio, e uma pessoa mais experiente e com carreira consolidada, você pode se dedicar mais a eles. Ficou algum sentimento de culpa por não ter tido mais tempo para conviver com Max, João Viana e Flávia Virgínia, fihos do seu primeiro casamento?
Não diria culpa, mas eu gostaria de ter vivido bem mais próximo deles, ter acompanhando eles mais de perto, como estou fazendo agora com meus filhos mais jovens. Por exemplo, frequento as reuniões de pais na escola dele, brinco mais com eles, escuto mais sobre seus problemas, enfim, passo mais tempo ao lado deles. Tudo que um pai tem o dever de fazer. Agora em relação aos meus filhos mais velhos, eu era mais jovem, num outro estágio da carreira, que exigia bem mais de mim. Faltou de fato mais tempo para conviver bem mais próximo deles, como eu gostaria, mas que não era possível naquela época. Mas o amor que sinto por todos eles é igual.

Em sua opinião, festa de criança foi inventada pelo diabo, embora seja algo necessário. Isso quer dizer que você vai às festinhas dos seus filhos menores?
Exatamente isso! Essas festinhas foram inventadas pelo diabo, mas não há como não fazê-las, não comparecer, pois as crianças adoram, e hoje vejo que você pode até se divertir, se abstraindo da sua falta de paciência. Meus filhos mais jovens me ensinaram outras maneiras de enxergar as coisas, como, por exemplo, as ditas festinhas de crianças. (risos)

Como foi o início da sua carreira, aos 18 anos) Você chegou a montar um conjunto chamado Luz, Som, Dimensão, clara alusão à sigla (LSD) que animava bailes em Maceió?
Comecei a cantar na noite com esse conjunto, mas não durou muito. Havia algumas incompatibilidades entre os integrantes, inclusive comigo. Quando fui para o Rio de Janeiro tentar a carreira, trabalhei em algumas boates como crooner. Essa experiência me ajudou muito no início de minha carreira de cantor.

Algumas vezes você falou do seu pai como se ele tivesse morrido. Lembra-se dele?
Meu pai era um holandês, um caixeiro-viajante que abandonou a nossa casa quando eu tinha três anos e nunca mais voltou. Era alto, de olhos bem azuis. Ficou só essa lembrança de sua aparência. Eu era muito pequeno quando ele foi embora. Minha mãe não falava muito dele para mim. Cresci com essa ausência.

Nunca sentiu vontade de procurá-lo quando se tornou adulto?
Não tínhamos nenhuma pista do seu paradeiro, não tinha como procurá-lo. Ele sumiu de nossa vida para sempre.

Essa ausência afetou a maneira como você criou seus filhos?
(Djavan fica pensativo). Nunca parei para pensar a respeito, mas acho que sim, pois hoje, como pai, sei da importância dessa figura para a formação de um filho. Mas não saberia dizer como isso afetou a criação que dei para eles, de que maneira a falta do meu pai afetou meu relacionamento com os meus filhos.

Certa vez você fugiu de casa porque não queria servir o Exército, como era o desejo de sua mãe. Foi morar com um primo em Recife. O que fez para sobreviver por lá e como foi a volta para casa? Sua mãe ficou muito chateada?
Eu, de fato, não queria servir o Exército, não tinha vocação para aquilo, apesar dos apelos de minha mãe para eu entrar nas Agulhas Negras. Fui morar com um primo meu em Recife. Passei uma temporada lá até as coisas esfriarem em casa. Lembro que trabalhei numa fábrica do refrigerante Crush, que existia na época e eu adorava. Tomei tanta Crush que enjoei do gosto do refrigerante e nunca mais quis saber de tomar (risos). Depois, voltei para casa e minha mãe me perdoou.

Em que momento você decidiu morar no Rio de Janeiro para tentar a carreira de músico? Você tinha 23 anos na época, não é?
Minha mãe já tinha morrido. Mas não foi por isso que fui para o Rio de Janeiro. Em Maceió não tinha como eu continuar com a carreira de cantor, precisava de outros ares, de outros espaços, Maceió era muito pequena para minhas pretensões.

E como foi esse começo no Rio de Janeiro?
Difícil para um jovem que não conhecia ninguém, principalmente pessoas importantes, para alguém que almejava tornar-se cantor e compositor, ou seja, artista. Mas tive sorte e contei com a ajuda de algumas pessoas que abriram algumas portas para mim. Sei que soube aproveitar muito bem essas oportunidades, pois já sabia o que queria, ou pelo menos tinha uma ideia do rumo que queria para minha carreira. Desde o início tive que ter personalidade para impor o que queria cantar e compor.

Vamos falar um pouco da sua carreira internacional. Você chegou a gravar com Steve Wonder, conheceu o produtor Quincy Jones, teve algumas músicas gravadas por cantores americanos. O que faltou para se consolidar como músico no exterior?
Nunca pensei em mercado, em fazer algo que não acreditava, que não tinha a ver comigo. Cheguei a gravar alguns discos lá nos Estados Unidos. Mas para pensar numa carreira internacional você tem que morar lá fora, gravar o que os produtores querem que você grave. Nunca pensei em tendência, como falei anteriormente. Então, ficou difícil conciliar uma carreira internacional tendo uma postura como essa minha. O que conta para mim é a música, é ela que me guia, que me alimenta, que me eleva, é nela que acredito. Vivo até hoje de música porque faço o que quero, o que gosto, o que acredito e isso me deixa feliz de continuar cantando, compondo e fazendo meus shows. Mas faço shows lá fora até hoje. Meus shows internacionais continuam lotando e agradando as pessoas e, por isso, continuo com minha agenda internacional, toda vez que começo uma nova turnê.

O Quincy Jones solicitou uma música para você compor para o Michael Jackson. Ele chegou a gravar?
Terminou não dando certo. Certamente a música que estava compondo não ficaria legal na voz do Michael, apesar do seu enorme talento. Estava compondo algo que não cabia no estilo de interpretar dele. Mas cheguei a conhecê-lo e senti que ele era uma pessoa bastante frágil e um pouco assustado.

Fale do seu novo disco Rua dos amores. Desde 2007 que você não lançava um trabalho com músicas inéditas. Fale um pouco sobre Rua dos amores, seu mais recente disco.
São trinta e seis anos de carreira e a cada novo trabalho, sempre fica aquele medo. Mas, depois de mais três décadas, temos que correr riscos, pois nesse estágio da carreira só o risco nos move e nos dá força para continuarmos seguindo em frente. Gostei de voltar a compor, querer mostrar um novo trabalho para o público que me acompanha e para essa nova geração que está aí. A partir desse novo disco, estou montando minha nova turnê. Espero que as pessoas possam gostar desse meu novo trabalho, pois ele foi feito com muito zelo e motivação. Uma das faixas foi gravada por Maria Bethânia para o seu novo disco. Ela gravou Vive, com arranjos meus. Para a gravação em meu disco, fiz um novo arranjo.


 De: Musicaria Brasil < brunonegromonte@gmail.com >
Para: sulinhacidad3@zipmail.com.br
Assunto: Musicaria Brasil