07 setembro, 2014

Viajar sozinho, descubra este prazer

Embora a prática ainda seja cercada de preconceito e incompreensão, mais pessoas arrumam as malas e ganham a estrada sem companhia. Veja a experiência de quem já foi





Viajar sozinho
Cristiane Samapio
Cristiane Sampaio em uma viagem a Machu Picchu, no Peru. Para ela, viajar só é um excelente exercício de liberdade
Diogo Vieira
Para Diogo Vieira, que já visitou lugares como a Índia, ter a cabeça e o coração abertos às novidades e possibilidades que possam surgir é o espírito que o viajante solo precisa ter
Larissa
A estudante Larissa Souza, que já foi à Ásia duas vezes sem companhia, conta que conhece outros viajantes nos hostels onde se hospeda
Um é pouco, dois é bom, três é demais. Quem nunca escutou esse dito popular nas mais diversas situações? Porém em se tratando de viagens, há quem considere a primeira opção a ideal. Embora viajar sozinho ainda seja cercado por preconceito e incompreensão, o número de pessoas que arruma as malas e ganha a estrada sem companhia só cresce. Para se ter uma ideia, pesquisa realizada pela Kayke - empresa global especializada em viagens on-line - mostra que no primeiro semestre deste ano, mais de 77% das buscas por viagens nacionais e internacionais foram feitas por brasileiros que pretendem embarcar sozinhos, contra apenas 14% em dupla e somente 3% em família.
Desculpas como não tenho tempo ou dinheiro suficiente é o que esses viajantes mais escutam dos amigos todas as vezes que os convidam. Cansados de passar as férias em casa, eles estabeleceram como meta de vida, ganhar o mundo independentemente de terem ou não um parceiro para a empreitada.
Motivação
A possibilidade de serem donos absolutos do seu tempo, montar o próprio roteiro, imergir na cultura local, praticar um idioma, conhecer outros viajantes, determinar o ritmo da viagem e ainda mudar de planos sem aviso prévio e risco de desentendimentos são muitas das vantagens apontadas e o combustível para partirem nessa condição.
"Quando você viaja só, pode montar o próprio roteiro, fazendo o que bem entender, o que otimiza o seu tempo e a viagem como um todo, principalmente quando se tem pouco tempo para conhecer um determinado local. Além disso, viajando só, a gente fica mais conectado ao lugar que está visitando, absorvendo melhor o que ele tem a oferecer", explica o advogado Marcus César Oliveira Freitas, que já fez seis viagens sem companhia, incluindo países nada convencionais para um turista brasileiro, como Islândia, Noruega, Suécia, Finlândia, Estônia e o principado de Liechtenstein.
Os mesmos motivos são o que levam a jornalista Cristiane Sampaio a aumentar o rol de viajantes solo. "Viajar sozinha é um excelente exercício de liberdade. É poder fazer meu próprio roteiro de viagem e de não precisar ficar negociando nada com ninguém. Fazer tudo do meu jeito e na hora que quero. Além de ser importante para limpar a cabeça, conhecer outras pessoas e, no meu caso, praticar o espanhol. Se eu viajar com amigos, fico mais centrada neles e o tempo inteiro falando português. Não é estratégico para quem deseja desbravar outras culturas", argumenta. Argentina, Peru, Bolívia, Chile, Espanha e mais recentemente a Colômbia estão entre os locais que a jornalista já visitou.
Embora muita gente venha a estranhar o fato de uma mulher viajar sem companhia - o que ainda é incomum entre as brasileiras -, ao lado de Cristiane, a estudante de audiovisual Larissa Souza é outra que não tem medo de percorrer o planeta na própria companhia. Sozinha ela já foi parar duas vezes na Ásia e até no deserto australiano.
"Em sendo mulher a maior dificuldade é, às vezes, voltar de alguma festa muito tarde, mas isso é perfeitamente contornável quando a gente faz amigos no hostel onde fica", conta. Aliás, a recomendação é evitar andar à noite só, em ruas escuras e de pouco movimento e não aceitar ajuda de estranhos, ou seja, cuidados não muito diferentes do que se tem na cidade onde vive.
Dificuldades
Em meio a tantas histórias, não faltam aquelas em que esses viajantes também passaram por dificuldades, mas nada que os desanime a continuar e a recomendar a experiência. Marcus Freitas, por exemplo, teve a mala extraviada na Noruega. Cristiane Sampaio, por outro lado, já perdeu documentos, dinheiro e cartão de crédito no aeroporto de Lima, no Peru, ficando completamente desnorteada. "Para viajar só, até maturidade emocional é preciso ter. A gente fica sujeito a certas intempéries e, sem ter um companheiro fixo de viagem, pode ser complicado solucionar certos problemas, mas acho que nessas horas todo santo ajuda", brinca.
"Ter a cabeça e o coração abertos para todas as novidades e possibilidades que a estrada vai apresentar é o espírito que quem viaja só precisa", afirma o advogado, não praticante, Diogo Vieira, que hoje prefere ser apresentado como um viajante profissional.
Curioso e inspirado pelas histórias do pai, que após se aposentar resolveu dar a volta ao mundo sozinho, ele decidiu ter a experiência e não parou mais. Já foram três viagens solo por três continentes: Oceania, Ásia e África.
Lições de vida
Entre os maiores aprendizados, fala, é o enriquecimento pessoal. "Não importa que as pessoas tenham pensamentos, hábitos e costumes completamente diferentes dos nossos. Aprendi a respeitar ainda mais essas diferenças, mas também tive a oportunidade de cultivar uma amizade com gente que nunca imaginei encontrar e que me acrescentaram um conhecimento enorme", relata. "É um verdadeiro exercício de encantamento com o mundo", conclui Cristiane Sampaio.