Embora a prática ainda seja cercada de preconceito e incompreensão, mais pessoas arrumam as malas e ganham a estrada sem companhia. Veja a experiência de quem já foi
Um
é pouco, dois é bom, três é demais. Quem nunca escutou esse dito
popular nas mais diversas situações? Porém em se tratando de viagens, há
quem considere a primeira opção a ideal. Embora viajar sozinho ainda
seja cercado por preconceito e incompreensão, o número de pessoas que
arruma as malas e ganha a estrada sem companhia só cresce. Para se ter
uma ideia, pesquisa realizada pela Kayke - empresa global especializada
em viagens on-line - mostra que no primeiro semestre deste ano, mais de
77% das buscas por viagens nacionais e internacionais foram feitas por
brasileiros que pretendem embarcar sozinhos, contra apenas 14% em dupla e
somente 3% em família.
Desculpas
como não tenho tempo ou dinheiro suficiente é o que esses viajantes
mais escutam dos amigos todas as vezes que os convidam. Cansados de
passar as férias em casa, eles estabeleceram como meta de vida, ganhar o
mundo independentemente de terem ou não um parceiro para a empreitada.
Motivação
A
possibilidade de serem donos absolutos do seu tempo, montar o próprio
roteiro, imergir na cultura local, praticar um idioma, conhecer outros
viajantes, determinar o ritmo da viagem e ainda mudar de planos sem
aviso prévio e risco de desentendimentos são muitas das vantagens
apontadas e o combustível para partirem nessa condição.
"Quando
você viaja só, pode montar o próprio roteiro, fazendo o que bem
entender, o que otimiza o seu tempo e a viagem como um todo,
principalmente quando se tem pouco tempo para conhecer um determinado
local. Além disso, viajando só, a gente fica mais conectado ao lugar que
está visitando, absorvendo melhor o que ele tem a oferecer", explica o
advogado Marcus César Oliveira Freitas, que já fez seis viagens sem
companhia, incluindo países nada convencionais para um turista
brasileiro, como Islândia, Noruega, Suécia, Finlândia, Estônia e o
principado de Liechtenstein.
Os
mesmos motivos são o que levam a jornalista Cristiane Sampaio a
aumentar o rol de viajantes solo. "Viajar sozinha é um excelente
exercício de liberdade. É poder fazer meu próprio roteiro de viagem e de
não precisar ficar negociando nada com ninguém. Fazer tudo do meu jeito
e na hora que quero. Além de ser importante para limpar a cabeça,
conhecer outras pessoas e, no meu caso, praticar o espanhol. Se eu
viajar com amigos, fico mais centrada neles e o tempo inteiro falando
português. Não é estratégico para quem deseja desbravar outras
culturas", argumenta. Argentina, Peru, Bolívia, Chile, Espanha e mais
recentemente a Colômbia estão entre os locais que a jornalista já
visitou.
Embora
muita gente venha a estranhar o fato de uma mulher viajar sem companhia
- o que ainda é incomum entre as brasileiras -, ao lado de Cristiane, a
estudante de audiovisual Larissa Souza é outra que não tem medo de
percorrer o planeta na própria companhia. Sozinha ela já foi parar duas
vezes na Ásia e até no deserto australiano.
"Em
sendo mulher a maior dificuldade é, às vezes, voltar de alguma festa
muito tarde, mas isso é perfeitamente contornável quando a gente faz
amigos no hostel onde fica", conta. Aliás, a recomendação é evitar andar
à noite só, em ruas escuras e de pouco movimento e não aceitar ajuda de
estranhos, ou seja, cuidados não muito diferentes do que se tem na
cidade onde vive.
Dificuldades
Em
meio a tantas histórias, não faltam aquelas em que esses viajantes
também passaram por dificuldades, mas nada que os desanime a continuar e
a recomendar a experiência. Marcus Freitas, por exemplo, teve a mala
extraviada na Noruega. Cristiane Sampaio, por outro lado, já perdeu
documentos, dinheiro e cartão de crédito no aeroporto de Lima, no Peru,
ficando completamente desnorteada. "Para viajar só, até maturidade
emocional é preciso ter. A gente fica sujeito a certas intempéries e,
sem ter um companheiro fixo de viagem, pode ser complicado solucionar
certos problemas, mas acho que nessas horas todo santo ajuda", brinca.
"Ter
a cabeça e o coração abertos para todas as novidades e possibilidades
que a estrada vai apresentar é o espírito que quem viaja só precisa",
afirma o advogado, não praticante, Diogo Vieira, que hoje prefere ser
apresentado como um viajante profissional.
Curioso
e inspirado pelas histórias do pai, que após se aposentar resolveu dar a
volta ao mundo sozinho, ele decidiu ter a experiência e não parou mais.
Já foram três viagens solo por três continentes: Oceania, Ásia e
África.
Lições de vida
Entre
os maiores aprendizados, fala, é o enriquecimento pessoal. "Não importa
que as pessoas tenham pensamentos, hábitos e costumes completamente
diferentes dos nossos. Aprendi a respeitar ainda mais essas diferenças,
mas também tive a oportunidade de cultivar uma amizade com gente que
nunca imaginei encontrar e que me acrescentaram um conhecimento enorme",
relata. "É um verdadeiro exercício de encantamento com o mundo",
conclui Cristiane Sampaio.
Arte / Cultura / Humor!!!
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