Prezado Senador Aécio Neves:
Geralmente
incapaz de articular uma frase mais longa sem se perder numa
redundância ou cair numa contradição, Dilma passou à ofensiva sempre que
confrontada com perguntas que insistem em ser inconvenientes. As
respostas ainda refletem um descolamento da realidade, mas isso é outro
problema.
Agora é sua vez de melhorar.
Abaixo,
dez dicas para o senhor conseguir falar com o eleitor médio, o Homer
Simpson sentado em seu sofá inercial, anestesiado pela política e pronto
pra ‘marinar’.
1)
Pare de falar em “política fiscal.” Só gente com formação em economia
ou ampla leitura dos jornais sabe o que é isso, e os votos deles o
senhor já tem. Eles estão carecas de saber o que o Armínio tem que fazer
na economia. Dizer que vai fazer uma ‘sólida política fiscal’ não lhe
ganha nem mais um voto, a menos que o senhor tenha à mão um infográfico.
2)
Antes de questionar se Marina Silva representa, de fato, mudança, olhe
para a câmera e diga, com sinceridade transbordante, que entende porque
o povo gosta dela e vê nela “a cara” da mudança. Há uma diferença sutil
mas importante aí. É a seguinte: Ao apenas questionar a imagem de
Marina, o senhor está reclamando do eleitor e batendo de frente com ele.
Ao mostrar empatia com o ponto de vista dominante, o senhor abre
caminho para um diálogo sobre a mudança, e tem a oportunidade de
desconstruir a imagem que considera equivocada.
3)
Seja leve. Quando for à CBN e o âncora perguntar sobre as dificuldades
da eleição em Minas, não responda com ironia. Soa agressivo. Tome
maracujina ou chá de camomila antes.
4)
Mostre a importância de ser leve. Lembre ao eleitor que a Presidente
Dilma é uma figura pesada, que intimida auxiliares e está sempre
carrancuda. Mostre também que uma presidente religiosa, se cooptada
pelos vendilhões do templo, pode também se tornar uma presidente pesada,
outra mala sem alça. Diga ao eleitor que este País merece sorrir.
Explique que, antes de virar pai, o senhor curtia a noite do Rio, comia
sushi no Leblon e gostava da boa vida. Conte pra todo mundo que o senhor
não atende celular no fim de semana — e, claro, prometa mudar isso, se
eleito.
5)
Diga que nem toda eleição tem que ser um ajuste de contas com um
passado de lutas, nem uma tentativa de redimir simbolicamente o abismo
social que separa os que têm muito dos que têm nada. Diga que, melhor
que uma redenção simbólica, é a redenção real que vem com a organização
da economia e a volta do crescimento.
6)
Se for inevitável falar em política internacional, limite-se a usar a
expressão “mandou dinheiro para Cuba.” É a única coisa que as pessoas
vão entender. O resto é um grande borrão para o eleitor médio.
7)
Não fale em “centro da meta” para um eleitor que só entende de “tiro de
meta”. Fale do preço do feijão, da carestia na feira. O senhor já fez
isso antes e foi bem. Pratique em casa.
8)
Pare de dizer “caro candidato” nas respostas. Isso mostra que o senhor é
um homem educado, até elegante, mas também evoca o político tradicional
que ninguém quer eleger.
9)
Ria de si mesmo. Invente alguma piada sobre o terceiro lugar nas
pesquisas. Os políticos americanos usam o humor autocrítico, com
sucesso, há décadas. Rir de si mesmo demonstra humildade, e as pessoas o
ouvirão com mais boa vontade. Na tabela periódica dos elementos da
política, a esperança tem mais massa que o medo, e a leveza sempre vence
a dureza.
10)
Sorria, mas seja capaz de se mostrar indignado. Denuncie o BNDES como
um Robin Hood às avessas, e erga os punhos no ar para reclamar do FGTS,
este assalto ao trabalhador. Mas, como sempre, leve infográficos.
Por Geraldo Samor
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