14 agosto, 2013

Parabéns, Sabiá Clara Guerreira! via Hélio Ricardo Rainho

Eterna. Divina. Inesquecível.
O mais extraordinário sabiá que o Brasil ouviu cantar.
Houve um 12 de agosto distante em que nasceu Clara Nunes. E nunca mais a música popular brasileira seria igual.
Foto: Reprodução de Internet
Cantora popular, de samba, dos poetas do povo, da riqueza das favelas, do chão de terra socada, das rodas de forró, dessa gente faceira e suada, sofrida e perseverante.
Vozeirão alto, imponente, extenso, que transcorria os suores e calores da alma negra, indígena e branca miscigenada no DNA Brasil, expressando luta, sacrifício, brio, conquista, dor e sofrimento. Mais do que simplesmente cantar, Clara emprestou sua alma, seu corpo e sua beleza ao povo brasileiro.
Foi além, muito além, do proselitismo religioso: pode-se estudar toda a sua obra e lá se constatar que nenhuma - absolutamente nenhuma - de suas canções era de natureza essencialmente religiosa: ela não gravava pontos, antes interpretava canções folcloricamente estilizadas pela arte de grandes compositores populares a quem eternizou com seu canto. Era uma artista brasileira na maisoura essência. Linda, linda, linda como ela só.
Devo, talvez, a Clara Nunes, meu rastro de fixação com a grandeza das escolas de samba. Em sua morte, no ano de 1983, era eu bem menino quando, pela primeira vez, pisei a quadra de minha Portela. O dia mais triste da história da escola. Minha mãe, portelense convicta e inveterada fã da cantora, chorava muito, e fazia coro com um bairro inteiro de Madureira que por ali de lamentava.
Eu menino, em meio àquela multidão tive um sonho. Imaginei transformar, um dia, todo aquele lamento em homenagem. Eu queria, de alguma forma, trazer de volta a alegria e a beleza da arte de Clara.
Dez anos depois, criei um projeto artístico para o Museu da Imagem e do Som com exposição de fotos e adereços de Clara (acervo do artista plástico e carnavalesco Barthô), uma mostra de vídeos da cantora no Japão e uma peça teatral, escrita e dirigida por mim, "Clara Nunes, o Despertar da Guerreira".
Foto: Reprodução de Internet
Naquela oportunidade, coloquei baianas da Portela em cena, e era um espetáculo emocionante de se ver. Porque Clara era puro fascínio, emoção, comoção diante de seus admiradores. Antes de dar início ao projeto, organizei um debate no MIS que teve depoimentos de Noca da Portela, Monarco e Wilson Moreira, todos representantes da Velha Guarda da Portela, falando da relevância e da grandeza de Clara no cenário de nossa MPB.
A primeira temporada teve a atriz Patrícia Alves como intérprete. A segunda, Lena Oliveira. O espetáculo ficou um ano em cartaz, eu tinha apenas 23 anos e foi a glória!
Foto: Reprodução de Internet
Recebi do Museu da Imagem e do Som e do Governo do Estado o título de "amigo de Clara Nunes", um orgulho e um atestado de fã incondicional da maior cantora que o país já teve.
 
Foto: Reprodução de Internet
Se Clara fosse viva, completaria hoje 70 anos. Muito provavelmente, estaria esbanjando a mesma beleza e a mesma graça que tinha aos 40, quando tão precocemente nos deixou naquele triste 2 de abril de 1983.
Sua obra, sua lembrança e sua grandeza estarão para sempre perpetuados em nossa memória.
E onde quer que se veja uma águia azul e branco, uma saia de baiana nessas cores ou mesmo o manto da Majestade do Samba conduzido por um casal de mestre-sala e porta-bandeira lembraremos da voz marcante de Clara Nunes, de sua paixão por aquela escola, de seu virtuosismo e gana na mais singela alegoria do que é e do que sente o povo brasileiro.
Saudades da mineira guerreira. Linda, eterna, radiante.
Canta, meu sabiá...hoje é seu dia!
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Twitter @hrainho

Hélio Ricardo Rainho/Carnaval

Carioca, publicitário, MBA em Marketing, ator, diretor teatral, escritor, pesquisador de escolas de samba, futebol e teatro. Twitter: @hrainho
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