25 agosto, 2013

Cinco funcionários da Caixa desviaram R$ 4,167 milhões - Ancelmo Gois - O Globo

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PONTO FINAL

Quem reparou foi Marcelo Cerqueira, que foi advogado de presos políticos. Estes funcionários da Caixa usaram a tecnologia de desvio de dinheiro criada em 1968 por Jorge Medeiros Valle (Bom Burguês). Ele trabalhava numa agência do Banco do Brasil no Leblon e desviou US$ 1 milhão para financiar duas organizações de esquerda (PCBR e o MR-8).

BRASÍLIA - Em plena Esplanada dos Ministérios, um grupo de cinco funcionários da Caixa Econômica Federal criou sua própria ciranda financeira. Servidores lotados na agência do Ministério da Educação fizeram empréstimos fictícios em nome de clientes e usaram o dinheiro em proveito próprio. O desvio chega a R$ 4,167 milhões, pelas contas da Caixa, que tenta na Justiça reaver os recursos. Segundo a ação, a perda patrimonial do banco com as fraudes é ainda maior: R$ 5,6 milhões. A pedido da Caixa, a Polícia Federal também investiga o caso.
Embora a fraude tenha sido descoberta em 2007, até agora só dois funcionários foram demitidos. Os demais seguem no trabalho diário no banco público. O esquema começou a ser desvendado depois de uma pessoa entrar em contato com a Caixa e informar que não reconhecia duas contas abertas em seu nome. O “cliente” foi surpreendido por correspondências sobre sua movimentação bancária. Uma investigação interna foi aberta e constatou uma lista de irregularidades praticadas pelos funcionários.
“Os empregados utilizaram-se da função para contrair empréstimos em benefício próprio, manipulando, deliberadamente, as informações cadastrais no sistema, bem como forjaram contratos de operações de crédito em nome de terceiros, cadastrando deliberadamente dados fraudulentos no sistema, com o objetivo de obter novos créditos em benefício próprio”, diz a advogada do banco Welisângela Cardoso de Menezes na ação judicial contra os servidores, à qual O GLOBO teve acesso.
Além de cobrar dos funcionários o ressarcimento do dinheiro, o processo ainda pede a condenação por quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico e por improbidade administrativa. E descreve com detalhes os atos praticados pelos servidores responsáveis justamente pela análise de cadastro dos clientes e pela concessão de financiamentos.
Eles são acusados de abrir contas sem o conhecimento dos titulares, dar empréstimos por meio da falsificação de assinaturas, atribuir aos clientes rendas fictícias ou acima do real, movimentar conta de terceiros por meio de ordem de débito, saques com cartão, guias de retiradas e transferir o dinheiro para contas de empregados, familiares e amigos sem o consentimento do titular. Além de recursos para aumentar exponencialmente o padrão de vida, conseguiram até prêmios pelas fraudes.
Os funcionários batiam as cotas impostas pelo banco com a venda de produtos bancários — como plano de previdência privada, seguro, consórcio, título de capitalização e cartão de crédito — sem a anuência dos titulares das contas. Como presente, receberam até uma viagem para o Caribe para comemorar o desempenho.
A auditoria interna feita pela Caixa constatou ainda que os funcionários solicitavam “crédito contingente” e conseguiam sacar recursos de contas mesmo que estivessem zeradas. Fraudaram também o Construcard, crédito para reforma e construção. O dinheiro era transferido para a loja de materiais de construção e depois repassado para as contas dos funcionários, familiares ou até mesmo para outro cliente. Na relação dos crimes, ainda há a inserção de sócio fictício de empresa.
Segundo fontes a par das investigações, aos clientes que descobriam o empréstimo indevido, os funcionários explicavam que fora um erro e prometiam o estorno da operação. O crédito (ou débito da prestação) era colocado em outro CPF. De acordo com essas fontes, as irregularidades foram cometidas nas contas de cerca de 50 clientes.
Em resposta às várias perguntas feitas pelo GLOBO, a instituição divulgou apenas uma nota sucinta. “As apurações de responsabilidade são sigilosas, em respeito à privacidade dos envolvidos. A apuração em questão foi iniciada em 2007 e resultou em duas demissões, não sendo possível mencionar nomes de empregados. Não há clientes envolvidos nas irregularidades”. A Caixa não explicou por que empregados envolvidos no esquema ainda estão nos quadros da instituição.