25 julho, 2013

Morador de rua divide 'cama' com cão para amenizar o frio em SP

José Carlos dos Santos: o verdadeiro Francisco...

Enrolada no próprio rabo, Preta, uma cadela sem raça definida, anda chocha, desanimada que só ela. Coube ao dono, José Carlos dos Santos, 49 anos, 19 deles vivendo pelas ruas de São Paulo, arriscar um diagnóstico: "É este frio. Até ela fica amuadinha".




"Ela me aquece, e eu passo o meu calor para ela", diz José dos Santos, que vive há 19 anos pelas ruas de São Paulo http://ow.ly/njS4C
Eram quase 15h de ontem quando o tempo começou a virar para Preta. Uma senhora a presenteou com 2 kg de ração e mais um cobertor.
Uma moradora da Vila Romana doou dois pratos de comida, um para a cadela e outro para o dono, com arroz, feijão, picadinho de carne e legumes. Caía uma garoa gélida quando outra vizinha apareceu com chocolate quente... para a cachorra.
A pesquisadora Carmem Lúcia Gomes, 52, levou um tapetinho para aquecer Preta.
Em seguida, disparou um alerta na internet para coletar cobertores para os animais de rua. "Se esse frio está difícil para a gente, imagine para eles", disse. "O ser humano sabe pedir. Existem abrigos públicos para acolhê-los. E para os bichos?"
No começo da noite, Preta teve outro "privilégio" de inverno: dividiu com o dono o colchão estendido no chão. "Ela me aquece, e eu passo o meu calor para ela", disse.
Agora, sorte mesmo tem João, outro cão SRD (sem raça definida) que vive na rua, a sete quadras de Preta.
Em frente ao restaurante Terapia da Vila, fica a casinha dele. Ao menos cinco vizinhos cuidam de João. À noite, ele ganha um lar: vai dormir na casa de um acolhedor.
O frio intenso tem castigado João com crises de artrite e artrose, avisa a cuidadora Sonia Regina Canon, 63.
Cães com idade avançada ou que sofrem de doenças como artrose, calcificações na coluna e hérnia de disco tendem a sentir mais dores nos dias frios, explica Eduardo Lipparelli, 31, diretor clínico do Pet Care Ibirapuera.
"Como os seres humanos, eles também morrem de hipotermia", diz o veterinário.
Que o diga Marta Giraldes, 45, coordenadora da Aila (Aliança Internacional do Animal). "Esses animais vivem nas ruas subalimentados, com a imunidade baixa. Eles sofrem, padecem e morrem nas ruas congelados."
ONGs de proteção animal calculam que cerca de 100 mil cães e gatos perambulam pelas ruas de São Paulo.
Ontem, Marta evitou mais uma morte, após resgatar um rottweiler idoso e paraplégico, abandonado em São Mateus, na zona leste da capital.
Ela conta que a solidariedade que rola entre Preta e Santos é comum entre os moradores de rua humanos. "Em seus papelões, jornais e carroças, a gente vê uns aquecendo os corpos nos outros."
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