Moradores do Leblon, na Zona Sul do Rio, organizaram um abaixo-assinado pedindo que o governador Sérgio Cabral deixe o bairro. O documento foi elaborado e distribuído, na quarta-feira (3), antes do confronto nesta quinta (4), aos moradores dos prédios da Rua Aristídes Espínola, onde o governador mora, e de prédios dos dois quarteirões próximos.
No texto, a psicóloga Cynthia Clark, moradora do prédio vizinho ao de Cabral, parecia prever a confusão ao dizer "tememos que as manifestações, até agora pacíficas, se tornem violentas e, caso haja confronto entre manifestantes e policiais ainda tenhamos que conviver com tiros, balas de borracha e gás lacrimogêneo". O protesto realizado na noite desta quinta-feira começou pacífico e terminou em confusão. A Polícia Militar alega que foi atacada com pedras pelos manifestantes, enquanto uma das líderes do grupo "Ocupa Cabral", Luiza Dreyer, negou o ataque e afirmou que a PM agiu com truculência.
Abaixo-assinado pede que Cabral deixe o Leblon (Foto: Reprodução)Abaixo-assinado pede que Cabral deixe o Leblon
(Foto: Reprodução)
Em entrevista ao G1, Cynthia Clark defendeu os manifestantes que acamparam durante mais de uma semana na esquina da rua, e foram retirados pela PM do local na madrugada de terça (2), e disse que é a favor dos protestos pacíficos.
"A grande maioria [dos moradores] é favoravel às manifestações pacíficas. Aquele grupo que acampou aqui durante uma semana era um grupo ótimo. Sempre ia lá conversar com eles. A manifestação de moradores da Rocinha e do Vidigal também foi uma maravilha", disse.
Moradora há quase 20 anos do bairro, Cynthia disse, no entanto, que a presença de forte aparato policial na rua e o aumento na frequência das manifestações na rua causam transtornos aos moradores. "Essas passeatas sempre existiram, mas agora estão com maior frequência em todo o país. A minha previsão [de confusão] no abaixo-assinado se concretizou até mais cedo do que eu imaginava".
'Que ele vá para o Palácio', diz moradora
O documento diz que as mudanças na região começaram a partir de 2007, no primeiro mandato do governador Sérgio Cabral. "Desde então convivemos todos os dias com pelo menos duas 'patrulhinhas' estacionadas na rua (algumas vezes sobre a calçada), inúmeros carros de segurança com seus ocupantes (...)".

Por fim, os moradores, que estão recolhendo assinaturas no documento, pedem que o governador deixe o bairro. "Acreditamos que só há uma solução (...) o senhor deixar de confundir sua vida privada com sua vida pública, e passar a morar no lugar destinado a ser moradia do governador do Estado do Rio de Janeiro: o Palácio Laranjeiras".
A moradora Cynthia Clark considera que a permanência do governador no Leblon representa, inclusive, gasto extra ao estado. "Acho que é um capricho dele querer morar aqui, e ainda um gasto em dobro porque [o governo] tem que manter o Palácio Laranjeiras, além de manter o aparato de segurança aqui [Leblon], além do aparato para que ele se locomova. É um gasto substancial", disse a psicóloga, acrescentando que alguns moradores se recusaram a assinar o documento por medo.
O governador Sérgio Cabral disse, por meio de nota nesta sexta-feira, que a PM agiu corretamente e lamentou que entre os manifestantes "tivesse gente jogando pedra com interesse de conflito".
Manifestantes atearam fogo em objetos na Avenida Delfim Moreira (Foto: Luís Bulcão/G1)Manifestantes atearam fogo em objetos na Avenida Delfim Moreira (Foto: Luís Bulcão/G1)
Moradores mudam a rotina
A presidente da Associação de Moradores do Leblon, Evelyn Rosenzweig, diz que as manifestações estão prejudicando o bairro e defende que sejam realizadas no Palácio Guanabara, sede do governo estadual.

"Eu não sou contra manifestação nenhuma, a gente precisa reivindicar e parece que eles [governantes] só ouvem no grito. Isso está atrapalhando a vida dos moradores. Está incomodando um bairro inteiro, não é só uma rua. Só acho que o lugar ideal para a manifestação não é ali [Leblon]", disse Evelyn.
Os protestos têm mudado a vida de quem mora ou trabalha na região. "A gente fica receoso. O povo tem que lutar sim pelos seus direitos. Mas como, às vezes, a manifestação fica perigosa, eu até saio do trabalho mais cedo para evitar qualquer tipo de problema", disse o segurança Sidnei Oliveira, de 36 anos.
Também moradora da mesma rua que Sidnei, a turismóloga Renata Vieira, de 31 anos, é igualmente a favor dos protestos, mas confessou que prefere não passar pela via onde mora o governador.
"Um caminho alternativo é melhor, uma vez que eu sei que pode ter uma confusão a qualquer momento. O povo tem que continuar a lutar pelos nossos direitos. Os governantes querem fazer do jeito deles, mas nós nao podemos deixar", explicou.