13 junho, 2013

O ANIVERSÁRIO DE UMA REVOLUÇÃO MUSICAL André Barcinski


O ANIVERSÁRIO DE UMA REVOLUÇÃO MUSICAL

André Barcinski

Em 2013, dois discos clássicos completam 40 anos: Krig-ha, Bandolo!, de Raul Seixas, e Secos e Molhados, primeiro LP da banda que revelaria Ney Matogrosso. São marcos de uma época em que o pop-rock brasileiro tentava sair da sombra da Jovem Guarda e criar sonoridades mais ousadas.

Krig-ha, bandolo! Marcou o início da parceria entre Raul Seixas e Paulo Coelho, que renderia outros três discos memoráveis: Gita (1974), Novo Aeon (1975) e Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás (1976). O álbum traz clássicos do repertório do cantor e compositor baiano, como Mosca na Sopa e Metamorfose Ambulante.
Mas a obra-prima do LP é Ouro de Tolo, uma sátira ao milagre econômico brasileiro e às ambições da classe média em plena ditadura militar. Raul faz contraponto entre os sonhos de consumo da época, o “Corcel 73”, o “morar em Ipanema”, e a necessidade de alcançar voos maiores: “Porque foi tão fácil conseguir / e eu me pergunto 'e daí?' / Eu tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar / e eu não posso ficar aí parado”. A canção trazia um dos seus versos mais bonitos: “Eu que não me sento no trono de um apartamento / com a boca escancarada, cheia de dentes, / esperando a morte chegar.”
Já Secos e Molhados, lançado em agosto de 1973, foi o LP mais vendido no Brasil em 1974, superando, pela primeira vez, Roberto Carlos.
O disco nasceu quase por acaso. O jornalista Moracy do Val viu um show do grupo, formado por Ney Matogrosso, João Ricardo, Gerson Conrad e alguns músicos de apoio, e ficou tão impressionado com a força das canções, algumas tiradas de poemas de Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo e Vinicius de Moraes, que convenceu a gravadora Continental a deixá-lo produzir a estreia dos Secos e Molhados.
A Continental não acreditava no sucesso do grupo e prensou 1.500 cópias. Em três meses, o álbum venderia 300 mil exemplares. A demanda era tanta que, em plena crise do petróleo, com matéria-prima escassa, a solução encontrada foi derreter discos encalhados para fazer mais LPs dos Secos e Molhados.
O álbum foi um sucesso também entre as crianças, que adoravam o visual extravagante e cantavam músicas como O Vira. “Até hoje, não consigo entender o sucesso do disco”, lembra Gerson Conrad. “Foi uma coisa mágica, sem explicação”.

Fonte: Azul Magazine, Edição 01 maio 2013, pág. 058.


De: Geleia General <noreply@blogger.com>
Assunto: Geleia General