05 maio, 2013

Passeio da USP faz Paulistano virar turista na própria cidade

Foco da visita gratuita são marcos modernistas espalhados por São Paulo.
Passeio acontece aos sábados e interessados precisam se inscrever.


Visitantes puderam conhecer marcos arquitetônicos e históricos da cidade. (Foto: Leonardo Neiva/G1)Visitantes puderam conhecer marcos arquitetônicos e históricos da cidade. (Foto: Leonardo Neiva/G1)
Desde fevereiro, a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP realiza passeios gratuitos todos os sábados, que apresentam ao visitante um pouco da história e arquitetura de lugares importantes da cidade de São Paulo. É A USP e a São Paulo Modernista.
Marco Antônio trouxe toda a família para o passeio. (Foto: Leonardo Neiva/G1)
Marco Antônio trouxe toda a família para o passeio.
(Foto: Leonardo Neiva/G1)
Qualquer um pode participar. O trajeto, todo de ônibus, faz paradas no Museu Paulista, no Ipiranga, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Rua Maranhão, em Higienópolis, e no Museu da Arte Contemporânea da USP, no Parque do Ibirapuera.


Com foco no período de transição entre os séculos 19 e 20 na capital, a ideia do trajeto é apresentar aspectos arquitetônicos, urbanísticos, econômicos, socioculturais e políticos que fizeram parte do movimento modernista em São Paulo.

O professor Marco Antônio, de 47 anos, levou  esposa Luciene, de 46, e a filha Lívia, de 8, para aproveitar a visita. “A verdade é que nós moramos em São Paulo e mal conhecemos a cidade”, contou Marco Antônio.
Trajeto - Partida

A excursão saiu da Estação Alto do Ipiranga pontualmente às 10h, depois que guias e visitantes se apresentaram. No caminho até o Museu Paulista, o guia Gilberto da Silva Francisco, de 30 anos, falou sobre a Revolução Constitucionalista e o Quarto Centenário de São Paulo, eventos que deixaram marcas e monumentos no solo da cidade. Muitos deles também estavam no trajeto do passeio.

Trajeto tem início na estação Alto do Ipiranga e segue para o Museu Paulista. (Foto: Leonardo Neiva/G1)
Trajeto tem início na estação Alto do Ipiranga e
seguepara o Museu Paulista. (Foto: Leonardo
Neiva/G1)
Gilberto é professor universitário de Arquitetura e História da Arte. Foi contratado pela USP ainda na fase de testes do projeto e ajudou a definir algumas das características do passeio. “Aqui nós não somos educadores, mas mediadores entre os visitantes e os lugares visitados”, explicou.
Arthur Martins Tiveron, de 23 anos, veio de Uberaba, em Minas Gerais, e mora há um ano na cidade. Formado em arquitetura, ia aproveitar o passeio para conhecer melhor os edifícios modernistas de São Paulo. “Eu tinha pouca coisa para ver em Uberaba que fosse interessante para o meu curso. Nem se compara com São Paulo”, disse.
Museu Paulista, no Ipiranga, é primeira parada do trajeto  (Foto: Leonardo Neiva/G1)
Museu Paulista, no Ipiranga, é primeira parada do
trajeto (Foto: Leonardo Neiva/G1)
Museu Paulista

Já perto do museu, os alto-falantes do ônibus reproduziram a música "A Menina e a Canção", composta pelo maestro Heitor Villa-Lobos. A canção teve grande influência das óperas italianas, assim como outras músicas brasileiras do período modernista, explicou Gilberto.

“Dom Pedro não morava aqui?”, perguntou a pequena Lívia às portas do Museu Paulista, também conhecido como Museu do Ipiranga. Na verdade, não. O projeto do prédio foi desenvolvido ao longo do século 19  e inicialmente era um Museu de História Natural. Somente no começo do século 20 se tornou um memorial da Independência.

Na fachada que, segundo Gilberto, está entrando em processo de degradação, se notam aspectos da arquitetura europeia, como as arcadas de descendência romana e as colunas gregas. “Não parece um pedaço da Europa?”, brincou.

Edifício Eiffel, projetado por Niemeyer, está no trajeto até a Fau Maranhão. (Foto: Leonardo Neiva/G1)
Edifício Eiffel, projetado por Niemeyer, está no
trajeto até a Fau Maranhão. (Foto: Leonardo
Neiva/G1)
FAU Maranhão

No caminho até o edifício da Fau Maranhão, os visitantes passaram por marcos de diversos períodos históricos da cidade, como o casarão da família Jafet no Ipiranga, o Mercado Municipal da Cantareira e prédios projetados por Oscar Niemeyer, como os edifícios Copan, Montreal e Eiffel .

“Nós vamos percebendo assim a incoerência da ocupação de São Paulo com o tempo, com uma lógica que vai mudando de acordo com a época”, afirmou Josiane de Souza, de 30 anos, que é professora, artista plástica e também guia do passeio.


O prédio da Fau Maranhão pertencia à família Penteado e ainda hoje conserva quadros, móveis e objetos dos antigos moradores. Logo na entrada, Lívia descobriu sozinha que o grande espaço do térreo costumava ser usado como salão de bailes. “Porque não tem mesas e as pessoas precisam de bastante espaço pra dançar”, explicou. A jovem não parava de fazer anotações em seu caderninho, que preferiu manter fechado e a salvo dos olhos curiosos.

A agente socioambiental Mariângela Nicolellis, de 55 anos, disse que estava aproveitando para conhecer melhor a cidade. Ela contou que teve que esperar quatro meses para conseguir fazer a visita depois de ter enviado sua inscrição.


“Nesse passeio, o paulistano acaba vendo a cidade como uma pessoa de fora. Conseguimos enxergar diversos momentos da história de São Paulo. É um prato cheio para estudantes de arquitetura”, afirmou.

Visita terminou no Mam, no Parque do Ibirapuera. (Foto: Leonardo Neiva/G1)
Visita terminou no Mac, no Parque do Ibirapuera.
(Foto: Leonardo Neiva/G1)
Museu de Arte Conemporânea

Depois de um lanche reforçado, o passeio seguiu até o Parque do ibirapuera. Durante um trajeto, um vídeo no ônibus mostrou a passagem do período colonial para a fase modernista na cidade. Já no parque do Ibirapuera, o grupo formou uma roda em meio às diversas espécies de árvores presentes. Josiane explicou que o parque, baseado em um modelo europeu e norte-americano, também tem diversas construções projetadas por Niemeyer.

Com um tempo de cerca de dez minutos para conhecer as obras expostas, o passeio terminou na saída do museu. O ônibus ainda ia levar os visitantes às estações Paraíso e Alto do Ipiranga do metrô.

O tradicional trânsito de São Paulo atrasou o passeio em cerca de meia hora. Em vez das 14h, terminou às 14h30. Mesmo com o tempo extra, poderia ter durado mais. “Quatro horas, apesar de ser muito tempo, acaba sendo pouco para conseguir se aprofundar mais no que vocês viram”, concluiu Josiane.

A resposta para isso pode ser uma nova visita aos locais ou ainda o agendamento de outras excursões para conhecer a cidade. Marco Antônio e família estavam animados. “Já estamos até pensando em fazer outro passeio como este, agora pelo Turismetrô”, contou.

Parque do Ibirapuera foi inaugurado em 1954, em comemoração ao centenário de SP. (Foto: Leonardo Neiva/G1)
Parque do Ibirapuera foi inaugurado em 1954, 
para o 4º centenário da cidade. (Foto: Leonardo
Neiva/G1)
Escolha do percurso

Segundo a professora de sociologia Maria Arlinda do Nascimento, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP e uma das idealizadoras do projeto, a visita é um exemplo de como a universidade pode ir além dos próprios muros.

“O Museu Paulista é uma celebração da história de São Paulo, a Fau Maranhão é uma parte da cidade preservada e o Ibirapuera é uma verdadeira cidade modernista dentro da metrópole”, contou. Foi em torno desses três marcos que todo o trajeto foi montado.

Para Maria Arlinda, essa é uma forma de dar um retorno à cidade das ações da universidade. “É uma iniciativa educativa, de extensão e difusão pra todos os paulistanos e visitantes da cidade, até mesmo estrangeiros”, afirmou.

Serviço
Data: todos os sábados, das 10h às 14h
Local: ponto de encontro na estação Alto do Ipiranga do metrô
Participação gratuita, com agendamento da visita com antecedência pelo e-mail girocultural@sinteseeventos.com.br

  •  
Mam abriga pinturas e esculturas de artistas modernistas. (Foto: Leonardo Neiva/G1)Mam abriga pinturas e esculturas de artistas modernistas. (Foto: Leonardo Neiva/G1)