08 maio, 2013

Para toda a vida


 
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Morador transforma casa de 112 anos em refúgio verde em pleno centro de São Paulo. Há 56 anos vivendo no mesmo endereço, ele incorporou vilinha do fundo do imóvel e casa vizinha: criou um oásis particular, com direito a barulhinho de água e som de passarinhos nas árvores. 

Foto: Zeca Wittner/Estadão

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Há 56 anos no mesmo endereço, o morador fez desta casa seu refúgio em meio à movimentação do centro
Foto: ZECA WITTNER

Marina Pauliquévis – O Estado de S.Paulo
Mesmo antes de mudar para esta casa, há 56 anos, Murilo Ribeiro de Araújo já vivia o centro de São Paulo. Vindo do interior do Paraná, estudou no Colégio Visconde de Porto Seguro quando a sede ainda ficava na região da Praça Roosevelt. Mais tarde, foi trabalhar na Praça da República. Já engenheiro mecânico, mudou para o sobrado impecavelmente bem cuidado de onde nem pensa em sair.
A casa original tem 112 anos. Nos fundos do sobrado havia uma vilinha, com três casas, que foram sendo incorporadas à construção principal, assim como o terreno de um antigo vizinho, o que hoje é um jardim verdejante. Na área coberta ao lado da fonte, mesmo no meio da tarde de um dia útil, a sensação é de se estar longe da movimentação do centro. O barulhinho da água e o som dos passarinhos que estão por ali o tempo todo se servindo de frutas se sobrepõem aos ruídos do lado de fora. É um oásis particular.
Apesar do assédio dos interessados em comprar o imóvel, Araújo se mantém irredutível. “Quero morrer aqui”, afirma, mesmo lamentando que sua vizinhança tenha perdido boa parte do charme de antigamente. “Quando vim para cá, o Palácio do Governo ainda funcionava na Avenida Rio Branco. E, para ir ao Cine Metro, na São João, só usando terno e gravata.”
Na casa, porém, tudo está como antigamente – e, ao mesmo tempo, perfeitamente atual. Lá fora, o lustre dos anos 60 ainda ilumina o jardim. Um móvel antigo dos Correios, cheio de escaninhos para cartas, serve de escrivaninha. O ladrilho hidráulico no piso da área externa, com formas geométricas, foi instalado no fim dos anos 50 e continua bonito.

De tempos passados, o imóvel também mantém a vocação para as artes. Quando ainda havia a vila nos fundos, uma das casas era ocupada pelo estúdio de gravura de Maria Bonomi. E na da frente Norberto Nicola, tapeceiro, pintor e desenhista, criava tapeçarias planas e tridimensionais de cores marcantes. Araújo é o guardião de boa parte das obras de Nicola, morto em 2007. Suas tapeçarias se espalham pelas paredes e, eventualmente, saem de lá para exposições – até 9 de junho, parte delas estará no Centro Cultural Correios, no Rio, na mostra Norberto Nicola – Trama Ativa!.
A coleção de arte da casa ainda inclui cerâmicas e rendas pré-colombianas, que ocupam estantes e paredes e foram compradas em uma viagem para Lima, Peru, em 1962. Como se percebe, são muitas as histórias desta casa. Tem a do vitral comprado em uma demolição na Avenida Paulista, que foi parar na sala de estar; a dos bancos de madeira em formato de bicho trazidos de Goiás; a do pé de cacau plantado pelo caseiro – tem até fruto agora.
E ela continua se transformando, se aperfeiçoando. O ipê plantado na década de 50 surpreendeu o morador e pintou de rosa a praça de entrada da casa há apenas dois anos.

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Jardim da casa
Zeca Wittner/Estadão
 

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