18 maio, 2013

João Guimarães Rosa - O Demiurgo do Sertão: Templo Cultural Delfos



João Guimarães Rosa
“Minha biografia, sobretudo minha biografia literária, não deveria ser crucificada em anos. As aventuras não tem tempo, não tem princípio nem fim. E meus livros são aventuras: para mim, são minha maior aventura.”
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".

Médico, Diplomata e Escritor
1908 - 1967

Cordisburgo - o "burgo do coração".
"...nasci em Cordisburgo, uma cidadezinha não muito interessante, mas para mim, sim, de muita importância. Além disso, em Minas Gerais; sou mineiro. E isto sim é o importante, pois quando escrevo sempre me sinto transportado para esse mundo: Cordisburgo."
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".

Joãozito, como era chamado pela família, nasce em 27 de junho de 1908, com sobrenome de poeta: Rosa, filho de Florduardo. Nasce no mesmo ano em que morre Machado de Assis, numa cidade chamada Cordisburgo, que quer dizer o “burgo do coração”.

“Cordisburgo era pequenina terra sertaneja, trás montanhas, no meio de Minas Gerais. Só quase lugar, mas tão de repente bonito: lá se desencerra a Gruta do Maquiné, mil maravilha, a das Fadas.”

Seu pai, Floduardo Pinto Rosa, juiz-de-paz e comerciante, e sua mãe, Francisca Guimarães Rosa, chamada D. Chiquitinha, tiveram outros cinco filhos. Cordisburgo, conta Vilma, filha de Rosa, “era a linha reta de uma rua, poucas casas muito simples, a pequenina igreja, um céu puro, muito azul. E a vastidão dos campos a se estender, sem limites visíveis."

O menino Joãozito
Menino Joãozito
Quando criança, seus prazeres encontrava estudando sozinho, brincando de geografia, colecionando insetos, e lendo. Adulto, dirá que gostaria de escrever “um pequeno tratado para meninos quietos”.

“Mas tempo bom de verdade, só começou com a conquista de algum isolamento, com a segurança de poder fechar-me num quarto e trancar a porta. Deitar no chão e imaginar estórias, poemas, romances, botando todo mundo conhecido como personagem, misturando as melhores coisas vistas e ouvidas...”

Foi o Dr. José Lourenço, do Curvelo, quem descobriu a miopia do garoto. Situação relatada mais tarde na novela “Campo Geral”, na estória do   menino Miguilim. Só em Belo Horizonte, aos 9 anos, Rosa começará a usar óculos.

Seu tio, Vicente Guimarães, dois anos apenas mais velho que ele, lembra de Rosa como um “menino diferente: sossegado, caladão, calmo, observador, singelo. Lia muito...”

E conta, de que modo ele lia, ritmando a leitura, num hábito que conservará por toda a vida:
“Sua posição predileta para a leitura era sentado no chão, de pernas cruzadas, a modos de Buda, com o livro aberto sobre as pernas, curvado até bem próximo deste e com dois pauzinhos nas mãos, batendo sobre as páginas, ora um, depois o outro, compassadamente, em ritmo variado, ligeiro ou mais lento, conforme na leitura se movesse o pensamento.”

João Guimarães Rosa  em 1930.
(Foto: Acervo Nova Fronteira)
Com sete anos incompletos, em 1915, já sabendo ler, inicia seus estudos primários na escola de Mestre Candinho. Começa a estudar francês quando ganha de um viajante, amigo de seu pai, uma gramática e um dicionário para ler revistas francesas que chegavam à cidade. Estudava línguas – dirá ele - para não me afogar inteiramente na vida do interior. Quanto a seu poliglotismo, assim irá defini-lo mais tarde:

“Falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituânio, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do checo, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração.”
- trecho de carta-entrevista para sua prima Lenice Guimarães de Paula Pitanguy.

Seus primeiros textos foram jornais feitos à mão, escritos quase sempre em folhas de papel de embrulho da loja do pai, sendo ele o diretor e único redator. Cada número trazia artigo, conto, noticiário, seção humorística e critica de costumes sociais. Nenhum exemplar foi guardado. Também escrevia cartas para os irmãos, com charadas cheias de logogrifos, desenhos hieroglíficos que irá manter por toda a vida, dando futuramente as indicações para Poty, o ilustrador de seus livros.

“Desde menino, muito pequeno, eu brincava de imaginar intermináveis estórias, verdadeiros romances; quando comecei a estudar Geografia – matéria de que sempre gostei – colocava os personagens e cenas nas mais variadas cidades e países. Mas, escrever mesmo, só comecei foi em 1929, com alguns contos, que naturalmente, não valem nada. Até essa ocasião (21 anos), eu só me interessava, e intensamente, pelo estudo, da Medicina e da Biologia.”

Seus contos, que “não valiam nada”, lhe valeram o prêmio em dinheiro e a publicação na Revista O Cruzeiro, em 1929.

"... nós, os homens do sertão, somos fabulistas por natureza. Está no nosso sangue narrar estórias; já no berço recebemos esse dom para toda a vida. Desde pequenos, estamos constantemente escutando as narrativas multicoloridas dos velhos, os contos e lendas, e também nos criamos em um mundo que às vezes pode se assemelhar a uma lenda cruel. Deste modo a gente se habitua, e narra estórias que corre por nossas veias e penetra em nosso corpo, em nossa alma, porque o sertão é a alma de seus homens (...) Eu trazia sempre os ouvidos atentos, escutava todo o que podia e comecei a transformar em lenda o ambiente que me rodeava, porque este, em sua essência, era e continua sendo uma lenda."
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".


Estudos, família e viagens
Desde que sai de seu vilarejo natal, Cordisburgo, por volta dos 10 anos de idade, para ir estudar em Belo Horizonte e morar com os avós, Rosa não para mais. Termina o curso primário no Grupo Escolar Afonso Pena. Em 1919, vai para o Colégio Santo Antônio, em São João d'el Rei, uma escola de frades franciscanos, mas de lá logo sai, pois não se acostuma com as refeições locais. De volta a Belo Horizonte, matricula-se no Colégio Arnaldo, de padres alemães.

Guimarães Rosa e a filha Vilma
Em 1925, aos 16 anos, matricula-se na Faculdade de Medicina, formando-se em 1930, e encerrando os estudos como o orador da turma. Nesse mesmo ano, casa-se com Lígia Cabral Penna, com quem terá duas filhas, Vilma e Agnes. Estabelece-se em Itaguara, e inicia sua carreira de médico no interior do Estado. Participa como voluntário da revolução Constitucionalista de 1932, e depois ingressa como oficial médico do 9º Batalhão de Infantaria, em Barbacena. De 1933 a 1935, trabalha no Serviço de Proteção ao Índio. O caminho chegaria ao Rio de Janeiro em 1934, onde presta concurso no Itamarati. Daí sairia para o mundo como diplomata. Em 1938, é nomeado Cônsul Adjunto em Hamburgo, e segue para a Europa. Lá conhece Aracy Moebius de Carvalho (Ara), que virá a ser sua segunda mulher. Desquita-se de Lígia, em 1942. Quem conta é sua filha Vilma:
“Papai havia conhecido dona Aracy Moebius de Carvalho em Hamburgo. Ela era funcionária graduada, no consulado. Papai e dona Aracy se casaram pelas leis de outro país, e também mamãe, com o advogado Arthur Auto Nery Cabral...”

João Guimarães Rosa e Aracy Moebius de Carvalho em Hamburgo.
 (Foto Acervo Família Tess)
O rol de viagens continua por toda a sua vida, passando por Bogotá, Paris, viagens pelo Brasil (Mato Grosso, Pantanal e o sertão das Gerais) até chegar, em 1962, a chefe do Serviço de Demarcação de Fronteiras. Sobre este cargo, ele comenta: agora me ocupo de problemas de limites de fronteiras e por isso vivo muito mais limitado”.

O MÉDICO
Guimarães Rosa ingressou na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte (hoje Faculdade de Medicina da UFMG) com 17 anos incompletos. Em 1926, quando cursava o 2º ano, pronunciou, no anfiteatro da Faculdade, diante do ataúde de um estudante vitimado pela febre amarela, as palavras “As pessoas não morrem, ficam encantadas”, que, ouvidas na ocasião por seus colegas Alysson de Abreu e Ismael de Faria, seriam repetidas, 41 anos depois, quando de sua posse na Academia Brasileira de Letras.

João Guimarães Rosa [Acervo Família Tess]
Graduou-se em 1930 e, escolhido orador da turma,chamou a atenção dos doutorandos para a necessidade de uma prática médica impregnada de humanismo. Recém-formado, clinicou, durante cerca de um ano e meio, em Itaguara; em abril de 1933, após ter participado, como médico voluntário da Força Pública, da Revolução Constitucionalista, transferiu-se para Barbacena, na condição de Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria. Em Barbacena, concluiu que deveria abandonar a Medicina, deixando clara sua intenção em carta datada de 20 de mar. 1934, enviada ao amigo Pedro Moreira Barbosa:

“Não nasci para isso, penso. Não é esta, digo como dizia Don Juan, sempre ‘après avoir couché avec...’ Primeiramente, repugna-me qualquer trabalho material – só posso agir satisfeito no terreno das teorias, dos textos, do raciocínio puro, dos subjetivismos. Sou um jogador de xadrez – nunca pude, por exemplo, com o bilhar ou com o futebol.”

Mas, mesmo abraçando a carreira diplomática – prestou concurso para o Itamaraty em meados de 1934 –, abordou, com maestria, em sua obra literária, temas médicos como a malária (“Sarapalha”), a doença mental (“Soroco, sua mãe, sua filha”), o acidente ofídico (“Bicho mau”) e a miopia (“Campo geral”).


“Fui médico, rebelde e soldado [...] Como médico, conheci o valor místico do sofrimento; como rebelde, o valor da consciência; como soldado, o valor da proximidade da morte..."
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".

O DIPLOMATA
Guimarães Rosa e Aracy no Consulado em Hamburgo.
 (Foto Acervo Família Tess)
Em 11 de julho de 1934, Rosa é nomeado cônsul de 3ª classe e, ao final de 1937, é promovido a cônsul de 2ª classe. Com esse cargo chega ao consulado de Hamburgo em 1938, onde permanece até 1942. Durante o período em que esteve na Alemanha, aproveitou para conhecer vários países europeus. Em carta para os pais, escrita de Hamburgo, em 16 de maio de 1938, o escritor revela aspectos de suas primeiras impressões da cidade:

“Quanto a Hamburgo, suas bellezas e sua alegria de vida são indiziveis!
Mesmo eu, que já tinha lido dezenas de livros sobre a Allemanha, que já
convivi com allemães, que já tinha conversado, principalmente nas vesperas
da viagem, com funccionarios do Ministerio vindos da terra germanica, mesmo
eu, repito, não tinha uma idéia verdadeira do que era isto! E a minha
imaginação, que não é das mais fracas, foi batida e humilhada: a Allemanha
é qualquer coisa de formidavel! Bellezas naturaes, ordem, limpeza, trabalho,
vida, alegria. Principalmente, todos aqui se divertem. Ninguem se incommoda
com os actos e as vestimentas dos demais. Ninguem receia o ridículo. (...)
Todos cantam, dançam (...), dirigem a palavra, amigavelmente, aos desconhecidos, estabelecendo a cordialidade e communicabilidade instantaneas.”


João Guimarães Rosa e a Segunda Guerra Mundial
João Guimarães Rosa
Guimarães Rosa foi Cônsul Adjunto em Hamburgo, na Alemanha, durante a guerra, por várias vezes escapou da morte; ao voltar para casa, uma noite, só encontrou escombros. Ademais, embora consciente dos perigos que enfrentava, ajudou D. Aracy, então sua esposa e chefe da seção de passaportes do consulado a proteger e salvar a vida de muitos judeus perseguidos pelo Nazismo, fornecendo-lhes vistos de entrada para o Brasil, sem mencionar a religião do portador.

“um diplomata é um sonhador e por isso pude exercer bem essa profissão. O diplomata acredita que pode remediar o que os políticos arruinaram. Por isso agi daquela forma e não de outra. E também por isso gosto muito de ser diplomata. E agora o que houve em Hamburgo é preciso acrescentar mais alguma coisa. Eu, o homem do sertão, não posso presenciar injustiças. No sertão, num caso desses imediatamente a gente saca o revólver, e lá isso não era possível. Precisamente por isso idealizei um estratagema diplomático, e não foi assim tão perigoso."
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".

Em reconhecimento a essa atitude João Guimarães Rosa e  a sua mulher D. Aracy, foram homenageados em Israel, em abril de 1982, com a mais alta distinção que os judeus prestam a estrangeiros: o nome do casal foi dado a um bosque que fica ao longo das encostas que dão acesso a Jerusalém. A concessão da homenagem foi precedida por pesquisas rigorosas com tomada de depoimentos dos mais distantes cantos do mundo onde existem sobreviventes do Holocausto. Foi à forma encontrada pelo governo israelense para expressar sua gratidão àqueles que se arriscaram para salvar judeus perseguidos pelo Nazismo por ocasião da 2ª Guerra Mundial.
D. Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, em Israel.
Os vistos eram proibidos pelo governo brasileiro e pelas autoridades nazistas, exceto quando o passaporte mencionava que o portador era católico. Sabendo disso, a mulher do escritor, D. Aracy, que preparava todos os papéis, conseguia que os passaportes fossem confeccionados sem mencionar a religião do portador e sem a estrela de Davi que os nazistas pregavam nos documentos para identificar os judeus. Nos arquivos do Museu do Holocausto, em Israel, existe um grosso volume de depoimentos de pessoas que afirmam dever a vida ao casal Guimarães Rosa. Segundo D. Aracy, que compareceu a Israel por ocasião da homenagem, seu marido sempre se absteve de comentar o assunto já que tinha muito pudor de falar de si mesmo. Apenas dizia: "Se eu não lhes der o visto, vão acabar morrendo; e aí vou ter um peso em minha consciência."


"Queria acrescentar que também configuram meu mundo a diplomacia, o trato com cavalos, vacas, religiões e idiomas."
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".

Guimarães Rosa - e o Serviço Demarcação de Fronteiras
"E agora me ocupo de problemas de limites de fronteiras e por isso vivo muito mais limitado."
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".

Sobre o trabalho de Rosa na Divisão de Fronteiras do Itamaraty e na criação de territórios mágicos do sertão, Celso Lafer afirma:
“Sua capacidade ímpar de utilizar-se de registros lingüísticos diversos era, no plano literário, o correlato perfeito daquele que é o primeiro item de qualquer agenda diplomática, ou seja, a fixação das fronteiras, base da especificidade da política externa que pressupõe uma diferença entre o “interno” (o espaço nacional) e o “externo” (o mundo). Ele traduzia, assim, em sua literatura um dos princípios fundamentais da diplomacia brasileira, uma linha de ação voltada para transformar nossas fronteiras de clássicas fronteiras-separação em modernas fronteiras-cooperação.”
- LAFER, "O Itamaraty na cultura brasileira", p. 22.


A política
"A política é desumana, porque dá ao homem o mesmo valor que uma vírgula em uma conta. Eu não sou um homem político, justamente porque amo o homem. Deveríamos abolir a política."
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".


"Talvez eu seja um político, mas desses que só jogam xadrez, quando podem fazê-lo a favor do homem. Ao contrário dos “legítimos” políticos, acredito no homem e lhe desejo um futuro. Sou escritor e penso em eternidades. O político pensa apenas em minutos. Eu penso na ressurreição do homem."

- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".



As vacas e os cavalos
João Guimarães Rosa, na viagem ao Sertão Mineiro, em 1952.
Foto: Eugênio Siva/revisto 'O Cruzeiro'.
"... não se esqueça de meus cavalos e de minhas vacas. As vacas e os cavalos são seres maravilhosos. Minha casa é um museu de quadros de vacas e cavalos. Quem lida com eles aprende muito para sua vida e a vida dos outros. Isto pode surpreendê-lo, mas sou meio vaqueiro, e como você também é algo parecido com isto, compreenderá certamente o que quero dizer. Quando alguém me narra algum acontecimento trágico, digo-lhe apenas isto: “Se olhares nos olhos de um cavalo, verás muito da tristeza do mundo!” Eu queria que o mundo fosse habitado apenas por vaqueiros. Então tudo andaria melhor."
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".



O ESCRITOR
A boiada
"Creio que será uma excursão interessante e proveitosa, que irei fazer de cadernos abertos e lápis em punho, para anotar tudo o que possa valer, como fornecimento da cor local, pitoresco e exatidão documental, que são coisas muito importantes na literatura moderna."
- João Guimarães Rosa, em carta ao pai, 6 nov.1945.

"Você conhece os meus cadernos, não conhece? Quando eu saio montado num cavalo, por Minas Gerais, vou tomando nota de coisas. O caderno fica impregnado de sangue de boi, suor de cavalo, folha machucada. Cada pássaro que voa, cada espécie, tem vôo diferente. Quero descobrir o que caracteriza o vôo de cada pássaro, em cada momento."  

“(...) Chico, saudades daí tenho sempre. Como vão todos? (...)
E na Sirga? Como vai o pessoal de lá? Estou sempre me lembrando deles, dos
Guimarães Rosa, na viagem ao Sertão Mineiro, em 1952.
Foto: Eugênio Siva/revisto 'O Cruzeiro'.
bons companheiros. O papagaio está gordo e alegre, magnífico. Aprendeu muita conversa carioca, mas não se esqueceu do repertório sertanejo: canta, chora como menino pequeno, e sabe chamar as vacas, com notável entusiasmo – o que faz, sem falta, todas as madrugadas!
Agora, Chico, o forte abraço do primo e amigo Joãozito.”
- João Guimarães Rosa, em Carta a Chico Moreira, 06 out. 1952.

A língua e a metafísica
"...o aspecto metafísico da língua, que faz com que minha linguagem antes de tudo seja minha. (...) Meu lema é: a linguagem e a vida são uma coisa só. Quem não fizer do idioma o espelho de sua personalidade não vive; e como a vida é uma corrente contínua, a linguagem também deve evoluir constantemente. Isto significa que, como escritor, devo me prestar contas de cada palavra e considerar cada palavra o tempo necessário até ela ser novamente vida. O idioma é a única porta para o infinito, mas infelizmente está oculto sob montanhas de cinzas."
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".


O sentimento religioso, transcendente, presente na obra rosiana não implica dogmatismo: Muita religião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio., diz o narrador Riobaldo, em Grande Sertão: veredas. Fala semelhante encontra-se no que o próprio Rosa afirma como sendo seu “credo” pessoal:

"Eu não sei o que sou. Posso bem ser cristão de confissão sertanista, mas também pode ser que eu seja taoísta à maneira de Cordisburgo, ou um pagão crente à la Tolstói. No fundo, tudo isto não é importante. É um assunto poético e a poesia se origina da modificação de realidades linguísticas.Eu quero tudo: o mineiro, o brasileiro, o português, o latim, talvez até o esquimó e o tártaro. Queria a linguagem que se falava antes de Babel."
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".


Em longa carta, de 11 de maio de 1947, para Vicente Guimarães, escreve:
"A língua portuguesa, aqui no Brasil, está uma vergonha e uma miséria. Está descalça e despenteada;.... É preciso distendê-la, destorcê-la, obrigá-la a fazer ginástica, desenvolver-lhe músculos. Dar-lhe precisão, exatidão, agudeza, plasticidade, calado, motores. E é preciso refundi-la no tacho, mexendo muitas horas. ... A nossa literatura, com poucas exceções, é um valor negativo, um cocô de cachorro no tapete de um salão. Naturalmente palavrosos, piegas, sem imaginação criadora, imitadores, ocos, incultos, apressados, preguiçosos, vaidosos, impacientes, não cuidamos da exatidão...... Quem pode, deve preparar-se, armar-se, e lutar contra esse estado de coisas. É uma revolução branca, uma série de golpes de estado."


Em carta a João Condé, de 1946:
"De certo que eu amava a língua. Apenas, não a amo como a mãe severa, mas como a bela amante e companheira... Mas ainda haveria mais, se possível...: além, dos estados líquidos e sólidos, porque não tentar trabalhar a língua também em estado gasoso?"

"Cada língua guarda em si uma verdade interior que não pode ser traduzida."


João Guimarães Rosa
O contista
Em entrevista a Günter Lorenz "Dialogo com Guimarães Rosa":

"...retornei à “saga”, à lenda, ao conto simples, pois quem escreve estes assuntos é a vida e não a lei das regras chamadas poéticas."

"Naturalmente digo isso, porque é um dado biográfico, pois não aconteceu que, um belo dia, eu simplesmente decidisse me tornar escritor; isto só fazem certos políticos. Não, veio por si mesmo; cresceu em mim o sentimento, a necessidade de escrever e, tempos depois, convenci-me de que era possuidor de uma receita para fazer verdadeira poesia."

"... sou um contista de contos críticos. Meus romances e ciclos de romances são na realidade contos nos quais se unem a ficção poética e a realidade."

"Escrevo, e creio que este é o meu aparelho de controle: o idioma português, tal como o usamos no Brasil; entretanto, no fundo, enquanto vou escrevendo, eu traduzo, extraio de muitos outros idiomas. Disso resultam meus livros, escritos em um idioma próprio, meu, e pode-se deduzir daí que não me submeto à tirania da gramática e dos dicionários dos outros."

"...sobre minha relação com a língua. É um relacionamento familiar, amoroso. A língua e eu somos um casal de amantes que juntos procriam apaixonadamente, mas a quem até hoje foi negada a bênção eclesiástica e científica. Entretanto, como sertanejo, a falta de tais formalidades não me preocupa. Minha amante é mais importante para mim."

"Não preciso inventar contos, eles vêm a mim, me obrigam a escrevê-los."

"Os livros nascem, quando a pessoa pensa; o ato de escrever já é a técnica e a alegria do jogo com as palavras."

"Quem cresce em um mundo que é literatura pura, bela, verdadeira, real deve algum dia começar a escrever, se tiver uma centelha de talento para as letras."

Quando escreveu Grande Sertão: veredasrevela em carta ao amigo Silveirinha, o embaixador Antonio Azeredo da Silveira:
"Eu passei dois anos num túnel, um subterrâneo, só escrevendo, só escrevendo eternamente. Foi uma experiência transpsíquica, eu me sentia um espírito sem corpo, desencarnado - só lucidez e angústia."


O sertão
Guimarães Rosa, na viagem ao Sertão Mineiro, em 1952.
Foto: Eugênio Siva/revisto 'O Cruzeiro'.
"...no sertão fala-se a língua de Goethe, Dostoievski e Flaubert, porque o sertão é o terreno da eternidade, da solidão, onde Inneres und Ausseres sina nicht mehr zu trennen, segundo o Westöstlicher Divon . No sertão, o homem é o eu que ainda não encontrou um tu; por isso ali os anjos ou o diabo ainda manuseiam a língua. O sertanejo, (...) “perdeu a inocência no dia da criação e não conheceu ainda a força que produz o pecado original.”
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".


"No sertão, cada homem pode se encontrar ou se perder. As duas coisas são possíveis. Como critério, ele tem apenas sua inteligência e sua capacidade de adivinhar."
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".


Os rios
"Escrevendo, descubro sempre um novo pedaço de infinito. Vivo no infinito; o momento não conta. Vou lhe revelar um segredo: creio já ter vivido uma vez. Nesta vida, também fui brasileiro e me chamava João Guimarães Rosa. Quando escrevo, repito o que vivi antes. E para estas duas vidas um léxico apenas não me é suficiente. Em outras palavras: gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. O crocodilo vem ao mundo como um magister da metafísica, pois para ele cada rio é um oceano, um mar da sabedoria, mesmo que chegue a ter cem anos de idade. Gostaria de ser um crocodilo, porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma do homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como os sofrimentos dos homens. Amo ainda mais uma coisa de nossos grandes rios: sua eternidade. Sim, rio é uma palavra mágica para conjugar eternidade."
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".



CRONOLOGIA DA VIDA E OBRA DE JOÃO GUIMARÃES ROSA
1908 - No dia 27 de junho, em Cordisburgo, pequeno vilarejo de Minas Gerais, nasce o futuro diplomata-romancista, uma pessoa marcada por forte religiosidade e misticismo. Primeiro dos seis filhos de Floduardo Pinto Rosa e Francisca Guimarães Rosa.
1918 - O menino prodígio, que já conhece a língua francesa e holandesa, inicia seus estudos em uma escola de Belo Horizonte, Minas Gerais. Em seus momentos de lazer, escreve inúmeras cartas em forma de logogrifos e charadas.
1925 - Aos 16 anos, ingressa na Faculdade de Medicina. Durante esse período de estudos universitários, o jovem estudante conquista diversos prêmios com seus contos, entre os quais se destaca "Chronos Kai Anagke", a misteriosa história de um enxadrista que conclui um pacto com o demônio para receber... um prêmio - o tema do pacto será retomado em Grande sertão: veredas, romance que, por sua vez, receberá... diversos prêmios.
1928  Em 27 de dezembro é nomeado para o cargo de Agente Itinerante da Diretoria do Serviço de Estatística Geral do Estado de Minas Gerais/ Secretaria da Agricultura.
1929 – Tomando posse em 03 de janeiro, no cargo de Agente Itinerante da Diretoria do Serviço de Estatística Geral do Estado de Minas Gerais/ Secretaria da Agricultura, percebendo o salário anual de quatro contos e oitocentos mil-réis. E em 7 de dezembro, publica o conto “Mistério de Highmore Hall” na revista O Cruzeiro, que fora selecionado em concurso promovido pelo mesmo periódico.
1930 – Em 9 de fevereiro, publica o conto “Maquiné” no suplemento dominical de O jornal; - Em 27 de março, é designado para Auxiliar Apurador da Diretoria do Serviço de Estatística Geral do Estado de Minas Gerais/ Secretaria da Agricultura, em caráter de substituição; - Em 21 de junho, publica, na revista O Cruzeiro, o conto “Chronos Kai Anagke (Tempo e destino)", “a mais extraordinária história de xadrez já explicada aos adeptos e não-adeptos do tabuleiro, num conto de João Guimarães Rosa”; No dia 27 de junho, casa-se com Lygia Cabral Penna; Dia 12 de julho, publica, na revista O Cruzeiro, o conto “Caçadores de camurças”. E em 21 de dezembro, forma-se em Medicina, pela Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, tendo sido o orador da turma. Nesse ano, Getúlio Vargas comanda a célebre Revolução que muda radicalmente o destino nacional e marca o espírito de uma geração de brasileiros.
1931 - Em 5 de fevereiro, solicita extração e registro do diploma de médico e inicia a carreira de médico em Itaguara, município de Itaúna (MG). No dia 5 de junho, nasce Vilma, primeira filha de JGR e Lygia Cabral Penna.
1932 - É nomeado para o cargo de Inspetor da Secretaria da Educação e Saúde Pública, no distrito de Itaguara, município de Itaúna (MG), em 28 de abril. Neste ano atua como voluntário da Força Pública, durante a Revolução Constitucionalista, indo servir no setor do Túnel.
1933 - Entra para a Força Pública, por concurso, integrando como Oficial-Médico o 9º Batalhão de Infantaria, sediado em Barbacena (MG). Aprende o russo e o japonês. Em companhia de Geraldo França de Lima, Rosa sonha com as cerimônias de gala da prestigiosa Academia Brasileira de Letras, à época, um prestigioso reduto de intelectuais.
1933 a1935 - Trabalha no Serviço de Proteção ao Índio.
1934 – No dia 17 de janeiro nasce Agnes, a segunda filha de JGR e Lygia Cabral Penna. Em abril, solicita documento de reservista do Serviço Militar, a fim de prestar concurso para o Ministério das Relações Exteriores. E em maio, é nomeado para o cargo de Capitão-Médico do Serviço de Saúde da Força Pública do Estado de Minas Gerais, com vencimentos anuais de 10:200$000. No dia 6 de julho, presta concurso para o Itamarati, sendo aprovado em segundo lugar, graças ao leque de conhecimentos de Rosa que é vasto: do Direito à Geografia, da Filosofia à Botânica. Nomeado Cônsul de Terceira Classe, ingressando então na carreira diplomática, no dia 11 de julho.
1936 - Participa e recebe o primeiro lugar no concurso de poesia da Academia Brasileira de Letras, com o volume de poesias Magma.
João Guimarães Rosa
1937 - Escreve os contos de Sagarana e concorre ao Prêmio Humberto de Campos, da Livraria José Olympio, obtendo o segundo lugar. Nota de pesquisa: O título original do volume inscrito no concurso era Contos; continha 12 histórias. Pseudônimo de JGR: Viator.
1938 - É nomeado Cônsul-Adjunto em Hamburgo, onde conhece sua segunda esposa, Aracy Moebius de Carvalho. Ajudam a salvar dezenas de judeus do extermínio nazista.
1941 - Em 20 de maio, vai a Lisboa na qualidade de correio diplomático da Embaixada do Brasil em Berlim.
1942 - De 28 de janeiro a 23 de maio, é internado, junto com Cícero Dias e Cyro de Freitas Vale, em Baden-Baden, em conseqüência da ruptura de relações entre o Brasil e a Alemanha. E no dia 1 de julho é enviado para a Embaixada em Bogotá, como Segundo Secretário.
1944 - Em junho volta ao Rio de Janeiro, para a Secretaria de Estado.
1945 - Viaja a Cordisburgo e Paraopeba, com o Dr. Pedro Barbosa. Em 25 de outubro, torna-se Sócio Titular da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro.
1946 – Publica Sagarana, coletânea de contos que recebe o Prêmio Felipe de Oliveira. Consagração literária. O escritor afirma ter escrito certos contos em estado de transe hipnótico, mediúnico - semeia-se o enigma; - Em 19 de maio, José César Borba publica no Correio da manhã (Rio de Janeiro), entrevista de JGR; - Em 26 de maio, Ascendino Leite publica, em O jornal (Rio de Janeiro), reportagem sobre JGR; - É nomeado Chefe de Gabinete do Ministro João Neves da Fontoura. Enviado a Paris como Secretário da delegação brasileira à Conferência de Paz.
1947 - Em carta a seu tio Vicente Guimarães, Rosa anuncia o início de uma "guerra literária"; - Recebe o Prêmio da Sociedade Felipe d’Oliveira, com Sagarana; - Viaja ao pantanal mato-grossense – Nota de pesquisa: Dessa viagem resulta “Com o Vaqueiro Mariano”, publicado no Correio da manhã, de 26 de outubro de 1947 a 7 de março de 1948.
1948 - Segue para Bogotá, em 19 de março, como Secretário-Geral da delegação brasileira à IX Conferência Pan-Americana. E no dia 10 de dezembro é nomeado Primeiro Secretário da Embaixada do Brasil em Paris.
1949 - É promovido a Conselheiro da Embaixada do Brasil em Paris.
1951 - É promovido a Ministro de Segunda Classe. No dia 29 de março, volta ao Brasil e é, novamente, nomeado Chefe de Gabinete do Ministro João Neves da Fontoura. Em 10 de novembro é aceito como Sócio Efetivo da Sociedade Brasileira de Geografia, antiga Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro.
1952 – Em Maio, viaja a Sirga, fronteira de Minas Gerais com a Bahia, acompanhando uma boiada, com Manuelzão; - Viaja à Bahia, com Assis Chateaubriand; e publica em edição restrita, Com o Vaqueiro Mariano.
1953 - É nomeado Chefe da Divisão de Orçamento do Ministério das Relações Exteriores.
1954 - Getúlio Vargas executa a corajosa decisão de escolher o momento para sua travessia final: "Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História."
1956 - Publicação de Corpo de Baile e Grande sertão: veredas. São 1.400 páginas impecáveis publicadas em um único ano. O romancista declara que concluiu sua obra prima em três dias e duas noites, em estado de possessão, sem dormir. O romance recebe três grandes: “Machado de Assis”, Instituto Nacional do Livro; “Carmen Dolores Barbosa”, São Paulo; “Paula Brito”, Municipalidade do Rio de Janeiro.
1957 - Rosa candidata-se à Academia, mas é preterido na eleição. 
1958 - É nomeado Embaixador por seu amigo e conterrâneo Juscelino Kubitschek.
1960 a 1961 – Publica, na página literária de O globo, uma série de narrativas, que depois formariam o livro Primeiras estórias.
1961 - Recebe o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra. Publicação de poemas sob os pseudônimos anagramáticos de Soares Guiamar, Sá Araújo Segrim e Meuriss Aragão. Sob forma de logogrifos, o conjunto de seus personagens traz nomes que sugerem desdobramentos ficcionais do próprio autor: Moimeichego (moi-me-ich-ego), Rosendo, Dona Rosalina, Orósio, João Porém... Neste ano é publicado em Portugal pela Ed. Livros do Brasil, o livro Sagarana. E na França, é traduzido parte de Corpo de baile, sob o título Buriti, Editions du Seuil, tradução de J. J. Villard.
1962 - Publica Primeiras estórias; - É traduzida, na França, a segunda parte de Corpo de baile, sob o título Les nuits du sertao, Editions du Seuil, tradução e nota de J. J. Villard. E assume, no Itamarati, a Chefia do Serviço de Demarcação de Fronteiras.
João Guimarães Rosa e seus gatos
1963 - Candidata-se, pela segunda vez, à Academia Brasileira de Letras, na vaga de João Neves da Fontoura, e visita acadêmicos, em campanha eleitoral, firmemente decidido a obter vitória. É eleito, em 08 de agosto, por unanimidade, membro da Academia Brasileira de Letras. Misteriosamente, começa a adiar, sine die, a cerimônia de posse; - É traduzida, na Itália, parte de Sagarana, sob o título Il duelo, Nuova Accademia Editrice, tradução de Edoardo Bizzarri e P. A. Jannini, apresentação de P. A. Jannini; - E nos Estados Unidos, é traduzido Grande sertão: veredas, sob o título The devil to pay in the Backlands, Alfred A. Knopf, tradução de James L. Taylor e Harriet de Onis, prefácio de Jorge Amado, “The place of Guimarães Rosa in Brazilian Literature”. Neste ano ainda é premiado pelo livro Primeiras estórias pelo Pen Club Brasileiro.
1964 - É traduzido, na Alemanha, Grande sertão: veredas, sob o título Grande sertão, Kiepenheuer & Witsch, tradução de Curt Meyer-Clason, com quem Rosa, troca intensa correspondência, pois deseja fazer dessa versão uma matriz para futuras traduções em outros idiomas. - É editada, em Portugal, parte de Corpo de baile, sob o título Miguilim e Manuelzão, Ed. Livros do Brasil.
1965 - É adaptado para o cinema Grande sertão: veredas, sob o título Grande sertão, adaptação, produção e direção de Geraldo Renato Santos Pereira. Neste ano, é traduzido, na França, Grande sertão: veredas, sob o título Diadorim - Le diable dans la rue, au milieu du tourbillon, Editions Albin Michel, tradução de J. J. Villard; O conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, com o mesmo título, é adaptado para o cinema com produção e direção de Roberto Santos.
1965 a 1967 - Colabora no jornal Pulso, até 1967, quando recolhe sua produção para editar em livro: Tutaméia.
1966 - Recebe do governador Israel Pinheiro a Medalha da Inconfidência; - É traduzido, na Tchecoslováquia, o conto “A terceira margem do rio”, Svetová Literatura, Ed. Odeon, tradução de Pavla Lidmilova. E em 2 de dezembro, recebe a condecoração da Ordem de Rio Branco. Meyer-Clason anuncia o fim próximo da tradução do conjunto da obra, espaçando-se a correspondência entre ambos. O romancista fixa, por fim, a data da cerimônia de posse da Academia Brasileira de Letras. Estranhamente, o dia escolhido é uma quinta-feira, 16 de novembro de 1967 - no fim do ano seguinte.
1967 – Em abril, vai ao México, representando o Brasil no II Congresso Latino-Americano de Escritores, no qual atua como vice-presidente, até apresentar renúncia motivada pelas críticas feitas pelos delegados de Cuba e do Panamá ao governo dos Estados Unidos. Pronuncia seu único discurso em castelhano. Em julho, publica Tutaméia ("tudo meu"), uma forma de guia de leitura para o conjunto da obra, segundo Assis Brasil. Em julho é adaptado para teatro o conto “Conversa de bois”, sob o título Boi de carro, apresentado pelo Teatrinho Chique-Chique (BA), no II Festival de Marionetes e Fantoches da Guanabara; - Integra a comissão julgadora do II Concurso Nacional de Romance Walmap. Em outubro, elabora, como membro do Conselho Federal de Cultura, extenso pronunciamento sobre o acordo ortográfico. É traduzido, na Espanha, Grande sertão: veredas, sob o título Gran sertón: veredas, Editorial Seix Barral, tradução, nota e glossário de Angel Crespo. Na quinta-feira, 16 de novembro, dia da cerimônia de posse na Academia Brasileira de Letras, adiada durante quatro anos. E no domingo, 19 de novembro, terceiro dia após a cerimônia de consagração literária, falece em sua casa, no Rio de Janeiro.
1968 - É publicado o volume Em Memória de João Guimarães Rosa, pela Editora José Olympio.
1969 - Publica-se, postumamente, Estas estórias.
1970 - Publica-se, postumamente, Ave, palavra.
1997 - Publica-se, postumamente, Magma.


"... às vezes quase acredito que eu mesmo, João,
sou um conto contado por mim mesmo. É tão imperativo..."
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".


João Guimarães Rosa (Foto Acervo Família Tess)

OBRAS DE JOÃO GUIMARÃES ROSA – PRIMEIRAS EDIÇÕES
1936 - Magma [poemas] – Sua primeira obra, com o qual obteve o prêmio da Academia Brasileira de Letras. O livro fica inédito, sendo publicado somente em 1997, pela Editora Nova Fronteira, anos após a morte do autor.
1946 - Sagarana [contos] – O seu livro de estréia literária, um marco da nossa literatura. Publicado pela Editora Universal.
1947/48 - Com o Vaqueiro Mariano. Publica em formato de reportagem poética, no jornal Correio da Manhã, Rio de Janeiro. Reunido posteriormente no livro “Estas Estórias”.
1956 - Corpo de Baile [novelas] - (Em 1956, lança as novelas de Corpo de Baile, em dois volumes (824 páginas). A partir da 3ª edição o livro se desdobra em três: Manuelzão e Miguilim, no Urubùquaquá, no Pinhém e Noites do Sertão..). Publicado pela Livraria José Olympio Editora, com ilustrações de Poty.
1964 - Manuelzão e Miguilim.
1965 - No Urubuquaquá, no Pinhém.
1965 - Noites do sertão.
1956 - Grande Sertão: Veredas [romance]. Com a qual obtém a consagração definitiva na literatura. Publicado pela Livraria José Olympio Editora, com ilustrações de Poty.
1962 - Primeiras Estórias [contos] Publicado pela Livraria José Olympio Editora, com ilustrações de Poty.
1967 - Tutaméia: Terceiras Estórias [contos] - Publicado pela Livraria José Olympio Editora, com ilustrações de Poty.
1969 - Estas Estórias [contos] - publicação póstuma. Publicado pela Livraria José Olympio Editora, com ilustrações de Poty.
1970 - Ave, Palavra [miscelânea] – publicação póstuma. Publicado pela Livraria José Olympio Editora, com ilustrações de Poty.


"Eu aprecio minhas coisas como se elas não fossem minhas. Às vezes eu pego uma coisa minha e digo ‘está bom, está bom’, como sendo de outro autor. Eu gosto até de elogiá-las porque aquilo não sou eu. Houve tanto caminho, tanta mistura, tanta duração que eu depois sinto a coisa como se não tivesse ligação direta comigo. […] e depois lendo calmamente o queescrevi aprendo coisas a meu respeito me lendo."
- João Guimarães Rosa, em 'Entrevista' a Fernando Camacho.


CADERNETAS E DIÁRIOS 
João Guimarães Rosa, por (...)
Da caderneta de Zito. Arquivo IEB/USP. Fundo Guimarães Rosa. Cx 10, doc 2. (55 pg.), 14 envelopes.
Diário alemão. Fundo Henriqueta Lisboa. Acervo de Escritores Mineiros da UFMG.
Diário de viagem realizada pela Itália em 1950. Caderneta nº 4. Título: caderneta: Itália, 1950 – I.
A senhora dos segredos. Arquivo IEB/USP. Fundo Guimarães Rosa. Cx. 11, 34(4), env. 1/1 (4).
A boiada 1. Documento inédito, datilografado, 80 páginas, Pasta E28. Arquivo Guimarães Rosa, Instituto de Estudos Brasileiros/USP, [19--].
A boiada 2. Documento inédito, datilografado, 78 páginas, Pasta E29. Arquivo Guimarães Rosa, Instituto de Estudos Brasileiros/USP, [19--].

“Comigo as coisas não tem hoje e ant’ontem amanhã: é sempre. (...) O senhor por ora mal me entende, se é que no fim me entenderá. Mas a vida não é entendível.”
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: veredas".


CARTAS E OFÍCIOS 
Carta aos pais. Hamburgo, 16 de maio de 1938. In: ROSA, Vilma Guimarães. Relembramentos: João Guimarães Rosa, meu pai. 2ª ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1999.
Transcrições manuscritas de trechos de cartas de Floduardo Pinto Rosa, feitas por João Guimarães Rosa. Fundo Guimarães Rosa. Arquivo IEB/ USP. Série: correspondência – sub-série: correspondência pessoal (com Floduardo Pinto Rosa). Caixa 06, código: CP 34 A.
Carta a Cabral. Paris, 25 de fevereiro de 1951. Fundo João Cabral de Melo Neto. Arquivo da Fundação Casa de Rui Barbosa. Rio de Janeiro.
Carta Cabral. Rio de Janeiro, 4 de fevereiro de 1964. Arquivo João Cabral de Melo Neto. Fundação Casa de Rui Barbosa. Rio de Janeiro.
Carta a Chico Moreira. Rio de Janeiro, 6 de outubro de 1952. [Acervo da família].
Carta a Pedro Barbosa. Hamburgo, 20 de maio de 1939. Memorial Guimarães Rosa. PUC Minas. Belo Horizonte.
Carta ao Padre João Batista Boaventura Leite - comentando seu conto O Recado do MorroDisponível no link. (acessado 23.12.2011).
Carta a Pedro Barbosa. Rio de Janeiro, 2 de abril de 1952. Memorial Guimarães Rosa. PUC Minas. Belo Horizonte.
Carta de Guimarães Rosa a Jorge Cabral - Cônsul - Colega. Um exercício de virtuose rosiana. São Paulo: Folha de São Paulo Domingo, 30 agos./1987.
A Máquina de escrever de Guimarães Rosa
(Acervo Museu Casa Guimarães Rosa)
Quatro cartas de Guimarães Rosa a Murilo MendesIn: ALÇADA, João Nuno. In: Revista Colóquio/Letras. Documentos, n.º 99, Set. 1987, p. 61-65. Disponível em no link. (acessado 23.12.2011).
Carta para Aracy de Carvalho. Berlim, 25 de agosto de 1946. In: MINÉ, Elza; CAVALCANTI, Neuma. Cartas inéditas de João Guimarães Rosa para Aracy de Carvalho Guimarães Rosa. In: FERREIRA, Camila Diniz (Coord.). Seminário Guimarães Rosa – 50° Grande sertão: veredas. Anais 2006. Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, 2006.
Correspondência com seu tradutor italiano Edoardo Bizarre. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.
Correspondência com seu tradutor alemão Curt Meyer-ClasonRio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.
Ofício ao Ministro Oswaldo Aranha. 20 de julho de 1939. Arquivo do Itamaraty. Rio de Janeiro. C.B. 61/5/15. Hamburgo. Ofícios. jul. 1938-jul. 1939.
Ofício ao Ministro Oswaldo Aranha. 26 de julho de 1939. Arquivo do Itamaraty. Rio de Janeiro. C.B. 61/5/15. Hamburgo. Ofícios, jul. 1938-jul. 1939.
Ofício ao Ministro Oswaldo Aranha. 27 de julho de 1939. Arquivo do Itamaraty. Rio de Janeiro. C.B. 61/5/15. Hamburgo. Ofícios. jul. 1938-jul. 1939.
Cartas a William Agel de Mello. Cotia, SP: Ateliê, Editorial, 2003.


DISCURSOS 
ROSA, João Guimarães. Fragmentos do discurso de formatura de João Guimarães Rosa. [O discurso do orador da turma], publicado no jornal Minas Geraes, de 22 e 23 de dezembro de 1930.
ROSA, João Guimarães. Discurso proferido por Guimarães Rosa em agradecimento ao premio concedido pela Academia Brasileira de Letras, ao livro de poesia Magma. Revista da academia brasileira de letras, anais de 1937, ano 29, vol 53, p.261 a 263.
ROSA, João Guimarães. Discurso de posse de João Guimarães Rosa na ABL. Rascunho. Arquivo IEBUSP. Fundo Guimarães Rosa, caixa 22. doc. 2, 40 páginas, 10 envelopes.


CO-AUTORIA E COLABORAÇÃO
CONDÉ, João (Coord.); e Colaboração de: ROSA, João Guimarães Rosa; QUEIRÓS, Dinah Silveira de; CARDOSO, Lúcio; CORRÊA, Viriato; QUEIROZ, Raquel de; CALLADO, Antônio; LESSA, Orígenes; AMADO, Jorge; SALES, Herberto. O Mistério dos MMM. (romance). Edições O Cruzeiro, 1962, p. 208.
ROSA, João Guimarães Rosa (Soberba); DONATO, Mário (Ira); CONDÉ, José (inveja); FIGUEIREDO, Guilherme (Gula); CONY, Carlos Heitor (Luxúria); TELLES, Lygia Fagundes (preguiça); RESENDE, Otto Lara (Avareza). Os sete pecados capitais(cada um escreveu um conto). Literatura Brasileira. Editora: Civilização Brasileira, 1964. 248 p.


Guimarães Rosa e José Condé no
 lançamento de Sagarana, em 1946.
COLABOROU COM OS SEGUINTES JORNAIS E REVISTAS
1947 a 1948 - Publicado no Correio da manhã, resultado da sua viagem ao Pantanal, em forma de reportagem poética “Com o Vaqueiro Mariano”;
1953-1954 – Suplemento "Letras e Artes" de A Manhã;?
1960 a 1961 - Colabora no O globo onde publica na página literária, uma série de narrativas, que depois formariam o livro “Primeiras estórias”;
1965 a 1967 - Colabora no jornal Pulso, quando recolhe sua produção para editar em livro: “Tutaméia”.

HOMENAGENS, CONDECORAÇÕES E PRÊMIOS
1937 - Recebe o Prêmio da Academia Brasileira de Letras conferido a Magma
1946 - Recebe o Prêmio "Filipe d’Oliveira", pelo livro Sagarana.
1956 - Recebe o Prêmio "Machado de Assis", do Instituto Nacional do Livro pela obra Grande sertão: Veredas.
1956 - Recebe o Prêmio "Carmen Dolores Barbosa", São Paulo, pela obra Grande sertão: Veredas.
1957 - Recebe o Prêmio “Paula Brito”, Municipalidade do Rio de Janeiro, pelo Grande sertão: Veredas.
1961 - Recebe o Prêmio "Machado de Assis", pelo conjunto de sua obra.
1963 - Recebe o Prêmio do "PEN Clube do Brasil", Primeiras estórias.
1966 - Recebe do governador do Estado de Minas Gerais Israel Pinheiro a "Medalha da Inconfidência".
1966 - Recebe em 02 de dezembro a condecoração da "Ordem de Rio Branco".


PUBLICAÇÕES DA OBRA NO EXTERIOR
Alemão
João Guimarães Rosa
Grande Sertão: Roman. [Grande Sertão: Veredas]. Tradução Curt Meyer-Clason. Munique: DTV, 1994.
Corps de Ballet [Corpo de Baile]. Tradução Curt Meyer-Clason. Koln: Kiepenheuer & Witsch, 1996.
Das Dritte Ufer des Flusses [A Terceira Margem do Rio]. Tradução Curt Meyer-Clason. Koln: Kiepenheuer & Witsch, 1968.
Nach Langer Sechnsucht und Langer Zeit [Buriti]. Tradução Curt Meyer-Clason. Munchen: DTV, 1969.
Miguilins Kindheit. [Miguilim]. Tradução Curt Meyer-Clason. Munchen: DTV, 1970.
Mein Onkel der Jaguar [Meu Tio Iauaretê]. Tradução Curt Meyer-Clason. Koln: Kiepenheuer & Witsch, 1981.
Doralda, Die Weibe Lilie [Dão-Dalalão]. Tradução Curt Meyer-Clason. Frankfurt: Suhrkamp, 1982.
Sagarana. Tradução Curt Meyer-Clason. Koln: Kiepenheuer e Witsch, 1982.
Sagarana. Tradução Curt Meyer-Clason. Berlin: Aufbau, 1984.
Die Geschichte von Lélio und Lina [A Estória de Lélio e Lina]. Tradução Curt Meyer-Clason. Munchen: Piper, 1991.
Tutameia. Dritte Erzählungen. Tradução Curt Meyer-Clason. Koln: Kiepenheuer e Witsch, 1994.

Catalão
Gran Sertão: riberes. [Grande Sertão: Veredas] Tradução Xavier Pàmies. Barcelona: Edicions 62, 1990.

Dinamarquês
Djaevelen pa Vejen [Grande Sertão: Veredas]. Tradução Peter Poulsen. Kopenhagen: Samlerens Bogklub, 1997.

Eslovaco
Vel'ká Pustatina [Grande Sertão: Veredas]. Tradução Ladislav Franek. Bratislava: Vavrín, 1980.

Espanhol
La Oportunidad de Augusto Matraga [A Hora e a Vez de Augusto Matraga]. Tradução Juan Carlos Ghiano e Néstor Krayy. Buenos Aires: Galerna, 1970.
Gran Sertón: Veredas [Grande Sertão: Veredas]. Tradução Angél Crespo. Barcelona: Seis Barral, 1975.
Gran Sertón: Veredas [Grande Sertão: Veredas]. Tradução Angél Crespo. Barcelona: Alianza Editorial, 1999.
Menudencia [Tutaméia]. Tradução Santiago Kovadloff. Buenos Aires: Calicanto, 1979.
Primeras Historias [Primeiras Estórias]. Tradução Virginia Fagnani Wey. Barcelona: Seix Barral, 1982.
Urubuquaquá: Cuerpo de Baile [Corpo de Baile]. Tradução Estela dos Santos. Barcelona: Seix Barral, 1982.

Francês
Buriti [Corpo de Baile, volume 1]. Tradução Jean-Jacques Villard. Paris: Seuil, 1961.
Diadorim [Grande Sertão: Veredas]. Tradução Jean-Jacques Villard. Paris: Albin Michel, 1965.
Diadorim [Grande Sertão: Veredas]. Tradução Maryvonne Laouge-Petorelli. Paris: Albin Michel, 1991.
Hautes Plaines [seleção retirada de Corpo de Baile]. Tradução Jean-Jacques Villard. Paris: Seuil, 1969.
Les Nuits du Serrato [Corpo de Baile, volume 2]. Tradução Jean-Jacques Villard. Paris: Seuil, 1962.
Mon Oncle le Jaguard [Meu Tio o Iauaretê]. Tradução Jacques Thiériot. Paris: Albin Michel, 1998.
Premières Histoires [Primeiras Estórias]. Tradução Inês Oseki-Dépré. Paris: Éditions A-M. Métailié, 1982.
Sagarana. Tradução Jacques Thiériot. Paris: Albin Michel, 1997.
Toutaméia [Tutaméia]. Tradução Jacques Thiériot. Paris: Seuil, 1994.

Holandês
De Derde Oever van de Rivier [A Terceira Margem do Rio]. Tradução August Willemsen. Amsterdam: Meulenhoff, 1984.
Het Uur en Ogenblik van Augusto Matraga [A Hora e a Vez de Augusto Matraga]. Tradução August Willemsen. Amsterdam: Meulenhoff, 1992.
Diepe Wildernis: De Wegen [Grande Sertão: Veredas]. Tradução August Willemsen. Amsterdam: Meulenhoff, 1993.

João Guimarães Rosa, [foto Arquivo Público do Estado São Paulo] 
Inglês
The Devil to Pay in the Backlands [Grande Sertão: Veredas]. Tradução James L. Taylor e Harriet de Onís. New York: Knopf, 1963.
Sagarana. Tradução Harriet de Onís. New York: Knopf, 1966.
The Third Bank of the River and Other Stories [Primeiras Estórias]. Tradução Barbara Shelby. New York: Knopf, 1968.
The Jaguar and Other Stories [Meu Tio o Iauaretê]. Tradução David Treece. Oxford: Boulevard, 2001.

Italiano
Corpo di Ballo [Corpo de Baile].Tradução Edoardo Bizzarri. Milano: Feltrinelli, 1964.
Grande Sertao [Grande Sertão: Veredas]. Tradução Edoardo Bizzarri. Milano: Feltrinelli, 1970.
Miguilim. Tradução Edoardo Bizzarri. Milano: Feltrinelli, 1984.
Buriti [Corpo de Baile, volume 1]. Tradução Edoardo Bizzarri. Milano: Feltrinelli, 1985.
Sagarana. Tradução Silvia la Regina. Milano: Feltrinelli, 1994.
Una Storia d'Amore [Corpo de Baile]. Tradução Edoardo Bizzarri. Milano: Feltrinelli, 1994.
Mio Zio il Giaguaro [Meu Tio o Iauaretê]. Tradução Roberto Mulinacci. Parma: Ugo Guanda, 1999.

Norueguês
Sagarana. Tradução Bard Kranstad. Oslo: Gyldendal, 1998.
Den Store Sertão [Grande Sertão: Veredas]. Tradução Bard Kranstad. Oslo: Gyldendal, 2004.

Tcheco
Velká Divočina [Grande Sertão: Veredas]. Tradução Pavla Lidmilová. Praha: Odeon, 1971.
Velká Divočina: Cesty [Grande Sertão: Veredas]. Tradução Pavla Lidmilová. Praha: Mladá Fronta, 2003.

João Guimarães Rosa (foto Acervo Fundo GR - IEB/USP)



O EDITOR DAS PRIMEIRAS EDIÇÕES
Pelas mãos de José Olympio Pereira Filho e sob o seu selo que em 1956, veio à luz pela primeira vez Grande sertão: veredas e Corpo de baile, de João Guimarães Rosa.
A Editora José Olympio, que completou este ano(2011) 80 anos, foi a responsável por fazer chegar aos leitores do Brasil, no início do século XX, as primeiras obras de nomes agora consagrados, como Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa e José Lins do Rego. Teve sua coleção doada a Biblioteca Nacional em setembro passado. São 6.094 livros, além de fotos, manuscritos e até notas fiscais. Estão nesta coleção, os originais das primeiras edições dos Livros de Guimarães Rosa, editados pela Livraria José Olympio.

"o escritor, o bom escritor, é um arquiteto da alma."

José Olympio, Guimarães Rosa e Negrão de Lima,  no dia da posse na
 ABL, 16 nov. 1967. [Acervo Fundo João Guimarães Rosa IEB/USP]


POTY – CAPISTA E ILUSTRADOR DAS OBRAS DE JOÃO GUIMARÃES ROSA, EDITADOS PELA LIVRARIA JOSÉ OLYMPIO
Napoleon Potyguera Lazzarotto, conhecido simplesmente como Poty.Nasceu em Curitiba a 29 de março de 1924 e faleceu em 07 de maio de 1998 na mesma cidade. Ele foi ilustrador, gravador, escultor, muralista e, sobretudo, desenhista, tornando-se um símbolo na arte brasileira. Era um artista de atitude simples, tímido e de poucas palavras, mas com muita imaginação. Guardava uma memória privilegiada, habilidade e facilidade manual, ilustrando, de forma espontânea, as pessoas, os animais e a natureza, através de traços firmes, precisos, duros, e muito expressivos.
Ilustração de Poty, "parte do mapa" do livro
Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
Para Guimarães Rosa, o ourives da língua brasileira, Poty foi "Potyrama". Inesquecível, por exemplo, a confissão de Guimarães Rosa. "Várias vezes ele disse que escrevia em transe", revela Poty, parecendo ter razões para acreditar no que ouviu. "Quando Rosa tirava os óculos, não era só a expressão de míope que aparecia. Era um outro rosto", conta. Essas não eram as únicas excentricidades de Rosa. Poty também lembra as recomendações que o escritor fazia quando pedia desenhos bizarros para ilustrar o livro de contos Sagarana. "Ele exigia, por exemplo, que a imagem de um sapo fosse colocada dentro de um círculo, em cima de um poste de telégrafo. Eu nunca entendi isso, mas fiz."
O convívio entre Poty e Guimarães Rosa deu tão certo que isso gerou uma grande amizade entre eles, tanto que Rosa mencionava que Sagarana deveria ser denominado de Potyrana. O mesmo rendeu a Poty o prêmio na Bienal Internacional de São Paulo em 1969 pela sua segunda edição. Já em Grande Sertão: veredasPoty permaneceu por cerca de oito horas conversando com o autor, que lhe contou tudo sobre a história que inventara, permitindo ao artista penetrar a fundo no seu projeto de criação. A história do amor do fazendeiro Riobaldo (narrador) por Diadorim é o centro da narrativa, que trata de casos vividos pelo narrador durante a sua vida de jagunço, envolvida de disputas, vinganças, viagens, amores e mortes na sua passagem por Minas Gerais, Goiás e sul da Bahia. Durante essa longa conversa, Poty foi desenhando o que Rosa lhe narrava, ao final da história, Rosa percebeu que o desenho realizado reproduzia exatamente o que ele imaginava. Este desenho era o mapa de onde ocorreu a história do Grande Sertão.

No lançamento de Corpo de baile, Rosa escreveu uma dedicatória para Poty e Célia, esposa de Poty, em seu livro declarando sua admiração pelo seu talento.



OS TRADUTORES DA SUA OBRA
[...]
João Guimarães Rosa, em carta de 25 de novembro de 1963, a Edoardo Bizzarri, então tradutor italiano de Corpo de Baile:

'Sou profundamente religioso, ainda que fora do rótulo estrito e das fileiras de qualquer confissão ou seita; antes talvez, como o Riobaldo do Grande Sertão: Veredas, pertenço eu a todas. E especulativo demais. Daí todas as minhas, constantes, preocupações religiosas, metafísicas, embeberem os meus livros. Talvez meio existêncialista-cristão (alguns me classificam assim), meio neoplatônico (outros me carimbam disto), e sempre impregnado de hinduísmo (conforme terceiros). Os livros são como eu sou...

João Guimarães Rosa
Ora, você já notou, decerto, que como eu, os meus livros, em essência, são anti-intelectuais - defendem o altíssimo primado da intuição, da revelação, da inspiração, sobre o bruxulear presunçoso da inteligência reflexiva, da razão, da megera cartesiana. Quero ficar com o Tao, com os Vedas e Upanixades, com os Evangelistas e São Paulo, com Platão, com Plotino, com Bergson, com Berdiaeff - com Cristo principalmente.
[...]
Meu lema é: a linguagem e a vida são uma coisa só. Quem não fizer do idioma o espelho de sua personalidade não vive; e como a vida é uma corrente contínua, a linguagem também deve evoluir constantemente. Isto significa que como escritor devo me prestar contas de cada palavra e considerar cada palavra o tempo necessário até ela ser novamente vida. O idioma é a única porta para o infinito, mas infelizmente está oculto sob montanha de cinzas.

Sou precisamente um escritor que cultiva a idéia antiga, porém sempre moderna, de que o som e o sentido de uma palavra pertencem um ao outro. Vão juntos. A música da língua deve expressar o que a lógica da língua obriga a crer. Sobre esta idéia antiga, os hermetistas árabes e judeus, entre outros, encheram bibliotecas de especulações místicas, na certeza de alcançar o divino pela pronúncia exata de seu nome.

No Sertão fala-se a língua de Goethe, Dostoievski e Flaubert, porque o Sertão é o terreno da eternidade, da solidão, onde 'o interior e o exterior não podem mais estar separados'.

Nos meus livros tem importância, pelo menos igual ao sentido da estória, se é que não muito mais: a poética ou poeticidade da forma, tanto a sensação mágica, visual, das palavras, quanto a eficácia sonora delas; e mais as alterações viventes do ritmo, a música subjacente, as fórmulas-esqueletos das frases - transmitindo ao subconsciente vibrações emotivas sutis. Tudo em três planos (como os ensinos das antigas religiões orientais):

the underlying charm (enchantment)
the level-lying common meaning
the 'overlying' idea (metaphysic).'


ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
João Guimarães Rosa, posse na ABL, nov/1967.
É o dia 16 de novembro de 1967. João Guimarães Rosa, aos 59 anos, veste o fardão e prepara-se para ir à Academia Brasileira de Letras tomar posse na cadeira n.º 2, que tem como patrono o escritor Álvares de Azevedo, e pertenceu a seu amigo e antigo chefe no Itamarati, João Neves da Fontoura.

Eleito em 6 de agosto de 1963, há quatro anos adia esta posse. Rosa pensa que seu coração não irá agüentar tanta emoção. Mas agora, deve enfrentar a cerimônia e receber a consagração. Na época, seu nome era cogitado para o prêmio Nobel de Literatura. A indicação vinha por iniciativa dos seus editores alemães, franceses e italianos.

A notícia de sua posse na Academia foi dada por mim.”, conta Otto Lara Rezende. “Uma vez um jornal mencionou seu nome como possível candidato ao Prêmio Nobel. Procurou-me aflito e pediu-me que, por favor, evitasse associar o seu nome ao Nobel. Por quê? “O Nobel mata” – disse ele, brincando a sério. E pediu-me ainda que desse uma nota sobre a candidatura de outro brasileiro ao mesmo Prêmio Nobel....”Pode dar, com ele não acontece nada” – disse. Esse mesmo temor da morte estava associado à sua posse na Academia, talvez porque tomasse a Academia como “consagração”, isto é, fim de uma obra e portanto fim da vida.”

Neste dia, Rosa almoça com a mãe na casa de seu tio, o também escritor Vicente Guimarães Rosa, que atribui o adiamento da posse a uma outra causa: “De seus sete tios amigos, quatro morreram quando viviam os 58 anos. Posse na Academia só mesmo depois dos 59 anos completos e ainda com alguns meses distanciados, me disse, temeroso”.

Já o escritor Antônio Callado pergunta-lhe sobre o porquê de tanto empenho em se eleger para a Academia, ao que Rosa responde:

"O enterro, meu querido, os funerais. Vocês, cariocas, são muito imprevidentes. A academia tem mausoléu e quando a gente morre cuida de tudo."

“Quando se candidatou à Academia pela primeira vez, (continua Otto Lara Rezende) disse-me, num almoço no Itamarati, que só se candidatava por duas razões:

1) porque sua mãe só acreditaria que ele era um grande escritor se entrasse para a Academia;

2) porque não podia negar a glória acadêmica à sua pequena cidade de Cordisburgo”.

Bom seria uma banda, um dobrado fogoso e meia dúzia de foguetes, pedia ele.

A seu amigo Geraldo França de Lima, que vai buscá-lo em casa, Rosa revela o temor de desmaiar na tribuna, de perder a voz, de chorar e sobretudo de o coração parar!

“- Parar, Rosétis (assim ele o chamava), que é isto? Você vai fazer bonito na tribuna. ....

João Guimarães Rosa, posse na ABL, nov/1967.
“ - A Academia é muito para mim. Sou tão pequeno como a cidade em que nasci - disse-me”.

Na quinta-feira, noite de 16 de novembro, não escurecera e lá eu estava”, conta França de Lima. Jantamos. Ele nada comeu. Beliscou uma lingüiça, que eu lhe trouxera de Araguari. Dois ou três goles de chá. Nada mais. Percebi que havia anormalidade. ...Vi que não se apressava em vestir-se... Pediu-me que escolhesse o sapato, pontudo ou de bico quadrado. Abotoei-lhe o fardão. Não descobríamos a alcinha em que ficava a espada. Rosa perdeu a calma, até conseguirmos achá-la. De repente começa a tremer. Chorava. Hesitava em sair. Tinha medo.... Ao entrarmos no automóvel, tremia e rezava. Pediu ao chofer que andasse devagar, e perguntou-lhe:

- Ubirajara, estou bonito?

- Sim , embaixador. ....

Ao aproximar-se da Academia principiou a ficar emocionado.

- Geraldo, não tenho segredo para você. Mas guarde reserva: eu não chego ao fim deste ano.

Senti-me esmagado, mas levei a revelação em brincadeira:

- Me faça o favor de chegar ao fim do discurso, porque gente de sua família não morre antes dos 80.

Ele apertou a minha mão. Sua mão estava fria e suava”.

Caía forte chuva na cidade. Mesmo assim o Salão da Academia estava repleto.

Minutos antes de entrar, Rosa, mentalmente, repassa trechos de seu discurso. Faz longas pausas e respira fundo para controlar a ansiedade. Revê momentos de sua vida. Relembra Cordisburgo, seu vilarejo natal, e o mundo por onde andou como diplomata e escritor...


O DESEJO NÃO REALIZADO
"No dia em que completar 100 anos, publicarei um livro, meu romance mais importante: um dicionário. E este fará as vezes de minha autobiografia."
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".

Aracy e João Guimarães Rosa, com seus gatos no apartamento, no Rio de Janeiro.

O DESAPARECIMENTO PREMATURO 
Ainda no vigor de seus 59 anos intensamente vividos, ao anoitecer de um domingo de novembro de 1967, Rosa surpreendeu mais uma vez sua família, seu círculo de amigos e a multidão de leitores de sua obra, pouco após o dobre dos sinos, anunciando a Hora do Ângelo. "As pessoas não morrem, elas ficam encantadas", dissera o romancista apenas três dias antes, em concorrida cerimônia na Academia Brasileira de Letras. E naquele ocaso - acaso? - de um 19 de novembro, Rosa ficou para sempre encantado - tornou-se um mito, talvez o maior e mais duradouro dos mitos da cultura brasileira.



FORTUNA CRÍTICA DO AUTOR E OBRAS, MAIS ENTREVISTAS, CARTAS... 
ACESSE OS LINKS ABAIXO: 
João Guimarães Rosa – Demiurgo do Sertão


José Mindlin mostra uma de suas raridades: o original 
"Grande Sertão: veredas", de Guimarães  Rosa 
Foto: Vidal Cavalcante/AE, em 24.05.2006.


"...sempre nas manias de remoer e ver, e perguntar e tomar o mundo por desenho e escrito."
- João Guimarães Roa, em "Recado do Morro".


DIÁRIO "ALEMÃO" DE GUIMARÃES ROSA
Manuscrito com Anotações  de Guimarães Rosa,
no seu Diário - [Acervo Arquivo dos Escritores
Mineiros. UFMG - Fundo Henriqueta Lisboa].
Na sua composição, o “diário alemão” de Guimarães Rosa engloba uma diversidade de registros e escritas: citações de textos, de livros, com observações de leitura; relação de palavras de diversas línguas, ressaltando-se ora seus significados, ora seus significantes, à

maneira de verbetes de dicionários; relatório de despesas, com inscrição de contas; lista de livros na estante, de temperos da culinária alemã; roteiros de viagens diplomáticas; convites para compromissos consulares; relatos de visitas ao zoológico, com observações
sobre os animais, e de idas a teatros e restaurantes; descrições da paisagem, do clima; registro de fatos ligados ao desenrolar da guerra; comentários de leitura de jornais, com críticas às medidas dos nazistas relativas aos judeus etc. Tudo isso entremeado de esboços
de poemas, fragmentos de estórias, registros de anedotas, indicando-se o teor pré-redacional ou redacional de algumas passagens. [Fonte: MARQUES, Reinaldo. Grafias de coisas, grafias de vida, p. 328-329].

Em algumas ocasiões, a predileção pelo detalhe chega produzir uma quebra irônica pelo contraste entre os episódios da “Grande Guerra” e as observações do dia-a-dia: 
Guimarães Rosa em Hamburgo/
Alemanha
Bombas: vi a luz branca, 
terrível, dos trabalhos de dessoterra- 
mento, na Hagemannstrasse e na 
Duntzigerstrasse. [????] Estava 
de auto, com Ara. Havia um 
incêndio, na Hauptbahnhof. 
 ---------------------- 
 Um gato zanzado: 
Pêlo feio como uma escova. A cauda fica como a 
cauda de uma raposa.

Fontes e referências de pesquisa:
GINZBURG, Jaime. Notas sobre o "Diário de Guerra de João Guimarães Rosa".  ALETRIA, nº 2 - v. 20, maio-agos/2010. Disponível no link. (acessado em 16.05.2013).
SOUZA, Eneida Maria; OTTE, Georg; MARQUES, Reinaldo Martiniano (Org.). Diário de Guerra de João Guimarães Rosa. Documento do Acervo de Escritores Mineiros da Universidade Federal de Minas Gerais. 
OTTE, Georg. O “Diário alemão” de João Guimarães Rosa. Veredas de Rosa II. Belo Horizonte: PUC Minas, 2003.




MONUMENTO "PORTAL GRANDE SERTÃO"
Escultura "Portal Grande Sertão", em homenagem a Guimarães Rosa,
pelo artista plastico e escultor Leo Santana.
O "Portal Grande Sertão", em homenagem a João Guimarães Rosa, criado pelo artista plástico e escultor Leo Santana. A obra é constituída de um pórtico de chapa de ferro e oito figuras em bronze que retratam o escritor saudando seis vaqueiros, a cavalo, e um cachorro (alusão aos personagens de Grande Sertão - Veredas), o Portal Grande Sertão recria, em tamanho natural, o ambiente do homem do sertão, cenário da mais importante obra do escritor. As esculturas em bronze de vaqueiros e cavalos pesam aproximadamente 500 kg e a do escritor 200kg. “Os sertanejos que compõem o portal não são personagens da obra de Guimarães, mas pessoas que vivem no sertão. O monumento marca a entrada do sertão mineiro, sertanejos, trajes.
Data: 27 de junho de 2010 
Local: instaladas na Praça Miguilim - próximo à casa onde ele nasceu em Cordisburgo (Cordisburgo, que fica a 113 km de Belo Horizonte).
Autor: artista Leo Santana


Carlos Drummond de Andrade, João Guimarães Rosa e Manuel Bandeira
 - década de 60 - (Foto: Acervo Editora José Olympo, consta no livro  
"Fotobiografia Manuel Bandeira",  Edições Alumbramento, Rio de Janeiro, 1998).

Os escritores
"Escrever é um processo químico; o escritor deve ser um alquimista. (...) A alquImia do escrever precisa de sangue do coração. Para poder ser feiticeiro da palavra, para estudar a alquimia do sangue do coração humano, é preciso provir do sertão. (...) Levo o sertão dentro de mim e o mundo no qual vivo é também o sertão." (...) Goethe nasceu no sertão, assim como Dostoievski, Tolstoi, Flaubert, Balzac; ele era, como os outros que eu admiro, um moralista, um homem que vivia com a língua e pensava no infinito. Acho que Goethe foi, em resumo, o único grande poeta da literatura mundial que não escrevia para o dia, mas para o infinito."
- João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz - "Dialogo com Guimarães Rosa".

José Olympio, Guimarães Rosa, Lygia  Fagundes Telles eseu marido, Goffredo Telles Jr.,
 e José Geraldo Vieira, em 1958.(foto Acervo Família Tess)


João Cabral de Melo Neto, João Guimarães Rosa e Vinicius de Moraes
Diplomatas-escritores


ACERVO JOÃO GUIMARÃES ROSA, NO INSTITUTO DE ESTUDOS BRASILEIROS - IEB, DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP.
O Acervo: Os arquivos do autor, abrangendo o período de 1908 a 1971, foram adquiridos pelo IEB/USP da família do titular através de compra em 1973.

CONTEÚDO DO ACERVO
Arquivo João Guimarães Rosa
Composto de aproximadamente 20.000 documentos entre:Correspondência, recortes de periódicos, fotos de viagens, cadernos manuscritos de sua criação literária. A documentação traz informações sobre as diversas funções exercidas pelo titular em sua vida pública, como literato e diplomata. Há pouco material sobre sua atuação como médico. Integram o arquivo documentos que registram seu meticuloso trabalho de criação literária. Através de sua correspondência com tradutores, de anotações e desenhos em cadernos, cadernetas e pastas, é possível tomar contato com todas as etapas de elaboração de sua obra. Dentre as matérias extraídas de periódicos encontram-se desde sua primeira contribuição jornalística até críticas de terceiros ao seu trabalho. Em sua
correspondência, destacam-se contatos mantidos com diversas personalidades do meio político e intelectual brasileiro e também com seus tradutores. Seu acervo fotográfico reúne documentos sobre a vida pessoal e as atividades literárias e diplomáticas. Apresenta fotos de viagens realizadas no exterior e pelo sertão do Brasil – Minas, Bahia, Pantanal mato-grossense e Cordisburgo.

Biblioteca Guimarães Rosa
Composta 3.500 volumes contendo: Obras literárias, dicionários bilíngües e etimológicos, obras sobre religião, ocultismo, filosofia e animais que refletem as atividades e os interesses do titular. Sua vida de diplomata, longos períodos no exterior e contínuos deslocamentos, o teriam impedido de manter todos os seus livros. Sabe-se que fazia constantes doações por ocasião de mudanças de posto. Esta coleção foi a última que conservou.
Fonte: IEB/USP.
Fac-smile de trecho dos originais de Tutaméia


"Cada dia é um dia. ...”Vida” é noção que a gente completa seguida assim, mas só por lei duma idéia falsa. Cada dia é um dia."
- João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: veredas".


João Guimarães Rosa


MUSEU CASA GUIMARÃES ROSA
A casa de arquitetura modesta, construída em fins do século XIX e princípios do XX, é exemplar destinado à moradia, com sala, quartos, cozinha e com pequeno comércio em cômodo da frente.  Apresenta varanda lateral, cunhais de madeira pintada, paredes de adobe, cobertura em duas águas, vãos internos em linhas retas e acabamento singelo.
Inaugurado em 30 de março de 1974, na casa onde Guimarães Rosa nasceu e passou sua infância em Cordisburgo, o Museu foi concebido como centro de referência da vida e obra do escritor. Possui uma coleção de aproximadamente 700 documentos textuais, dentre os quais se destacam registros pessoais (certidões, correspondências, discursos, originais manuscritos ou datilografados, a exemplo de Tutaméia, última obra publicada).
Museu Casa Guimarães Rosa - Cordisburgo/MG
Além do acervo literário, preserva outros registros da vida de Guimarães Rosa  como médico e diplomata, objetos de uso pessoal, vestuário, utensílios domésticos, mobiliário e fragmentos do universo rural presente na literatura roseana.
 Na década de 1980, o Museu passou por substancial reforma. Os documentos textuais foram organizados e arquivados, e um novo projeto expográfico foi realizado. Em cômodo frontal da casa foi reconstituída uma venda típica das existentes nas pequenas cidades mineiras, para representar o antigo comércio de Floduardo Pinto Rosa, pai do escritor: a “venda de seu Fulô”, onde o menino Joãozito cresceu ouvindo histórias contadas pelos freqüentadores do lugar.
Museu Casa Guimarães Rosa / MCGR, vinculado à Superintendência de Museus e Artes Visuais/ Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, foi idealizado no contexto de dois acontecimentos: o falecimento repentino de João Guimarães Rosa em novembro de 1967 e a criação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico de Minas Gerais – IEPHA / MG em setembro de 1971, órgão que surgiu para materializar o ideal preservacionista vigente à época.

Faça um Tour virtual  pelo Museu Casa Guimarães Rosa / MCGR.



Serviços:
Museu Casa Guimarães Rosa
Rua Padre João, 744 - Cordisburgo - 35780-000

Tel.: (31) 3715-1425  - E-mail: museu   

Horário de visitação: de terça-feira a domingo, das 9h às 17h. O museu fica fechado no Natal, Reveillon e Carnaval

Entrada : R$2,00 (dois reais)

Escolas Públicas Estaduais e Municipais – taxa isenta

Agendamento de visitas: visitas orientadas devem ser previamente agendadas pelo telefone
"Somente renovando a língua é que se pode renovar o mundo."


REFERÊNCIAS E FONTES DE PESQUISA
LORENZ, Günter. Diálogo com Guimarães Rosa. In COUTINHO, Eduardo F. Guimarães Rosa. Rio de Janeiro/Brasília, INL, 1983 (Col. Fortuna Crítica, 6). p. 62-97.
MENEZES, Roniere Silva. O traço, a letra e a bossa: arte e diplomacia em Cabral, Rosa e Vinicius. (Tese Doutorado Estudos Literários). Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, 2008.
ABL - Guimarães Rosa


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Pagina em atualização Maio 2013.

De: Elfi Kürten Fenske <elfifenske@gmail.com>
Data: 17 de maio de 2013 21:05
Assunto: Templo Cultural Delfos
Para: sulinha3@ig.com.br