23 maio, 2013

Dilma e a volta do “ame-o ou deixe-o” por Francisco Zaidan via Valeria Zez

  • O Lobinho tbm faz barulho!!!Bjosss

“Com as entregas demonstramos a capacidade de nós, brasileiros, realizarmos o que muitos pessimistas de plantão diziam que não somos capazes. Por isso, a gente vai acumulando vitórias”. Pasmem ou não, essa foi a estúpida e deletéria declaração da presidente Dilma Roussef na inauguração do novo Estádio Mané Garrincha (perdoem-me, mas não consigo chamar de arena, falta leão, cristão, pão; circo e sangue até que tem e muito em nossos estádios). Uma alusão descontextualizada, caduca e iletrada para o famoso jargão rodriguiano do “complexo de vira-lata”. Com o custo de R$ 1,2 bilhão, é óbvio que o Estádio Nacional Mané Garrincha ficou bonito e moderno. Mas isso pouco importa, é dinheiro público indo para o ralo, ou alguém, em sã consciência, mentaliza o Brasiliense ou o Gama lotando o estádio para o “empolgante” campeonato brasiliense de 2015? 

Fosse eu o orador daquela inauguração pútrida, usaria outra citação de Nelson Rodrigues para eternizar o momento, trecho de uma crônica intitulada Um pesadelo com cem mil defuntos: “Participação! Participação! Participação! E amarcha de 100 mil sujeitos sem uma cárie, sem um desdentado (...) O fato é que, no dia seguinte, falando com o meu amigo Guilherme da Silveira Filho, fazia eu um escândalo amargo: – Nem um preto, Silveirinha! Nem um desdentado! Nem um favelado! Nem um torcedor do Flamengo! Nem um assaltante de chofer. Por fim, arranquei das minhas entranhas este gemido final: – E o povo? Onde está o povo?. O povo era a ausência total. (...) porque aquilo era uma passeata das classes dominantes”. Essa citação, sim, seria um bom retrato de um evento elitista no qual o Brasil aceitou se prostituir para uma instituição privada, a dona FIFA, que em território tupiniquim encontrou terrenofértil para o exercício de sua veia estatal. Irônico, o governo dito de esquerda, que se arrepia enojado ao ouvir a palavra privatização, abrir as pernas e piscar os olhos apaixonados para a multinacional e bilhardária FIFA. 

A excelente dupla da ESPN Brasil, Gabriela Moreira e Lúcio de Castro, na matéria dossiê Maracana, exibida essa semana, escancarou o processo ilegal coordenado por um alto funcionário do IPHAN, culminando no fim da marquise do Maracanã, patrimônio tombado, que só poderia ser “destombado” para uma eventual destruição, através de um decreto presidencial, o que não ocorreu. Isso sim Dilma deveria esclarecer. Mas não, continua a farsa: desalojando familias paupérrimas; fechando escolas, como a Friedenreich no RJ, e demolindo centros esportivos como o parque aquatico Júlio Delamare e o velódromo construído para o PAN 2007; passando por cima da constituição federal (Durante as competições, muitas áreas públicas, feitas para a utilização do cidadão, serão interditadas porque assim a soberana FIFA bem entende e o Brasil obedece como um bom cãozinho. Muito se discutiu, de maneira maniqueísta, a exigência dos organizadores da Copa em permitir a venda de bebida alcoólica, mais precisamente à cerveja Budweiser que patrocina a competição, nos Jogos do Mundial no Brasil. Concordo que é uma lei que não ataca o problema, mas a questão não é essa, a questão é uma lei instituída pelo nosso poder legislativo ser sumariamente revogada por um interesse e decreto alheio à soberania nacional); estereotipando ainda mais um país que sempre sofreu com o estereótipo caricato que o estrangeiro insiste em idealizar do Brasil (como é triste ver homens batucando, dançandocapoeira e mulatas sensualizando para alegria de velhos suiços e belgas babões. A beleza dessas manifestações sempre residiu em sua vocação não institucionalizada, em seu grito espontâneo, rebelde e marginalizado); sem contar nas promessas que com o tempo mostraram-se falácias escandalosas. Caso esqueceram, refrescarei vossas memórias: mentiu-se afirmando que a maioria absoluta dos investimentos seria privada, o governo não retiraria um tostão de seu cofre na reforma ou construção dos novos estádios, as “arenas” não ultrapassariam os orçanamentos já pomposos em sua gênese, e o monotrilho de São Paulo, a única obra de mobilidade urbana idealizada para SP, Linha 17 - Ouro do Metrô de São Paulo? É possível que o aerotrem do Levy Fideliz fique pronto primeiro, risos. 

Admito que fiquei atônito com o discurso da petista, não surpreso, com o tempo a revolta se transforma em uma sensação catatônica de impotência. Diante frase bizarra e que atenta contra a inteligência de homens providos do “tico e teco”, o governo brasileiro só escancara, mais uma vez, seu delírio fascista e nada original de usar o esporte como ferramenta propagandista, ao mesmo tempo em que ridiculariza e usa o acéfalo “direita reacionária” para todos que ousam e teimam ao não segui-lo como vaquinha de presépio. O “ame-o ou deixe-o” há tempos não estava tão em voga, que retrocesso. E não é que o anacrônico Mikhail Bakunin tinha razão: “O mais ínfimo e inofensivo dos Estados ainda é criminoso em seus sonhos”!   

Imagem: @CowboySL