17 maio, 2013

Deus: Uma Superstição?

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Karen Armstrong nasceu no dia 14 de novembro de 1944, em Wildmoor, Reino Unido. Aos 17 anos, tornou-se noviça e assumiu o nome de irmã Marta. Deixou o convento quatro anos depois. Estudou literatura inglesa na Universidade de Oxford. Sua formação religiosa ficou expressa em seus principais livros: ”Jerusalém – Uma Cidade, Três Religiões” (2000), “Maomé – Uma Biografia do Profeta” (2002). Em sua opinião, a violência e a intolerância não são elementos inevitáveis no “DNA cultural” das religiões, mas sim efeitos colaterais da aliança entre fé e política, para os quais as tradições religiosas são capazes de desenvolver antídotos pacifistas.
Como ex-freira, Armstrong passou as últimas décadas produzindo documentários e escrevendo livros que investigam a história das grandes tradições religiosas. “A ética da compaixão é o centro de todas essas grandes tradições, e é preciso retomá-la”, argumenta.
Como um novo tipo de ideologia – o extremismo religioso como o jihad – passou a nortear a geopolítica internacional, fiquei curioso em ler sua entrevista concedida a Reinaldo José Lopes (FSP, 07/05/13). Ela disse que “o ateísmo radical é produto do fundamentalismo“. Em princípio, tendo a discordar dessa opinião, aliás, do próprio adjetivo “radical” para o ateísmo. Não é possível ser “mais ou menos” ou moderamente ateu, tipo “Graças a Deus, não acredito em Deus”…
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Folha – É comum ouvir dizer que, ao longo da história, o monoteísmo deu impulso à violência e à intolerância porque ele tende a ser exclusivista. A sra. concorda?
Karen Armstrong - Não. Existem fundamentalistas entre os hindus e budistas.
A história mostra que nenhuma fé consegue se transformar numa “religião mundial” se não for adotada por um Estado ou império dinâmico e em expansão.
Como os Estados são inerentemente violentos (nenhum pode se dar ao luxo de acabar com seus exércitos), as religiões acabam adquirindo uma ideologia “imperial”.
Mas os monoteísmos também desenvolveram uma alternativa contracultural não violenta. As pessoas é que são violentas, e não as abstrações que chamamos de “religiões”. [Se as religiões não conseguem dominar a violência instintiva, elas não fracassaram em seu principal propósito?]
O que significa ser uma monoteísta “freelance”, como a sra. se definiu certa vez? É possível transcender as raízes históricas do judaísmo, do cristianismo e do islamismo e ainda se considerar monoteísta?
Esse é um termo que usei de forma casual e que tem me perseguido desde então. Eu quis dizer que era capaz de obter sustento espiritual das três fés abraâmicas [referência a Abraão, que seria ancestral de judeus e árabes], e que não conseguia ver nenhuma delas como superior.
Depois que afirmei isso, estudei as religiões orientais não teístas, e sou capaz de encontrar igual inspiração nelas.
O termo que aplico a mim mesma hoje em dia é o de “convalescente“. Estou em “fase de recuperação” depois de ter uma experiência religiosa ruim quando era moça [Armstrong tornou-se noviça aos 17 e sofreu com a disciplina e as penitências físicas. Isto marca toda uma vida...].
Ao ler seus livros, a impressão é que a sra. fala de Deus como um conceito importante, mas que não necessariamente teria base real “lá fora”. Se Deus não tem existência objetiva, por que se importar com Ele?
Nossas mentes possuem uma predisposição natural para a transcendência, ou seja, temos ideias e experiências que estão além do alcance de nossa compreensão. Todos nós buscamos momentos de “êxtase”, nos quais “ficamos de fora” do nosso eu. Se não encontrarmos isso na religião, vamos buscar tal sensação na arte, na música, na natureza, até no esporte.
Nesses momentos, sentimos que habitamos nossa humanidade de um jeito mais pleno.“Deus” é um símbolo que, se usado de forma apropriada, traz essa experiência.
[Será Deus uma superstição? Esta é a crença ou noção sem base na razão ou no conhecimento, que leva a criar falsas obrigações, a temer coisas inócuas, a depositar confiança em coisas absurdas, sem nenhuma relação racional entre os fatos e as supostas causas a eles associadas, tal como a crendice e o misticismo. Parece ser uma crença cega, arraigada e exagerada em alguma coisa, alguma regra ou algum princípio, que se adora ouse segue sem questionar...]
Como a sra. enxerga o movimento dos Novos Ateus, que defende que os não crentes combatam de forma mais ativa a religião? É o sinal de um futuro cada vez mais secular?
O Novo Ateísmo é, em grande medida, um produto do fundamentalismo religioso, o qual tentou domesticar a transcendência de “Deus” e acabou por transformá-lo em algo inacreditável.
Mas, ao longo da história, os monoteístas, por exemplo, insistiram que “Deus” não é um outro ser e que não podemos dizer que “ele” existe, porque nossa noção do que é a existência é limitada demais. [?!]
Na verdade, as pessoas estão ficando enjoadas com [Richard] Dawkins [zoólogo britânico], [Sam] Harris [neurocientista americano; ambos são expoentes dos Novos Ateus] etc. porque eles são agressivos e intolerantes demais. Acho que a Europa está de fato destinada a seguir o caminho do secularismo, mas os EUA continuam sendo um país muito religioso.”
[O que?! "As pessoas estão ficando enjoadas com Richard Dawkins  e Sam Harris porque eles são agressivos e intolerantes demais"?! Como ela, levianamente, espalha um preconceito para desincentivar os religiosos a ler os argumentos ateus... Acho mais honesto, intelectualmente, incentivar o leitor a tirar suas conclusões por si próprio.]
Leia maisDeus, Um Delírio

De: Cidadania & Cultura < donotreply@wordpress.com >

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