03 maio, 2013

Canção da Criatura Efêmera - (Poema de Cecília Meireles)


Não sou a das água vista
nem a dos homens amada;
nem a que sonhava o artista
em cujas mãos fui formada.
Talvez em pensar que exista
vá sendo eu mesma enganada.

Quando o tempo em seu abraço
quebra meu corpo, e tem pena,
quanto mais me despedaço,
mais fico inteira e serena.
Por meu dom, divino faço
tudo a que Deus me condena.

Da virtude de estar quieta
componho o meu movimento.
Por indireta e direta,
perturbo estrelas e vento.
Sou a passagem da seta
e a seta, - em cada momento. 

Não digas aos que encontrares
que fui conhecida tua.
Quando houve nos largos mares
desenho certo de rua?
E de teres visto luares, 
que ousarás contar da lua?


(MEIRELES, Cecília. Poesia Completa. Ed. Nova Aguilar, Rio: 1994, p. 341)


De: Luz e Calor <noreply@blogger.com>
Assunto: Luz e Calor
Para: sulinha3@yahoo.com.br