11 maio, 2013

Cananéia - botos e sambaquis, mais história - Vale do Ribeira e Litoral Sul de São Paulo




CANANÉIA – BOTOS E SAMBAQUIS, MAIS HISTÓRIA – VALE DO RIBEIRA E LITORAL SUL DE SÃO PAULO

Joaquim Macêdo Júnior

“O Boto” (Tom Jobim/Jararaca) Na praia de dentro tem areia;Na praia de fora tem o mar; Um bôto casado com sereia; Navega num rio pelo mar …….. Ontem vim de lá do Pilar ……….Com vontade de ir por aí; Ainda ontem etc… Ontem vim etc…
O Boto, de Tom Jobim e Jararaca (*) é cantiga de paisagem – recheada de fauna e natureza entrelaçada – que mais me aproxima do sentimento de estar em Cananéia e redondezas. Sim, na primeira estrofe, a menção do boto casado com sereia, deslizando nas águas dos rios, mangues e do mar, numa descrição poética jobiniana me faria revelar toda a emoção daqueles cantos, reconhecidos há pouco.
Por si só a canção poderia exprimir o sentimento que se quer e ponto. Acrescentar o quê?
Não é esse meu intento. Acho que até que, de fundo, poderia tornar-se uma belíssima trilha sonora. Mas nem mesmo isso é indispensável.
Direi o me vier a escrever, mesmo para aqueles desprezam ou preferem ler ao silêncio, que não se importem. “O Boto” é apenas uma sinapse emocional, que se tornou necessária para musicalizar minha imagem.
Uma vez diminuída a sua reles condição de eventual trilha sonora, a faixa de “Urubu” volta a ser simplesmente uma das mais belas canções que conheço e gosto de ouvir.
Quando tomamos os primeiros contados com os quiosques de informação ou mesmo ainda na pousada em que está hospedado, o visitante já é induzido a não deixar de conhecer a “praia dos Golfinhos”. De cara, algumas dúvidas e emoções: são aqueles que apareciam na série americana “Flipper”, fazendo brincadeiras, acrobacias e se relacionando com os humanos?
De verdade, todos os monitores, agentes ambientais, pilotos das embarcações da região, são unânimes em afirmar que há botos na praia dos Golfinhos, quase que reagindo à idéia da nomenclatura por força de uma atração turística afamada por uma série de TV.
Antes de entrar numa das embarcações em direção à “praia”, que fica na Ilha do Cardoso, área defronte a Cananéia, ficamos sabendo que veremos muitos de nossos colegas mamíferos boto-cinza ou tucuxi, ou golfinho-nariz-de-garrafa (o flipper) pertencem à mesma família.
Como quase todo mundo, leigo no assunto, faço aquela pergunta que a gente aprende a não ter resposta desde criança e ninguém se encarrega de esclarecer. O boto é aquele animal de rio? Pois nós estamos acostumados a ouvir falar do boto vermelho e o boto cor de rosa, que vivem na Amazônia – além da lenda. Então todo mundo associa que o boto é de rio e o golfinho é de mar.
Na verdade, é só uma diferença na nomenclatura, explica Letícia Quito, coordenadora do Projeto “Boto-Cinza”, do IpeC, Instituto de Pesquisas de Cananéia.
O boto cinza também pode ser chamado de golfinho. A nomenclatura usada depende da região ou do país em questão. É um mamífero aquático, podendo ser encontrado no Oceano Atlântico, de Santa Catarina até Honduras. O “Projeto” trabalha com a conservação da espécie sotalia guianensis e dos ecossistemas e recursos naturais de seu habitat, no caso, na área do Complexo Estuarino Lagunar, mais conhecido como Lagamar.
Essa região está no maior remanescente contínuo de Mata Atlântica brasileiro e abrange o Complexo Estuarino de Iguape e Cananéia, em São Paulo, e o Complexo Estuarino de Paranaguá, no Paraná. É um dos ecossistemas mais produtivos do país, rico na flora e fauna, com a presença de crustáceos, peixes, anfíbios, répteis, aves e pequenos mamíferos. No estuário há o encontro de um ou mais rios com o mar. As variações constantes nesse ambiente fazem com que poucas espécies permaneçam a vida toda no estuário, como é o caso dos botos.
Na década de 1990, Cananéia descobriu sua vocação turística, aquela que iria alterar radicalmente o perfil de seus visitantes e habitantes. Se, duas décadas antes, nos anos 70/80, a região era frequentada apenas por pescadores esportivos e suas famílias Hoje, pode-se dizer que o turismo náutico revelou o potencial do município para o desenvolvimento econômico.
Dentre os atrativos naturais da região, está o whalewatching, ou seja, a oportunidade de observar um cetáceo (baleia ou golfinho) em ambiente natural.
Dados: 01) Chegam a 37 espécies descritas entre golfinhos e botos tanto de água salgada como de água doce. Vivem cerca de 35 anos. O período de gestação dura dez meses. Podem medir desde um metro e meio até 3 metros e meio. São dóceis e brincalhões e apreciam a companhia humana. Alguns são mais arredios. Com uma única narina no alto crânio, o boto pode renovar 90% do volume de ar cada vez que inspira. Num único mergulho, o golfinho é capaz de submergir por 20 minutos até 300 metros de profundidade. Os golfinhos conseguem nadar a velocidades de até 40 Km/h, graças a um efeito aerodinâmico que eles alcançam contraindo a pele e formando dobras que diminuem as turbulências. Alimentam-se de diversas espécies de peixe. Alguns preferem lulas e outros moluscos e camarão.

02) ORDEM – Cetáceos – Grupo de mamíferos aquáticos, como as baleias e osgolfinhos/botos; SUBORDEM – Odontocenti -Reúne só os cetáceos com dentes; FAMILIA -Delphinidae – Reúne só as espécies que vivem no mar. Aqui estão o boto-tucuxi, o golfinho-nariz-de-garrafa (Flipper, da TV) e até a orca; Platanistidae – Reúne só as espécies que vivem em rios. Do boto-cor-de-rosa ao golfinho-do-ganges

O Boto-Cinza pode ser observado ao longo de todo o ano na região, tanto em pontos estratégicos em terra, como na Praia do Itacuruçá, na Ilha do Cardoso, como em embarcações.
Hoje, Cananéia tem à disposição dos turistas tanto grandes escunas quanto pequenas embarcações com motor de popa que saem diariamente do Trapiche Municipal, na Avenida Beira-mar, em direção à Baía de Trapandé, também chamada de Baía dos Golfinhos. A prática faz com que muitos pescadores mudem de atividade e passem a trabalhar com o turismo, especialmente no verão.
E os sambaquis, mais uma armadilha da língua, que nos leva a tantas referências, idéias e fantasias. Ou apenas mais um nome? Como sempre, ao visitante, turista, é dado ler, gostar, se interessar, priorizar ou deixar para depois a próxima atração. Na minha mão caiu “sambaqui”.

Na natureza

Acho melhor ir direto ao assunto: sambaquis (“samba” = concha; “qui” = monte), são montes de conchas que foram acumuladas por muitos anos, não pela natureza, mas por antigos habitantes do local; provavelmente grupo de nômades.
O acúmulo dos montes de conchas são resultados das atividades diárias dos antigos habitantes, o homen sambaqui – termo usado para identificação do grupo humano que tinha o costume de depositar restos usados de seu dia-a-dia em um único lugar.
Alimentavam-se de peixes, moluscos e crustáceos, portanto sua sobrevivência dependia basicamente de alimentos apanhados no estuário, viviam em grupos e não eram antropófagos. Fabricavam seus próprios artefatos da pedra e de ossos, seus dentes eram seu principal instrumento de trabalho.
Por serem muito primitivos, não conheciam técnicas de cultivo (agricultura). Os sambaquis são encontrados em toda extensão do lagamar, nestes montes são encontrados restos de sepultamento, ossos de animais, utensílios de pedra lascada e adornos.
A maioria dos sambaquis que existia na costa brasileira não foi conservada e protegida, acabaram virando fertilizantes. Em Cananéia e região, foram usados materiais retirados do sambaqui para a construção dos antigos casarios, um belo conjunto arquitetônico histórico.
Hoje esses sambaquis estão protegidos pelas instituições de preservação e naturalmente conservados em seu devido lugar.Estima-se que o “homem Sambaqui” ocupou a região entre 4.000 anos A.C. até 1.000 anos de nossa era, um verdadeiro marco pré-histórico.
A região ainda nos reserva Iguape, Caverna do Diabo e a Ilha Comprida, além da imagem que veio de Pernambuco, pelo mar.

Até a semana que vem….

(*) Sim, o Jararaca co-autor de “O Boto”, em parceria com Tom Jobim, no disco “Urubu”, é o famoso componente da dupla musical Jararaca e Ratinho. Eram José Luis Rodrigues Calazans, o Jararaca, nascido em Maceió, 29 de set. de 1896 e falecido no Rio de Janeiro, em 11 de out. de 1977, e Severino Rangel de Carvalho, o Ratinho, natural de Itabaiana-PB, em 13 de abr. de 1896 — falecido em Duque de Caxias, 8 de set. de 1972. Eram também comediantes.

De: Geleia General <noreply@blogger.com>
Assunto: Geleia General
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